25_ Enfeites de Natal.
Me encarei no espelho. Meu cabelo estava solto por meus ombros, meu rosto um pouco vermelho e meu olhar confuso.
Eu estava me achando?
Saí do banheiro dando de cara com Amelka, que deu um passo para trás com o susto.
ㅡ Jesus... ㅡ Ela respirou fundo tocando o peito.
ㅡ Amelka... ㅡ Cocei a cabeça. ㅡ Eu estou me achando?
ㅡ Como assim? ㅡ Ela pareceu mais confusa do que eu.
ㅡ Eu pareço me achando? Pareço metida ou orgulhosa? ㅡ Perguntei um pouco rápido demais, o que a fez fazer outra careta.
ㅡ Não?? ㅡ Franziu o cenho. ㅡ Que papo é esse? Eu pareço ter mais cara de metida que você. ㅡ Ela riu. ㅡ Você é toda meiga e fofinha. Por que está me perguntando isso? ㅡ Entrou no banheiro e parou na frente do espelho. Ela soltou seu cabelo que estava num rabo de cavalo, e agora tinha uma marca dele no comprimento.
ㅡ Por nada, só curiosidade. ㅡ Abri um sorriso torto. ㅡ Eu acho que já vou indo.
ㅡ Ta bom, até amanhã! ㅡ Acenou com um sorriso.
Me despedi dela com um aceno parecido e saí do teatro. Como havíamos ficado no auditório, não precisei passar por todos aqueles corredores, que eu inclusive não havia aprendido a andar sozinha ainda.
Eu ainda estava confusa. Estava confusa com o comportamento de Charlie e com o meu. Eu não fiquei me achando, pelo contrário, ainda morro de vergonha da maioria ali. Por que ela disse para eu não me achar? Eu nunca nem pensei na possibilidade de ser melhor do que ela, afinal, ela está ali a bem mais tempo do que eu, estuda a atuação e certamente entende muito mais coisas. Como eu posso me achar melhor do que ela por causa de um exemplo que a Lisa usou?
Também fiquei confusa com o meu comportamento pelo fato de que, quando morava no orfanato, recebia comentários assim de tantas pessoas que já não ligava. Não sobre me achar, mas sobre qualquer outra coisa. Não havia um dia sequer em que eu fosse para a escola e alguém me deixasse em paz. Parecia que tinham prazer em me zoar, criticar e acabar com a auto estima que eu nem tinha.
Por que, então, eu estava tão chateada com o que Charlie disse? Isso porque o que ela disse não chega nem perto do que já ouvi da boca de outras garotas na época da escola.
Ao sair pela porta do teatro e encontrar todo aquele cenário perfeito, todo o clima de Natal com a vibe de Nova Iorque, entendi. A minha realidade já era ruim, eu não queria que acontecesse o mesmo nessa aqui. Estava sendo tudo tão perfeito aqui que quando me deparei com algo ruim que eu vivia antes, eu meio que entrei em pane.
Ok, Arizona, relaxa. Vai ver a Charlie entendeu errado, é só tentar ser mais gentil com ela que tudo vai dar certo... Eu espero.
Ouvi o som de uma buzina de carro tocando insistentemente e olhei para a calçada. Mason estava parado ao lado de fora de seu carro, mas sua mão estava tocando o volante pela janela.
ㅡ Já vou! ㅡ Caminhei até ele, mas ele só parou de tocar a buzina quando lhe dei um leve empurrão no ombro. ㅡ Para!
ㅡ Por que você sempre sai de lá de dentro e fica parada na porta igual uma estátua? ㅡ Perguntou curioso.
ㅡ Eu não sei, ué. Só fico pensando. ㅡ Dei a volta e entrei no carro. Mason entrou logo depois.
ㅡ E o que aconteceu hoje para você ficar tão pensativa? ㅡ Ele deu partida no carro, mas permaneci encarando minhas mãos em meu colo.
ㅡ Uma garota mandou eu parar de me achar, porque não sou melhor do que ela. ㅡ Ergui meu olhar para ele a tempo de vê-lo franzir as sobrancelhas.
ㅡ E do nada isso?
ㅡ É, mais ou menos. ㅡ Encarei a rua. ㅡ Hoje a Lisa quis nos ensinar a como fazermos cenas tão reais que o público se esqueça de que é uma peça. No começo ela usou o exemplo da química entre os casais. Ela chamou o Leonard e a Amelka. Amelka não se declarou exatamente como Lisa queria, então foi a Charlie. Ela foi muito bem, na minha opinião, mas Lisa ainda não estava satisfeita. Então me chamou. Tive que me declarar para o Leo. ㅡ Observei as ruas pela janela.
ㅡ E aí...
ㅡ E aí que ela gostou e disse que nós dois tínhamos uma química incrível atuando e foi só. Quando chegou agora a pouco, a Charlie veio dizer que aquilo não significou que eu ganhei dela ou algo do tipo. Que não era para eu ficar me achando, pois não era melhor do que ela. ㅡ Me virei para ele repentinamente, o que o assustou. ㅡ Eu não fiquei me achando! ㅡ Exclamei. ㅡ Eu nem pensei nela. Não vi aquilo como uma competição.
ㅡ Então por que está tão preocupada? ㅡ O encarei confusa. ㅡ Você não está se achando melhor do que e ela e nem estava preocupada com essa garota. Você não fez o que ela disse que fez. Por que está tão preocupada com isso? Consciência limpa, Arizona. Se ela pensa que é o centro do universo e que todos giram ao redor dela, o problema está nela, não em você.
Senti quando o carro parou, mas não olhei para as janelas. Assenti entendendo o que ele estava querendo dizer e sorri aliviada. Foi como se todo aquele conflito sumisse da minha mente.
ㅡ Obrigada pelo conselho. ㅡ Mason abriu com um pequeno sorriso de canto antes de abrir a porta e sair do carro. Fiz o mesmo para segui-lo, sem entender o motivo de termos parado. Ainda estávamos no centro da cidade. ㅡ O que fazemos aqui? ㅡ Corri para alcança-lo. Ele atravessou a calçada e parou na porta de uma loja enorme.
ㅡ Comprar umas coisas que acho que preciso. ㅡ Ele entrou na loja e eu fiz o mesmo. Pensei que ele estaria falando de comida, produtos de limpeza ou qualquer outra coisa, mas aquela loja só vendia uma coisa: enfeites de Natal.
Parei de segui-lo assim que percebi que era isso que vendia na loja. Na real, olhando tudo aquilo, me senti uma criança numa loja de brinquedos. Eram tantos enfeites, tantas luzes, tudo tão vermelho, branco e verde. Sem contar com as músicas natalinas que tocavam de fundo.
Olhei para o lado vendo Mason parado com um carrinho. Só aí percebi que eu estava com a mesma " cara de brisada " que ele mencionava.
ㅡ Por que estamos aqui? Você disse que... ㅡ Ele me interrompeu.
ㅡ Você disse que eu precisava ser mais positivo e otimista. Acho que não tem nada mais positivo e otimista que o Natal. ㅡ Suas palavras me fizeram sorrir. ㅡ Bem, vamos comprar o equivalente para enfeitar o apartamento, mas nada muito exagerado, não em? Não quero um carnaval lá.
ㅡ Ta bom, Sr Ogden! ㅡ Sorri novamente e saí andando na sua frente. Não tinha nada que eu não gostasse mais do que comprar enfeites de Natal.
Após ficarmos um bom tempo naquela loja e escolhermos tudo, voltamos para o apartamento com as malas do carro dele cheias de enfeites.
Quando chegamos, Mason foi para o quarto, o que me chateou um pouco, pois pensei que ele me ajudaria a arrumar tudo, mas ignorei. Ele já estava me deixando enfeitar, não posso pedir mais que isso.
Nós também havíamos comprado uma árvore, mas era um pouco grande demais para trazermos, então uns entregadores trariam mais tarde.
Eu tirei os meus tênis, prendi o meu cabelo e comecei a tirar todas as coisas das sacolas. Deixei tudo sobre o sofá antes de começar a desembala-las.
Estava desembolando um pisca pisca de dez metros quando ouvi a porta do quarto de Mason se destrancar. Me inclinei para o lado para ver o corredor e o vi saindo de seu quarto secando o cabelo com uma toalha. Devo deixar claro que ele estava apenas com uma calça de moletom.
ㅡ Escuta, você sabe que está um frio do caramba, né? ㅡ Continuei desembolando o pisca pisca enquanto ele passava para a cozinha jogando a toalha preta no ombro direito.
ㅡ Está? ㅡ Puxou uma garrafa d'água da geladeira e se virou para mim enquanto a bebia.
ㅡ Está! ㅡ Afirmei arqueando ambas as sobrancelhas.
ㅡ Não parece. ㅡ Ele se aproximou e olhou os enfeites em cima do sofá. ㅡ Como você me convenceu a comprar tanta coisa?
ㅡ Com meu charme e persuasão. ㅡ Sorri jogando os cabelos para trás. Mason riu balançando a cabeça, mas seu celular apitou em seu bolso.
Ele deixou a garrafa d'água sobre a mesa de centro e puxou o celular.
ㅡ Os caras estão vindo entregar a árvore. ㅡ Colocou o celular de volta no bolso enquanto eu comemorava feito uma criança. Ele voltou ao corredor e segundos depois aparecendo vestindo uma blusa com mangas longas. ㅡVamos esperar lá embaixo.
ㅡ Ta bom! ㅡ Calcei os tênis que eram sem cadarços, ou seja, fáceis de colocar, e desci junto com ele para esperar os entregadores. ㅡ Misericórdia, que frio! ㅡ Resmunguei assim que pisamos da porta para fora.
Mason nem pareceu que estava sentindo frio. Parecia que não estava sentindo nada, na verdade.
ㅡ Mason... ㅡ Pelo meu tom e pelo olhar dele para mim, ele havia notado que eu iria pedir algo. ㅡ Eu queria te perguntar uma coisa, mas não sei se vai querer.
ㅡ O que? ㅡ Cruzou os braços encarando as ruas frias e iluminadas.
ㅡ Eu queria saber se gostaria de assistir filmes natalinos comigo durante esses próximos dias. ㅡ Uni as mãos na frente do corpo e sorri piscando várias vezes.
ㅡ Por que? ㅡ Fez uma careta.
ㅡ Ora, porque estamos no Natal. ㅡ Dei com os ombros. ㅡ É divertido e bom para entrar no clima. O que acha? Por favoooooor? ㅡ Comecei a balança-lo de um lado para o outro.
ㅡ Ai, ta bom! ㅡ Ele cedeu, o que me fez comemorar. Comemorar sem pensar, porque eu simplesmente abracei ele.
•••
Continua...
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