07_ Deboche...
Depois que Molly desapareceu, devo ter ficado uns cinco minutos parada no mesmo lugar tentando entender o que aquela frase significava. Como assim sacrifício em vida? Por que ela me disse isso assim? Do nada?
Me toquei de que o rapaz ainda me esperava no andar de baixo e apressei-me para descer.
Peguei tudo o que achei que seria necessário para essa viagem, que ainda nem acredito que está acontecendo, coloquei uma roupa descente, já que estava de pijama, e só agora parei para pensar que o cara tinha me visto de pijama esse tempo todo, e saí do quarto colocando o celular no bolso da calça.
Ao descer as escadas, vi o rapaz sentado no sofá enquanto Dona Vanda, a senhora que cuidava da casa, lhe oferecia coisas.
ㅡ Coma só um bolinho, também tem café. ㅡ Ela insistia com um sorriso no rosto.
ㅡ Não, obrigado. Eu já tomei café da manhã. ㅡ Ele abriu um sorriso curto no canto dos lábios que quase não apareceu.
Desci mais um degrau, mas descuidei da mala que estava puxando atrás de mim, o que a fez se desequilibrar e cair, quase rolando a escada inteira. Ela só não chegou ao chão da sala porque consegui descer mais rápido e agarrar sua alça.
ㅡ Meu Deus, Arizona, cuidado. ㅡ Dona Vanda se aproximou me ajudando a pegar a mala que eu carregava na mão, que não era de rodinhas. ㅡ Você está bem?
ㅡ Estou. ㅡ Sorri sem jeito. Eu não era tão desastrada, que isso, Arizona?
Encarei o rapaz que apenas observava a situação com o mesmo olhar; aquele de quem não estava se importando com nada daquilo. Como se estivesse com pressa e eu o estivesse atrasando.
ㅡ Não vai tomar café antes de ir? O sol está quente, você pode passar mal. ㅡ Tocou o meu ombro me observando com um olhar preocupado. ㅡ Sua pressão pode cair.
ㅡ Ah, eu... ㅡ Olhei para o rapaz. O mesmo ergueu o pulso e encarou o relógio de pulso com uma expressão nada agradável. ㅡ Eu acho que estamos com pressa. Não se preocupe, eu não estou com fome.
ㅡ Ah, não. Espere aí... ㅡ Ela saiu da sala após colocar minha mala no sofá, nos deixando sozinhos.
Uni minhas mãos na frente do corpo sentindo a vergonha me tomar assim que me lembrei do ocorrido de uns minutos atrás.
Fiz uma careta.
Não acredito que me tranquei no banheiro e disse que estava armada com um papel higiênico. Qual o meu problema??
ㅡ Er... ㅡ Cocei a garganta. ㅡ Me desculpe pela cena mais cedo. Eu não sabia quem você era e fiquei meio assustada. ㅡ Observei o seu rosto duro feito pedra, sem expressão, sem preocupação, sem emoção ou sentimento.
ㅡ Eu percebi. ㅡ Disse da forma mais seca possível. Franzi o cenho.
ㅡ Digo, eu não esperava encontrar um desconhecido na minha sala. Qualquer um ficaria assustado. ㅡ Debati após sua resposta rude.
ㅡ Um desconhecido vestido de roupas sociais sentado no sofá... É, um grande perigo. ㅡ Debochou.
ㅡ Escuta aqui... ㅡ Cruzei os braços. ㅡ Pessoas perigosas não tem um padrão de vestimenta ou comportamento. O que importa aqui é que você era um desconhecido na minha casa. Isso basta para que eu me assuste.
O homem arqueou uma sobrancelha enquanto me observava. Depois de uns segundos, ele sorriu. Não um sorriso simpático ou coisa do tipo, um sorriso tão debochado quanto ele.
ㅡ Vou fingir que perdi a discussão para você se dar por vencida, ok? ㅡ Ele se sentou no sofá esticando um dos braços por cima do sofá.
ㅡ Eu não quero me dar por vencida de nada, eu não me importo com isso. ㅡ Balancei a cabeça tentando fingir a plena por fora, assim como ele estava.
ㅡ Aham... Sei. ㅡ Ele continuou com seu sarcástico.
Apertei os olhos o encarando. Estava pronta para respondê-lo quando Vanda voltou à sala segurando dois pacotes de papel grampeados.
ㅡ Aqui, para vocês dois comerem no caminho. ㅡ Ela entregou um para mim e um para Mason. ㅡ Toma cuidado, viu? Cuidado nas ruas, nos lugares públicos, no caminho daqui pro Rio, e até mesmo lá nos Estados Unidos. As pessoas podem ser muito perigosas, mesmo não aparentando.
ㅡ Eu concordo plenamente. ㅡ Abri um sorriso debochado para Mason.
ㅡ Se tentarem te fazer algo... ㅡ Ela voltou a falar.
ㅡ Ela pode se trancar no banheiro. ㅡ Mason murmurou entre dentes e sorriu logo depois.
ㅡ O que disse? ㅡ Vanda o encarou.
ㅡ Nada. ㅡ Mason escondeu o sorriso voltando ao seu olhar sério. Devo admitir que achei aquela cena engraçada, mas estava brava demais com ele para rir.
ㅡ Bem, não vou te prender mais. Vá e aproveite bem a sua viagem. ㅡ Ela me abraçou e nos acompanhou até a porta.
Mason carregou minha mala de mão até o porta malas de uma BMW de cor preta. Arrastei minha outra mala até ele e ambos fizemos careta um para o outro quando o passei a mala para que ele guardasse.
Antes de entrar no banco de trás do carro, acenei para Vanda que acenava de volta da porta da casa.
ㅡ Bora, estamos atrasados. ㅡ Mason me apressou parando ao meu lado.
ㅡ Calma. ㅡ Resmunguei entrando no carro. Ele fechou a porta e entrou no banco da frente. No banco do motorista estava um homem que eu facilmente reconheci, era o motorista do meu pai.
O homem ligou o carro e, quando vi, já estávamos longe de casa.
[...]
No caminho, enquanto passávamos pela BR, senti fome e decidi abrir o pacote que Vanda havia me entregado. Tanto o meu quanto o de Mason estavam no banco de trás ao meu lado.
Peguei um dos pacotes e o abri. Dentro havia um sanduíche embalado num saquinho plastico, um suco numa garrafinha e um bolinho.
Sorri com tamanho carinho e abri o sanduíche para come-lo.
Estava mordendo o sanduíche quando um carro nos cortou, o que fez o motorista diminuir a velocidade bruscamente e, obviamente, o sanduíche foi parar no meu nariz. Fiquei toda lambuzada de maionese.
ㅡ Que idiota... ㅡ O motorista resmungou e Mason olhou para mim.
ㅡ Ta sujo aí. ㅡ Apontou para a própria boca.
ㅡ Não diga? ㅡ Procurei por algo para me limpar e vi que Mason estava rindo disfarçadamente.
Revirei os olhos, mas acabei encontrando um guardanapo no pacote. Obrigada, Vanda!
ㅡ Você não vai comer o seu? ㅡ Perguntei depois de quase ter derrubado o pacote dele tentando pegar o guardanapo com uma mão só, já que a outra segurava o sanduíche.
ㅡ Não, você parece estar com bastante fome. Pode comer. ㅡ E, novamente, ele debochou da minha cara.
É sério que eu vou ter que ficar a viagem inteira dos meus sonhos ao lado desse cara?
Terminei de limpar minha boca e amassei o papel, colocando-o de volta ao pacote. Ta, eu quase amassei o bolinho sem querer, pois coloquei o papel com tanta raiva no pacote que minha mão socou a embalagem do bolo.
Mais uns minutos se passaram dentro daquele carro até que finalmente chegamos a capital do Rio de Janeiro. Abri a janela quando passamos pela ponte Rio-Niterói e sorri sentindo aquele vento tão fresco. Gravei um story da vista e segui mexendo no celular. Nem reparei quando saímos da ponte e começamos a andar pela cidade.
ㅡ Se não quiser ter o celular roubado, é melhor fechar a janela. ㅡ Mason chamou minha atenção e eu olhei para a janela. Haviam tantas pessoas passando perto da janela que até eu me assustei.
Fechei a janela colocando o celular de lado e apoiei as costas do banco do carro. Depois de poucos minutos o motorista parou em frente a um aeroporto.
Mason saiu do carro já indo em direção ao porta malas.
ㅡ Obrigada. ㅡ Agradeci ao motorista que sorriu para mim. ㅡ O senhor tomou café?
ㅡ Na verdade, não, senhorita. ㅡ Ele balançou a cabeça.
ㅡ Aqui. Pode comer. ㅡ Estendi o pacote que era de Mason.
ㅡ Mas... Não é do rapaz?
ㅡ Ah, ele não liga, não. ㅡ Balancei a cabeça.
ㅡ E se ele sentir fome?
ㅡ Ele se vira. Não se preocupe, pode comer. E obrigada de novo. ㅡ Saí do carro segurando apenas o meu lixo, a garrafa descartável de suco e meu celular, que logo coloquei no bolso.
Joguei o pacote de papel com o lixo dentro na lixeira mais próxima e voltei para pegar minha mala. Mason segurou a de mão e me entregou a de rodinhas. Logo depois o motorista partiu.
Mason seguiu ao meu lado na direção do aeroporto, até que passamos em frente a uma barraca de cachorros quentes que tinha um cheiro incrível. Tanto eu quanto ele paramos por causa do cheiro.
ㅡ Ok, isso me deu fome. Cadê? ㅡ Se virou para mim.
ㅡ Cadê o que?
ㅡ O pacote que a senhora na sua casa me deu.
ㅡ Opa! ㅡ Sorri debochada para ele.
•••
Continua...
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