Capítulo 37
O medo da rejeição pode causar arrependimentos eternos.
— Vocês sabem quem vocês são? Se lembram de tudo? — Sharaene perguntou chamando a atenção de todos.
— Claro. Por que não lembraria? — um homem perguntou confuso.— O que aconteceu?
— É óbvio né, garota. — outro respondeu com ignorância.
— Para de fazer perguntas idiotas! — alguém gritou.
Logo outras respostas carregadas de ignorância foram direcionadas a ela, não podia negar que aquilo a deixava triste. Ás vezes pensava que só haviam escolhido as piores pessoas para aquela competição, porém tentava afastar aquele pensamento.
— Calem a boca, seus idiotas! Estamos tentando entender o que aconteceu e vocês agem como completos ignorantes. — Arion gritou. Estava cansado da arrogância daquelas pessoas, não importava para ele se agiam assim pelo desespero.
Antes que uma nova discussão se iniciasse outra voz chamou a atenção de todos.
— Nós vamos morrer hoje! — Zafrain gritou. Ele se encontrava parado no meio da porta do dormitório.
— O que você está falando? — um homem que estava mais próximo dele perguntou.
— Eu escutei que irão matar todos hoje porque o jogo não está saindo como esperado.— Zafrain explicou desesperado. Sabia que em algum momento iria morrer, porém saber que sua morte estava tão próxima não era nada tranquilizante.
— Onde você escutou isso? — outra pessoa perguntou.
— Não sei, não consigo lembrar, mas tenho certeza do que escutei. —ele respondeu atordoado.
—Ele está louco! Deve estar inventando isso. — um homem acusou.
— Não devemos escutar ele.— outro resmungou.
— Homem sem noção!
Winton observava aquelas pessoas com pena, eram tão desprezíveis e tolos, ele acreditava fielmente em Zafrain.
— Vamos até ele. — Sharaene falou e ajudou Arion a caminhar apesar dos protestos do mesmo.
Antes de alcançarem o mais velho outra voz ecoou pelo local. Tudo estava uma confusão de acontecimentos.
— Não acreditem nesse homem! — Adolf gritou, parecia estar enfurecido. — Já estamos perto de eleger o ganhador. Vocês têm lutado bem e para presentear vocês pelo esforço irei liberar uma mesa cheia de comida.
— Isso só pode ser brincadeira. — Arion sussurrou.
Logo o chão se abriu e uma mesa, repleta dos mais variados alimentos, começou a subir para a superfície.
Não tardou para começarem os gritos de comemoração e as pessoas irem se alimentar.
— Eu não consigo entender eles.— Winton confessou.
— Muito menos eu. — Sharaene disse suspirando.
Arion não focou sua atenção naquilo, seu olhar estava focado em Zafrain que não parava de andar de um lado para o outro.
— Me diga, o que aconteceu? — perguntou enquanto segurava o braço do mais velho tentando o parar.
O homem parou e o encarou. Arion conseguia ver desespero, angústia, medo e tantos outros sentimentos ao encarar os olhos de Zafrain. Aquilo era algo torturante.
— Eu não sei. Eu me lembro de ter encontrado algo, somente não sei o quê. Depois disso acordei em um quarto sem me lembrar de nada. Aos poucos comecei a recordar de ter estado em um lugar escuro e escutado algumas vozes falando várias coisas.
Arion sentia de alguma forma que ele estava escondendo algo, somente não sabia o que.
— O que eles falaram?
Zafrain pareceu pensar bem antes de responder.
— Falaram que tinha algo dando errado, que não podiam continuar com essa competição, que teriam que matar todos logo, pois caso contrário isso traria consequências.
— Foi somente isso? — questionou, sabia que ele não contava algo importante, sua expressão entregava isso.
Zafrain olhou para Sharaene e Winton, sabia que eles estavam escutando tudo atentamente e por isso não poderia contar o restante perto deles.
— Sim.
Arion estava longe de ser alguém que deixava algo passar despercebido.
— Pelo jeito realmente não tem nada de errado com aquela comida, vão lá se alimentar, vocês estão precisando.— ele falou para Sharaene e Winton.
Os dois não queriam ir, mas a fome realmente estava os castigando.
– Não force sua perna. — Sharaene pediu antes de ir até a mesa.
— Você sabe que ele só usou a fome como uma desculpa para sairmos de perto deles, né? — o mais novo indagou.
— Eu sei. — respondeu suspirando. Havia percebido que tinha algo de errado, algo que Zafrain não queria que eles soubessem.
— Então por que não insistiu em ficar lá?
— Olhe para trás e veja, depois só precisarei tirar as informações de Arion.
De início Winton não entendeu, porém quando olhou para trás tudo fez sentido. Zafrain estava sussurrando algo para o homem.
— Você é um gênio!— o menino exclamou.
— Não é para tanto, pequeno.— ela falou, na verdade não tinha muitas esperanças de Arion contar algo.
— Eu não sou pequeno! — ele rebateu fazendo bico.
— Tá bom, agora só coma alguma coisa.
O menino logo arrumou uma brecha para chegar próximo a mesa. Estava faminto.
Sharaene tentou ao máximo não demonstrar sua preocupação quando estava perto dele, já percebia no olhar do menino que ele temia o que estava próximo a acontecer e aquilo a angustiava. Quando olhou para trás percebeu Arion com uma expressão perturbada a observando, algo não estava certo.
— Tenho certeza. — Zafrain respondeu impaciente após Arion o perguntar várias vezes se ele tinha certeza sobre o que dizia.
Arion não sabia o que fazer, não podia deixar aquilo acontecer, mas sabia que era impossível. A última prova seria algo que ele daria de tudo para poder impedir.
Zafrain percebeu a confusão em que Arion se encontrava, queria evitar aquilo, porém não tinha como, não sabia o que fazer.
— Por que você não conta logo a verdade a ela? — perguntou ao mais novo.
— Que verdade?
— Sobre seus sentimentos. Você já sabe o final dessa história, deixar tudo para mais tarde será o mesmo que deixar para nunca mais.
Arion sabia disso, mas sabia ainda mais que não podia se confessar.
— Eu não posso, isso custaria muitas coisas e sei que ela ainda ama o seu noivo que morreu.
— Mas guardar tudo para si e no final não ter a chance de contar é a pior morte que existe. — Zafrain sussurrou e logo estava perdido em memórias do passado. Não desejava que o rapaz passasse o mesmo que ele.
12 anos atrás
Estava indo para mais um dia de trabalho. Se sentia tão perdido na vida, a solidão era algo tão habitual que já nem se importava mais, porém desejava com todas suas forças encontrar um motivo para continuar lutando.
Tudo mudou naquela ensolarada manhã, quando entrou no galpão e seu olhar foi de encontro àquela jovem. Ela estava com um uniforme tão grande que chegava a ser engraçado, nunca antes alguma mulher havia trabalhado ali. Ela era tão peculiar. Seu cabelo ondulado estava cortado um pouco abaixo da orelha, seus olhos grandes eram de um tom castanho claro, algo muito raro de se ver, era alta e tinha uma expressão destemida.
Durante todo o expediente não conseguiu evitar de a observar, ela trabalhava com mais força de vontade que muitos homens ali, nunca havia visto uma mulher como ela.
Quando enfim o trabalho chegou ao fim tomou a atitude mais impulsiva de toda sua vida.
— Olá! — cumprimentou ao chegar perto dela e estender a mão.
Ela não conseguiu conter uma risada ao perceber como a mão dele tremia.
— Está nervoso? — ela perguntou.
— Não é isso. — Zafrain respondeu aos gaguejos. Se sentia estranhamente nervoso perto dela.
— Me chamo Aelyn e você? — ela falou sorrindo tentando o transmitir calma.
— Zafrain. — respondeu abobado, estava perdido na beleza do sorriso daquela moça. Ela era o ser mais lindo que viu em toda sua vida.
— É um prazer lhe conhecer.
— Seu sorriso é tão lindo. — ele sussurrou sem conseguir se conter. Quando percebeu o que havia feito, automaticamente ficou todo vermelho.
Aelyn o achou um fofo desde o instante que o viu entrar na fábrica; naquele momento só teve certeza que ele era um homem bom.
— Você é diferente. Que tal nos tornarmos amigos? — ela propôs, de alguma forma ele a atraía.
Zafrain somente conseguiu assentir com a cabeça e sorrir, estava muitíssimo feliz.
Os meses foram se passando e Zafrain já não sabia mais viver sem Aelyn. Ela estava em todos seus sonhos e planos futuros, era a mulher que queria para sua vida. A timidez e medo de rejeição eram seus maiores inimigos, já tentava há semanas contar a ela sobre seus sentimentos, porém não conseguia.
Um dia acordou decidido, iria se confessar, não deixaria para depois, já havia enrolado muito.
Quando chegou para trabalhar esperava a encontrar, iria contar a ela no final do expediente, porém ela faltou naquele dia. Aquilo causou uma angústia em seu coração, sentia uma dor e tristeza tão forte, algo que não sabia explicar.
Desde que conheceu Aelyn se sentia completo, extremamente feliz, sentia que tinha encontrado seu lugar no mundo e esse era ao lado dela.
Quando seu trabalho chegou ao fim resolveu ir até a casa dela. Andava pelas ruas apressadamente, seu coração palpitava fortemente, algo estava errado.
Ela vivia em uma parte bem longe da que ele morava. A caminhada era longa, mas seu desespero o fez percorrer o trajeto rapidamente.
Quando chegou em frente a casa encontrou a porta aberta. Aquilo era estranho.
— Aelyn? — chamou enquanto parava próximo a porta.
Nenhuma resposta veio, então resolveu entrar, porém não existia ninguém lá dentro. No mesmo instante ficou desesperado, realmente algo estava errado.
Quando voltou para o lado de fora olhou para todos os lados tentando a encontrar, mas novamente foi em vão.
— Ei! O que você faz aqui, meu jovem? — uma senhora que morava na casa vizinha perguntou. Conhecia ela de Potissimum.
— Estou procurando Aelyn. A senhora sabe onde ela está?
A expressão da mulher mudou no mesmo instante. Ela parecia pertubada ao lembrar de algo.
— Aconteceu algo? — ele insistiu em perguntar.
— Essa noite as luzes se apagaram e após alguns minutos no escuro escutei gritos de uma mulher. Pela manhã os vizinhos procuraram e descobrimos que Aelyn sumiu. — ela falou tristemente pois gostava da moça.
Naquele instante o mundo de Zafrain caiu. Não conseguia acreditar naquilo! Não podia ser verdade! A mulher que amava morreu sem ele poder ter contado a ela sobre seu amor.
Passou dias procurando Aelyn mesmo sabendo de seu trágico fim. Perdeu o emprego, não conseguia comer e nem dormir, estava morto por dentro. A solidão que passou a sentir não tinha comparação a que sentia antes de conhecer Aelyn. O arrependimento de ter escondido por tanto tempo seus sentimentos o matava a cada dia.
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