Capítulo 33
A bondade de uma pessoa não pode ser medida por sua aparência ou por uma primeira impressão, pois até o diabo era um anjo.
— Precisamos fazer algo. — Zafrain falou.
— Sabemos disso, mas realmente não sei o que fazer. — Winton resmungou.
— Isso tudo tem que ter algum motivo. — sussurrou o mais velho.
Sharaene não prestava atenção em nada que eles diziam, sua cabeça a cada instante doía mais, era uma dor quase insuportável.
Zafrain logo percebeu a expressão estranha que a menina apresentava.
— O que está sentindo?
— Dor.— respondeu com sinceridade.
Antes mesmo que pudessem dizer algo ela caiu de joelhos soltando um grito, suas mãos pressionavam a cabeça. A dor já era insuportável! Precisava a parar, então a primeira investida aconteceu, bateu a cabeça contra o chão, mas não com força suficiente, não conseguia controlar suas próprias ações.
Zafrain segurou a garota pelos braços, ela gritava e tentava se soltar, sua testa tinha um pequeno corte, ela estava descontrolada.
— Me larga! — ela gritou enraivecida, não queria mais sentir dor.
— Para, Sharaene! Por favor! — Winton exclamou nervoso, ver ela naquele estado o angustiava.
Lágrimas escorriam pelos olhos dela enquanto gritava, mas não conseguia sentir e nem pensar em nada, tudo se resumia a dor.
Repetidamente tudo parou, ela olhava para eles e não se movia, não chorava muito menos gritava. Zafrain não a soltou mesmo assim, não acreditava que tudo tinha melhorado tão subitamente.
— Quem são vocês? — ela perguntou. — Que lugar é esse? Por que está me segurando?
O mais velho olhou atordoado para Winton.
— Você não sabe quem somos?— o mais novo perguntou.
— Não! Me largue! — ela gritou e voltou a se debater.
— Calma, nós não iremos lhe fazer mal. — Zafrain falou com calma, porém de nada adiantou.
Sharaene não reconhecia ninguém, não sabia onde estava, muito menos o que fazia ali com aquelas pessoas. Sentia que estava em perigo, que aquele lugar não era bom, em um ato rápido mordeu o braço do homem com tamanha força que fez sangrar.
Zafrain instantâneamente soltou Sharaene, a menina se encostou na parede os encarando de forma ameaçadora, sua boca estava suja de sangue a proporcionando uma aparência horrível.
— Quem são vocês? — ela perguntou novamente.
— Somos seus amigos. — Winton respondeu enquanto tentava se aproximar dela.— Nós só queremos o seu bem.
— Vocês estão mentindo! — ela gritou. — Ele falou, vocês mentem, vocês devem morrer!
— Quem falou isso? — Zafrain perguntou sem entender.
— A voz!— ela murmurou encarando o nada.
— Que voz? — Winton perguntou assustado.
— As que gritam na minha cabeça.— ela falou voltando seu olhar para eles e sorrindo.
Não tiverem tempo de disserem mais nada, logo o corpo de Sharaene tombou no chão. Ambos se abaixaram ao lado da menina.
— Ela morreu? — Winton perguntou. Seu coração doía. Não podia a perder, ela foi a única pessoa que o olhou com amor em tantos anos de solidão.
— Ela está respirando, garoto. — Zafrain respondeu o óbvio que ele não percebia por causa do medo.
— Vamos colocar ela ao lado de Arion, deixar ela no chão vai ser pior.— o menino falou, estava tão nervoso que suas mãos tremiam.
Zafrian a pegou no colo e a carregou até a cama, o móvel não era muito grande mas suportava os dois.
— O que será que ela quis dizer com vozes? Isso não faz sentido para mim. — Winton falou.
— Eu também não sei, devemos ir ver as outras pessoas, talvez ela não acorde tão cedo.— o mais velho respondeu suspirando.
— E se acordar?— Winton retrucou, não queria a deixar sozinha.
— Se isso acontecer somente espero que ela fique bem.
Antes de sair Winton deu uma olhada na perna de Arion. Não entendia nada sobre feridas ou como ela deveria ficar, mas na sua opinião parecia estar bem.
O menino já havia se acostumado com a escuridão do corredor, não havia superado completamente o seu medo em relação a monstros mas aprendeu a conviver com ele.
— Eu daria de tudo para entender que tipo de tecnologia Adolf usa para controlar esse lugar. — Zafrain falou. — Isso parece um trabalho de anos, décadas talvez, ninguém constrói tudo isso e cria provas absurdas do dia para a noite.
— No começo pensei que seriam coisas simples, nada demais, porém isso é maior do que tudo que eu poderia imaginar. — o mais novo disse, concordava totalmente com tudo que Zafrain havia falado antes.
— O que mais me intriga é o fato do Sol não nascer. — confessou o mais velho.
— Esse lugar é estranho, acho difícil fazer parte do centro de Potissimum, queria saber o que existe além daqueles muros.
Zafrain não falou mais nada, aliás não sabia o que falar, quando chegaram ali de caminhão não viram o caminho e muito menos imaginavam que estavam indo para uma competição que custaria muitas vidas.
Quando chegaram ao lado de fora encontraram todas as pessoas desmaiadas.
— Checa a respiração desse primeiro grupo. — Zafrain ordenou.
Logo Winton foi em direção aos homens que anteriormente dançavam, todos pareciam respirar.
— Estão vivos. — ele gritou.
Zafrain inspecionou os que antes lutavam, todos também estavam somente desacordados.
— Esses também!
Não se deram ao trabalho de ir ver Ritila e o homem que ela beijou.
— Para que lado fica o portão de saída? — Winton perguntou.
Zafrain não sabia, nem havia pensando antes em procurar uma saída.
— Não sei. Vamos procurar.
Na direção da parte de trás do refeitório, que ainda fedia a fumaça, um enorme portão se encontrava. Era cinza, composto por dois lados. Winton se perguntava como não haviam pensado em procurar uma saída antes.
— Vou tentar abrir.— falou esperançoso.
De início Zafrain não fez nada, porém quando o menino estava próximo do portão percebeu algo.
— Para! — ele gritou.— Isso seria fácil demais, não chegue mais perto.
— Só vou tentar abrir, isso não vai me matar. — argumentou Winton, sabia que era arriscado, mas se continuasse tendo medo nunca sairia dali.
Zafrain não disse nada pegou uma pedra no chão e jogou no portão, quando a pedra se chocou contra o metal ela explodiu, alguns de seus pedaços bateram no corpo de Winton.
— Eu teria ficado sem mão.— o mais novo sussurrou com incredulidade.
— Ou estaria morto. Vamos voltar, garoto.— Zafrain falou já virando as costas.
Enquanto andavam de volta para o campo, mais desanimados que nunca, o homem observava o muro. Era alto demais, ferros pontiagudos cobriam o seu topo, seria impossível o atravessar. Agora tinha mais certeza do que nunca que estavam presos e que nunca sairiam dali, pelo menos não com vida.
Quando estavam quase no centro do campo algo chamou a atenção de Winton.
— Vai indo ver Sharaene, logo em seguida irei. — falou para Zafrain que assentiu com a cabeça.
Andou até chegar perto do estranho objeto que reluzia uma luz azul. Seu lado racional o mandava não tocar naquilo, porém sua curiosidade falou mais alto. Quando pegou o pequeno círculo na mão percebeu que era um pingente, o cordão já se encontrava enferrujado, mas a estranha bola parecia impecável. Era um círculo aparentemente de vidro, dentro dele um liquido azul se encontrava, aquilo que o fazia brilhar. No pingente uma palavra estava escrita com letras quase impossíveis de se enxergar. Não sabia ler, sua mãe havia começado a lhe ensinar as letras antes de morrer, não entendia aquilo, porém sabia que deveria ser algo importante. Enfiou o colar no bolso. Quando Sharaene acordasse perguntaria a ela o que significava.
Antes de entrar no dormitório novamente olhou para as pessoas que morreram ao não cumprir o desafio. Seu olhar se focou em Kayron, logo lembranças invadiram sua mente.
Havia acabado de enfiar a adaga no peito de seu pai, se sentia um monstro, se considerava pior do que Dálio.
Enquanto lágrimas banhavam o seu rosto e sua mente o condenava por ser um assassino alguém parou ao seu lado.
— Olha só o que temos aqui. — Kayron falou rindo. — Um jovem assassino.
— Eu não fiz por querer. — Winton gaguejou.
— Não vim lhe julgar, somente lhe trazer luz. Arion está nesse corredor, provavelmente logo logo sairá daquele quarto. — falou enquanto apontava. — Quando ele passar aqui chamarei alguns homens e colocarei os dois como suspeitos, o que lhe resta a fazer é culpar Arion e sair livre.
Não conseguia acreditar no que ele falava, nunca deixaria ninguém pagar por seus erros.
— Não irei fazer isso! —exclamou com raiva.
— Você não tem escolhas. Pense bem é a sua cabeça ou a dele. — falando isso Kayron saiu andando.
Naquele instante conheceu outro monstro, alguém que sabia se passar por bom moço com enorme facilidade. Nunca faria aquilo.
De nada adiantou seus gritos e protestos, todos culpavam Arion. Kayron havia inventado uma história de que o homem havia o ameaçado para que fingisse ser o assassino e todos acreditaram.
Naquele instante ao olhar aquele cadáver, não sentiu raiva, somente conseguia sentir pena por ele ter sido alguém tão horrível.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro