Capítulo 28
O medo pode ser muitas coisas, menos algo impossível de se vencer.
Winton não respondeu. Aquilo só proporcionava mais desespero a eles.
Debaixo da escada estava tudo escuro, porém sabiam que isso não impediria a mulher de os encontrar. Arion tentava pensar em alguma solução, mas naquele momento não encontrava nenhuma saída, se sentia de mãos atadas e isso só o irritava.
— Estou sentindo cheiro do meu queridinho! — Luani gritou. Estava bem próxima.
Eles nem respiravam naquele instante, pois o medo os impedia. Por algum motivo estranho a mulher não foi na direção onde estavam e sim seguiu para o final do corredor.
— Dálio fez isso com ela, ele a matou, eu vi. — Winton voltou a sussurrar.
Sharaene só o apertava mais contra si, ver ele naquele estado doía em seu coração, sabia que tinha algo muito errado em tudo isso.
Arion pensava, tentava encaixar as peças de um quebra cabeça inexistente para compreender aquela prova, mas nada fazia sentido.
— Winton, me responda, como eles poderiam saber de sua mãe? — Arion indagou sussurrando.
Antes que a resposta viesse ele sentiu que algo se aproximava deles. Em puro reflexo se abaixou puxando Winton e Sharaene com ele. Um machado voou próximo de suas cabeças.
— Vocês estão dificultando meu jogo! — a mulher reclamou enfurecida.
Eles não a enxergavam mas era notável que estava ao lado deles.
— É hora de correr! — Sharaene exclamou.
Quando se levantaram para correr Sharaene sentiu algo passar por seu braço esquerdo, resolveu ignorar, não tinha tempo para aquilo.
Saíram pela brecha oposta a que a mulher se encontrava. Seus corações batiam rápidos, os pés pareciam até escorregar no chão, o suor já escorria por seus corpos, o medo e a ansiedade os dominava.
Quando estavam quase perto da porta de saída outro machado voou próximo a eles.
— Os machados dessa mulher não acabam? — Sharaene perguntou.
Ninguém respondeu. Na verdade ninguém sabia a resposta, se contassem aquela história a alguém sabiam que os achariam loucos, aliás era tudo tão inacreditável.
Quando chegaram do lado de fora as luzes ainda piscavam; não tinham tempo para pensar somente correram contornando o prédio.
— Se abaixem! — Arion gritou. De alguma forma conseguia sentir quando algo era lançado na sua direção.
— Vocês não vão fugir para sempre! — Luani falou enquanto ria sadicamente.
— Me responde, garoto! Como eles sabem sobre ela?
— Durante a primeira prova eles perguntaram qual era meu medo.
— Você não deveria ter sido sincero.— Sharaene gritou assustando o menino.— Desculpa, agora isso não importa mais.
— Esquerda! — Arion gritou.
Sharaene não entendeu, porém seu reflexo a levou a empurrar Winton e a si mesma. No mesmo instante a lâmina de um machado passou rente ao seu braço fazendo um corte.
Arion corria a todo instante olhando para trás, não podia deixar nada passar.
— Preste atenção! Sharaene corra com ele para a parte de trás do dormitório e se esconda, tentarei resolver isso. — Arion sussurrou.
— Você não vai conseguir!
— Esquerda! — ele gritou.— Somente vai.
Arion parou e encarou a mulher, a luz naquele instante nem ousou piscar, ela parou o encarando com um machado na mão. Era o último que tinha.
— Agora sua brincadeira será comigo! — ele exclamou enquanto pegava um machado no chão.
Enquanto isso, Sharaene contornava o prédio e se escondia no meio de algumas plantas junto com Winton.
O menino estava preso em lembranças, porém seu corpo agia automaticamente de acordo com as necessidades.
Arion não tinha medo daquele ser medonho, ele a encarava sorrindo sadicamente, se ela era um monstro naquele momento ele seria um pior. Seu único receio era falhar e Sharaene e Winton arcarem com as consequências.
— Brinque com ele Luani, mas não o mate! — Adolf ordenou.
Sharaene do outro lado ouviu aquilo e se aliviou um pouco. Marabili já havia se sacrificado por eles, não suportaria perder Arion. Desejava que ele conseguisse fazer algo e que não saísse machucado.
— Preste atenção em mim, Winton. — ela pediu com calma enquanto tocava a mão do menino, não o enxergava, porém sabia que sua expressão deveria ser de completo pavor.
— O que você falou para eles?
— Contei toda a história. — ele sussurrou.
— Querido, sei que deve ser difícil para você contar isso, porém repita ela para mim. — ela pediu enquanto o envolvia em um abraço.
Em meio aos gaguejos e voz falha ele começou a resumir a história de sua mãe e seu pai.
— Você se considera forte, porém você é só um tolo! — a mulher falou gargalhando.
As linhas que antes estavam costurando sua boca agora estavam todas arrebentadas, era possível ver dentes podres a dando um rosto mais macabro.
— Se você se considera tão acima de qualquer coisa, aceite fazer um trato.— Arion propôs.
Ela gargalhou.
— Não faço tratos com seres tão desprezíveis.
Ele sentia que precisava ser mais esperto, não podia errar, não naquele momento.
— O acordo é o seguinte: cada um só poderá lançar o machado uma vez, se você me matar ou até me deixar quase inconsciente terá eles em suas mãos facilmente, porém, caso eu a atinja, você voltara para o local, seja lá qual for, que você tenha vindo.
Apesar de não ter olhos, a mulher parecia o analisar, refletir sobre as consequências desse acordo.
"Como ela pode enxergar sem ter olhos?" ele se perguntava, cada vez criava mais teorias sobre a origem daquele ser.
A luz se apagou por alguns segundos, isso o fez tremer; não podia confiar.
Quando o local clareou novamente um arrepio percorreu seu corpo, a mulher estava com o machado apontado na sua direção e sorria diabolicamente.
— Acordo aceito! — ela gritou.
Arion nem teve tempo de se mexer, o machado veio rapidamente em sua direção sendo cravado em sua coxa.
— Que mira péssima. — ele zombou enquanto arrancava o machado de si.
Ignorou o corte, a dor, o sangue escorrendo; agora era sua única chance.
— Você cometeu um erro em estragar minha calça preferida. — ele reclamou enquanto erguia seu machado.
A mulher somente o encarava. Então sem pensar muito ele arremessou.
Sharaene já tinha sua opinião sobre como vencer aquela prova, esperava estar certa.
— Meu bem, quero que você entenda uma coisa: todas as pessoas sentem medo e está tudo bem com isso, isso nos torna humanos. Coragem e todas as outras qualidades do tipo são atribuídas a pessoas que sentem medo. Até quem deve ser considerado o ser mais corajoso do mundo sente tal coisa, isso é algo comum. Porém, devemos lutar para vencê-los, e isso nunca será impossível, sabe por quê? — ela indagou recebendo como resposta um murmuro negativo dele. — Porque somos maiores que nossos medos. Você é maior que o seu, sempre será! Sei que está aterrorizado, nenhuma criança deveria ter passado por tudo que você passou, muito menos você merecia estar revivendo esse pesadelo hoje. Você é um menino muito forte, o mais forte que eu já conheci! Eu me orgulho muito do homem incrível que você está se tornando. Sei que você tem força e poder para vencer esse seu medo. Sua mãe está em algum lugar bom, está feliz, ela continua te amando e sempre amará. Aquela não é e nem nunca será a mulher incrível e forte que Luani foi.
Winton escutou aquilo com atenção, sabia o que fazer, mas a coragem lhe faltava.
— Você é a pessoa mais corajosa que conheço, pequeno. — ela sussurrou.
O machado de Arion acertou em cheio o crânio da mulher, um pedaço de carne foi arrancado provando sua teoria. Ela era apenas um robô.
Por instantes ela não se mexeu, pensou ter vencido, porém logo tudo mudou.
O robô arrancou o machado de sua própria cabeça e começou a andar na direção de Arion.
— Nunca se deve fazer acordos com um desconhecido. — ela falou sorrindo.
Arion pegou o machado que antes esteve em sua perna e lançou, novamente sua mira foi perfeitamente na cabeça, porém de nada adiantou.
— Acho que é hora de você começar a correr! — ela gritou gargalhando.
Ela queria brincar, o fazer se desesperar e sofrer. Ele pecisava pensar em algo, porém no momento sua única opção era correr.
Tentou ir em direção aos muros, porém antes disso sua perna falhou, não tinha forças para continuar correndo com aquele ferimento. Tentou levantar, mas foi inútil, sua perna sempre voltava a ceder. Não queria sentir medo, odiava aquele sentimento, mas naquele momento era inevitável.
— Agora chegou seu fim!
O robô estava a um metro de distância dele, poderia tentar se arrastar, mas isso não evitaria sua morte.
— Não! — alguém gritou.
Winton correu até estar entre o robô e Arion. Quando Sharaene conversou com ele, conseguiu descobrir a resposta de como vencer a prova, que por sua vez sempre esteve diante dos seus olhos.
— Você veio para morrer, queridinho?
— Eu não tenho medo de você! — ele gritou.
A mulher se aproximou mais dele, deixando seu machado próximo ao pescoço do menino.
— Você disse o que?
Ele a encarou novamente, a semelhança era tão idêntica a sua mãe morta, porém sabia que aquilo era só um robô; um robô que se alimentava de seu medo.
— Eu não tenho e nem nunca terei medo de você! — ele gritou novamente.
A lâmina do machado encostou na sua pele, tremia absurdamente mas sabia que não era sua mãe, sua mãe o amava e amaria sempre. Pensou por um instante que morreria quando sentiu o machado pressionar sua pele. Reunindo sua coragem a encarou e sorriu.
As luzes se acenderam totalmente, o robô parou de se mexer e caiu para trás.
— Robô inútil! Vocês estão estragando meus jogos. — a voz de Adolf reclamando ecoou no local. — Mas não se preocupem, ainda terei o prazer de matar vocês.
Todos soltaram um suspiro, seus corações estavam batendo tão rapidamente pelo medo, o alívio foi libertador.
— Você foi incrível, garoto! — Arion elogiou.
Sharaene estava abaixada ao lado de Arion pesando em o que fazer com seu ferimento.
— Pensei que não conseguiria. — Winton sussurrou olhando para o chão.
— Eu nunca duvidei que você fosse vencer. — Sharaene disse, mas não existia tanta verdade em sua fala, teve medo daquele plano não dar certo.
— Olha seus braços! — Arion apontou.
Até o momento ela não sentia dor, nem lembrava daqueles cortes.
— Os meus são superficiais, estão longe de ter a gravidade de sua perna. — ela resmungou.
— Isso não importa, busque as coisas no meu quarto e deixe eu cuidar dos seus ferimentos.
Winton encarava aquilo com estranhamento, Arion ignorava seu ferimento que realmente era grave, para poder se preocupar com finos cortes de Sharaene. Não conseguia entender o motivo de tal ato.
— Antes de cuidar dos outros você precisa cuidar de si mesmo, sua perna precisa ser costurada.— o menino falou.
— Ele está certo, então pare de ser teimoso! — repreendeu Sharaene.
— Eu tenho linha e agulha em uma bolsa debaixo da cama do quarto que estive. Já imaginava que poderia acontece algo do tipo, pegue lá para mim. — Arion pediu a Winton.
Sem pensar duas vezes o garoto correu para dentro.
— Fico feliz que esteja vivo. — Sharaene sussurrou.
— Você não vai se livrar de mim tão facilmente. — ele falou dando uma risada que mais parecia um gemido de dor.
— Essas provas estão cada vez mais difíceis. — ela alegou enquanto encarava o robô jogado no chão.
— Adolf tem todo o tipo de tecnologia ao seu lado, não hesitará em as usar para se divertir com nosso sofrimento. Se você perceber tudo aqui dentro é controlado por ele, quando essa prova começou até o fogo do refeitório apagou. Nós somos só brinquedos, só ainda não entendo o motivo de tudo isso.
Sharaene suspirou. Também não entendia.
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