Capítulo 32
O primeiro dia de aula foi, pela primeira vez em muitos anos, entediante. Jonathan nunca teve muitos amigos no colégio além de sua própria irmã e talvez mais um ou dois colegas com quem normalmente fazia os trabalhos em grupo, então não havia a ansiedade de quase todo estudante em rever seus amigos depois das férias. Principalmente quando seu melhor amigo acordara com uma terrível dor de cabeça e não quisera fazer companhia para ele naquela loucura que era o primeiro dia.
Jonathan passara quase a manhã inteira ao lado de Mirabela, pensando em tudo que queria mostrar daquele lugar para Willian no próximo dia, quando este estivesse melhor, e no que o amigo mais gostaria. Ele sabia que o garoto já frequentava a escola antes de ir para a cidade, mas assim como esse fato era óbvio, o fato de as escolas serem completamente diferentes também era.
Haveria muita coisa para ensinar a ele. Mas no próximo dia.
Agora, sentando em uma cadeira bamba, que ele aproveitava para ficar se mexendo e irritar sua irmã, Jonathan sentia um pouco de inveja de Willian por ter ficado em casa enquanto ele precisava ouvir as boas vindas de cada professor com quem tiveram aula. E, para piorar, a última aula era com um professor novo, que, aparentemente, estava disposto a passar o horário inteiro dando boas vindas e falando sobre sua vida.
De cinco em cinco segundo ele olhava para o relógio posicionado acima do quadro negro, ansioso pelo som do sinal ecoando pela escola inteira, seguido pelo empurra-empurra e a loucura que era a saída do colégio nos corredores internos, quando as "jaulas" eram abertas e "animais" saiam correndo desesperados. Talvez ele também se encaixasse nesses "animais", mas isso não vinha ao caso.
Faltava cerca dois minutos para o fim da última hora quando ele terminara de guardar os materiais. Mirabela olhou feio para sua ansiedade, mas logo desvia o olhar quando algo na porta dos fundos da sala lhe chamam a atenção. Rapidamente o menino olha para lá também, tentando entender o que despertara a atenção da garota.
Escorado na porta e acenando com a mão para sua irmã estava um garoto alto –mas não mais que ele-, de cabelos pretos como de um corvo e estranhos olhos coloridos.
-O que ele pensa que está fazendo aqui? A aula nem terminou ainda!
-Jonathan, você é a última pessoa que poderia julgá-lo. Faz desde o início da aula que você está preparado para ir embora!
-É, mas ao menos eu não saí da minha sala.
-Pode não ter saído de corpo, mas a tua mente nem sequer entrou nesse colégio hoje. E para de julgar o garoto, você nem ao menos sabe o porquê de ele estar aqui.
-Não precisa nem pensar para saber o porquê ele está aqui. –Murmura o garoto ao mesmo tempo que revira os olhos e volta o olhar para o relógio. Trinta segundos...
*************
Depois de uma longa e torturante caminhada acompanhando Mirabela e seu novo namoradinho –cujo termo a garota era capaz de pular no pescoço de quem o usasse- até o carro de Isabelle, Jonathan não pensou duas vezes antes de abrir a porta do veículo e se atirar no banco de trás, pensando que mais alguns segundos com o casalzinho e ele vomitaria.
Mirabela entra logo em seguida, mas apenas depois de dar um longo abraço em Gustavo, que sai caminhando em direção à uma moto estacionada próximo dali. Um homem de estatura média e um estranho rabinho de cavalo espera apoiado no veículo. O menino lança um olhar de ódio para o homem, mas não recusa o capacete que lhe é estendido.
-Jonathan, melhora essa cara, parece que acabou de ser atropelado por um caminhão. –Isabelle agora olhava para ele com uma cara de desgosto e preocupação estampada nas belas feições.
-Se você estivesse no meu lugar certamente não me pediria isso –O garoto murmura para si mesmo, mas aparentemente fora alto demais, pois a garota ao volante dá de ombros e responde:
-Se você está dizendo... só acho que seja um pouco de exagero e drama.
-Com certeza é drama... –Mirabela, que agora estava sentada no banco da frente junto à sua amiga, se intromete na conversa- Ou talvez seja um pouco de inveja...
-Acha mesmo que eu tenha inveja de você, irmãzinha?
-Não sei, mas explicaria esse mau-humor repentino toda vez que Gustavo se aproxima de nós. Sabe, acho que você deveria dar uma chance a ele. Vocês poderiam se tornar bons amigos...
-Eu não preciso de amigos, Mirabela! Eu tenho você e o Willian, ou talvez só o Will no momento, porque aparentemente você me trocou, não é?
-Veja do modo que quiser, Jhon, mas eu não te abandonei. Já parou para pensar que talvez eu estivesse no mesmo lugar que você quando Willian chegou lá em casa? Com a diferença que eu não tinha ninguém até virar amiga de Isabelle e mesmo assim eu não ficava dando showzinho de drama e fazendo cara feia para o Will!
-Porém o Willian não era nenhum desconhecido, além de ser bem mais confiável do que esse seu namoradinho.
Ele não teve tempo de reagir quando a irmã se vira enfurecida para ele e algo sai voando de sua mão, atingindo em cheio seu rosto.
-Em primeiro lugar, Gustavo não é meu namoradinho. Em segundo lugar, eu não teria tanta certeza de poder confiar cegamente em Willian, irmãozinho. Sabia que ele anda tendo algumas conversas um tanto quanto estranhas no domingo à noite com um tal de Lobo? Ontem mesmo eu ouvi, quando estava indo buscar minha caneta que eu hava esquecido na sala. Ele parecia bastante preocupado, mas acabei me esquecendo de perguntar sobre isso para ele ontem...
-E quer que eu acredite nessa sua história? O Will nunca nos trairia, Bella!
-Como assim trair? Do que vocês dois estão falando?
Os irmãos trocam um olhar espantado. Ambos tinham esquecido da presença de Isabelle e do que ela sabia sobre o que estava acontecendo com a família. Até então, para a garota, eles eram apenas uma família excêntrica que abrigaram o filho de uns amigos que sofreram um assalto e foram mortos. Nada que pudesse envolver uma traição.
-E então, não vão me responder? –Isabelle desvia os olhos da rua e se vira para Mirabela, aproveitando o semáforo fechado. –Estão escondendo alguma coisa, não é? Pensei que confiassem em mim! –Ela coloca a mão no peito dramaticamente enquanto fala a última frase, demonstrando que não leva totalmente para o lado pessoal o fato de não lhe terem lhe contado algo, mas sua voz e o brilho de mágoa no seu olhar a traem.
-Não, Izzy, imagina! É sobre um projeto que teremos esse ano no colégio, apenas isso- Mirabela com certeza costumava mentir muito melhor, e Isabelle parece notar isso também pelo olhar de dúvida que ela dirige à garota, mas apesar disso, apenas dá de ombros enquanto segue prestando atenção na rua.
O resto do trajeto é feito em total silêncio e Isabelle parece chateada o suficiente para ignorar a música que toca no rádio. Não que o garoto estivesse reclamando do fato de ambas as garotas estarem em um raro momento de silêncio e permitindo descanso aos seus ouvidos de suas vozes desafinadas ao cantarem, mas ver Isabelle, que estava sempre animada e sorridente, com um certo olhar melancólico o preocupava.
Isabelle mal oferece um sorriso de despedida quando estaciona em frente à casa dos irmãos, dando partida no carro logo em seguida. Mirabela lança um olhar de tristeza para o carro que segue seu curso antes de se juntar ao garoto que a espera segurando aberto o portão da casa.
-Mira, não fica assim, logo logo ela se esquece disso e vai ser como se nada tivesse acontecido, você vai ver.
-Eu só estou preocupada, porquê acho que não é apenas isso que a está incomodando. Izzy nunca foi de se importar muito com coisas assim. –Ambos param em frente à porta da casa enquanto Mirabela toca a campainha para que Willian abra a porta –Ou talvez ela realmente esteja começando a desconfiar que algo sério está acontecendo conosco. Não podemos negar que não somos exatamente discretos.
Mirabela toca mais uma vez a campainha de forma educada, mas então parte para uma quase agressão ao objeto quando Willian não aparece para abrir a porta.
-WILLIAN! Willian precisamos que abra a porta!
Jonathan, que anteriormente achava que era exagero de sua irmã aquele escândalo todo, começa a ter um pressentimento ruim quanto à demora do amigo. Da última vez em que um Turner não foi abrir a porta para eles, algo extremamente ruim havia acontecido.
Olhando em volta um tanto quanto apreensivo, o garoto finalmente nota o pedaço de papel preso no vinco da janela ao lado da porta de entrada, o qual nenhum dos dois haviam notado anteriormente mesmo estando bastante visível.
Deixando Mirabela espancando a porta e gritando como uma louca o nome de Willian, o menino tira a folha da janela e a observa melhor. Escrito com os garranchos inconfundíveis do melhor amigo, está um pedido de desculpa meio enigmático mas sincero, junto com a localização da chave da porta.
-MIRA! Para de espancar essa porta! –A garota finalmente se vira em sua direção e arregala os olhos, provavelmente ao ver as lágrimas em seu rosto e a carta em sua mão- Willian não vai abrir.
Ele se vira para a samambaia de sua mãe e tira de lá a chave, se dirigindo para a porta e para a irmã ainda em choque que o encara boquiaberta.
-O que... o que você quer dizer com isso, Jhon?
-Willian nos traiu, Mirabela! Ele fugiu com aquele tal de Lobo –A garota arregala um pouco mais os olhos- Parabéns, Mirabela, você estava certa. Está feliz?
-Jhon, é claro que não. –Ela vai até o irmão e o abraça forte- Eu sei o quanto ele era especial para você. Ele era meu amigo também! E eu também confiei nele, maninho. Não se culpe, OK?
-É só que...- Ele se desvencilha do abraço e tenta secar as lágrimas- Ele claramente estava mentindo hoje de manhã para não ir à escola e eu nem se quer me importei! E eu ainda fiquei bravo com você quando tentou me falar sobre as ligações mais cedo... Desculpe, Mira.
-Está tudo bem. Agora precisamos ver se ele não levou nada, pois não acho que ele sairia daqui de mãos abanando apenas para fugir.
-Mira, tem outra coisa. Na cartinha Will disse que estava indo se reunir com seus pais. Ou seja, os Turners estão vivos.
-Então eu não o culpo totalmente pelo que fez. Acho que se estivesse no lugar dele não teria feito uma escolha tão diferente assim, Jhon. Vá para olhar no seu quarto enquanto eu olho no meu para ver se está tudo OK. –Lhe dando uma piscadela, Mirabela segue para o lado do corredor que leva para seu quarto, deixando-o sozinho na sala, ainda criando forças para fazer o que a irmã mandara.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro