Capítulo 22
-Mirabela, levanta! –Jonathan batia repetidamente na porta, e a garota realmente pensava que mais um pouco ele a derrubaria. Desistindo de ficar na cama, ela levantou esfregando os olhos e murmurando xingamentos.
Não se incomodou em se arrumar antes de abrir abruptamente a porta. Despreparado, Jonathan, que estava apoiado na porta, quase vai de cara ao chão, algo que fez com que o humor de Mirabela melhorasse consideravelmente.
-E então? Por que batia tão desesperadamente na minha porta? –O sorriso desaparecia aos poucos de seu rosto, dando espaço a carranca de quem acabara de ser acordada. –Se não for um motivo realmente importante, você desejará não...
-Mal acordou e já está fazendo ameaças irmãzinha? Não acho que isso faça bem. –Recuperando-se do tombo, e fingindo que nada tinha acontecido, o menino lhe lança um olhar de deboche. –E sim, é algo muito importante, mal-humorada.
-Você vem me acordar e não quer que eu fique mal-humorada?
-Como se precisasse te acordar para que isso acontecesse- Murmura ele.
-Olha, se veio até aqui só para tirar com a minha cara, sugiro que de meia volta e me deixe voltar a dormir, ou pararei de fazer ameaças e as colocarei em prática. –Falou ela, lançando um olhar severo ao irmão, que agora mexericava em seu guarda-roupas, atirando algumas peças em cima da cama- O que você pensa que está fazendo Jonathan?! –Com uma expressão incrédula no rosto, ela começa a recolher as peças e dobrá-las novamente.
-Não estou fazendo isso para você guardar de volta, sua idiota. Vista-se. Precisamos sair em meia hora.
Antes que ela respondesse qualquer coisa, ou tivesse a chance de perguntar algo, Jonathan já estava saindo e fechando a porta atrás de si.
Seguindo a orientação do irmão, Mirabela vestiu as roupas em cima da cama, só para não se dar ao trabalho de dobrar aquelas e precisar escolher outro look. Seu irmão não tinha um gosto tão ruim assim, afinal. Rapidamente colocou a calça jeans e a camiseta com estampa de universo, jogando um casaquinho leve e preto por cima (o clima era imprevisível nessa época, então o melhor era estar preparada).
Olhando-se no espelho, não se surpreendeu com as enormes olheiras, que já faziam parte dela agora. Tentou disfarçar com um pouco de maquiagem, assim como a usou para dar um pouco de cor ao seu rosto pálido. Nenhum dos dois surtiu muito efeito. Felizmente ela não era de se incomodar com sua aparência, bastasse que não olhasse no espelho novamente. Os cabelos eram outro problema, então para poupar tempo e paciência, Mirabela simplesmente os prendeu em um rabo de cavalo firme no topo da cabeça.
Calçando seu all-star, o mesmo que há alguns dias acertara no rosto de seu irmão em um ataque de raiva, a menina abriu a porta e saiu apressada pelo corredor. Quase não conseguiu parar antes de trombar com Willian, que esperava do lado de fora do quarto de Jonathan, que provavelmente estava se arrumando. Não demorou para que o irmão saísse do quarto e os três seguissem para a cozinha juntos.
-Já podem me falar o que está acontecendo?
-Jonathan ainda não te contou? –Pergunta Willian, quase incrédulo.
-Eu tentei –Jonathan dá de ombros- Mas ela fugiu de mim ontem, e me ameaçou hoje... Então está difícil conversar com minha irmãzinha.
-Bem, estou totalmente disposta a ouvir nesse momento, mas até agora você só ficou tagarelando coisas sem sentido. –Parando abruptamente no meio do caminho, e se virando para encarar o irmão, ela continua– Você tem três minutos para começar a falar.
Revirando os olhos diante da ordem da garota, mas decidindo que não valia a pena comprar briga, ele começou a relatar os acontecimentos do dia anterior, torcendo para que, em troca, Mirabela falasse o que ela também fizera.
-Eu e Willian fomos ao hospital procurar Simons, ontem à tarde. –Mirabela não se conteve ao lançar um olhar acusador aos dois- Porém Katherine disse que ele não trabalhava mais lá, na verdade, ele nem se quer mora mais aqui. Aparentemente ele se mudou para outro estado no dia seguinte a nossa "visita", dizendo estar ajudando nosso pai.
-Aquele desgraçado! Eu falei para você que mostrar a carta para ele era uma péssima ideia. Eu avisei!
-Sim Mirabela, você avisou, e talvez estivesse certa. E realmente estaria se não fosse pela ligação que nossa mãe recebeu fazem umas duas horas.
-Está dizendo que Marcel ligou para nós, depois de um mês desaparecido, estranhamente coincidindo com o dia seguinte que vocês foram até o hospital? –Talvez ela fosse desconfiada demais, mas melhor ser atento e tentar evitar riscos, do que fazer as coisas na impulsividade e na emoção sem pensar nas consequências (assim como seu irmão costumava fazer).
-Ela está certa, Jonathan. –Essa frase foi capaz de fazer Mirabela gostar ainda mais de Willian, abrindo um enorme sorriso de vitória em seguida- Pode ser uma armadilha.
-O que pode ser uma armadilha? O que Marcel disse?
-Se me deixar terminar de falar antes de interromper, talvez eu responda a suas perguntas. –A menina apenas revirou os olhos e continuou a andar em direção à cozinha, enquanto Jonathan narrava sobre a ligação. –Marcel ligara dizendo que precisava nos encontrar, que tinha informações e uma coisa para nos entregar. Ele deu as coordenadas do lugar. É um restaurante, por isso precisamos nos apressar –Lançando um olhar acusador para a irmã, ele prosseguiu- caso não tenha notado, você dormiu até as onze e meia.
-Estou de férias Jonathan. Não ligo para que horas acordo. Deveria tentar algum dia, ao invés de atrapalhar o sono dos outros.
Sua mãe esperava recostada na porta que levava ao exterior da casa, girando compulsivamente a chave do carro nos dedos finos. Assim que os três adolescentes entraram no cômodo, ela dirigiu um meio sorriso para eles, murmurando um bom dia logo em seguida. Era evidente que estava desconfortável com a situação, que desconfiava do convite, porém agora era tarde demais para voltar atrás. Sem escolha, apenas rumaram para a garagem, agora iluminada pela luz da manhã.
************
O restaurante ficava no centro movimentado da cidade, onde encontrar um estacionamento próximo, naquele horário, fora algo quase impossível, que deixou sua mãe extremamente irritada.
O lugar não estava muito cheio, com alguns casais sentados em mesas dispersas pelo grande espaço. Não apresentava ser um restaurante chique, ou caro, mas o cheiro da comida inundava o local, fazendo o estômago de Mirabela roncar e a incentivando a entrar sem demora. Aparentemente não havia nenhum perigo os espreitando e ouvia-se apenas um burburinho de conversas aleatórias. Varrendo o local com os olhos, em busca tanto de Marcel, quanto de comida, Mirabela encontra o homem na extremidade oposta em que estavam.
Marcel manteve o contato visual com ela, abrindo um breve sorriso e sinalizando para que fossem até ele. Mirabela puxou delicadamente a camiseta da mãe para lhe chamar a atenção, mostrando onde Simons estava. Os quatro se dirigiram até ele devagar, sempre atentos a movimentação ao seu redor. Ou Marcel era muito era muito distraído, ou apenas ignorou o desconforto da família.
O homem levantou, assim que eles se aproximaram, e cumprimentou a todos com um breve abraço. Marcel estava vestido formalmente, destoando de todo o resto do grupo, além do estilo do restaurante. Mas não demonstrava se importar com isso.
-Fico feliz que tenham aceitado meu convite para se juntarem a mim no almoço.
Apontando para as cadeiras e sentando-se, seguido por Mirabela e sua família, ele continuou, ainda severamente observado por todos:
-Eu estava de passagem pela cidade e decidi matar a saudade, além de ver como estavam –Vendo as expressões duras do resto do grupo, exceto de Willian, que parecia não ter essa capacidade, ele complementou- Devem saber que saí do hospital e me mudei, não é?
-É, coincidentemente descobrimos isso ontem, sabia? –Jonathan lançou um olhar afiado para o homem- Deveríamos nos preocupar, Marcel?
Mirabela, que agora segurava o dedo indicador de Jonathan por debaixo da mesa –uma mania que os dois criaram desde pequenos quando estavam nervosos-, não pôde deixar de se espantar com a fala do irmão. Ele devia estar se culpando muito por ter insistido em mostrar a carta ao homem que agora os encarava, e que por enquanto, até que não se provasse o contrário, os estava traindo.
-Entendo a desconfiança, Jonathan, mas prometo que não precisam se preocupar. Katherine deve ter falado que saí no dia seguinte a sua visita, estou certo? –Os dois garotos menearam afirmativamente cabeça para ele, gerando uma expressão de insatisfação no rosto de Eliza (provavelmente teriam uma conversa ao chegarem em casa) – Assim como falou que o fiz por causa de seu pai, não é? –Novamente eles confirmaram- Katherine nunca falha. Bem, isso tudo realmente aconteceu. É uma longa história, para a qual não temos tempo agora, mas que em breve esclarecerei. Prometo. Já estou arriscando ao me encontrar com vocês agora, mas eu precisava falar sobre isso, antes que criassem ainda mais suspeitas contra mim. Eu juro a vocês que estamos juntos nessa e que o que fiz realmente foi pelo seu pai. Eu nunca trairia vocês. Conseguem confiar em mim?
Com um olhar esperançoso, ele encarou a todos na mesa individualmente, tentando obter sua resposta através das expressões deles. Mirabela e Jonathan trocaram palavras silenciosas e, apertando ainda mais o dedo do irmão que ela ainda segurava, a menina respondeu por todos:
-Tentaremos.
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