Capítulo III: Mais segredos
"Got a secret
Can you keep it?
Swear this one you'll save
Better lock it, in your pocket
Take this one to the grave"
Secret - The Pierces
— Fala sério, Ella! — gritava Ben, tentando tirar o waffle, que peguei de seu prato, da minha mão. Coloquei na boca antes que ele pudesse alcançar.
— Vocês dois estão parecendo crianças — disse papai e eu sorri sem mostrar os dentes por causa da boca cheia. Ben apenas bufou, enquanto colocava café em um copo. — Por que está tão irritado logo cedo, garoto? Hoje nem é segunda-feira para tanto mau humor.
— Não é nada — ele respondeu, mexendo o açúcar no café como se sua vida dependesse daquilo.
A verdade é que o relacionamento de Ben e Juliet ia de mal a pior. Ontem, quando cheguei da casa de Karyn, a primeira coisa que ele fez foi me arrastar até o quarto dele para ouvi-lo desabafar por horas a fio. Quando Benjamin precisava de mim para ajudá-lo com o namoro, era porque as coisas estavam sérias de verdade.
Juliet era um amor de pessoa. Ben e ela se conheceram durante os primeiros anos na escola e viraram amigos, até que se tornaram, oficialmente, um casal. Eu acompanhei de perto toda a transformação de amizade para namoro e sou a maior shipper do casal.
O problema é que Juliet não aceitou muito bem essa mudança de cidade que nós fomos obrigados a fazer e as brigas deles eram constantes. Ben também não queria aceitar a mudança, então a convivência com meu pai não estava mais como antes.
A família do comercial de margarina estava passando por alguns momentos difíceis.
Ben se levantou, me chamando e dizendo que, se eu não fosse rápida, me deixaria ali mesmo. Me despedi dos meus pais e levantei, correndo para fora de casa quando ouvi a buzina do carro que meu irmão havia ganhado de aniversário. Nesse tempo, a nossa vida financeira ainda era controlada.
A questão das finanças até agora não era estável. Meu pai havia conseguido um emprego em um hotel no centro da cidade, era algo temporário e ele estava em fase de teste para descobrir se ficaria lá ou não.
No carro, Ben não havia nem ligado o som e encarava o caminho à sua frente como se fosse a primeira vez que estivesse andando por ali. Eu sabia que algo estava errado, muito errado.
— Vamos, irmão, conte o que está acontecendo — falei com um ar sério e ele me encarou.
— Como você sabe que aconteceu algo? Já contei tudo para você ontem — retrucou e eu bufei.
— Benjamin, se não tivesse acontecido algo, você estaria mais "leve" hoje, mas você está pior do que ontem. É claro que aconteceu alguma coisa.
Ele bufou e começou a falar. Muito.
— Sabe, Meg — Ben me chamou pelo meu apelido carinhoso —, a vida é uma droga. Em um momento, tudo está bem e, no momento seguinte, tudo desmorona e você fica de mãos atadas, sem poder fazer nada. É como areia escorrendo pelos seus dedos enquanto você tenta, desesperadamente, fazer alguma coisa pra se salvar e salvar todos ao seu redor.
— Não é o fim do mundo, Ben — eu disse com a mão no seu braço e tentando, de qualquer forma, confortá-lo. — Você não perdeu ainda, há tempo.
— É o fim do mundo sim, Meg. Eu já perdi.
O resto do caminho nós fomos em silêncio. Eu não tinha o que falar para ele. Se o pressionasse para que ele me explicasse aquilo direito, ele explodiria e eu teria que catar todos os caquinhos antes de chegar ao colégio. Isso, realmente, seria algo para depois.
— Ei, docinho! — Louisie gritou assim que eu passei pela porta da sala. Ela estava sentada com uma caneta na boca enquanto acenava freneticamente para mim.
— Oi, Lou — cumprimentei-a, sentando na cadeira à sua frente.
— Demorou a chegar. Aconteceu algo? — perguntou.
— Problemas que não são meus — disse e ela assentiu. — Cadê a Karyn?
— Não faço a mínima ideia.
Então ela passou a prestar atenção nas pontas de seu cabelo e eu me virei para frente, puxando meu diário disfarçado de caderno de dentro da mochila. O que? Uma garota comum não pode ter um diário?
Minha atenção foi tirada do que eu escrevia quando a voz estridente de Karyn ecoou do lado de fora, fazendo todos os alunos que já estavam na sala, inclusive Lou e eu, erguerem os olhos e se levantarem para ver o que estava acontecendo no corredor.
— Você é um babaca, Johann! — ela dizia, apontando para o rosto de um garoto, que eu me lembrava como sendo o "inimigo de Brian" como eles disseram ontem, enquanto seus livros estavam no chão e seu rosto completamente vermelho. Estava decretada a guerra entre os mais populares da escola.
Evan passou por Johann, segurando Karyn pelos ombros, enquanto Louisie e eu pegávamos os livros jogados no chão. Johann sorria enquanto acenava, olhando para Ka, que soltava fogo pelas narinas. O ruivo deixou Karyn comigo no banheiro feminino e voltou para brigar com Johann, o que Louisie estava tentando tirar da cabeça dele.
— O que aconteceu entre vocês dois? — perguntei ao mesmo tempo em que a Ka apoiava as mãos na pia, respirando fundo algumas vezes antes de se virar para mim.
— Aquele Johann é um babaca e eu tenho tanto ódio dele! — falou com os olhos e o rosto vermelho. — Ele decidiu que seria uma boa ideia vir mexer comigo, El, mas ele vai se arrepender. Ele vai pagar caro por isso!
Ela respirava fundo e eu, realmente, não entendia porque Karyn estava com tanta raiva. Que Johann era um babaca, aparentemente todo mundo já sabia, além de que ele e a gangue incomodavam todo o colégio, mas a raiva de Karyn era novidade.
— Vamos para a sala, por favor, não quero pensar nisso agora — ela disse, secando as lágrimas e apontando para a porta fechada do banheiro.
Na hora de passar pela porta, no entanto, eu me esqueci completamente do diário-caderno que carregava na mão direita. Bati na parede, o que fez com que minhas partituras caíssem no chão, bem em cima de algumas gotas de água.
— Não, não, não, não, não, não... — comecei a dizer desesperada e Karyn me olhou como se eu fosse doida.
— Espera... — ela disse, tentando ligar os pontos. — O que você toca?
— Por favor, Ka — pedi. — É segredo.
— Mais um segredo?!
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