Capítulo 11 - Rumores
Lavínia só queria terminar de assistir o seu anime em paz, mas desde que voltara de viagem, sua mãe estava insuportável. Ela já havia pedido à garota para fazer um milhão de coisas (arrume seu quarto, tire a roupa lavada da máquina, estenda a roupa no varal, faça um suco de laranja) como se trabalhos domésticos fossem o que Lavínia mais quisesse fazer no último final de semana antes das aulas voltarem.
Ela havia viajado na sexta passada e só voltara nesse sábado à noite. Era a primeira vez que viajava sem os seus pais e, talvez, sua mãe estivesse apenas querendo usufruir da sua presença novamente em casa depois de oito dias longe. A mãe de Lavínia não era exatamente uma pessoa sensível, mas as duas tinham um ótimo relacionamento. E, como toda mãe, ela sentia saudades da filha quando passava tanto tempo fora.
O pai da garota era um pouco mais sentimental porque "para ele, ela seria sempre o seu bebê". O que era uma coisa muito brega de se dizer, mas também um tanto fofo. Melhor assim do que se seus pais não dessem a mínima para ela, não é mesmo?
Ela estava terminando de espremer as últimas laranjas quando sua mãe adentrou a cozinha. O espremedor elétrico fazia um barulho alto e Lavínia ainda sentia muito calor por causa da pele queimada de sol. Estava com o rosto todo esbranquiçado graças ao creme hidratante que a mãe passara pra aliviar a ardência e deveria estar parecendo uma múmia - mas pelo menos o cheiro de canela era gostoso.
Teresa parou no batente da porta e cruzou os braços, fitando a filha com olhos maternos amorosos e observadores. Daqueles que, quando você os percebe, franze a testa e pergunta:
― O que foi? - Lavínia disse, logo voltando para suas laranjas.
― Você está muito magra. Tem certeza de que comeu direito durante essa viagem?
A garota revirou os olhos.
― Mãe! Nós já falamos sobre isso umas três vezes desde ontem, eu já disse que sim. A mãe da Anaju fazia a gente comer o tempo todo.
― Hum - Teresa resmungou, ainda sem acreditar totalmente. - Vou pedir uma pizza, você vai querer?
― Claro. Não se diz não a pizza.
Teresa assentiu, sorrindo, e se aproximou da filha. Fez um carinho em seu ombro e beijou a cabeça ternamente. Ela era uma mulher muito prática e inteligente. Trabalhava - muito - como paisagista, mas, como era característico das mulheres do século XXI, administrava casa, emprego e filhos como se tivesse 30 horas no dia, ao invés de 24. Estava sempre fazendo alguma coisa, odiava ficar parada. Ao contrário do seu marido, que era muito pacato e achava que um domingo perfeito era aquele em que passava assistindo a algum jogo de futebol na TV com sua cerveja do lado. Lidava com a vida e seus pacientes no consultório dentista com muito bom humor.
Nenhum dos dois pensava em ter filhos e, por isso, fecharam a fábrica depois da surpresa que foi Lavínia. Filhos únicos sofriam o estigma de serem mimados e autocentrados, mas isso nunca aconteceu na casa dos Lemes. Por mais que ambos, pai e mãe, fossem muito apegados à sua filhinha.
Educar era muito difícil. Mas Lavínia nunca deu trabalho aos pais além de ser muito cabeça-dura. Quando criança cismava com alguma coisa e argumentava como um adulto até conseguir o que queria. É claro que isso nem sempre acontecia, porque Teresa não dava mole, mas a menina nunca desistia. Ela sempre pareceu muito mais crescida do que realmente era. Como dizia seu avô paterno, "Lala já tinha nascido com trinta e sete anos".
Ela terminou de espremer as laranjas e colocou o suco na geladeira antes de voltar para o seu anime. Finalmente estava assistindo Sailor Moon Crystal, porque havia se viciado nos mangás que pegara emprestado com Isabel nas férias. Lavínia sabia que Sailor Moon era um anime dos anos 90, antes mesmo dela ter nascido, mas gostava do gráfico mais moderno do remake que foi feito em 2015.
Pra falar a verdade, ainda estava cansada demais por ter passado a semana inteira indo pra praia e saindo a noite com os amigos ininterruptamente. Nem tudo havia sido... Bem, nem tudo foi perfeito durante a viagem. Mas a casa dos pais de Anaju ficava bem no centro de Cabo Frio e eles conseguiam fazer praticamente tudo andando - e, por isso, quase não paravam em casa. O que era ótimo porque, aos dezesseis anos, nenhum deles ainda dirigia.
Dezesseis anos.
Faltava tão pouco para o aniversário dela! Aquela data parecia mágica, como ultrapassar uma etapa e deixar a fase anterior para trás. Na cultura brasileira, os quinze anos é que geralmente simbolizavam essa transição, porém Lavínia sempre teve um carinho especial pelos dezesseis.
Mas aqui estava ela, sem ainda fazer ideia de como comemorar. Aquele não era um ano bissexto, portanto, tecnicamente, o dia 29 de fevereiro não existia. Todo ano Lavínia se questionava se deveria comemorar no dia 28 ou no dia primeiro de março e seus pais também nunca se decidiam fácil quando faziam festas para ela durante a infância.
A garota estava matutando sobre seu aniversário - amanhã já era dia 27! - e assistindo Sailor Moon pelo notebook deitada na cama, quando seu celular vibrou ao seu lado. Lavínia deu pause no episódio e o pegou na mesma hora.
Paulo: Lavs ta td certo entre a gente msm né?
A menina fez um som de lamento, desejando não ter visualizado a mensagem naquele momento. O que ela poderia dizer a ele que já não tivesse dito na sexta? E foi horrível. Ela nunca se sentiu tão mal assim antes, por mais que já tivesse passado por situação parecida no ano passado. Mas Paulo... Eles eram amigos e agora ela não sabia como agir com ele sem esconder como estava se sentindo pelo que aconteceu.
Ela respirou fundo e digitou da maneira mais sucinta.
Lavínia: Claro que sim.
Ela sabia que não o havia convencido porque, apesar de pouco tempo de convivência, Paulo a conhecia bem. Mas Lavínia não queria falar sobre aquele assunto agora. Primeiro porque queria tirar a lembrança de sexta-feira da sua cabeça e segundo porque havia se arrependido.
Nem para Cami ela tinha contado. Só Anaju sabia, porque voltara para casa pra pegar o protetor solar que havia esquecido e acabou... Presenciando.
Lavínia apagou o celular e o colocou no chão pra não sentir quando ele vibrasse de novo. Então voltou para o seu anime, sentindo o nó que se formara em seu peito se desfazendo enquanto mergulhava na história da Usagi e do Mamoru.
Ela acabou pegando no sono.
E não estava preparada para encontrar o Paulo no dia seguinte.
A viagem como um todo havia sido maravilhosa. Sua amizade com Anaju só crescia e, até mesmo Thaís, que tinha um pouco de ciúmes dela, fora agradável. Ela se divertiu tanto que gostaria que aquele feriado não terminasse... Mas então veio a sexta-feira e acabou com toda a graça. Pelo menos foi o penúltimo dia.
Ela chegou à escola com seus fones de ouvido na orelha e os habituais tênis vermelhos surrados, com uma expressão de poucos amigos no rosto. Lavínia odiava quando se sentia insegura sobre como agir, sobre o que fazer. Porque ela sempre foi decidida, ela nunca teve medo de nada e gostava de viver assim, sem deixar as coisas a abalarem.
Ela só podia estar na TPM.
Estava um pouco cedo e a garota sentiu alguns olhares a acompanharem enquanto atravessava o pátio da escola para esperar o sinal tocar. Sentou-se em um banco livre e segurou a mochila na frente do corpo.
― E aí, Lavagirl - disse Fabrício, esparramando-se ao lado dela no banco. Lavínia tirou os fones pra poder ouvi-lo direito. - Nossa, seu nariz já tá descascando.
Ela estava prestes a responder, mas sua atenção fugiu para um grupinho de garotas cochichando e olhando pra os dois no banco. Lavínia ficou encarando, porque ela era esse tipo de pessoa, até as meninas se virarem constrangidas. A garota franziu o cenho.
― Oi - respondeu sem disfarçar o mal humor. - Está todo mundo cochichando pelos cantos hoje.
Fabrício olhou ao redor por um segundo e deu de ombros.
― A gente tá na escola, é isso o que as pessoas fazem aqui.
Lavínia deixou escapar uma risada pelo nariz e encarou o amigo. É claro que ainda estava de olho nos cochichos ao seu redor. Ela sabia que, sim, todo mundo falava de todo mundo pelos cantos do colégio, mas, de alguma forma, parecia que todos estavam fofocando sobre ela naquela manhã.
No ano passado, quando seu ex-namorado espalhou o boato das nudes, foi graças ao movimento estranho do resto dos alunos quando estavam perto dela que Lavínia se deu conta de que havia algo errado. Então, ok, pode ser que ela esteja um pouco paranoica e ainda com sono, mas fatos são fatos.
E o sexto sentido de Lavínia não costumava falhar.
― Quem precisa estudar, não é mesmo? - ela respondeu, deixando os ombros caírem e tentando relaxar. A verdade era que a menina não queria encontrar com o Paulo e isso podia ou não estar mexendo com o seu psicológico. - Cadê a Anaju?
Ela sabia que Fabrício vinha de carona com a amiga, mas não a estava vendo em lugar algum no pátio. As pessoas continuavam a encara-la com rostos curiosos e conversinhas em tom de sussurro, entretanto.
Ninguém merece, Lavínia pensou, bufando. O que foi que eu fiz dessa vez?
Porque claramente não era coisa da sua cabeça.
― Tá com febre, acredita? É muito mole desde criança, não aguenta uma piscininha - Fabrício respondeu, rindo da amiga.
― Sério? Vou mandar mensagem pra ela então - Lavínia já estava sacando o celular do bolso.
― Cara tem uma pele do seu nariz descascado que tá pra cima, deixa eu tirar...
Ele estendeu a mão na direção do nariz da garota, mas ela a estapeou pra longe, com uma cara de "o que você fumou, seu doido?". Fabrício não conseguia parar de olhar pro nariz dela, o que era muito bizarro e engraçado ao mesmo tempo, e a fez rir no fim das contas.
― Deixa meu nariz em paz - ela ordenou, tapando-o com a mão esquerda.
― Cara, mas tá me dando muito nervoso.
― Lavínia.
A voz de Cami chamou a atenção da menina. Ela encarou, ainda rindo, a amiga parada um pouco distante do banco. Estava com uma cara séria, mas Cami não era uma pessoa matutina e sempre parecia a ponto de assassinar um leão nas primeiras horas depois de levantar.
― Ei, Cami. Chega mais - Lav chamou.
Fabrício esquivou uma sobrancelha quando fitou a amiga de Lavínia e abriu seu sorriso de garoto levado para ela.
― Cabelo legal - ele disse, referindo-se aos fios alaranjados e gigantescos de Cami, soltos e sedosos demais para uma segunda-feira de manhã. Como é que ela conseguia?, Lavínia sempre se perguntava.
Por um breve momento, Cami registrou a presença de Fabrício ali também e pressionou os dois lábios um no outro, como quem está pensando em alguma coisa.
― Valeu - ela disse, mas logo voltou sua atenção para a amiga. - Nia, podemos conversar?
Lá estava o tom de seriedade de novo. E, dessa vez, Lavínia acreditou.
― Ok - ela disse e se virou para Fabrício. - Depois a gente se fala, Brício.
As duas meninas seguiram para o outro lado do pátio, com Cami a frente de Lavínia em uma postura rígida que dizia... Lavínia não fazia ideia do que aquilo significava. Será que tinha a ver com todos os cochichos ao seu redor? As pessoas a encaravam cada vez com menos pudor, como se ela estivesse em um observatório e não só indo procurar um lugar reservado pra conversar com a melhor amiga.
E Lavínia odiava essas coisas. Essa necessidade das pessoas no colégio de ridicularizarem os outros de alguma maneira, como se fofocas fossem o seu oxigênio e não houvesse nada melhor do que falar "por trás" sobre o que fulano ou ciclano fez "de errado" no fim de semana.
Fulano podia fazer o que bem entendesse.
E isso não era da conta de ninguém.
Muito menos de adolescentes sem ter mais o que fazer na vida além de apontar o dedo julgador para o coleguinha.
― Que isso hein, Lavínia - um garoto disse com um tom de deboche irritante na voz. As duas amigas pararam e se viraram para trás, dando de cara com um grupo de pessoas do terceiro ano. Algumas meninas abafaram o riso e todos que estavam em volta prestavam atenção na conversa. - Eu sempre soube que você era fácil, mas tô surpreso. Quero também.
A menina franziu o cenho enquanto as pessoas riam e arfavam diante do comentário do idiota.
― O que foi que você disse? - ela indagou, da sua maneira intensa e sem brecha para gracinhas.
Mas o garoto não se intimidou.
― Quero saber quanto custa a hora com a Lavínia Corrimão - ele disse.
Uma das suas amigas não conseguiu se segurar e soltou uma gargalhada alta. A outra disse:
― Deve ter rendido bem nesse fim de semana, se já tá cobrando.
Mas Lavínia, apesar de morrendo de raiva, não estava entendendo coisa alguma.
― De que merda vocês estão falando? - ela exigiu saber.
Cami a puxou pra trás pelos ombros, mas a garota se soltou. É ruim que deixaria as coisas mal ditas daquela maneira. Se estavam inventando fofocas sobre ela pelo colégio, ao menos ela tinha o direito de saber o que era.
― Nia...
― Do que vocês estão falando? - Lavínia repetiu mais incisiva ainda do que da primeira vez. Seus olhos azuis eram duas facas de pontas afiadas, prestes a serem atiradas no primeiro engraçadinho.
― Ah, agora ela está com amnésia, gente - a menina da gargalhada debochou. Todas as pessoas ao redor reagiram de alguma forma, ora rindo, ora sussurrando coisas que ela preferia nem ouvir mesmo.
Seu sangue corria quente pelo corpo e o coração estava disparado. De raiva, de frustração, até mesmo de medo do que estava por vir. Aquilo de novo, não. Devia haver um limite para as pessoas inventarem coisas sobre as outras. Por que justo ela?
Será que estavam falando...
― Vai se fazer de desentendida e fingir que não abriu as pernas pro Paulo no Carnaval? Todo mundo já sabe de tudo.
E então a espinha de Lavínia gelou.
― O que? - ela disse mecanicamente, sem acreditar no que estava ouvindo.
― É isso mesmo - o garoto quecomeçou todo aquele alvoroço disse, com um prazer doentio nos olhos por poderridicularizá-la. - Todo o colégio já está sabendo que você pegou o Paulo e o Fabrício nesse feriado. E eu tepergunto de novo, quanto é que é a hora?
Faaaaaaaaaaala, Folks! Estamos de volta no BatCanal com mais uma #MadrugsBoladona! *comemora* Antes de mais nada, queria dizer que eu seeeeeeeeeei que ta difícil se acostumar a um capítulo só por semana, eu juro que entendo vocês. Também fico ansiosa com as histórias que eu leio. E eu gostaria MUITO de poder postar mais vezes, mas realmente só to conseguindo escrever um por semana e olha lá #chorando. A vida ta corrida, Folks. Mas prometo que, ao menos, vou sempre fazer de tudo pra não deixar vocês na mão às quintas *pisca*.
Ahhhhhhhhhhhh outra coisa importante: Não sei se ficou claro, mas a história de SOP se passa poucos meses após o fim de SOMT. Mas lembrem-se: em SOMT a gente tem um super pulo temporal de 10 meses então a Cali começa a história com 16 anos e faz 17 no meio desse tempo que foi pulado. Por isso, agora em SOP, ela ta fazendo 18. Algumas pessoas ficaram confusas, então achei melhor esclarecer.
O capítulo passado teve muita comoção, gostei de ver hahaha Obrigada por todo o apoio e segurem os forninhos porque o de hoje ta inTenso. Ali em cima está o vídeo mais recendo do meu canal e espero que todos tenham uma boa semana.
Beijos e queijos, câmbio desligo.
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