capítulo um: bem-vindo ao instituto
Era comum em muitas escolas ao redor do mundo ocorrer cerimônias de boas-vindas no primeiro dia de aula. No entanto, no Instituto La Brede, a situação era um pouco diferente. O retorno das férias era um evento, uma tradição elegante e chamativa, considerada praticamente um "desfile ao ar livre", de acordo com Chandler Scott.
Naquele dia especial, os uniformes não eram obrigatórios. E para adolescentes milionários, a permissão só podia significar uma coisa: incontáveis pulseiras envolvidas em diamantes e anéis de ouro da Cartier, reluzentes como a luz do Sol. Chandler estava cercado por saltos Louboutins, bolsas Saint Laurent, vestidos Versace, camisetas Balenciaga, jaquetas Louis Vuitton, perfumes Clive Christian e mais inúmeras marcas luxuosas que eram usadas com o único objetivo: criar a composição perfeita de cada estudante perfeito com o poder perfeito.
Os estudantes saíam de seus carros luxuosos enquanto homens de meia-idade abriam as portas traseiras, desvelando um tapete vermelho imaginário que conduziria cada um até a entrada do internato. Entre trocas de impressões sobre as férias em Mônaco, o último final de semana no Castelo de Cotswolds e a breve parada do jatinho particular em uma mansão nos Alpes Suíços, eles se vangloriavam. Posteriormente, adotavam poses pomposas, abriam as câmeras de seus celulares de última geração e exibiam sorrisos despreocupados.
Chandler era um regular do Instituto, o que significava que ele já havia presenciado o evento e aqueles comportamentos muito mais vezes do que desejava.
— Se certifique de fazer muitos amigos. Principalmente com aquele garoto, o Jace — seu empresário disse, olhando ao redor, como uma águia afiada analisando suas presas. Ele tinha uma lista mental de cada aluno, suas estimadas fortunas e seus rankings. Era mais competente do que um jornalista investigativo e estava sempre preparado para criar um marketing estratégico e progredir a ascensão de Chandler Scott.
Stanley Walton podia ser uma pessoa insistente, e Chandler, com certeza o mandaria embora se pudesse, mas nunca poderia negar que ele era extremamente habilidoso no seu trabalho. Cuidar da carreira do ator americano e gerenciar suas redes sociais enquanto ele terminava seus estudos era o seu trabalho mais difícil. Chandler tinha um público fiel e era reconhecido por onde andava, a faixa etária de doze anos aos dezoito anos o exaltava em páginas no Instagram e exerciam uma criação de conteúdo exagerada de edições no tiktok, sempre recordando de suas participações em grandes filmes de Hollywood. Nem mesmo seus papéis na Disney, quando era apenas uma criança, eram esquecidos. Chandler era diariamente lembrado e seu empresário estava disposto a dar tudo de si para que continuasse daquela forma.
— Eu já tentei — Chandler disse, puxando a mala de rodinhas. Ao seu redor, serviçais e mordomos pessoais de alunos carregavam seus pertences. Não muito longe dele, uma senhora puxava uma arara com vestidos protegidos em sacos plásticos. Um outro homem carregava cinco caixas de sapatos de uma vez, uma em cima da outra, parcialmente cobrindo sua visão.
— Tem que continuar tentando — Stanley também puxava uma mala, além de uma mochila nas costas e outra mala em seu ombro. — Ele não é tão intocável quanto parece. Eu conheço adolescentes. Se fazem de únicos e especiais, mas são solitários por dentro. Você só precisa de uma boa abordagem.
Eles atravessaram o jardim central, onde paralelepípedos de pedras traçaram um caminho até uma estátua de Montesquieu, feita de pedra calcária, com mais de dois metros de altura. Aos pés da escultura, uma placa de bronze carregava a frase:
"Para se tornar verdadeiramente grande, é preciso estar ao lado das pessoas, não acima delas".
Descansando nas montanhas de Silver Plume, no Colorado, La Brede foi construído em 1900, por George Washington Vanderbilt II, sendo um exemplo notável da arquitetura do renascimento francês. A estátua foi erguida ao mesmo tempo que as paredes. O castelo foi batizado com o nome "La Brede", uma região da França na qual Montesquieu viveu. Por muito tempo, o local teve os ensinamentos do filósofo como doutrina. Foi criado para ser uma mansão para a família de George, porém abandonada após o seu falecimento. Por muito tempo, se tornou atração turística até ser tomada pelo governo americano para a criação de um Instituto de treinamento para jovens com os poderes perfeitos, moldados para se tornarem o futuro da humanidade.
Os Soberanos.
La Brede, com portas majestosas e torres altas, misturava o antigo e o atual, espalhando telas digitais pelos interiores, que mostravam o ranking mensal dos melhores alunos. Chandler havia acabado de passar por uma, andando pelo salão principal e subindo as escadas em direção ao dormitório. Jace Velmont estava em primeiro há tanto tempo que era apenas um borrão em sua vista periférica.
— Esse garoto... é importante para o seu... futuro... — Stanley disse, puxando o ar entre as palavras. Ser um local tão grande tornava as coisas difíceis em um dia de mudança como aquele. Subir as escadas, puxando quilos de roupas não era uma tarefa que o empresário estava acostumado a fazer. — Mesmo que você não se torne um Soberano... ele vai. Imagina como seria a sua carreira, se você fosse amigo íntimo de um Soberano de verdade? As propostas seriam infinitas. Isso é importante e você tem que aproveitar as oportunidades.
Chandler suspirou fundo quando as malas aterrissaram no segundo andar. Seu quarto, o número 12 projetado na porta, o esperava após dois meses de longas férias.
— Vou me esforçar — Chandler disse, esperando que aquilo fosse o suficiente para Stanley deixasse o assunto de lado. O homem o olhou, apertando os olhos azuis. A barba estava perfeitamente bem aparada e sua gravata escura perfeitamente alinhada. Stanley era perfeccionista demais para deixar Chandler em paz.
— Jace é a sua melhor chance. Usa seu charme! Todo mundo te ama. Por que ele não amaria?
A porta era outra divergência entre o digital e a antiguidade. A forma de abertura, era com o reconhecimento biométrico. A segunda forma de abertura, era a liberação por um aplicativo exclusivo, onde também era possível liberar o aposento para limpeza e recolhimento de roupas e lençóis. Chandler pressionou seu polegar e um bipe rápido revelou a abertura bem sucedida.
— Chandler — Stanley colocou a mão em seu ombro, sua voz era rouca e deliberadamente lenta. — É o seu último ano. Deixe os seus pais orgulhosos. Fique longe dos perdedores e mais perto do topo.
Ele puxou o garoto para um abraço forte, dando tapinhas amigáveis no ombro. Quando ele soltou o aperto, deu um sorriso grande, os olhos brilhando como um pai orgulhoso.
— Vejo você em breve. Vou verificar com seus pais a possibilidade de aparições públicas no fim de semana. E não se esqueça de manter seu Instagram atualizado, todos os dias. Eu sei que celulares são proibidos fora do dormitório, mas tire foto com o uniforme, as meninas adoram e o engajamento é incrível.
Chandler deu um sorriso engessado, andando a passos lentos para acompanhar o homem até a porta.
— E claro, não se esqueça do Jace. O segundo lugar, Elliot McCoy também é indispensável. Eles são amigos, mas não são inseparáveis. Um trio é melhor do que um duo.
— Claro — Chandler manteve o sorriso, balançando a cabeça teatralmente, mas continuando com os passos leves, o obrigando a segui-lo.
— Foque nos estudos. Você é um ótimo ranking, 20° não é pra qualquer um, principalmente para você. Mas todos sabemos que você consegue mais do que isso. Estamos ansiosos para ver você entrar no top 10.
— Eu também estou.
Na frente da porta aberta, Chandler aumentou o sorriso.
— Preciso desmanchar minhas malas — ele disse, despretensiosamente.
— Claro, claro! — Stanley mal conseguia conter a ansiedade, quanto mais as palavras. Ele puxou o garoto para outro abraço, mais apertado e caloroso. — Vou deixar você em paz, por hoje. Não se esqueça das suas tarefas. Amanhã nos falamos mais.
Chandler assentiu. Ele fechou a porta no segundo em que o homem se virou. Queria se livrar de qualquer chance indesejável de vê-lo se virar novamente e começar a repassar suas exigências. Embora lidasse com aquilo há muito tempo, o cansaço e a irritação não diminuíram. Finalmente, ele havia ido embora.
Não iria desfazer suas malas naquele exato momento. Ele tinha uma tarefa importante, que necessitava de apenas um envelope marrom.
Poucos minutos depois, ele estava de volta ao hall de entrada do dormitório masculino, em direção ao salão principal. Alguém murmurou o seu nome, provavelmente um novato curioso. "Aquele não é o Chandler Scott?", mas rapidamente a fala se perdia e a atenção era voltada para outro aluno mais brilhante e famoso.
Quando uma manchete dizendo que o famoso ator Chandler Scott estava dando um tempo na carreira para integrar o Instituto la Brede para se tentar se tornar um Soberano, alguns fãs descobriram que ele havia pego uma conexão no Aeroporto Internacional de Denver para ir até La Brede. Centenas de cabeças adolescentes se reuniram para vê-lo desembarcar. A fama era gratificante e assustadora. Porém, quando chegou no internato pela primeira vez, viu como as coisas eram superadas rapidamente. Não se importava com ele por mais de alguns segundos. Conheciam pessoas mais famosas e mais importantes. Foi ali que Chandler descobriu o que realmente ter o mundo ao seu redor significava. A relevância não dependia de alardes na capa da Forbes. Aqueles na alta sociedade preferiam a discrição, pagando para evitar os holofotes e mantendo poucos seguidores no Instagram, onde a privacidade se tornava um indicador crucial de uma reputação impecável. Afinal, nenhum político poderoso desejava arriscar sua palavra confiável em um filho problemático.
Cada movimento era meticulosamente calculado.
Janelas enormes que iam do chão ao teto jorravam a luz do sol como um holofote, que acariciavam os ombros de dezenas de jovens reunidos no salão de festas. Brilhavam sobre eles como um glamour invisível que combinava com seus status e riqueza. Era o local mais grande ali, verdadeiramente majestoso com mesas e cadeiras distribuídas simetricamente.
Não foi difícil encontrar quem Chandler estava procurando.
Analisou o garoto, de cabeça aos pés. E compreensivelmente, não foi o único. O garoto se destacava em meio às joias luxuosas e roupas caras, usando um simples moletom cinza e um jeans escuro. Olhava ao redor, confuso e vacilante, com uma marca de cansaço intensa abaixo dos olhos castanhos, indeciso se deveria se acomodar ou continuava em pé, atento aos olhares críticos dos alunos. Os cabelos escuros eram volumosos, com um contraste gradual entre o comprimento.
— Olá — Chandler começou, com a voz um pouco engatada. O garoto se virou e sua postura mudou em segundos, esticando as costas e franzindo o nariz arrebitado. — Tyler Stanford, não é? Meu nome é Chandler, é um prazer. Sei que deve ser tudo muito novo, mas eu estou aqui pra te ajudar e apresentar o Instituto.
— Então... eu tô no lugar certo? — ele deu uma olhadinha ao redor e o sorriso que preencheu seu rosto foi claramente zombeteiro. — Achei que tinha vindo pra algum desfile idiota.
Ele encarou Chandler por alguns segundos antes que algo o atingisse. Chandler reconhecia aquela antecipação, que vinha de uma surpresa inevitável e nostalgia comum.
— Eu te conheço — ele apontou. — Você é famoso, não é?
Chandler sorriu educadamente.
— Sim, fiz alguns filmes e séries.
Tyler enfiou as mãos no bolso do moletom, assentindo profundamente. Ele olhou ao redor novamente.
— Então, qual é a desse lugar? Não entendi o sentido do primeiro dia de aula ser em uma sexta-feira, mas não imaginei que começaria com uma festa.
— É uma tradição. O Instituto gosta de deixar o relacionamento da escola-aluno o mais próximo possível. O melhor jeito de fazer isso com tanta gente rica é se igualar a realidade deles — Chandler disse, observando como o garoto franziu as sobrancelhas tentando entender como aquilo fazia sentido. — Ricos dão muitas festas inúteis. — Chandler simplificou.
Tyler tinha o olhar sério, de alguém que sabia estar em um lugar que não pertencia. Chandler podia ver as engrenagens em sua mente trabalharem arduamente para entender o contexto social que foi inserido subitamente. Havia lido a sua ficha, o papel marrom que segurava naquele momento. Vinha de Mission District, em São Francisco. Provavelmente estava habituado a uma vida simplista, sem muitas novidades. Se não agisse de forma inteligente, ele seria um alvo fácil.
— Então... esse é o novo rato?
Uma mão surgiu no ombro de Chandler. Não era necessário muito esforço para saber exatamente quem era.
Elliot McCoy.
Era o segundo lugar no ranking, um prodígio com o poder perfeito de fogo. Criava faíscas com o leve pinçar de dedos e até mesmo o seu olhar era fulminante. Era alto, com a pele negra e profundamente pigmentada. Os cabelos crespos tinham um penteado undercut, e no rosto, uma barba curta.
— É, não é? Só olhar o jeito que ele se veste — uma voz feminina surgiu ao lado de Elliot.
No 10° lugar do ranking, Constance Monroe tinha uma boa posição de superioridade. Gostava de ser chamada de Tess e tinha o poder de invisibilidade. Uma habilidade um pouco irônica para alguém que gostava de se aparecer.
— Rato? — Tyler perguntou, juntando as sobrancelhas.
— É como chamamos pessoas como você — Tess respondeu provocante, com um sorriso irônico.
O olhar de Tyler foi de encontro com o de Chandler, claramente confuso e pedindo por explicação. Tess soltou uma risada ofegante e então, Tyler percebeu. Não era uma simples brincadeira que a garota mantinha em seu rosto. Ela estava o insultando da maneira mais clara e direta que existia.
— Relaxa, é só uma piada — seus olhos castanhos brilharam, como se Tess encontrasse graça na confusão dele. — Sabe como os cientistas descobrem vacinas para doenças usando ratos de laboratório? Aconteceu o mesmo com vocês. Muitos bebês para criar uma única vaccinus perfeita. A situação é tão parecida que chega a ser hilária.
A diferença gritante entre os ricos e os pobres era estarrecedor até mesmo no contexto de superpoderes. Existiam poucos poderes perfeitos, e aqueles que eram, custavam fortunas de dólares. Como a criação de uma droga, chamada de vaccinus, era de passos pequenos e com a necessidade de milhares de testes, havia uma chance na qual recém-nascidos de famílias pobres podiam colocar a medicação genética imperfeita em seus filhos, para receberem dinheiro em troca. Tyler era um desses bebês imperfeitos, uma cobaia e um rato de laboratório, com um poder que nunca chegaria no seu limite máximo e que o colocaria como inferior pelo resto da sua vida.
Tyler ficou congelado, com seu maxilar rígido e os olhos apertados.
— É sempre tão engraçado quando vocês associam a palavra a si mesmos — o sorriso de Elliot se curvou para cima maliciosamente. Os dedos de Tyler curvaram para dentro da palma de sua mão. Elliot percebeu e aquilo só o fez sorrir mais diabolicamente.
— Cuidado — sua voz era um sussurro provocante. — É proibido usar os poderes fora dos locais de treinamento. Mas duvido que você consiga fazer muita coisa com uma habilidade tão estragada.
— O que você disse? — Tyler deu um passo para frente. Elliot não se moveu, seu rosto inclinado para cima em provocação. A cor de seus olhos escureceram, desfrutando da situação. Tyler estava agindo exatamente como ele esperava e aquilo era um deleite para alguém como Elliot.
— Sua audição também é imperfeita, ratinho?
Chandler sentiu uma absorção de energia irradiar do novato e seus olhos arregalaram. Ele olhou para a mão fechada de Tyler, os dedos brancos de tão apertados. Era dali que vinha aquele poder? Olhou para Elliot e Tess, mas eles pareciam alheios ao que estava acontecendo.
— Preciso terminar a minha tarefa — Chandler chamou a atenção para o envelope na sua mão e olhou para Tyler. — Temos um tour para terminar.
Elliot riu, examinando Tyler de baixo a cima com os olhos frios e desgosto.
— Nos vemos por aí, ratinho.
Chandler suspirou fundo, observando Elliot e Tess irem embora. Eles andavam com uma aura indescritível, segurança e confiança que somente jovens que tinham de tudo aproveitavam o privilégio de sentir. Eles almejavam pelo cargo de Soberanos e provavelmente conseguiriam, junto com o melhor amigo, Jace Velmont.
— Qual o seu poder? — Chandler perguntou, se virando para o garoto.
— Você não tem essa informação na minha ficha? — Tyler colocou uma fachada de indiferença em seus rosto, mas era difícil mantê-la e Chandler podia ver aquilo.
— Na verdade, não — ele confessou. — Mas eu vi o que você fez. Sua mão. O que foi aquilo?
Tyler olhou para a própria mão direita, abrindo e fechando o pulso como se aquela observação fosse uma novidade.
— Consigo concentrar energia, dependendo de quanto tempo focar, consigo um soco quase mortal — ele disse, sem olhá-lo nos olhos. Era difícil de entender o tom de sua voz.
— É um bom poder — Chandler ofereceu suavemente. Tyler lançou uma expressão sombria.
— Pra um rato — ele completou. De repente seus olhos desaceleraram e ele olhou para Chandler com confusão. — Quantos de mim tem aqui? Com poderes imperfeitos.
Chandler hesitou.
— Além de você, tem mais um. Cole Turner, está no segundo ano. Se quiser posso te apresentar. Seria melhor se vocês ficassem juntos.
Tyler franziu o cenho antes de soltar uma risadinha.
— Esse lugar é exatamente o que eu esperava.
— Esse lugar só é fácil pro Jace. O resto ficou bom em fingir.
Tyler levantou as sobrancelhas, nem foi preciso dizer que ele havia ficado surpreso com suas palavras.
— Não consigo imaginar o que é difícil pra bilionários com poderes perfeitos — ele zombou. — E quem é Jace?
— Jace Velmont. Ele é o primeiro lugar no ranking, filho de gente muito poderosa. Aqueles dois que estavam aqui antes, Elliot e Constance, são melhores amigos dele. Suas famílias são muito próximas — Chandler contou. — Você vai entender como tudo funciona em pouco tempo. Fique longe dos dois, eles são malucos.
— Não vai me dizer pra ficar longe desse tal de Jace? — Tyler perguntou, em mais um tom zombeteiro, como se achasse que tudo fosse uma grande piada.
— Não é necessário. Ele nunca vai falar com você.
Tyler revirou os olhos, mas sua diversão havia diminuído.
— Vamos lá, preciso te explicar tudo antes da cerimônia começar. Primeiro, regras básicas do Instituto: os uniformes têm que ser usados sempre. É obrigatório serem colocados dentro da capa de roupas que vocês vão encontrar no dormitório todas as sextas-feiras. As faxineiras limpam os quartos e recolhem os uniformes sujos nesse dia, mas você tem que liberar a entrada pelo aplicativo. Não se esqueça de fazer isso ou vai passar a semana inteira com o quarto sujo. As roupas íntimas, pijamas e outros, são colocados em um cesto com o nome de cada um que também fica no banheiro dos dormitórios e são devolvidos todas as segundas-feiras. Não se preocupem com perder algo, os funcionários são muito cuidadosos. E eles também estão lidando com milhões em roupas — Chandler começou as explicações. Ele estendeu o envelope marrom: — Aqui tem tudo o que você precisa saber. Sábado e domingo são folgas, você pode ficar ou ir embora. Terceiro, respeito. A grande maioria aqui está além de rico e há muitas chances de vocês fazerem inimigos com famílias poderosas que podem arruinar seu futuro, tipo o Elliot ou a Constance. Quarto, estude. Até mesmo os ricos podem ser mandados embora pelas notas ruins. O sistema educacional é dividido em matérias para ampliar a mente, habilidades de combate e como controlar seus poderes. É diferente do que você conhece do ensino médio. Já que hoje é sexta-feira e o primeiro dia, você tem a cerimônia e o resto do dia para se acostumar. E o final de semana é livre. Você pode conhecer o Instituto e se acomodar.
Tyler acompanhou o olhar de Chandler, passando pelo lugar.
— Esse aqui é o refeitório. Café da manhã é servido das 7h às 9h. Almoço 12h às 14h. E janta 18h às 20h. Mesmo com duas horas de abertura e fechamento, a comida é feita individualmente pelos chefs na hora do pedido, então sempre está fresco. Essa regra só não se aplica no café da manhã, que acaba sendo um self-service. A comida é muito boa, então aproveite.
Eles seguiram andando, um dos caminhos os levando ao prédio ao lado, onde a grande maioria das salas de aula ficavam. Por fim, terminaram o tour na parte de trás da mansão, onde a grama saudável pelo contato constante com irrigadores era repartida por um caminho de asfalto, e o verde repetitivo de arbustos compactados e sebes simétricos faziam o lugar ser ainda mais bonito. Um grupo de violinistas, tocando as cordas de seus instrumentos, dedilhavam músicas clássicas. Garçons andavam por todos os lados, com suas bandejas de metal repletas de aperitivos. O público adolescente conversava entre si e brindava taças de espumantes sem álcool.
— Aqui era usado para treinamento ao ar livre — Chandler explicou, enquanto andavam. — Construíram outro lugar mais tecnológico e espaçoso, então acabou sendo um espaço para eventos.
Eles se sentaram em uma das diversas mesas, perto do palco. Dez cadeiras estavam sob ele, e as duas primeiras eram ocupadas por dois garotos familiares.
— Por que ele está lá em cima?
Elliot McCoy mexia despretensiosamente no celular, ao lado de outros adolescentes.
— Os dez primeiros colocados no ranking fazem parte da cerimônia de abertura — Chandler explicou. — O garoto do lado dele é o primeiro lugar, Jace Velmont.
Tyler alterou seu olhar de Elliot para Jace. Era nítido a diferença entre eles. Olhava para o horizonte com a cabeça levemente acentuada, como se olhar para os alunos não se igualasse à sua grandeza. Tinha as costas eretas, porém os ombros relaxados de quem sabia que estava em sua zona de segurança. Sua confiança era hipnotizante e perigosa, tanto que por um breve momento, eles apenas foram atraídos pela aura condescendente do garoto inacessível.
— O que é esse ranking, afinal? — Tyler chamou a atenção para a pergunta.
— Quanto mais perto do primeiro lugar você fica, mais chance de se tornar um Soberano você tem.
— E qual o seu lugar? — Tyler perguntou.
— Vigésimo.
Tyler pinçou uma ostra fresca, servida no meio da mesa. Fez uma careta, apertando os olhos para ver se aquilo realmente era comível. Nunca se dava para confiar em comidas estranhas de gente rica.
— Não é uma posição ruim.
Chandler deu de ombros. Ninguém concordaria com aquilo. A única posição boa seria o primeiro lugar.
— E também tem privilégios — Chandler continuou. – Patrocinadores, dormitórios de alto nível, estabilidade no ranking... Jace além de estar em primeiro porque ninguém o supera, ele continua em primeiro porque é bom nisso. Ninguém vê outra pessoa em seu lugar.
— Então... completamente invencível — Tyler ponderou, olhando para o garoto.
As cadeiras dos dez lugares foram se completando aos poucos, logo, todos os dez colocados do ranking estavam lado a lado.
Vanessa Coleman, a diretora de La Brede, subiu ao palco. Seu cabelo castanho estava preso em um coque arrumado e sua saia era justa. Ela sorriu largamente em frente ao microfone.
— Sejam bem-vindos a mais um ano letivo do Instituto La Brede! — ela esperou o silêncio após mais uma rodada de palmas. — Eu me chamo Vanessa Coleman e sou diretora da La Brede há doze anos. Criamos uma instituição de excelência que há cinco anos vem recebendo títulos grandiosos como "a melhor academia preparatória dos Estados Unidos" e prêmios respeitados, entre eles o National Blue Ribbon Award e o McArthur Fellowship. Muitos pensam que treinamos apenas futuros Soberanos e que a jornada em La Brede é para criar super-heróis. Mas aqui temos jovens que recebem patrocínios para todas as áreas. Todo ano temos uma taxa de aceitação na Ivy League de pelo menos 60%. Estar entre influenciadores famosos, estrelas de Hollywood e advogados renomados não é mais um sonho de criança. É a realidade. Ninguém sai de La Brede sem milhares de oportunidades.
Vanessa ficou em silêncio, observando como suas palavras estavam afetando os adolescentes. Sua voz era cortante e firme, enfatizando cada palavra com autoridade. Ela limpou a garganta antes de continuar:
— Aqui do meu lado, eu tenho os dez primeiros colocados no ranking de La Brede. São alunos exuberantes. Ótimos exemplos de persistência e vontade de vencer. Na verdade, eles já são vencedores. Gostaria de chamar ao palco, Elliot McCoy, o nosso segundo colocado.
Elliot se portou muito diferente do que mostrou à Tyler. Ele era bom com piadas, atraindo risadas em massa dos adolescentes. Também era charmoso e com uma boa lábia, que os faziam questionar se ele havia decorado algum texto ou estava apenas sendo extremamente talentoso. Após ele, o sexto e o quinto colocado também discursaram palavras bonitas de forma mecânica e tediosa. Quando o fim da cerimônia chegou, Tyler levantou-se na primeira oportunidade para ir embora.
— Você ainda tem que se encontrar com a diretora — Chandler inclinou a cabeça, para a mulher que descia do palco. Ela andou até eles, com um sorriso plastificado no rosto.
— Chandler, muito obrigada por ajudar o novato. Acredito que tenha sido de muita ajuda. Isso definitivamente irá entrar como um bom relativo na sua contagem para o ranking do próximo mês — ela enrugou as sobrancelhas enquanto sorria, também puxando Chandler para um sorriso. Tyler teve uma sensação no estômago. Não devia ser o único a achá-la estranha. — Venha comigo, Tyler Stanford.
Vanessa o levou até uma ala não autorizada para os estudantes, abrindo a porta para uma sala grande e espaçosa. O chão era polido com mármore e pinturas protegidas por molduras douradas enfeitavam as paredes. Havia uma maquete de La Brede que estava em cima de uma mesa de vidro, e em sua escrivaninha, "Vanessa Coleman" estava esculpido em uma superfície de metal cintilante.
— Sente-se, por favor — ela disse, sinalizando com o braço para que ele se encaixasse nas poltronas em frente à sua mesa. Tyler se sentou, desconfortável na maciez do algodão. Vanessa sorriu. – Você foi meticulosamente escolhido para fazer parte de La Brede pelo poder interessante e a boa impressão que causou em mim e nos outros jurados durante o teste. Sua habilidade, mesmo que imperfeita, foi a melhor entre os concorrentes. Quero que saiba que você tem o meu total apoio. Qualquer problema com os estudantes que tiver, pode me avisar. Sei que alguns dele podem ser complicados e...
Duas batidas na porta fizeram com que a mulher desviasse seu olhar.
— Pois não?
Constance Monroe colocou metade do corpo para dentro do aposento. Ela deu um sorriso sem graça.
— Diretora, me perdoe a intromissão. Eu sei que não podemos entrar aqui, mas não consegui encontrar nenhum funcionário — ela abaixou os olhos, como se estivesse envergonhada. — Aparentemente... há alguns alunos colocando bebidas nos espumantes.
Vanessa levantou repentinamente como se tivesse escutado o maior absurdo da sua vida.
— Onde? — ela avançou em direção a porta, e então parou, se lembrando que Tyler ainda estava ali. – Infelizmente você não pode ficar aqui sem a minha presença. Que tal aguardar na sala de espera? Não vou demorar.
A sala de espera era logo ao lado. Havia biscoitinhos em uma jarra de vidro e uma máquina de café expresso. Era mais confortável do que o estilo afiado do escritório de Coleman.
Tyler suspirou fundo, sentado no sofá, com os dedos tamborilando em cima da perna. Inquieto, finalmente teve tempo para pensar em tudo o que viu até aquele momento. Sua primeira impressão havia sido de um lugar recheado de adolescentes inconsequentes e que nunca haviam escutado um "não" na vida. Embora soubesse que Chandler estava cumprindo uma tarefa, a sua simpatia foi um lembrete que ainda existiam riquinhos com sentimentos positivos — até a diretora informar que tudo aquilo havia sido por causa do ranking.
Ranking.
O que ele faria sobre aquilo?
Conseguiria chegar tão longe quanto alguém com o poder perfeito?
Tyler estava acostumado a ser o melhor. Sua habilidade quebrada o ajudou a se livrar de muitas situações ruins ao longo de sua vida. Era a única coisa que podia confiar.
Ele só podia confiar em si mesmo.
Um arrepio subiu por sua espinha, quando um guincho agudo apareceu.
Era um som muito familiar.
Apesar de não estar completamente distinto em meio às sombras, o borrão veloz os revelou para o pequeno animal.
Um rato.
Então, apareceram outros. Três, cinco, dez e a conta se perdia entre as dezenas de roedores. Tyler congelou completamente quando um deles roçou na sua perna. Estava horrorizado e perdido, os ruídos desagradáveis cada vez mais altos o enlouquecendo.
A maçaneta não abria apesar das suas tentativas desesperadas de abrir a porta. Dois estalos na janela chamou a sua atenção. Constance abriu, carregando um sorriso que, apesar de tê-la conhecido há apenas algumas horas, trazia uma familiaridade indesejada. Era uma linha cruel em seu rosto bonito.
— Seus... — Tyler segurou o palavrão, se lembrando do que Chandler havia dito. Se tornar inimigos deles era perigoso demais.
— Foi difícil encontrar tantos assim. Se eu fosse você, tomaria cuidado. Não sei exatamente da onde eles vieram – Tess zombou enquanto descansava a cabeça na palma de sua mão. Olhou para ele com diversão.
A presença de Elliot ao seu lado era notável e o brilho em seus olhos era cheio de um desdém malicioso. Seus lábios eram como veneno a cada palavra que falava:
– Bem-vindo ao Instituto La Brede, rato.
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