Capítulo 2
" E como a felicidade pode se transformar na insatisfação, assim o desespero pode sumir no despertar de uma nova primavera.Com cada dia, pode nascer um outro entendimento de nosso estado, nossos laços e objetivos."
Sun Tzu
Nick
Não era para ser assim, eu não devia estar lá, mas sabe aqueles dias onde tudo dá errado, pois bem esse era um deles. Eu cheguei atrasado no Rio e tive que ir direto do aeroporto para encontrar meu amigo Jonas.
Ele estava cuidando de uma ocorrência no Morro do Alemão, sem nada para fazer e com tempo curto para visitá-lo em outra oportunidade, resolvi ir direto do aeroporto mesmo, chegando lá estava uma bagunça total, duplo assassinato sem vestígios ou causa aparente, eram duas mulheres que aparentemente não tinham nenhuma ligação com o crime organizado que estava infiltrado dentro de todas as favelas cariocas, no fim seriam mais duas mortes numa favela que já carrega um histórico de muitos crimes sem solução.
Quando eu entrei para a polícia tinha a grande ilusão que iria consertar o mundo, ou ainda colocar todos os bandidos na cadeia, mas apenas alguns anos nessa função eu já sabia que as coisas não eram tão simples assim, na maioria das vezes os criminosos saiam pela porta da frente das delegacias e nós ficávamos de mãos atadas diante dessa situação.
Conversei com o Jonas e combinamos de nos encontrarmos amanhã para um almoço e conversar um pouco. E quando já estava saindo ouvi um barulho atrás de um arbusto, fui olhar, pensei que fosse um animal ou algo parecido, mas me deparei com uma garota loira, com os olhos vermelhos de tanto chorar, encolhida num canto escuro, quando a puxei ela ficou com medo, mas acabou cedendo e logo depois desmaiou nos meus braços. Chamei a ambulância e ela foi levada para o hospital mais próximo, tentei avisar a família, mas horas depois descobri que ela era parente das pessoas assassinadas naquela casa e uma possível testemunha.
Diante dessa informação, tentei localizar algum parente que se responsabilizasse por ela, mas não achei ninguém, ela estava totalmente sozinha, e eu estou na mesma encruzilhada novamente, me sinto quase responsável pela sua vida, parece que tudo vai se repetir, vou perder outra testemunha.
O Brasil não consegue proteger suas testemunhas e por esse motivo já perdi 5 em apenas um ano em que estou nesse cargo. Sou investigador da polícia federal em São Paulo e estou encarregado de cuidar dessas testemunhas, mas pelo visto não tenho feito um bom trabalho, já que falhei 5 malditas vezes.
Não gosto de falhar, nas lutas que participei competindo ou não, nunca perdi, sempre fui competitivo e quero sempre fazer o meu melhor não importa a que preço. Por isso, analisando melhor essa situação, tomei a pior e mais precipitada decisão da minha vida. O Jonas ficou furioso comigo e disse que lavou as mãos, ele não se responsabiliza pelos meus atos. Espero que eu não erre mais uma vez, mas quando a garota recebeu alta do hospital e não tinha para onde ir e ainda era uma possível testemunha do assassinato de sua família. Mesmo contrariando as ordens que recebi resolvi levá-la para São Paulo comigo, até conseguir encaminhá-la para o programa de proteção à testemunha.
Enquanto esperamos, ela está comigo no meu apartamento, tento fazê-la comer alguma coisa, mas a garota se nega. Então deixo como está, ela está muito abalada, o que presenciou naquela casa foi tão assustador que ela bloqueou a memória, então acho melhor não insistir, saio e vou dormir no meu quarto.
Acordo assustado com gritos vindo do quarto ao lado, na mesma hora pego o meu revólver que deixo guardado na lateral da cama e vou correndo para o outro quarto, quando chego percebo que não tem ninguém lá, além da garota.
Então guardo a arma na cintura e tento acalmá-la, quando ela percebe que estou ali, fica envergonhada e diz que está bem, e me pede para deixá-la sozinha, mesmo não acreditando faço o que ela pediu.
Depois vou para minha cama e tento dormir o resto da noite. Quando acordo o dia já está clareando, coloco o meu agasalho e desço para correr, volto uma hora depois ofegante e todo suado, nunca gostei de academia, corro em média 10 quilômetros por dia e treino Jiu jitsu brasileiro que aprendi quando morava com a minha mãe na Califórnia, na academia da família Gracie. Agora em São Paulo quando não estou trabalhando, treino com meu mestre Fernando na academia do meu prédio.
Entro no apartamento e tiro a camisa e vou direto para o banheiro do meu quarto, não quero atrapalhar a menina, acho que ela ainda está dormindo, mas quando piso no corredor esbarro na garota e ela se assusta. Então eu seguro seus braços e peço que ela olhe para mim, eu já havia reparado na sua beleza, mas agora com ela usando apenas um vestido curto parada na minha frente, seus cabelos longos e loiros caídos em volta do seu rosto, as bochechas rosadas de vergonha, se eu mencionar aqueles tristes olhos verdes ela é estonteante.
— Sou eu o Nick! Não precisa ter medo. — Falo quebrando o silêncio constrangedor que se instalou por um momento, enquanto eu a olhava.
Ela para um momento, depois balança a cabeça confirmando que entendeu e vai para a cozinha. Eu vou para meu quarto e tomo um banho demorado, ao retornar sinto um aroma gostoso de café e algo mais que não consigo identificar. Nem posso acreditar que vou tomar um café da manhã decente hoje, depois de todos esses dias fora de casa, por isso corro e sento-me à mesa junto com ela.
— Será que está tão bom quanto o cheiro? — Pergunto brincando com ela, mas a garota está tão envergonhada que abaixa a cabeça e não me responde nada. Comemos em silêncio por um tempo e eu realmente devoro meu prato, tem até panquecas. Quanto tempo não como algo assim, depois de limpar meu prato decido agradecê-la.
— Estava maravilhoso, uma delícia, agradeço por cozinhar para mim. Você não precisava se preocupar com isso, eu já estou acostumado a tomar café na rua. — Ela me observa por um tempo e depois responde:
— Não tem problema eu adoro cozinhar e aprendi fazer panquecas recentemente com a minha colega de quarto. Falando nisso, preciso falar com ela e avisar que estou bem, será que eu posso usar seu telefone?
Ela fica muito constrangida em me pedir alguma coisa, pois suas bochechas ficam vermelhas e ela abaixa a cabeça envergonhada.
Penso em dizer que no momento ela não pode se comunicar com ninguém, mas devido a sua frágil situação, conversar com um amigo pode fazer muito bem, por isso entrego meu celular e digo que ela pode mandar uma mensagem falando que teve um imprevisto na família e precisou fazer uma viagem de emergência e ainda não tem data para retornar. Fico observando enquanto ela escreve a mensagem e envia, depois chamo sua atenção para falar sobre sua nova situação.
— Problema resolvido com a sua colega de quarto, agora precisamos ter uma conversa séria e preciso que você preste atenção no que vou falar. Você se lembra de alguma coisa da noite em que foi parar no hospital? —Ela nega balançando a cabeça e diz:
— Eu não me recordo de nada. O seu tom voz é baixo, com se ela estivesse decepcionada por não se lembrar de nada daquela noite, na qual sua família foi assassinada.
— É normal, afinal você ainda está traumatizada. Por esse motivo eu resolvi te trazer comigo, você não é obrigada a ficar aqui, mas tenho muitas razões para acreditar que você vai se lembrar em algum momento e quando isso acontecer, correrá perigo de vida. Eu gostaria de estar ao seu lado para te proteger ou te colocar no programa de proteção à testemunha o que ocorrer primeiro. Então sugiro que fique aqui até que eu consiga resolver essa situação.
A garota pensa um pouco, logo depois morde os lábios, meio indecisa sobre qual decisão deve tomar, sua incerteza é tão grande que penso que ela vai pedir para ir embora agora mesmo, mas para minha surpresa ela diz:
— Eu concordo, mas preciso saber sobre o enterro da minha mãe e irmã?
Eu fico apreensivo sobre a melhor forma de dizer que providenciei para que fossem enterradas no dia seguinte ao assassinato, mas como ela estava sedada no hospital não pode comparecer, sem pensar mais nas palavras conto tudo para ela. Nesse momento seus olhos ficam vermelhos e as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto, ela pede licença e sai correndo para o quarto. Eu não sei como fui parar nessa situação e agora que estou aqui com ela chorando no meu apartamento, não sei se fiz a coisa certa.
Volto para o meu quarto, pego a chave do meu carro e vou até o trabalho pedir uma licença de alguns dias para cuidar de assuntos particulares. É o que digo para o meu chefe, ele pensa um pouco e concorda já que estou num período delicado devido às testemunhas que perdi. Ele já havia me sugerido essa pausa na semana passada, mas sou tão viciado no trabalho que acabei negando.
Acho que agora vou aceitar e embarcar nesse caso que está na minha casa sozinha, pelo menos até que ela possa voltar para casa dela e retomar sua rotina. Quando saio do escritório ainda é cedo, por isso ligo para o Fernando e marco meus treinos para esses dias que vou ficar em casa, aproveito e combinamos de treinar hoje, assim que eu chegar no meu apartamento.
Depois de atravessar o trânsito caótico de São Paulo, encontro o Fernando na academia do meu prédio se aquecendo.
— E aí cara, quanto tempo sem te ver! — Nós encontramos no meio do caminho e batemos nossas mãos com força num gesto de companheirismo e depois um grande abraço.
— Eu sempre estive aqui, você que é o sumido da história. —Ele se senta ao meu lado e espera enquanto tiro meus tênis para começar meu aquecimento.
— É meu trabalho cara, fico muito tempo viajando, quase não paro no meu apartamento.
— Se é assim tão difícil ficar em casa, como conseguiu marcar esse treino? —Ele flexiona as pernas fazendo um aquecimento.
— Estou de licença por uns dias e pretendo colocar meu treinamento em ordem.
Eu o acompanho e treinamos por 3 horas seguidas e quando terminamos já estou exausto, mas com a cabeça mais leve, realmente a luta me ajuda a encontrar o foco quando eu estou estressado, me despeço do Fernando e sigo para o apartamento, acho que preciso sair um pouco e comer fora, será que a garota vai concordar em sair para comer, já faz dois dias que ela está trancada no apartamento, talvez se ela sair um pouco, pare de chorar tanto a noite, não custa nada tentar. Eu vou perguntar a ela.
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Mais um capítulo, editado....
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