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Capítulo 8 - Tiros no Escuro


Meu nome é Calíope Medina e eu tenho dezesseis anos. Eu estou no segundo ano do Ensino Médio e ainda não tenho a menor ideia do que quero fazer da vida.

Ao contrário da minha mãe, que sempre foi apaixonada por contar histórias e por Mitologia Grega - o que é algo totalmente irrelevante de se dizer, visto que a mulher deu aos seus seis filhos nomes estranhos como Calíope e Hipólita porque eram de personagens mitológicos.

Ela sabia desde criança que queria ser professora. Só não precisava ser na minha escola.

Apolo e Hélio obviamente pensavam o mesmo que eu.

― Você tem certeza que ela disse isso? Na nossa escola?

Assenti, confirmando pela décima vez.

― Com todas as letras.

Apolo assobiou e Hélio passou as mãos pela cabeça. Ele estava de óculos, a única coisa que o diferenciava de Apolo.

― Será que ela vai ser nossa professora? - Apolo proferiu as palavras que nós três temíamos.

― Eu prefiro a morte - eu disse, sem conseguir imaginar a minha mãe louca me dando aula.

Meu Deus. Ela seria aquele tipo de mãe professora que lambe o dedo pra ajeitar as minhas sobrancelhas no meio da sala e, com certeza, falaria coisas indiscretas quando achasse que ninguém estivesse ouvindo como "não se esqueça de lavar as suas calcinhas".

Mas é óbvio que alguém ouvira. É assim que funciona a Lei de Murphy.

Eu sacudi a cabeça, afastando as ideias torturantes que provavelmente me dariam pesadelos à noite.

― Eu não acho que isso vai acontecer - Hélio, a voz da razão, começou a dizer. - Quer dizer, eles dão preferência para não colocar parentes na relação aluno-professor.

Eu respirei um pouco mais aliviada com esse fio de esperança. Notei que Apolo fez o mesmo.

― Bem, eu só precisava de um pouco de apoio moral de vocês. Agora que todos sabemos que estamos possivelmente ferrados, eu vou indo.

Os dois me encararam com olhares curiosos e desconfiados.

― Aonde exatamente você vai? - Apolo perguntou.

Deixa eu contar uma coisa sobre os meus irmãos mais velhos: eles são extremamente sociáveis. Talvez isso aconteça por eles serem (eca) bonitos e estarem sempre rodeados de garotas (Apolo principalmente, ele adorava). Mas o fato é que ambos sempre tiveram uma vida social agitadíssima.

Ao contrário de mim, que tinha preguiça de sair.

Então quando eu estou pronta pra sair de casa e eles não têm nada pra fazer é como se o Cosmo estivesse nos dando o aviso do Apocalipse.

Eu abri um sorrisinho vitorioso.

― Patrícia me chamou para ir ao Beco com os amigos dela. Eu só espero que Beco seja o nome de algum lugar e não um beco de verdade.

― É o point da galera aqui em Assunção - Apolo esclareceu. - O Beco e a quiosque do cinema.

― Então basicamente se eu for a algum desses lugares eu vou encontrar toda a população jovem dessa cidade?

Hélio deu de ombros e riu.

― É o que acontece quando se mora em uma cidade pequena.

Eu suspirei e Apolo passou o braço pelo meu ombro.

― Às vezes é bom. Quer dizer que é certo você encontrar o cara pra quem estava dando mole pelo telefone no sábado.

Os olhos de Hélio cresceram curiosos.

― Essa história ninguém me contou.

Ok, certo. Apolo é um babaca. Eu me afastei dele, sentindo meu estômago se embrulhar e minha corrente sanguínea acelerar. Um segundo depois e eu já estava vermelha, eu tinha certeza.

Óbvio que minha mente voou direto para João e para o fato de que eu podia mesmo encontra-lo no Beco, já que ele foi pra casa de um amigo depois da escola. Mas esse era o menor dos meus problemas visto que, bem, eu esbarrava com ele todos os dias debaixo do meu próprio teto.

― Eu não estava dando mole pra ninguém - fui taxativa, mas sabia que eles podiam ouvir o nervosismo na minha voz. Era minha deixa para ir embora. - Eu vou indo, antes que a Patrícia ache que eu desisti.

Me virei de costas para eles, deixando-os rindo da minha cara e provavelmente indo ligar o vídeo game do quarto. Desci as escadas como se estivesse com raiva do chão e encontrei a Patrícia me esperando na sala.

No fim das contas o Beco era uma espécie de lanchonete-bar que, realmente, estava superlotado. Era aconchegante e grande ao mesmo tempo, embora não desse pra perceber. Mas o lugar era dividido em dois ambientes: as pistas de boliche e o palco que, eu fiquei sabendo, recebia todo tipo de bandas.

― Em outubro tem a batalha de bandas, é super legal - Vanessa me contou, dando uma golada no seu milk-shake de morango. O cabelo cacheado dela estava maravilhoso.

Estávamos sentados em uma das mesas de madeira do canto, rodeada por uma poltrona de vinil vermelho. Peguei uma batata com queijo da porção que a gente pediu antes que o Gengibre acabasse com tudo.

― Qualquer um pode se inscrever nessa batalha? - perguntei.

Gabriel me lançou um olhar sacana.

― Não me diga que você canta.

― Eu? - arregalei os olhos. - Não. Cantar não faz parte do meu extenso arsenal de talentos.

― Qualquer um pode se inscrever sim - Sabrina passou uma mecha do seu cabelo Chanel para trás da orelha. - Mas nem todo mundo faz isso porque o nível das bandas é bem alto. Sabe. Medo de ser humilhado.

― O Guto vai participar esse ano de novo - Patrícia mordeu uma batata. E lá estava eu sendo obrigada a falar sobre ele mais uma vez. Tentei não transparecer nenhuma alteração, embora ouvir o nome dele ativasse um gatilho dentro de mim. - Ano passado a banda dele ficou em segundo lugar.

Eu mordi minha língua antes de perguntar. Eu estava curiosa, mas de jeito nenhum eu iria perguntar e continuar falando sobre ele.

― Eu bem acho que devíamos montar uma banda - Gengibre disse como quem diz "me passa o sal" e enfiou cinco batatas com queijo na boca.

Será que ele tocava algum instrumento ou era o vocalista? Meu Deus, eu não sabia qual era a alternativa mais assustadora. Skatista, poeta e músico? E meu meio-irmão.

Certo, vida. Você está fazendo isso certo.

Engoli o gemido de protesto que estava já na porta da minha garganta com uma porção de batatas ainda maior que a do Gengibre. Seria bom se eu conseguisse engolir João da minha mente de uma vez.

― Eu o vi por aí com os amigos dele - Sabrina comentou.

― Eu vou ao banheiro.

Levantei depressa, antes que alguém falasse mais alguma coisa, e segui em disparada para o banheiro feminino.

Não é a atitude mais madura do mundo se trancar dento de uma das cabines do banheiro e ficar sentada no vaso sanitário fechado trocando mensagens com sua melhor amiga enquanto você evita as pessoas.

Definitivamente não foi o meu melhor momento.

Mas quando voltei para a mesa, eu estava consideravelmente mais calma.

Até a hora de ir embora e Patrícia anunciar que nós voltaríamos pra casa de carona com o João.

Meu primeiro instinto foi correr para o banheiro de novo, mas me lembrei do que a Helô havia dito. Eu não podia fugir dele pra sempre, simplesmente porque nós morávamos na mesma casa. Eu precisava aprender a lidar com a situação e em algum momento ela iria parar de me incomodar.

Então eu respirei fundo e disse:

― Tudo tranquilo.

João se aproximou da nossa mesa e cumprimentou os amigos da Patrícia. Eu olhei de relance para ele, no exato momento em que ele me fitava também. Prendi a respiração e desviei o olhar, indo me despedir do pessoal. Eu estava tão alerta que comecei a duvidar de que houvesse sido mordida por uma aranha radioativa e ganhado superpoderes sensoriais.

Fiquei inquieta durante todo o caminho até em casa. Eu tentava evitar, mas os olhos de João me seduziam através do espelho retrovisor dentro do carro. Era impossível não ficar olhando, impossível não admirar seus dois faróis verdes atentos à estrada e, de certo modo, tensos. Eu não sabia no que ele estava pensando, mas daria tudo para mergulhar na sua mente e descobrir em primeira mão. Eu ainda não havia me desculpado e ele provavelmente deveria achar que eu era maluca.

Eu podia agir como maluca quando ficava nervosa, mas essa definitivamente não era a minha versão regular.

Patrícia ia tagarelando sobre a batalha de bandas, mas eu não estava prestando atenção em uma palavra do que ela dizia. Quando o olhar de João se encontrou com o meu no espelho, eu estremeci. Fui pega no flagra, meu coração deu um salto assustado e eufórico.

E eu me rendi.

Seu olhar era intenso e parecia tanto querer me dizer alguma coisa que eu não podia me dar ao luxo de escutar. Fez todo o meu corpo ficar tenso e ir amolecendo aos poucos, como se ele estivesse me perfurando lentamente e percorrendo as minhas veias.

Ah, eu me permiti mergulhar, senão na mente, mas naqueles mares verdes. E me senti culpada no segundo depois, mas não totalmente.

Ele estacionou o carro e Patrícia saiu falando ao telefone com alguém. Eram quase onze horas e todo mundo na casa ainda estava acordado e tentando não fazer tanto barulho, sem sucesso. Meu coração se acelerou quando me vi sozinha com João dentro do carro e eu pensei que, se eu quisesse pedir desculpas a ele, o momento era aquele.

Ele piscou antes de desviar o olhar do meu, e pousou a mão na maçaneta da porta do motorista. Antes que ele pudesse abrir, eu disse:

― Espera um minuto.

Ele voltou a olhar pra mim e a consciência do espaço pequeno em que estávamos confinados fez o meu corpo se aquecer. Eu me aproximei do banco dele, conseguindo contar cada molécula de ar que nos separava, mas João não se mexeu. Embora pudéssemos ficar cara a cara com somente um movimento, estávamos presos um ao outro através do espelho novamente.

― Eu sinto muito pelo modo como falei com você no sábado à noite. - deixei as palavras saírem sem filtro. - Eu sei que você não planejou nada do que aconteceu e eu sei que você só estava tentando ser um cara legal quando foi conversar comigo.

Ele demorou um segundo torturante para esboçar algum tipo de reação. Por um momento eu achei que ele fosse me mandar sair do carro e que não queria saber de desculpa alguma. Mas João suspirou e balançou a cabeça. Ele estava me dando o seu perdão?

― Tudo bem - ele disse e eu respirei aliviada.

Então novamente o silêncio constrangedor. Eu não sabia mais o que dizer e ele também não parecia interessado em acrescentar mais nada. Minhas mãos começaram a suar de nervosismo quando eu me vi ali tão perto dele e sem saber o que fazer; como agir, como impedir que eu tivesse tanta consciência do seu corpo há centímetros do meu. Mais um movimento e eu poderia cheirar a sua nuca.

Que tipo de pensamento é esse?

Foi a minha deixa para escapar do transe e sair do carro.

Antes que eu pudesse me mexer, porém, João se virou para mim e nossos rostos ficaram a uma molécula de ar e meia de distância. Eu prendi a respiração enquanto sinais de alerta vermelho piscavam e buzinavam na minha cabeça.

O olhar dele desceu para os meus lábios, como ele sempre parecia fazer quando estava perto de mim. Tive que segurar minhas mãos para impedir a vontade de tocar os fios castanhos bagunçados dele, ou sentir o calor da sua pele.

O calor que a sua respiração fazia no meu rosto.

O calor que subia pela minha barriga.

O calor dos seus olhos lutando uma batalha silenciosa com os meus. Verde e Marrom. Marrom e verde.

Meu Deus.

Ele piscou, se dando conta do que quase estava acontecendo entre nós (O que diabos quase está acontecendo entre nós?). Ele se virou para frente de supetão e eu fiquei ali submersa demais naquela sensação abafada para esboçar qualquer outra reação.

A reação do meu corpo era gritante o suficiente.

Puxou o gatilho da minha mente e, de repente, o estouro. E tudo se apagou em pólvora.

João saiu do carro apressado e abriu a porta pra mim.

Ele não olhava mais pra mim. Parecia tão acertado por um tiro quanto eu.

― Vamos. Daqui a pouco alguém vem aqui procurar por nós dois.

Nós dois.

Eu assenti, ainda muda, ainda sem conseguir lidar com o meu sistema emocional descontrolado depois de... Depois do que?

Saí do carro e passei por ele sem dizer mais nenhuma palavra.

Eu ainda precisava me lembrar como é que se fazia para dizê-las.

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