Tinha quase dois meses que Hinata me ajudava com o vestibular, de lá para cá as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas dentro de mim. A cada dia que passava o sorriso dela iluminava mais e mais minha vida. Eu ainda não sabia o que significava aquele sentimento. Hinata tinha ocupado praticamente todos os meus pensamentos, quando estava com ela, só conseguia sorrir feito um idiota e quando estava longe, eu só pensava nela. Por quê? Eu estava tão confuso.

Eu dormia e acordava pensando em Hinata. Esperando que ela viesse em casa para estudarmos juntos, para sorrir e conversar sobre assuntos diversos. Ou para irmos à biblioteca e sermos expulsos porque eu fazia muito barulho. Aliás, eu temia que isso acontecesse, quero dizer, me apegar à Hinata além do recomendado. Por isso relutei em pedir ajuda pra ela, eu até tentava disfarçar meus sentimentos recém descobertos. Mas, claro que, vez ou outra, soltava algum comentário do tipo: "Você é muito linda, Hina, não consigo me concentrar assim!" E ela sorria e escondia o rosto entre as mãos.

Tão meiga.

Meus pais também perceberam que eu estava me esforçando por causa da Hinata. Talvez para impressioná-la, eu não sabia ao certo. Eu queria impressioná-la? 

Por que não conseguia tirá-la da cabeça? Éramos apenas amigos, não éramos? Não podia me desconcentrar assim, o vestibular estava chegando, logo mais as férias de inverno bateriam à porta. Eu tinha que passar no vestibular se quisesse viajar, por isso mesmo, meus pensamentos precisavam estar nos estudos e só nos estudos! Porém, tudo me levava à Hinata, ela que por sinal tanto me ajudou. Se estava mais confiante com relação ao meu futuro era graças à Hinata. Como poderia agradecê-la por ser tão boa pra mim? Precisava fazer algo para demonstrar minha gratidão.

— Ei, Naruto! - era a voz do Sasuke.

— Fala. - respondi sem emoção.

— Você está sempre correndo agora, o que houve? É a Hinata, não é? - ele me olhou desconfiado, enquanto Sakura caminhava até nós.

— Não sei do que está falando. - menti, sentindo meu rosto esquentar.

— Está escrito na sua testa, seu dobe!

— O que está escrito na testa do Naruto? - Sakura interveio curiosa como sempre.

— Nada demais, preciso ir, tchau. - senti os olhos dela sobre mim e fiz menção de me virar.

— Ah, é por causa da Hinata fofinha dos olhos de lua, não é? - Sakura sorriu, assim que se tocou do que o namorado estava falando.

— Quando vai nos apresentar Hinata como futura senhora Uzumaki, Naruto? - Sasuke me zoou, enlaçando Sakura pela cintura.

— Você está gostando mesmo dela, Naruto? - Sakura perguntou.

— Vocês dois parem, Hinata é só minha amiga! - tentei me defender, mas estava completamente vermelho de vergonha.

Por que falar dela me afetava tanto?

— Tem razão, ela é areia demais para o seu caminhãozinho. - Sasuke desdenhou rindo.

Entretanto, logo sentiu o soco da namorada.

— Sério, Sasuke? Não me diga!

— Tchau. - eu ri, aproveitando para vazar.

Eu não queria estar no lugar dele agora. Sakura sabia ser assustadora quando queria, além disso, o soco dela doía demais. Já constatei uma vez quando tentei beijá-la há muito tempo, enfim.

Cadê a Hinata?

Passei os olhos pela quadra, procurando por ela, mas nada. Onde será que Hinata se meteu? Aliás, cadê o Kiba? Por que estou vendo Shino sozinho, segurando vela para o Neji e a Tenten, enquanto todo o resto dos nossos amigos jogam basquete? Meio que Kiba e Shino são estilo eu e o Sasuke. Estão sempre juntos.

Será que Hinata estava com ele? E por que eu sentia essa estranha dor no peito, só de imaginá-los sozinhos?

— Ei, Neji. Você viu a Hina? - perguntei, me aproximando do grupo reduzido.

— Oi Naruto, ela foi até à biblioteca com o Kiba. - respondeu, acarinhando a namorada.

— Certo, tudo bem então. - senti minhas forças indo embora. 

Dei meia volta e corri para lá, precisava muito vê-la, eu queria vê-la. Entretanto, quando cheguei ao local, percebi que estava deserto, claro. Quem ficava lendo em plena segunda-feira? Entrei em silêncio, procurando por Hinata e quando a encontrei, imediatamente meu coração apertou. Kiba estava a centímetros de distância dela e mantinha uma das mãos em seu rosto. Hinata demonstrava estar um pouco constrangida e incomodada com a aproximação, no entanto, permanecia olhando para ele. Por via das dúvidas, apertei meus olhos, pensando se tratar de alguma ilusão da minha cabeça. Só que, quando os abri, ambos continuavam na minha frente, muito próximos um do outro. 

Por sorte eu ainda não tinha sido visto, então girei os calcanhares no mesmo momento e sai correndo dali. Me sentindo extremamente fraco e vulnerável por um instante, minhas mãos tremiam e suavam, meu coração batia forte contra o peito, parecia querer sair pela boca. Como se o espaço aqui dentro tivesse se tornado pequeno demais para ele. Por que estava me sentindo assim? Por que meu coração parecia que iria explodir a qualquer momento? Nunca senti isso na minha vida, nem quando presenciei pela primeira vez o Sasuke beijando a Sakura. Ou, quando Kiba se engraçava para Hina antes, eu sentia uma sensação horrível, mas não era essa opressão toda no peito. Porém, a dúvida que estava me assolando por hora era: "Por que a Hina estava tão perto assim do Kiba? De qualquer forma, não entendia por que me doeu tanto vê-los juntos. Pior, por que eu sai da biblioteca na surdina há pouco, antes que eles me vissem? O que tinha demais em flagrá-los juntos?

Hina era minha amiga, igual a Sakura, não era? Não podia confundir meus sentimentos mais uma vez. Que tipo de garoto eu seria, afinal? Não podia sair me apaixonando como um louco por todas as minhas amigas.

Precisava espairecer a mente.

Decidi não ver Hinata hoje, estava com a cabeça fervendo com tantos pensamentos confusos. Não sabia se conseguiria me concentrar nos estudos, além do que, temia assustá-la. Já me conhecia, minha boca era grande demais, não podia perder a amizade dela. Hina era um presente que a vida me deu, ela tornava meus dias mais felizes, não podia estragar tudo novamente.

Não com a Hinata.

Voltei para a quadra completamente cabisbaixo, bem diferente de como eu sai. Até que ouvi novamente a voz do Sasuke.

— Ei, perdedor, levou um fora da Hinata?

— Agora não, Sasuke. - resmunguei e sentei isoladamente na arquibancada.

Vislumbrei Sakura e ele me olharem de um jeito diferente, enquanto via meus amigos jogando e outros conversando animadamente no canto da quadra. Suspirei pesadamente e apertei meus olhos. Queria estar feliz como eles. Queria não ter presenciado a cena que vi hoje. Queria não ter encontrado a Hinata tão próxima do Kiba. Eu só queria entender o que estava sentindo nesse momento.

Nem tudo era como a gente queria.