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Capítulo 3: Rotina de Cão.


Capítulo 3 - Rotina de Cão.

Do nascer ao pôr do Sol, eu mal me dei conta da passagem do tempo, até que quatro dias já haviam se passado desde a minha chegada a essa fazenda maluca. Descobri com horror que nem mesmo na casa grande havia Wi-Fi, o meio de comunicação desses astecas era um telefone fixo encardido instalado na sala de estar. Logicamente não tive coragem de passar perto daquilo, e teria de esperar o sábado, que era a minha folga, para ir até Itauçu colocar créditos no celular. Ao menos hoje era uma sexta-feira.

Essa madrugada, quando os galos cantaram, eu já estava acordado. Depois de uma crise de ansiedade ainda no meio da noite eu não consegui dormir mais. Essas crises idiotas estavam ficando mais fortes e mais frequentes, já que todos os dias eu tinha de passar pelo mesmo tipo de dificuldade sem qualquer apoio ou escape. Estava preso numa rotina que não era minha, com tarefas que pareciam tão naturais para os outros, mas que, para mim, eram uma maratona diária. Olhei em volta, a casa velha me lembrando que, por mais que eu tentasse me adaptar, nada ali era meu.

Levantei da cama, sentindo o frio do chão de madeira sob os pés. Fui até a janela e abri a cortina surrada, revelando a vista da fazenda ao amanhecer. O campo estava iluminado por um tom dourado, com os pastos estendendo-se até onde os olhos podiam ver. As serras ao fundo eram pintadas com a luz suave da manhã, e o céu estava limpo, de um azul tão profundo que parecia irreal. A fazenda tinha sua beleza, disso eu não podia discordar. Quando não estava lutando para sobreviver à rotina dura, eu até conseguia apreciar a vista.

Mas a realidade me puxou de volta quando lembrei da ordem do dia: mais uma rodada de brigas com Joaquim. Estava claro que ele não gostava de mim, mas isso era recíproco. Cada encontro com ele era uma troca de farpas nos últimos dias, e, para piorar, havia algo na forma como ele me olhava que me deixava... inquieto.

Não perdi muito tempo antes de sair da casa velha e caminhar em direção à casa grande para o café da manhã com os peões. Eu ainda não conseguia me acostumar com a ideia de fazer todas as refeições ali fora, em uma mesa comprida de madeira, rodeado por caras que, claramente, não estavam felizes com a minha presença. A dinâmica entre mim e eles já estava estabelecida: eu era o estranho, o -patrãozinho- que não pertencia àquele lugar.

Cheguei à área externa da cozinha e, como esperado, todos já estavam sentados à mesa. Joaquim, como sempre, estava no centro de tudo, coordenando o trabalho como se fosse o próprio dono da fazenda. Olhei ao redor, procurando um lugar para me sentar, mas, antes que eu pudesse escolher, ouvi uma risada abafada vindo de um dos cantos. Virei o rosto e vi que era Rafael, um dos peões mais jovens, com um sorriso de escárnio estampado na cara.

Desde quarta-feira, quando nos mandaram juntos consertar a porta caída do chiqueiro, e eu acidentalmente deixei a caixa de ferramentas cair naquela lama nojenta quando um porco idiota me assustou, esse infeliz se acha no direito de encher o meu saco. Claro, eu sabia que tinha feito merda, mas esse cretino levava isso como algo comparável à eu ter participado da crucificação de Jesus.

-E aí, Gabriel, pronto pra mais um dia de... tentar fazer alguma coisa? - disse ele, com um tom que claramente não era amigável, mas forçava uma risadinha no final.

Ignorei o comentário e me sentei na ponta da mesa, pegando um pedaço de pão e uma xícara de café. Joaquim, que até então parecia concentrado em outra conversa, não demorou a se virar para mim.

-Espero que hoje você não dê mais trabalho do que as vacas. - ele disse, o tom irritantemente controlado, mas com aquele veneno escondido que ele sempre jogava para cima de mim. Velho idiota de uma figa...

Revirei os olhos, mas respondi. - É bom saber que você se importa tanto comigo, Joaquim. Fico até emocionado com a preocupação.

Ele me lançou um olhar afiado. - Só me preocupo porque você atrapalha o trabalho dos outros.

Antes que a conversa pudesse escalar ainda mais em uma briga, senti alguém colocar a mão em meu ombro. Virei o rosto e vi Clarice, a empregada da casa grande, sorrindo para mim. Ela era uma mulher na faixa dos trinta anos, com um rosto acolhedor e um jeito simpático que contrastava com o ambiente hostil dos peões. Ela quem havia me mostrado o tal telefone da casa no dia anterior.

-Não liga pra eles, Gabriel. Você vai pegar o jeito. - disse ela, com um sorriso encorajador. - Todo mundo tem um começo.

Eu sorri de volta, grato por pelo menos uma pessoa ali não me tratar como um inútil completo. - Valeu, Clarice. Eu vou tentar sobreviver a mais um dia.

Ela deu uma risada leve e voltou para a cozinha após deixar mais uma garrafa de café na mesa, deixando-me com uma sensação um pouco menos pesada no peito. Mas antes que eu pudesse relaxar, Rafael voltou a atacar.

- Tá precisando de babá agora, patrãozinho? - ele provocou, arrancando risadas dos outros peões. Joaquim não riu, mas o olhar que ele me deu deixava claro que ele achava tudo aquilo muito divertido.

Engoli seco, tentando me concentrar na comida e ignorar o incômodo crescente. A tensão no ar era palpável, e eu sabia que a qualquer momento, algo ia explodir. E, claro, foi Joaquim quem fez questão de acender o estopim.

- Vamos, Gabriel. Hoje você vai aprender a consertar cercas. Quem sabe você não quebra menos coisas do que ontem? - Ele se levantou, já me encarando como se estivesse pronto para uma briga.

-Você fala como se eu fosse o único problema aqui. - retruquei, levantando também, incapaz de segurar minha irritação.

-Você é o problema aqui, - ele disse, seco - quanto mais cedo você entender isso, melhor vai ser pra todo mundo.

Minha raiva subiu instantaneamente. Ele tinha esse poder sobre mim, de me tirar do sério com a mínima provocação. Mas o que mais me incomodava era a maneira como ele se aproximava demais quando falava. Eu sentia o calor do corpo dele quando ele me encarava com aquela mistura de desdém e algo mais que eu não sabia definir.

- Quer saber, Joaquim? - Eu avancei um passo, ficando cara a cara com ele. - Se você acha que eu sou um problema, por que não me manda embora? Aposto que adoraria não ter que lidar comigo.

Ele deu um sorriso que não chegava aos olhos. - Ah, não. Vou me divertir muito mais vendo você se afundar aqui.

A proximidade entre nós era desconfortável, como se algo naquela tensão não fosse apenas raiva. Cada vez que batíamos boca, algo além da hostilidade surgia. Algo mais... Físico. Eu não podia descrever com qualquer adjetivo mais do que físico. E isso me deixava ainda mais irritado, porque eu não sabia que droga significavam aqueles arrepios todos. Talvez devesse comprar alguns incensos quando fosse à cidade, devia ser a energia ruim de coisa velha nele.

Antes que a briga pudesse continuar, Clarice apareceu novamente, agora com uma expressão preocupada. -Vocês dois, já chega. Tem trabalho a ser feito! Não estamos aqui pra perder tempo com briga de galo.

Joaquim me lançou um último olhar desafiador antes de se virar e sair andando, me deixando para trás com o sangue fervendo nas veias. Tentei respirar fundo e acalmar meus nervos, mas era difícil. Eu odiava a forma como ele me fazia sentir impotente e... arrepiado, definitivamente arrepiado.

XXX

O dia continuou, e como Joaquim tinha prometido, passei a manhã ajudando com a cerca. Se ajudar é a palavra certa. A verdade é que eu estava mais atrapalhando do que qualquer outra coisa, e até eu tinha que admitir isso hoje. Cada vez que eu tentava martelar um prego ou ajustar a madeira, parecia que as coisas ficavam piores.

E claro, Joaquim estava lá o tempo todo, observando e soltando comentários mordazes.

-Você vai quebrar essa cerca antes de consertar,- ele dizia, com um sorriso irônico nos lábios.

-Se você parasse de falar e começasse a ajudar, talvez fosse mais rápido,- retruquei, tentando manter a calma.

Ele se aproximou mais uma vez, tão perto que eu pude sentir o cheiro de cigarro e suor nele. -Se você não fosse tão mimado, talvez não precisasse de tanta ajuda.

E lá estava aquela maldita tensão outra vez. Eu odiava o jeito como ele me fazia sentir... menor, mas ao mesmo tempo, havia algo no olhar dele, algo naquela aproximação, que mexia comigo de um jeito que eu não queria admitir.

Desviei o olhar, tentando me concentrar no trabalho, mas era impossível ignorar a presença dele ali.

XXX

Na parte da tarde, o calor estava insuportável, e eu comecei a sentir aquela familiar onda de ansiedade se aproximando, às vezes parecia que essa merda tinha um horário marcado. O coração começou a acelerar, e minha respiração ficou mais curta. Não podia deixar que ninguém visse, então, fiz o que sempre fazia: me escondi no banheiro da casa grande. Encostei as costas na porta, tentando controlar a respiração, mas parecia impossível. As paredes do pequeno banheiro pareciam se fechar ao meu redor, e meus pensamentos corriam em círculos.

Eu sabia que não estava preparado para isso. Esse lugar, essas pessoas, tudo era demais para mim. E Joaquim... Joaquim era a pior parte. Porque, de alguma forma, ele sabia exatamente como me atingir onde doía mais. Mas o que mais me incomodava era o fato de que, apesar de toda a raiva que eu sentia por ele, havia uma parte de mim que queria se aproximar.

Depois de alguns minutos, consegui me recompor o suficiente para sair do banheiro. Quando voltei ao trabalho, Joaquim me olhou de canto de olho, mas não disse nada. Talvez ele tivesse percebido minha ausência, ou talvez estivesse cansado demais para continuar brigando. Mas, no fundo, eu sabia que aquela tensão entre nós ainda estava lá, esperando o momento certo para explodir.

E, honestamente, eu não sabia se estava pronto para lidar com isso.

Voltei ao trabalho depois de conseguir controlar a respiração. O sol castigava ainda mais naquela hora do dia, e o calor grudava minha camisa no corpo. Cada martelada na madeira parecia ecoar na minha cabeça, acompanhada pela pressão no peito que se recusava a desaparecer completamente.

Joaquim ainda estava por perto. Ele parecia fazer questão de estar onde eu estava, só para ter a chance de apontar meus erros, como um cachorro farejador. Agora ele estava ajeitando uma parte da cerca, focado no trabalho, mas ainda assim atento a qualquer deslize meu. Me mantive ocupado, mas não pude evitar de olhá-lo algumas vezes de soslaio. Havia algo no jeito como ele se movia - a facilidade com que usava as ferramentas, os braços fortes, o suor escorrendo pela pele bronzeada. Por que, diabos, aquilo me afetava tanto?!

Ele me fazia sentir menos homem ou alguma merda assim. Talvez fosse inveja, inveja da posição dele nesse lugar, da força, eu não sabia dizer com exatidão. Mas era cansativo.

Tentei me concentrar na madeira, batendo os pregos, mas a sensação de estar sendo observado não me deixava. Joaquim sabia que eu estava lutando para manter o ritmo e, de certa forma, parecia se alimentar da minha frustração. Tinha algo nos olhos dele, algo além da habitual provocação, que eu não podia decifrar. E, para ser honesto, não tinha certeza se queria descobrir.

-Você não vai durar muito aqui se continuar assim,- ele disse de repente, sem nem levantar os olhos do trabalho. Sua voz era calma, como se ele soubesse que não havia necessidade de gritar para me irritar.

-Eu tô tentando, tá legal? - respondi, sem esconder a irritação.

Ele parou o que estava fazendo e me encarou, cruzando os braços. -Tentando? Isso é o que você chama de tentar?

Aquela postura de superioridade, aquele olhar de quem sabia mais do que eu, me fez ferver por dentro. Como ele ousava me julgar assim? Como se eu fosse um moleque incompetente que não sabia nada da vida? Dei um passo à frente, enfrentando-o.

-Eu não pedi pra estar aqui, Joaquim. Eu não sou um peão, não sou igual a você! Já entendi! - Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mas não me importei.

Ele me olhou por um momento, com aquele olhar profundo e misterioso que sempre me desestabilizava. -Eu sei que você não é. Mas talvez seja hora de você parar de se comportar como um mimado e começar a aprender. Se continuar nesse ritmo, vai ser um estorvo pra todo mundo aqui.

Eu abri a boca para retrucar, mas as palavras não saíram. Havia algo naquela frase que me atingiu de uma forma estranha, uma mistura de verdade e amargura. Ele não estava só me provocando dessa vez; havia algo mais ali, como se ele realmente se importasse, mesmo que fosse difícil de perceber.

-Eu...- Minha voz falhou por um segundo. Não sabia o que responder. A raiva e a frustração estavam lá, mas havia algo mais, algo que eu não sabia nomear. Joaquim continuava me olhando de cima a baixo, o corpo grande e musculoso parado à minha frente, como uma montanha que eu não podia escalar.

O calor entre nós parecia aumentar a cada segundo, como se a tensão já acumulada estivesse prestes a estourar. Cada vez que brigávamos, parecia que algo mais profundo se revelava, uma camada invisível que eu mal podia reconhecer. E, ao mesmo tempo, eu odiava o fato de que, no meio dessa raiva, havia uma atração que eu não conseguia controlar. Não era como a atração que eu teria por uma mulher, claro que não, eu decididamente não sou gay, mas isso, essa coisa estranha e subentendida estava lá. Como a mosca na sopa.

-Por que você se importa se eu vou ficar ou não? - perguntei, cruzando os braços, tentando manter o tom desafiador.

-Eu não me importo com você, - ele disse, sua voz firme. - Me importo com o trabalho... Simples assim.

-Então me manda embora! - As palavras saíram antes que eu pudesse pensar. - Eu sei que você me odeia. Fala logo, Joaquim. Você quer que eu vá embora! Não seria difícil encontrar um outro infeliz que fizesse melhor o seu tão precioso trabalho!

Ele deu um passo à frente, mais próximo do que eu gostaria, e o ar entre nós pareceu se condensar. - Se eu quisesse que você fosse embora, já teria te mandado. - Sua voz era baixa, quase um rosnado, e a proximidade entre nós me deixou tenso.

Eu sentia o calor do corpo dele, o cheiro de suor, cigarro e um perfume que não conhecia, e tudo isso estava me afetando mais do que eu gostaria de admitir. Meu coração começou a acelerar, não só pela raiva, mas pela tensão que pulsava entre nós. O olhar dele se fixou no meu, e eu quase não conseguia respirar. Havia algo naquela proximidade, no jeito como ele me encarava, que mexia comigo de uma forma que eu não conseguia entender.

-Então por que você continua me aguentando? - perguntei, minha voz mais baixa dessa vez.

Ele não respondeu imediatamente. Seus olhos permaneceram focados nos meus, e o silêncio que se seguiu foi pesado, cheio de algo que eu não sabia nomear. A raiva estava lá, claro, mas também havia algo mais. Algo que fazia minha pele formigar, que deixava minha respiração superficial. A boca seca.

Quando ele finalmente falou, sua voz era quase um sussurro. - Porque você ainda não provou que é inútil.

Engoli em seco, o rosto quente. Ele estava tão perto agora, se eu me inclinasse um pouco, meu rosto tocaria o peito dele, e senti vontade de me estapear por esse pensamento maluco. Meu corpo inteiro parecia em alerta, cada nervo à flor da pele. Eu não sabia se queria continuar brigando ou se queria... outra coisa. O silêncio entre nós durou mais do que deveria, e eu senti uma faísca perigosa, algo que eu sabia que não deveria de jeito nenhum sentir. Eu sou homem, ele é homem, pelo amor de Deus! Por que eu conseguia me mover pra longe?!

Foi Clarice quem quebrou o clima, aparecendo na varanda da casa grande e chamando nossos nomes. -Gabriel, Joaquim! Vocês vão ficar aí o dia todo ou vão terminar a cerca?

Nós dois demos um passo para trás ao mesmo tempo, como se tivéssemos sido pegos fazendo algo que não devíamos. Joaquim deu uma última olhada em mim, seus olhos ainda queimando com aquela mistura de raiva e... outra coisa. Sem dizer mais nada, ele se virou e voltou ao trabalho.

Fiquei ali por alguns segundos, tentando recuperar o controle da respiração. O que tinha acabado de acontecer?! Por que eu estava tão confuso, tão... mexido? Voltei ao trabalho, mas o resto do dia foi um borrão de tentativas frustradas de me concentrar. Joaquim estava sempre por perto, mas agora parecia haver uma distância entre nós que não era só física. Algo havia mudado, mas eu não sabia o que.

Quando a tarde finalmente chegou ao fim e o jantar foi servido, me sentei à mesa com os peões, mas mal consegui comer. Joaquim estava do outro lado, concentrado no prato, e eu tentava ignorá-lo, sem sucesso. A fazenda, com suas paisagens amplas e sua tranquilidade aparente, parecia ser um cenário perfeito para uma vida simples. Mas eu sabia que, debaixo dessa superfície, havia uma correnteza de sentimentos complicados, e eu estava prestes a ser arrastado.

Mais tarde, quando me deitei na cama dura da casa velha, as imagens do dia continuaram a girar na minha cabeça. As brigas, os olhares, a tensão que se acumulava cada vez mais entre nós. Devia estar ficando louco, só havia essa explicação.

Eu esmurrei o travesseiro caroçudo e me ajeitei para dormir. Amanhã, depois do meio-dia, seria finalmente a minha folga, um pouco de mundo real me faria bem. Sim, mundo real, internet e cerveja, nada melhor.

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