Capítulo 11: Fuga Frustrada.
Capítulo 11: Fuga Frustrada.
O sábado amanheceu ensolarado, com aquele céu claro que só a fazenda tinha. As folhas do imenso pé de manga atrás da casa grande brilhavam com as gotas de orvalho. O ar ainda estava fresco e carregado do cheiro da terra molhada por uma chuva noturna, e, pela primeira vez em semanas, eu estava arrumando a mala para ir embora, mesmo que fosse por pouco tempo. A ideia de voltar para a cidade, ao conforto da minha casa e dos meus amigos, deveria me animar, mas, enquanto dobrava minhas roupas e colocava cada peça na mala, só conseguia pensar em tudo o que queria deixar para trás.
Por mais que tentasse me convencer do contrário, parte de mim sabia que estava fugindo. Fugindo de algo que eu não sabia se conseguiria entender, algo que tinha se enraizado em mim de um jeito desconfortável e novo. Passei a mão pela cabeça, tentando me focar. "É isso", pensei. "Vou encontrar uma garota, sair com meus amigos, relaxar. Talvez tudo o que eu precise seja um pouco de farra, e esses sentimentos por Joaquim vão sumir..."
A viagem foi estranhamente rápida, mas cheia de pensamentos turbulentos, nem notei estar na estrada até já me encontrar no meio da avenida Juscelino Kubitschek. O trânsito barulhento de Goiânia me engoliu. Cada buzina e sinaleiro, as lojas de departamento e os milhares de carros, passei toda a minha existência no meio dessa correria, mas agora o ritmo acelerado da capital só me deixava nervoso. Minhas mãos suavam tanto em torno do volante, quanto na manhã em que cheguei na fazenda.
Cruzei o portão do condomínio com uma sensação estranha, como se a cidade, de repente, não fosse mais o lugar ao qual eu pertencia. As ruas bem pavimentadas e arborizadas do Aldeia do Vale, com cada casa sendo uma versão mais moderna e luxuosa da outra, sempre foram parte da minha vida, mas hoje, tudo parecia superficial. A minha casa - ou melhor, a casa do meu pai - estava bem no meio do condomínio, uma construção imponente de dois andares terraço, fachada de vidro, duas piscinas no quintal e jardins perfeitamente cuidados. Tudo sempre impecável, mas, de repente, tudo parecia vazio.
Meu pai, Roberto, estava esperando na porta, esbanjando aquele sorriso orgulhoso que ele sempre exibia, como se minha presença fosse uma prova de algo. Ele nunca foi o tipo mais afetuoso, mas, ao vê-lo ali, percebi que ainda fazia questão de ao menos manter as aparências. Ao entrar, a casa parecia tão silenciosa e organizada como sempre: a sala imensa, com os sofás de couro marrom, a estante repleta de livros que eu sabia que ele nunca leu, e as paredes decoradas com obras de arte que ele comprava só para impressionar os visitantes. Não era um lar, era um cenário.
- E então, Gabriel? - ele começou, enquanto eu ainda estava tentando me ambientar novamente naquele lugar. - Como está o trabalho na fazenda? Conseguiu se adaptar ao ritmo? - Ele parecia mais interessado do que o normal, o que já era surpreendente.
- Sim, pai. Tá sendo bom... diferente. - respondi, tentando resumir sem entrar em muitos detalhes.
Ele levantou uma sobrancelha, como se esperasse que eu falasse mais, talvez algo que confirmasse as expectativas que ele tinha sobre o trabalho rural.
- É, imaginei que fosse um choque pra você. Aquilo lá não é nada parecido com isso aqui, mas dizem que o trabalho duro ajuda a moldar o caráter. - Ele sorriu, satisfeito com a própria filosofia.
Concordei com um aceno, mais por educação. Eu sabia que ele via a fazenda como uma espécie de "lição de vida" que eu precisava, mas o que eu não tinha certeza era se ele compreendia o quanto estar lá realmente estava me transformando - em alguém que talvez ele não reconhecesse.
XXX
Mais tarde, naquela noite, eu me arrumei para sair. Camisa social e calça alfaiataria, all black, com corrente de prata no pescoço e Rolex no pulso. No dia a dia eu gostava da fragrância de Paco Rabanne, mas achei que a noite valia um pouco do meu Tom Ford. O Fucking Fabulous sempre foi meu favorito.
A cidade parecia pulsar ao meu redor assim que deixei a casa do meu pai e segui para a noite de Goiânia. Depois de semanas na fazenda, onde o tempo parecia avançar devagar e tudo era tão silencioso, quase podia sentir a vibração da vida urbana percorrendo cada esquina. As ruas estavam movimentadas, as luzes dos prédios e dos bares iluminavam as avenidas, onde as pessoas circulavam aos montes.
Liguei para alguns amigos e logo estava em uma balada, cheia de música alta, luzes piscando, o cheiro inconfundível de bebida misturado com o de perfume caro. Ali estava eu, no meio daquela multidão, rodeado de desconhecidos que sorriam e riam. Precisava de algo para tirar Joaquim da minha cabeça, e não havia jeito melhor que esse. Tentei me animar com a ideia de voltar a ser eu mesmo, aquele que não se preocupava, que curtia o momento.
A festa estava bombando. O lugar era exatamente como eu lembrava: cheio de gente desconhecida e meio superficial, com todo mundo tentando se destacar e impressionar. Os mesmos risos barulhentos, as mesmas dancinhas e piadas que antes pareciam tão divertidas, mas que agora... Bom, talvez eu estivesse bêbado de menos para achar interessante.
Quando cheguei ao bar, lá estavam eles: o velho grupo de sempre, cada um envolvido na própria conversa, mas todos rindo com um entusiasmo que parecia desmedido. Estavam encostados nas mesas de madeira altas perto do balcão, com os copos cheios e os celulares sempre ao alcance das mãos. O primeiro a me notar foi o Vinícius, sempre o mais barulhento. Ele levantou o braço, gritando meu nome alto o suficiente para chamar a atenção de metade do bar.
- Olha só quem decidiu dar as caras! - disse Vinícius, me puxando para um abraço breve e exagerado. Ele era o cara que sempre fazia piada de tudo, com uma personalidade extrovertida e um sorriso largo, daqueles que parecem sempre prontos para a próxima zoeira.
Ao lado dele estava o Caio, que olhou para mim com um sorriso meio irônico. Caio era o mais sério do grupo, um tipo que sempre se mantinha na dele quando estava sóbrio e que, geralmente, soltava os comentários ácidos no momento certo. Em contraste, a Ana estava mais agitada que todos, já contando uma história qualquer sobre a última festa em que tinham ido. Ela era a amiga que gostava de ser o centro das atenções, sempre postando tudo nas redes sociais e fazendo questão de manter uma imagem impecável. Já Carolina, a mais quieta do grupo, só me cumprimentou com um aceno, mas mantinha aquele olhar curioso de quem queria saber tudo sobre a minha "vida de fazendeiro". Era secretamente uma grande fofoqueira.
- E aí, homem do campo? - Vinícius continuou, rindo. - Foi difícil lá no meio do mato?
- Difícil nada! Aposto que ele tava matando cobra e amassando barro todo dia, que nem os peões da novela das nove, não é? - provocou Ana, rindo enquanto mexia no cabelo.
Sorri, tentando acompanhar o clima e a tentativa deles de me encaixar na brincadeira, mas percebi que algo estava... diferente. As piadas que eles faziam pareciam engraçadas para todos, menos para mim. Vinícius contava uma história que eu não fazia ideia do que era, mencionando uma nova balada que abriu e virou o "ponto de encontro" do grupo nas últimas semanas. Ana descrevia algum tipo de "drama" envolvendo um ex-namorado que agora estava saindo com uma conhecida dela, uma confusão que, meses atrás, eu teria ouvido com interesse.
- Cara, você perdeu o evento do ano, - comentou Caio, numa mistura de sarcasmo e provocação, ajeitando o óculos no nariz. - Se tivesse ficado, teria conhecido a "celebridade da semana". - Ele fez aspas com os dedos, como se tudo fosse uma grande piada.
- É, rolou um bafão que você nem imagina! - Ana concordou, se inclinando como quem estava prestes a contar um segredo. - Uma festa no rooftop da nova balada. Só os melhores convidados, sabe? - Ela piscou, como se me lembrar do que eu tinha perdido fosse o grande "favor" da noite.
Me limitei a sorrir enquanto eles falavam. Por um lado, era reconfortante ver que nada ali havia mudado. Era o mesmo grupo, as mesmas dinâmicas, as mesmas piadas internas. Mas, por outro, cada comentário me parecia frio, distante. Vinícius fazia questão de desviar a conversa para uma história sobre a briga que quase aconteceu na última saída, dando detalhes que faziam todo mundo rir, mas que, para mim, soavam absurdos e sem propósito.
- E aí, você trouxe algum presentinho do campo pra gente, hein? - Caio debochou, levantando o copo como se brindasse a própria piada.
- É, tipo um queijo fresco, uma cachaça daquelas bravas? - Vinícius entrou na onda.
- Não trouxe nada, não, - respondi, forçando um riso. - Nem eu tô com saudade de nada de lá. Só queria curtir a noite.
Eles riram e brindaram de novo, mas aquela sensação de deslocamento crescia cada vez mais em mim. De repente, a ideia de estar ali não parecia tão promissora como eu pensava. O barulho e as risadas que antes eram tão familiares agora me incomodavam.
Ana, sempre atenta ao celular, continuava fotografando tudo. E, no meio da conversa, ela me chamou para uma selfie. Eu sorri automaticamente, posando sem nem pensar. Mas, ao ver o sorriso forçado refletido na tela do celular dela, senti um incômodo como se estivesse interpretando um papel.
A noite seguiu com eles me contando mais histórias - as viagens que planejaram, os rolês que eu perdi, as últimas fofocas do grupo. E quanto mais eu tentava me animar, menos aquele ambiente fazia sentido. Eles riam, falavam alto, e eu tentava rir junto, mas estava claro que eu estava alheio a tudo o que era importante para eles. Eles não estavam preocupados em saber como eu realmente estava, e talvez isso fosse o pior.
Senti uma garota se aproximar de mim, loira, com um sorriso convidativo e um vestido justo, puxando assunto como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ela era bonita, chamava a atenção de todos à nossa volta, Caio e Vinícius soltavam comentários sugestivos como se eu não pudesse ouvir. Era o tipo de garota com quem eu sempre saía antes de ir para o interior.
Conversamos um pouco, ela se mostrou divertida e logo estava rindo das minhas piadas. Nos afastamos dos outros quando nossos olhares se cruzaram mais intensamente, ela se aproximou mais, até o ponto em que era óbvio que esperava um beijo, talvez até algo a mais. E era pra isso que eu tinha vindo, não era? Para me distrair, esquecer qualquer coisa que me incomodasse.
Mas, quando ela me beijou, senti algo estranho. Na verdade, não senti nada. Não havia a excitação que eu esperava, nem a química de antes. Eu tentava me envolver, me convencer de que aquilo era suficiente para me satisfazer, mas tudo que conseguia pensar era que o vazio só aumentava. Ela sussurrou algo ao meu ouvido, sugerindo que saíssemos dali, e eu concordei, quase automaticamente.
Fomos para um canto mais reservado, e, enquanto ela falava, comecei a perceber que minha mente estava em outro lugar - numa fazenda distante, em meio ao cheiro de terra, em tardes silenciosas e, principalmente, no olhar intenso e nos gestos brutos de um homem que eu insistia em tentar esquecer. Tentei focar nela, mas meu corpo não reagia. Era como se algo dentro de mim me impedisse, e eu sabia que era meu coração.
- Tá tudo bem? - ela perguntou, percebendo a hesitação.
Forçando um sorriso, eu apenas balancei a cabeça, mas a frustração era nítida. A realidade começou a pesar. Ali estava eu, na cidade, rodeado de tudo o que sempre achei que queria, mas me sentindo um completo estranho. E, por mais que tentasse negar, estava claro que a fazenda tinha se tornado parte de mim. Ou melhor, alguém lá tinha feito isso...
Desvencilhei-me dela com uma desculpa, sentindo o rosto quente, e me afastei. Quando olhei ao redor, vi todos dançando, conversando, e me dei conta de que não fazia mais parte daquele mundo. O peso da minha própria frustração foi tanto que tive que pedir uma dose dupla de uísque no balcão.
A sensação de desconforto e deslocamento parecia grudar em mim como um peso. Em meio às lembranças de um tempo que agora me parecia superficial, comecei a beber. No início, era só para tentar entrar no clima. Um gole ali, outro aqui. Mas, quanto mais eu percebia o vazio em tudo aquilo, mais fácil era levar o copo aos lábios, tentando me convencer de que talvez, se bebesse o suficiente, eu conseguiria rir e esquecer a sensação de estranheza.
- Olha só quem apareceu! - Mariana, uma das amigas de longa data, me puxou pelo braço assim que me viu, rindo. - Achei que você tinha virado um matuto de vez!
- Pois é... vim mostrar que ainda estou vivo - respondi, forçando um sorriso enquanto eles me cercavam.
- E então, como é a vida de fazendeiro? Você sumiu com a loira e nem contou nada - perguntou Vinícius, provocativo - Virou caipira ou já está voltando pra civilização? Achei que ia direto pro motel com ela.
-E quem te disse que ainda não vou? O final da noite ninguém sabe. - menti, como um perfeito babaca, uma sensação ruim no estômago me fez estremecer, mas eu disfarcei.
-Será que ela ainda vai te querer de bota de couro e chapéu, hein? - ele debochou.
Eles riram, e eu forcei outro sorriso. Fiz algumas piadas de volta, tentando disfarçar o incômodo crescente. Vinícius era o tipo de amigo que falava mais do que ouvia, e sua risada exagerada, que antes me contagiava, agora só me fazia querer sair dali.
Entre conversas e provocações, até algumas idas à pista de dança, a noite foi se desenrolando. Eles contavam seus repetitivos dramas da cidade... E eu? Cada detalhe do que acontecia na fazenda parecia fora de lugar ali, como se eu estivesse vivendo uma vida paralela da qual eles nunca fariam parte. Me apeguei à única coisa que poderia me ajudar a aguentar aquilo: mais bebida ainda. Enchi o copo uma, duas, três vezes, e a cada gole, o som da voz de Joaquim na minha cabeça ia se distanciando.
A música pulsava ao meu redor, e cada batida parecia me atravessar como uma corrente elétrica, fazendo o mundo girar. A pista estava cheia, mas, de alguma forma, eu me sentia sozinho no meio da multidão. A bebida fazia o trabalho dela, e eu estava leve, meio solto demais, deixando o ritmo me guiar, braços para o alto, os pés descompassados, enquanto meus amigos gritavam e pulavam. Meu corpo oscilava com a música, e tudo ao redor estava desfocado, como se o bar inteiro estivesse derretendo ao som daquela batida alta. Eu só queria rir e esquecer.
Em algum momento, alguém me puxou para mais perto do centro da pista, e eu cambaleei, mas segui o fluxo. Gritos eufóricos misturavam-se ao som, e eu me deixei perder ali, rindo de nada, de tudo, daquela sensação de liberdade falsa. As luzes piscavam num ritmo alucinante, colorindo a noite de vermelho e azul, e eu dançava, tentando acompanhar os outros. Meus amigos se moviam rápido demais, falavam rápido demais, e eu ia no embalo, rindo e tentando acompanhar o que nem conseguia entender mais.
Tudo o que importava naquele momento era me encaixar, mesmo que fosse apenas por algumas horas. Eu era apenas um personagem.
Porém, o álcool foi subindo à cabeça, eu estava ficando nitidamente muito tonto. As vozes ao meu redor ficaram mais altas, distorcidas. Meus amigos, como sempre, foram rápidos em incentivar. Vinícius me empurrava mais um copo, fazendo piada de que eu tinha "desaprendido a beber" na fazenda. Caio fazia um brinde em minha "homenagem", comentando o quanto todos estavam "felizes de me ter de volta." E Ana, com seu celular sempre apontado para alguém, capturava tudo com risadinhas e exclamações dramáticas, como se a cena toda fosse só mais um show para os seguidores dela.
- Olha só o garoto do campo, gente! - Caio brincou - Parece que desacostumou, hein?
Tudo o que eu queria era um pouco de ajuda, talvez alguém para dizer que eu precisava ir para casa. Mas eles achavam graça e continuavam me empurrando para o centro da cena, enquanto eu penava para ficar de pé.
- Vai, Gab! Dá um show pra gente! - Ana disse, enquanto me filmava caindo para trás ao tropeçar no banco, rindo descontroladamente. Eu me sentia cada vez mais mal.
A festa estava no auge quando cheguei no meu limite, o som da música tão alto que fazia o chão tremer. Mariana me puxou para cima, mas acho que foi só para me ver cair de novo. Ela me seguia, tirando sarro a cada tropeço, como se fosse uma cena hilária.
- Olha o fazendeiro! Cuidado pra não tropeçar no arado! - debochou, gargalhando e encorajando os outros a se juntarem na provocação.
Vinícius, no meio do riso, esticou o braço para me dar outro tapinha nas costas, mas, no instante em que ele se aproximou, senti o estômago revirar. Tentei engolir a sensação, forçando um sorriso, mas o enjoo era forte demais. Num piscar de olhos, o mundo girou, e eu não consegui segurar.
Vomitei bem em cima dele.
Os olhos de Vinícius se arregalaram, e ele ficou ali parado, entre o choque e o nojo, tentando limpar a camisa enquanto Ana continuava filmando, como se fosse a melhor coisa que já tinha acontecido na vida dela.
- Meu Deus, Gabriel! Olha o que você fez! - Mariana ria tanto que mal conseguia falar, enquanto o restante do grupo assistia à cena com olhares divertidos.
Vinícius, com o rosto retorcido de raiva e as roupas encharcadas, deu um passo para trás, balançando a cabeça em indignação. - Cara, que nojo! Sério, não consegue se controlar?
A vergonha me atingiu em cheio. Entre risos e olhares de nojo, percebi o quanto estava deslocado ali. Mesmo no meio de tanta gente, a sensação de estar completamente solitário me invadiu. Com o gosto amargo do álcool e da vergonha na boca, cambaleei em direção à porta de saída, a última coisa que queria era dar um vexame, mas era tarde demais. Esses não eram meus amigos de verdade, nunca foram. E, mesmo assim, eram tudo o que eu tinha aqui.
Tropecei até a porta e, sem pensar muito, peguei o celular no intuito de ligar para a única pessoa que me veio à mente: meu pai. Meus dedos tremiam enquanto procurava o número dele. A última coisa que queria era pedir ajuda, mas não havia ninguém mais. A voz dele atendeu na terceira chamada, firme e direta.
- Gabriel? Onde você está? - A voz de Roberto era séria, e eu mal conseguia responder de forma coerente.
- Pai, eu... tô no bar, aquele de sempre... Não consigo voltar dirigindo. Pode... pode me buscar? - Minha voz saiu arrastada, quase um sussurro.
O silêncio do outro lado durou mais do que o necessário. Quando meu pai finalmente falou, seu tom estava carregado de decepção.
- Gabriel, quantos anos você acha que tem? Um homem da sua idade ligando pro pai porque encheu a cara numa festa? - Ele respirou fundo, e o sermão começou, cada palavra mais pesada que a anterior. - Eu te criei pra ser um adulto responsável, para ser um homem, não pra passar vergonha em festa de adolescente! Até quando vai agir como um moleque?!
O sermão continuou por longos minutos, e a cada palavra eu só queria encolher ainda mais. Fechei os olhos, respirando fundo, tentando segurar a humilhação e o nó na garganta. O tom de desilusão dele era quase pior que a própria raiva. No fundo, eu sabia que ele tinha razão, mas as palavras dele me faziam sentir ainda menor. Depois de alguns minutos de sermão, ele disse que estava a caminho, mas que isso "não se repetiria".
Enquanto eu esperava, sentado na calçada, me vi mais uma vez chorando. E, na bagunça da minha mente bêbada... Eu queria de alguma forma que Joaquim viesse me salvar, da confusão que eu sozinho busquei para mim.
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