Capítulo 10: Rolando Na Poeira.
Capítulo 10: Rolando Na Poeira.
Aquela tarde estava quente como o inferno, sempre odiei esse clima doido de Goiás. Num dia chovia o suficiente pra deixar os anjos sem água, no outro era comum fritar ovo na calçada. E considerando que eu estava debaixo do sol com um chapéu de palha fedorento na cabeça, meu humor não estava dos melhores.
Tínhamos passado horas trocando cercas, e às vezes eu acho que esse lugar cria cercas ao invés de gado. Toda hora uma vaca desocupada ia lá e arrebentava o arame ou arrancava a estaca, e sobrava para mim e Joaquim consertar essa merda. Já que ninguém mais me deixou me deixou chegar perto de uma máquina agrícola depois do incidente com o trator, e eu não aguentava mais a ordenha, sempre sobravam as duas tarefas que ninguém queria para mim: carregar saco de ração e consertar os trinta mil metros de cercas esburacadas daqui. E Joaquim, bom, acho que ele tem algum fetiche em me perseguir... Ou talvez tivesse ordens para me vigiar, dava na mesma, e no fundo eu não achava ruim.
A cerca era uma tarefa que Joaquim parecia fazer com a facilidade de quem nasceu para aquilo, enquanto eu, desajeitado, tentava acompanhar seu ritmo. O sol batia forte, a poeira impregnava as roupas e os braços, e o suor escorria pelas minhas costas e testa, formando um rastro quente que me incomodava a cada movimento. Mesmo assim, eu me sentia estranhamente satisfeito, trabalhando ao lado dele. Era difícil explicar o porquê, mas aqueles momentos em que estávamos juntos, em silêncio, eram diferentes de tudo que eu já tinha experimentado antes.
Eu estava concentrado, martelando com força em uma das estacas, quando senti uma pontada na coxa ao dar um passo em falso na terra fofa, e um gemido escapou dos meus lábios. A dor era forte o suficiente para me fazer soltar o martelo e levar a mão à perna, tentando aliviar o incômodo com uma leve pressão. Joaquim notou na mesma hora, parando o que estava fazendo e se aproximando com um olhar preocupado.
-O que aconteceu? Machucou a perna?- Ele se ajoelhou ao meu lado, sem esperar resposta, examinando-me com aquela expressão dura, mas que, no fundo, escondia uma preocupação sincera.
-Foi só um mal jeito-, murmurei, envergonhado por tê-lo interrompido no meio do trabalho. - Eu não vi o desnível no chão...
Mas ele não pareceu convencido e, antes que eu pudesse evitar, sua mão já estava sobre minha coxa, pressionando o local onde eu sentia a dor. O toque dele era quente, forte e, ao mesmo tempo, tinha uma gentileza inesperada. Seus dedos foram pressionando com cuidado, buscando qualquer sinal de lesão, e cada movimento fazia o calor subir pelo meu corpo, uma sensação que se espalhava muito além da dor.
Eu engoli em seco, o coração disparado no peito, sem saber o que fazer ou como reagir. O toque de Joaquim, tão direto e ao mesmo tempo cuidadoso, acendeu algo em mim, uma faísca que eu não conseguia controlar. Cada vez que ele movia os dedos sobre a minha pele, era como se uma corrente elétrica passasse por todo o meu corpo, intensa e impossível de ignorar. Tentei afastar a sensação, mas ele estava perto demais de onde não deveria, minha pele estava ficando sensível ao seu toque.
Ele continuou examinando, concentrado, sem perceber o efeito que estava causando em mim. Senti o rosto ficar quente, o corpo tenso, enquanto cada célula parecia responder ao toque dele com arrepios que quase me faziam tremer. Meu olhar se fixou em suas mãos, ásperas, calejadas pelo trabalho duro, mas incrivelmente delicadas no jeito que ele tocava minha pele. Meus olhos foram subindo devagar, acompanhando o contorno dos braços fortes e do pescoço marcado pelo sol, até encontrar o rosto dele. Joaquim tinha um semblante fechado, mas o jeito que ele me olhava, mesmo sem perceber, era hipnotizante.
Minha mente idota me fez imaginar como seria o toque dele em uma parte mais íntima de mim, me condenei por isso, mas parecia tão bom. E então, como se meu corpo tivesse sua própria vontade, senti uma onda quente se espalhar por mim. A ereção foi inesperada e desconcertante, uma reação que eu tentei conter, mas que escapou ao meu controle. O desconforto da situação me fez prender a respiração, e desviei o olhar rapidamente, tentando disfarçar. Mas não conseguia afastar o toque dele, o calor das mãos que ainda estava ali, forte, intenso, quase me fazendo gemer.
Joaquim não pareceu ver no início, e eu agradeci internamente por isso. Mas, ao mesmo tempo, aquela proximidade, aquele toque, faziam parte de uma conexão silenciosa que eu não queria quebrar. Aquilo era provavelmente o mais perto que eu ia chegar de ter seu toque, eu não queria que acabasse.
No entanto, ele teve que perceber minha tensão, e seus dedos pararam, ainda sobre minha coxa, como se sentisse a corrente de eletricidade que agora passava entre nós. Por um instante, ele permaneceu ali, o olhar encontrando o meu de uma maneira que dizia mais do que qualquer palavra. O tempo pareceu congelar, e tudo ao redor desapareceu, deixando apenas o toque dele, a proximidade, e o calor insuportável que fazia meu corpo reagir de uma forma tão indecente.
Num impulso, ele soltou minha coxa, como se o toque queimasse, e recuou, o rosto um pouco corado, disfarçando o desconforto ao desviar o olhar para qualquer coisa ao redor, como se aquilo pudesse dissipar o que acabara de acontecer. Eu também recuei, tentando me recompor, o coração ainda acelerado enquanto respirava fundo, tentando ignorar as emoções e a confusão que aquela reação despertara em mim.
Não dissemos nada. As palavras pareciam desnecessárias e impossíveis de serem ditas. O silêncio entre nós estava carregado de algo que não precisávamos nomear, mas que estava ali, mais presente e intenso do que qualquer coisa que eu já tivesse experimentado. Aquela sensação de vulnerabilidade, misturada com a atração latente e o desconforto, nos prendeu por um segundo que parecia não acabar nunca.
Finalmente, Joaquim se levantou, limpando a poeira das mãos e murmurou alguma coisa sobre terminar o trabalho. Eu assenti, desejando mais que tudo desaparecer da face da Terra.
XXX
O resto do dia foi um verdadeiro tormento. Depois do que aconteceu com Joaquim, eu mal conseguia olhar na direção dele sem sentir o rosto esquentar de vergonha. Estava constrangido, perdido num turbilhão de pensamentos. Ele provavelmente estava achando que eu era um completo nojento agora. Só a ideia disso me fazia sentir ainda pior, como se tivesse feito algo sujo, algo que tinha o afastado ainda mais de mim. A última coisa que queria era que Joaquim me desprezasse, e agora temia que esse fosse o resultado.
Fiquei tentando me concentrar no trabalho, me ocupando em consertar qualquer coisa que aparecesse pela frente. Mas, para o meu azar, fui designado para trabalhar com Rafael, aquele muleque pentelho de 17 anos, que não gostava muito de mim desde que cheguei na fazenda. Ele era do tipo que adorava me provocar, seja por eu ser novo ali, seja por puro prazer em ver minha reação, isso nunca mudou. E, naquele dia, parecia que ele estava mais irritante do que nunca.
-Acho que você tá cansado hoje, hein, Gabriel? Tá meio devagar-, ele disse, rindo, enquanto fingia que fazia todo o trabalho sozinho. - Ou será que tá com a cabeça em outro lugar?
Tentei ignorá-lo, respirando fundo para manter a calma, mas ele continuava. Cada piada, cada provocação, parecia cutucar algo dentro de mim, me empurrando para o limite. Rafael sabia o que estava fazendo, aproveitava cada momento de silêncio para soltar uma provocação nova.
-Ouvi dizer que você tava todo engraçadinho com Joaquim mais cedo-, ele continuou, rindo. -Vai ver ele finalmente cansou de ser só seu babá. Quanto tá pagando a mais pra ele, afinal?
Aquilo foi a gota d'água.
Quando Rafael soltou aquele último comentário maldoso, tudo o que consegui sentir foi uma onda de raiva tomar conta de mim. Larguei a ferramenta e, antes de me dar conta, já estava em cima dele, empurrando-o com toda a força que tinha. Rafael cambaleou para trás, mas se recuperou rápido e logo revidou com um outro empurrão, que quase me fez perder o equilíbrio.
-O que foi, Gabriel? Não sabe brincar?-, ele debochou, com aquele sorriso irritante que só me deu ainda mais vontade de socá-lo.
E foi o que fiz. Meu punho acertou bem o lado do rosto dele, e por um segundo, vi a expressão surpresa e confusa dele, como se ele não esperasse que eu fosse revidar de verdade. Mas Rafael não ficou parado. Ele reagiu rápido, e logo estávamos rolando pelo chão, puxando o colarinho um do outro e trocando socos desajeitados, numa briga tão intensa quanto inútil. Eu sentia a poeira subindo ao nosso redor, enquanto os outros peões olhavam a cena com uma mistura de choque e diversão, como se fosse um show inesperado no meio do dia.
Rafael agarrou um punhado do meu cabelo e puxou com força, me fazendo soltar um grito que, ao invés de intimidar, acabou soando ridículo. Tentei puxar o cabelo dele de volta, mas ele era mais baixo e esquivava a cabeça como um gato arisco, o que só me deixou mais irritado. Que muleque filho da mãe!
-Que foi? Só isso que cê tem?- ele provocou, a voz entrecortada pelo riso. Em resposta, tentei acertá-lo de novo, mas ele desviou, e meu soco acabou passando direto, me fazendo quase cair de cara no chão.
-Cabelo é golpe baixo, covarde!-, rebati, sentindo a testa suar e o rosto arder de frustração. -Isso aqui é briga de homem!
-É? Porque você tá batendo que nem uma bichinha!-, ele riu, desviando de outro soco meu.
A cena toda estava se tornando cada vez mais ridícula, com a gente trocando socos que mal acertavam o alvo e puxões de cabelo que mais pareciam coisa de briga de escola. Em algum momento, consegui derrubá-lo, mas Rafael me agarrou pelas pernas e me puxou junto com ele para o chão, onde continuamos rolando, chutando, e dando socos fracos um no outro. Eu mal sabia o que estava fazendo, só sabia que não ia deixar ele sair por cima dessa vez. Juntei toda a força que tinha, enfiei o joelho na boca do estômago do safado e deu um murro tão grande na cara dele que fez voar sangue do nariz.
Os outros peões, que já estavam de olho na confusão, começaram a intervir quando perceberam que aquilo não ia terminar tão cedo. -Ei, ei, calma aí! Vamo parar com isso!-, gritou um deles, segurando meu braço enquanto outro puxava Rafael para longe de mim.
Mesmo separados, Rafael ainda me encarava com um sorrisinho debochado e o nariz arrebentado, enquanto eu tentava me soltar para dar mais um soco nele. -Tá com raiva ainda? Achei que já tinha dado tudo que tinha, Gabrielzinho!-, ele zombou, e aquilo só fez a vontade de dar outro soco aumentar.
Com a adrenalina diminuindo, o cansaço começou a aparecer, e eu me dei conta do quão absurdo era tudo aquilo. Meu rosto doía, o braço parecia ter sido arrancado do lugar de tanto puxão e soco mal dado, e, para completar, todos os peões estavam nos olhando como se fôssemos dois moleques. Rafael, todo sujo de poeira e com o nariz sangrando, olhava pra mim com um ar de desafio, e, por mais irritado que eu estivesse, não pude deixar de rir da situação ridícula.
-Acho que a gente já fez papel de idiota o suficiente por hoje-, murmurei, respirando fundo enquanto limpava o rosto suado.
Os outros riram, balançando a cabeça enquanto voltavam ao trabalho, mas não sem antes nos dar uma boa bronca e nos deixar com os ouvidos ardendo. Rafael continuava com o ar de provocação, mas parecia mais cansado do que antes. Eu mesmo estava exausto, a essa altura já não ouvia nada, e tudo que queria agora era sair dali e me esconder de todo mundo, de preferência para sempre.
Fui levado para a casa grande para tratar dos machucados, onde Clarice me esperava na sala, com uma expressão de paciência e gentileza que me fazia sentir ainda mais infantil.
Ela me fez sentar na sala ampla, onde a luz do entardecer entrava pelas janelas altas, iluminando os móveis de madeira antiga e os quadros pendurados nas paredes. A decoração era sóbria, mas elegante, com cortinas claras e tapetes macios, criando um ambiente acolhedor, um contraste com o caos que parecia reinar dentro de mim. Sentei-me num dos sofás, sentindo o peso dos olhos dela sobre mim enquanto examinava o corte no canto do meu rosto e o inchaço que começava a aparecer.
Ela se aproximou com um pano úmido e uma expressão de preocupação. -Você não é do tipo que arruma briga à toa, Gabriel,- disse, passando o pano com cuidado sobre o machucado. -Quer me contar o que aconteceu?
Enquanto ela limpava o corte na minha testa e verificava se havia outros hematomas, senti a raiva e a vergonha começarem a desaparecer, dando lugar a uma tristeza que vinha se acumulando há dias.
Baixei o olhar, tentando segurar as lágrimas que insistiam em vir. -É complicado-, murmurei, a voz embargada. Sentia um nó na garganta, uma mistura de vergonha e medo que não conseguia conter. -Acho que... acho que estou me apaixonando por alguém que não deveria. - As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las, e, embora não tivesse dito tudo, parecia que um peso saía dos meus ombros. Era a primeira vez que usava "paixão" para descrever o sentimento, mas não sabia nomear de outra forma.
Clarice me olhou com compreensão, sem fazer perguntas, como se entendesse mais do que eu estava dizendo. Ela me puxou para perto, fazendo um gesto para que eu deitasse a cabeça em seu colo. Hesitei, surpreso, mas, ao sentir o toque suave dela nos meus cabelos, acabei cedendo, deixando-me ser cuidado como nunca tinha sido antes.
Enquanto ela acariciava meus cabelos, uma onda de emoções me inundou. Era um carinho tão genuíno, tão materno, que me fez lembrar de todas as vezes que precisei de algo assim e não tive. Minha mãe se separou do meu pai quando eu ainda era pequeno, e desde então, quase não a via. Ela vivia ocupada, com a própria vida, e nossas interações eram raras e distantes. Nunca houve alguém para me consolar, alguém que me acolhesse quando eu estava ferido, e, naquele momento, toda a falta que eu sentia daquilo veio à tona.
-Gabriel,- Clarice disse, num tom calmo e reconfortante, -não importa quem seja. O que importa é que você esteja sendo verdadeiro com o que sente. Amar alguém pode ser difícil, mas fugir disso é ainda pior. - As palavras dela soaram como um alívio, como se, de alguma forma, ela soubesse exatamente o que eu estava passando.
Deitei-me ali, deixando as lágrimas rolarem enquanto ela continuava acariciando meus cabelos, sem pressa, sem julgamento. Aos poucos, a dor e a vergonha foram dando lugar a um conforto que eu não sabia que precisava, e, pela primeira vez em muito tempo, senti que talvez, apenas talvez, estivesse tudo bem me sentir assim.
Meus olhos se encheram de lágrimas, e, sem perceber, comecei a chorar baixinho, deixando que ela me confortasse como ninguém nunca tinha feito antes.
Deitado no colo dela, as memórias de minha infância voltaram à tona. Minha mãe, que nunca fora uma figura presente, sempre distante, ocupada com a própria vida desde que se separou do meu pai. Cresci sem esse tipo de cuidado, sem ter alguém para me acolher quando as coisas ficavam difíceis. Ela raramente aparecia, e, quando vinha, era como uma estranha, uma visita rápida, sem tempo para se importar de verdade com o que eu sentia.
Clarice, em contraste, estava ali, me oferecendo um carinho tão simples e ao mesmo tempo tão profundo que me fazia sentir um vazio que nunca tinha sido preenchido. Ela continuou acariciando meu cabelo, murmurando palavras de consolo que eram como um bálsamo para o meu coração. E, naquele momento, percebi que o que eu mais desejava, o que mais me fazia falta, não era apenas um amor, mas também o conforto de alguém que realmente se importasse.
Enquanto eu ainda estava deitado no colo de Clarice, sentindo o toque reconfortante dos dedos dela passando pelos meus cabelos, ouvi passos pesados vindos do corredor. Quando olhei, vi Joaquim parado na entrada da sala, o semblante rígido, com uma expressão que eu não conseguia decifrar bem - era uma mistura de desaprovação e uma ponta de preocupação, como se ele também não soubesse exatamente como se sentia ao me ver daquele jeito.
Clarice, percebendo a presença dele, deu um último afago na minha cabeça e sorriu de leve, sussurrando: -Vou deixar vocês conversarem. - Em seguida, levantou-se com um movimento calmo e saiu da sala, me deixando sozinho com ele.
Joaquim cruzou os braços e, depois de uma pausa longa e silenciosa, finalmente perguntou:
- Então, quer me explicar o que deu em você e no Rafael? Os dois pareciam uns moleques brigando por doce.
Eu desviei o olhar, ainda envergonhado, sem saber como responder a isso. Não tinha a menor intenção de contar para ele que a briga fora por um boato bobo, mas que eu não queria que sujasse o nome dele. Sentia o peso da vergonha do que tinha acontecido mais cedo, do toque que eu mesmo transformei em algo maior - da minha reação a ele. O silêncio entre nós começou a pesar ainda mais, e minha mente só conseguia se voltar ao momento em que ele me segurou, ao calor da mão dele sobre minha coxa.
- Nada demais - murmurei, encolhendo os ombros.
- Nada demais? Você acha mesmo que isso vai convencer alguém? - ele respondeu, o tom de voz endurecendo, como se minha resposta tivesse piorado a situação.
- E por que você se importa? - soltei antes que pudesse me conter, a voz saindo mais agressiva do que eu pretendia. Ele parecia surpreso, como se não esperasse uma reação daquele tipo. E, ao ver a confusão que se formou em seu rosto, uma raiva que eu nem sabia de onde vinha começou a crescer dentro de mim.
- Por que eu me importo? Você não percebe a dificuldade que é sempre ficar consertando suas burradas? - Ele deu um passo à frente, aproximando-se, e senti meu coração acelerar.
- Burrada? Então é isso que você acha que estou fazendo? - Levantei-me, sentindo o sangue ferver. - Olha, se sou tão irritante assim pra você, posso muito bem dar um jeito de sair do seu caminho por um tempo. Talvez você tenha razão... talvez eu não devesse estar aqui mesmo!
Joaquim ficou em silêncio, os olhos fixos em mim. Ele mordeu a boca, como se estivesse prestes a dizer algo, mas se conteve. Esse silêncio pesado só aumentou a tensão no ar, cada segundo mais sufocante que o anterior. Eu sabia que essa era a última coisa que eu queria, que no fundo minha raiva não era com ele, mas com a minha própria confusão. Mesmo assim, eu estava magoado com o julgamento dele e já tinha dito, era tarde demais para voltar atrás.
- Quer saber? Vou para a cidade no fim de semana - disparei. - Vai ser meu presente pra você, uns dias de paz sem o idiota aqui. E, quem sabe, se eu não voltar... Você não tenha mais que consertar nenhuma burrada minha!
Ele ficou me encarando por um longo momento, mas em vez de responder, apenas virou-se e saiu, deixando-me sozinho na sala com um sentimento de frustração e arrependimento. Fiquei ali, respirando fundo, tentando acalmar a onda de emoções que parecia me arrastar, mas só conseguia pensar em como tudo havia saído tão errado - e no porquê.
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