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Capítulo 1: O Castigo.

Capítulo 1: O Castigo.

Apenas o ronco baixo do motor e a música baixa no rádio me acompanhavam naquela manhã. Era segunda-feira e a esse horário eu ainda deveria estar dormindo, mas atravessava o velho Goiás rumo ao interior. Quase não haviam carros na GO, eu ultrapassava apenas um ou outro caminhão, deixando-os para trás junto a infinitas serras, plantações e vacas pastando. Era tão tedioso que estava quase dormindo ao volante.

O asfalto úmido da chuva recente foi acabando quando fiz um retorno, seguindo o GPS que ditava o caminho do meu futuro túmulo cheio de poeira e bosta de vaca. A fazenda da minha família.

Eu nunca imaginei que meu pai seria capaz de me mandar para este buraco, localizado depois do fim do mundo. Estaria a mais de setenta quilômetros de Goiânia, onde toda a minha vida ficou para trás. Estava irritado, para dizer o mínimo, minha Ranger branquinha sacolejava pela estrada de terra e já deveria estar coberta de terra. Quem em sã consciência deixaria o asfalto para trás? O volante escorregava um pouco nas minhas mãos suadas, mas eu continuava firme, me recusando a acreditar que estava mesmo indo para aquele lugar.

As árvores retorcidas do cerrado passavam ao meu redor em uma sucessão monótona, e eu não conseguia ver nada além de mato, mato e oh… Mais mato. Tudo parecia abandonado, como se a civilização tivesse esquecido que este canto do planeta existia. Eu suspirei, ajeitando a gola da polo no pescoço, irritado com a poeira que se acumulava no painel do carro.

Era isso que eu ganhava por ter "atitudes irresponsáveis", nas palavras exageradas do meu pai. Roberto Braga, o grande empresário, decidiu que a melhor forma de me “ensinar a ter responsabilidade” seria me mandar para a fazenda de nossa família em Itauçu. Porra, eu sei que exagerei naquela festa, mas me castigar assim?! Ele poderia ter diminuído minha mesada, como sempre fazia, mas fazer o próprio filho de peão já me parecia loucura.

A paisagem começou a mudar e, à distância, eu finalmente avistei a maldita fazenda. A casa principal era grande, ao menos isso. De tijolos vermelhos, com um aspecto rústico que eu sempre achei antiquado, mas definitivamente era sólida, estava de pé há três gerações da minha família e continuava resistindo ao tempo. Mas o que mais me incomodava eram os campos ao redor — quilômetros e quilômetros de plantação e pastagem, havia também estábulos e currais ao fundo. O som abafado de tratores trabalhando ao longe chegava até mim. Tudo cheirava a terra e a suor, nada de interessante, apenas agropecuária por todos os lados.

Suspirei novamente, desejando estar em qualquer outro lugar, talvez em uma praia privada no Caribe ou em uma festa em Ibiza. O que eu não daria por um bom Gin agora…?

Ao estacionar o carro, a primeira coisa que fiz foi pegar meu celular, mas, claro, sem sinal. Eu estava oficialmente desconectado da vida real, me senti tão inútil quanto o iPhone novinho que segurava. Como as pessoas sobreviviam aqui? Sem Whatsapp ou Instagram?! Uma pergunta para a qual eu não tinha resposta, e que fazia uma onda de frustração subir pela minha garganta.

Irritado, saí do carro e olhei ao redor. O silêncio era esmagador. Cadê a movimentação? O burburinho? Pelo menos em Goiânia, eu estava sempre cercado por barulho, por vida. Aqui, eu só conseguia ouvir o som abafado do vento balançando as árvores próximas e os piados repetitivos dos passarinhos em cima delas. Estava distraído, observando um pé de manga gigante atrás da casa.

Foi quando desci o olhar, que o vi pela primeira vez.

Joaquim, o caseiro, apareceu na porta da casa principal, e, bom... ele era, no mínimo, intimidador. Alto e robusto, com braços fortes e pele queimada de Sol, seus ombros largos devem dar duas vezes os meus. Era aquele tipo de homem que provavelmente nunca pisou em um shopping na vida, a camisa xadrez manchada quase estourando em seu peito e as calças desgastadas que usava concordavam comigo.

Seus cabelos grisalhos caíam bagunçados e úmidos de suor na testa, ele nem parecia muito mais velho que meu pai, mas seu rosto era marcado por rugas profundas de quem trabalha demais. Ele tinha um cigarro de fumo na boca e sua expressão misturava cansaço e impaciência, como se soubesse que eu seria um problema antes mesmo de me conhecer. Não que ele estivesse errado, claro.

O capataz segurou o cigarro entre os dedos, e o cilindro de papel pareceu minúsculo para o tamanho de sua mão enquanto ele soltava a fumaça.

–Você é o filho do patrão, né? – sua voz era grave, quase um rosnado, carregava um sotaque típico do interior, e eu tive que me controlar para não torcer o nariz.

Joaquim me olhava com uma sobrancelha grossa arqueada, os olhos castanho claro semicerrados pelo sol do meio-dia.

–Sou, sim. –  respondi, tentando manter o tom de voz neutro, mas já estava um pouco impaciente – Gabriel, filho do Roberto. Ele disse que você estaria me esperando.

Joaquim grunhiu uma risada seca, sem humor. Parecia um touro dando risada, só lhe faltavam os chifres, isso se já não os tivesse.

–Esperando, eu? Não tenho tempo pra esperar ninguém. Tava trabalhando até agora. – o capataz fez um gesto vago em direção aos campos e voltou à seriedade de repente.

Ele desceu os degraus com uma calma irritante, como se estivesse lidando com um adolescente preguiçoso. E, na mente dele, provavelmente estava. Eu fiquei parado, sem saber exatamente o que fazer. Aquele homem não parecia estar disposto a facilitar minha vida aqui. Mas, pensando bem, eu nem queria estar ali para começo de conversa.

–Olha… – comecei, tentando soar mais firme – Meu pai me mandou para cá por uns tempos porque... bom, ele acha que eu preciso aprender alguma coisa sobre o trabalho da fazenda. Não sei exatamente o que ele espera que eu faça, mas aqui estou… Nesse fim de mundo.

Joaquim me olhou de cima a baixo, e eu me senti um tanto exposto, como se ele pudesse enxergar todos os meus pecados. Será que ele conseguia sentir que lhe chamei de corno…?

–Seu pai acha que você precisa é de uma lição. E, pelo que tô vendo, ele tá’ certo. – seu tom arrogante, tão parecido com meu pai falando, me fez automaticamente fechar a cara.

"Ótimo", pensei puto, um calor irritante subiu pelas minhas bochechas. Esse velho filho da mãe não perdeu tempo em me julgar.

–Aqui a vida é diferente. A gente não fica parado esperando as coisas acontecerem.Todo mundo tem uma função, e a sua vai ser aprender com o tempo. – Joaquim continuou a bronca, senti uma vontade imensa de mandá-lo pastar junto de suas vaquinhas idiotas.

–Certo, eu já entendi. – reclamei, farto de tudo aquilo – Tem alguém lá dentro pra me mostrar meu quarto? – apontei para a casa grande, o homem me olhou confuso, mas riu seco logo em seguida.

–Seu pai não te avisou? Você não fica na casa grande.

Joaquim apontou com a cabeça para uma casa menor, afastada da casa principal.

–Seu canto é ali. Não espere luxos. O quarto é simples, a cama é dura, e a água do chuveiro demora pra esquentar, quando esquenta. – ele se virou e começou a caminhar em direção à casa principal – Amanhã você começa. Acorda cedo, cinco e meia. E não se atrase.

Meus olhos seguiram a direção que ele apontava, e meu estômago se revirou. A casa era... modesta, para dizer o mínimo. Nada do que eu estava acostumado. Mas eu não ia reclamar. Pelo menos, não na frente dele. Já havia entendido que meu pai queria que eu tivesse a experiência de inferno completa, com direito a masmorra e satanás da roça particular.

E “cinco e meia”? Ele só podia estar brincando. Ninguém em sã consciência acorda a essa hora, a menos que esteja fugindo de um incêndio ou algo assim. Fiquei parado, olhando para as costas dele enquanto desaparecia dentro da casa principal, sentindo meu orgulho ser esmagado por aquele homem que parecia ter saído direto de um filme de faroeste.

Depois de pegar minha mala no carro suspirei e caminhei até a casa onde ele disse que eu ficaria. Era ainda pior por dentro do que parecia por fora. Era uma piada, só podia ser. Eu quase gritei, queria xingar alguém, mas ninguém iria me ouvir e me senti inevitavelmente como uma criança perdida.

Por fora, era uma construção simples, de madeira, claramente antiga e sem cuidados estéticos. O interior não era muito diferente. O chão de madeira rangia sob os meus pés, e o ambiente tinha um cheiro horroroso de mofo e terra que me fez espirrar. O quarto, que ficava ao lado de uma cozinha minúscula e uma sala de estar praticamente deserta, tinha apenas uma cama de madeira com lençóis gastos e uma janela que dava para os campos.

Joguei a mala na cama com um baque surdo e me sentei ao lado dela, olhando ao redor. Estava oficialmente no meio do nada.

XXX

O despertador tocou às cinco e meia da manhã, e eu quis jogá-lo pela janela. Ainda estava escuro, e meu corpo doía de uma noite mal dormida. "Quem vive assim?", pensei, me arrastando grogue para fora da cama e vestindo a primeira coisa que encontrei, uma camisa de grife e jeans. Não era o mais apropriado para uma fazenda, mas eu me recusava a me vestir como eles.

Eu queria ao menos tomar um banho. Me sentia sujo sempre que saía sem lavar o cabelo, mas depois de ter testado o chuveiro na noite anterior, decidi que não precisava de um resfriado logo pela manhã. O mofo da casa já me fazia espirrar o suficiente.

Ao sair de casa, encontrei o céu ainda tingido de roxo, azul e laranja, o sol nascendo no horizonte. O ar da manhã era fresco, mas estremeci com o vento cortante que passava por mim. Encontrei Joaquim já trabalhando, movendo sacos de ração para os estábulos como se estivessem cheios de algodão. Ele estava sem camisa, seus músculos se destacavam sob a pele bronzeada, se moviam com precisão em cada esforço. Havia uma certa rudeza em seus movimentos brutos, mas também uma fluidez de quem estava acostumado a carregar peso.

–Bom dia…– murmurei, tentando soar educado.

Joaquim me olhou de relance e apontou para um saco de ração.

–Pega aquele ali e traz pra cá. – mandou, voltando ao próprio trabalho.

Eu olhei para o saco e então para ele. Aquela porcaria de saca de ração devia ter no mínimo cinquenta quilos, mas, claro, eu não ia deixar que Joaquim pensasse que eu não era capaz. Caminhei até o saco de ração e tentei levantá-lo, mas, no momento em que fiz força, senti o peso me puxar para baixo. O saco escorregou das minhas mãos e eu caí por cima dele, arranquei as mãos debaixo e sentei no chão cheio de poeira, quase havia esmagado os dedos.

A risada curta de Joaquim ecoou ao meu redor, e eu senti o sangue subir ao meu rosto. Ele se aproximou e, sem esforço, ergueu o saco e o colocou no lugar certo, como se quisesse me mostrar o quanto eu era fraco em comparação a ele.

–Isso aqui não é academia de playboy – disse ele, com um sorriso arrogante enquanto ascendia um cigarro com fósforo – Aqui, a gente trabalha de verdade."

P da vida eu me levantei, limpando a poeira das minhas roupas aos tapas, mas sem coragem de responder à altura. Não que ele fosse me ouvir. Joaquim já estava de volta ao trabalho, e eu me vi obrigado a seguir suas ordens.

O resto da manhã foi um pesadelo. Joaquim me dava uma ordem atrás da outra, sem nunca parar para descansar, e eu fracassava em quase todas. Tentei cuidar dos animais, mas levei um coice de uma vaca estúpida somente por ter chegado perto com um balde debaixo do braço. Tentei capinar uma parte do terreno, mas até pra cortar mato eu não servia, e ainda achava que a culpa era daquela enxada velha.

No fim, os animais não queriam nada comigo, eu não conseguia usar as ferramentas direito, e Joaquim parecia se divertir com cada uma das minhas falhas. Tudo o que eu fazia era motivo para mais uma de suas risadas secas e desdenhosas, fazia questão de me tratar como o ser mais inútil do mundo.

Ao meio-dia, eu já estava completamente exausto, estafado. Minhas mãos estavam cheias de calos, o corpo doía, e meu orgulho havia sido estraçalhado em mil pedaços. Sentado em um canto no chão, com minha marmita cheia arroz, frango e pequi no colo – e eu devia realmente estar morto de fome, porque achei tudo delicioso –, eu observava Joaquim trabalhar.

Ele fazia tudo  como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo. Senti uma mistura de frustração e, estranhamente, algo como fascinação, eu não saberia explicar. Joaquim era um homem que claramente vivia para aquilo, para a terra, para o trabalho. Minha vida sempre foi muito diferente. A cada movimento de Joaquim, cada esforço que ele fazia com uma facilidade desconcertante, eu sentia um misto de inferioridade e algo mais que ainda não conseguia identificar.

–Não vai ficar aí sentado o dia todo, vai? – voz rouca de Joaquim me pegou de surpresa.

Ele parou o que estava fazendo para me encarar, senti a alma sair do corpo. Minha marmita estava vazia e eu não tinha uma desculpa decente pra dar. Na realidade, suado e exausto como estava, nem mesmo encontrei forças para responder com sarcasmo ou qualquer outra provocação.

–Eu... eu só estou tentando pegar o ritmo. Não sou acostumado com isso, acabei de comer. – reclamei, incapaz de esconder minha frustração.

–Não me diga… A princesa também deseja tirar um cochilo pelo resto da tarde, pra recuperar a força? – a resposta de Joaquim veio carregada de ironia, rascante, mas ele voltou ao trabalho, sem dar muita atenção ao olhar de raiva que lhe lancei – Se quiser aprender alguma coisa, é melhor se levantar e continuar tentando. Ninguém aqui tem tempo pra preguiça.

E, com essa patada final, me obriguei a respirar fundo, me erguendo do chão com a mesma destreza que um bêbado tentando sair da sarjeta. As minhas pernas tremiam, os músculos doíam de uma forma que eu nunca tinha experimentado nem mesmo em um mês de academia. Eu estava acostumado a fazer crossfit, piscina de festa e a fazer viagens, não a lidar com sacos de ração fedorentos ou a enfrentar o gado agressivo desse lugar – e no gado estava incluído Joaquim.

Mas sabia que mostrar fraqueza ou desistir seria a pior coisa a fazer. Por mais que odiasse admitir, havia algo em Joaquim que me fazia querer provar que podia ser mais do que apenas o filho mimado de um homem rico.

Apenas por pura teimosia, comecei a seguir as instruções de Joaquim novamente. Errei algumas vezes, tropecei e me sujei de esterco, mas fiz um esforço gigante para não parar. Joaquim, de sua parte, continuou impassível, me observando de vez em quando com um olhar crítico, mas não oferecia mais provocações. Em vez disso, ele apenas me deixava cometer meus erros em paz e aprender com eles, algo que geralmente ninguém me deixava fazer, e que eu secretamente gostei de experimentar.

À medida que o sol subia no céu, queimando a minha nuca, a sensação de exaustão deu lugar a um cansaço entorpecido, como se meu corpo estivesse lentamente se adaptando à dureza daquele novo ambiente. Percebi aos poucos que havia uma espécie de ritmo natural naquele lugar, uma cadência nos movimentos de Joaquim e dos outros trabalhadores, que fluía como a própria terra. A vida ali era mais simples, mas não menos intensa do que qualquer festa ou evento social que eu já tenha frequentado.

No final da tarde, Joaquim fez sinal para que eu o seguisse até o estábulo. Lá dentro, o cheiro forte de feno e animais impregnava tudo, e as sombras se alongavam no piso sujo enquanto a luz do dia começava a desaparecer. Joaquim se aproximou de um dos cavalos, um belo animal de pelagem castanha que olhou para mim com curiosidade quando parei perto dos dois.

Aqui, pelo menos, eu pensei que teria algum sucesso. Cavalos não eram novidade para mim. Mas, é claro, Joaquim estava determinado a me fazer parecer incompetente em tudo.

–Você já andou de cavalo antes? – ele perguntou, sem nem olhar para mim.

–Já. Várias vezes. – respondi, erguendo o queixo. Pelo menos nisso eu era bom.

–Então me mostra. – ele abriu a porta da baia e deu espaço para mim entrar. O cavalo bateu de leve os cascos e bufou para mim.

Sem hesitar me aproximei do cavalo e comecei a arrumar o animal para ser montado, no entanto, logo notei que as coisas não eram tão simples quanto eu me lembrava. Na fazenda, não havia nenhum instrutor para ajustar os arreios para mim, nem tratadores para preparar o animal. Tive dificuldade de cara em entender como ajustar os acessórios, e Joaquim, observando de perto, não esboçou nenhuma reação, apenas esperando em silêncio.

Depois de alguns minutos de tentativas atrapalhadas, finalmente consegui montar o cavalo, mas a sensação não era nem de perto a mesma de minhas experiências anteriores. O animal parecia inquieto, provavelmente percebendo minha inexperiência e nervosismo.

Tentei fazê-lo sair do lugar, talvez se eu desse uma única volta não teria que escutar outra reclamação de Joaquim. No entanto, é claro que o cavalo não colaborou, e eu que havia achado o equino bonitinho. Foi num impulso súbito que o animal ergueu as patas dianteiras e saiu pulando, parecendo irritado por eu tê-lo tentando fazer andar. Foi apenas por sorte que consegui controlar a situação o suficiente para não cair de forma ridícula, mas estava tremendo como vara verde quando o cavalo doido finalmente parou de se mover.

–Você pode ter andado de cavalo,  – disse Joaquim, finalmente, ao se aproximar e segurar as rédeas para o animal me deixar descer – mas aqui as coisas são diferentes, precisa aprender a respeitar o ritmo do animal.

Desci do cavalo, exausto, sentindo as pernas bambas quando toquei o chão. Meu corpo gritava por descanso.

–Eu não tenho culpa se esse cavalo lerdo não foi domado direito! – gritei, estourando depois de toda a merda daquele dia.

Minha única vontade naquele instante era chorar, mas eu preferia morrer do que mostrar vulnerabilidade na frente dele.

–Pra tudo na vida você tem que ter paciência, ou nunca vai servir pra nada! É por isso que seu pai te jogou aqui! – Joaquim gritou de volta, e aquela frase me atingiu mais forte do que eu gostaria.

Suas palavras me irritaram profundamente, me senti quase magoado, mas eu não tinha mais vontade de discutir. Um silêncio pesado pairou entre nós, não olhei para o capataz de novo para saber o que ele pensava, mas sua voz estava ligeiramente mais suave quando falou de novo.

–Amanhã vai ser mais difícil, então é bom descansar. A gente começa cedo de novo.

Não respondi, e apenas olhei para ele quando ouvi seus passos se distanciando. O observei caminhar em direção à saída do estábulo, a silhueta forte destacando-se contra a luz que restava do fim de tarde. Havia algo de magnético naquele homem, mesmo que ele fosse um grosseirão idiota na maior parte do tempo e não tivesse um pingo de educação. Eu não conseguia entendê-lo.

Quando Joaquim saiu do meu campo de visão, fiquei parado por alguns instantes, olhando ao redor. O cheiro de feno e terra era forte, e o sol já começava a desaparecer no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e roxo. Apesar de todo o desconforto e da humilhação que eu estava sofrendo, havia algo naquele lugar que prendia minha atenção. Não era o ambiente em si — eu preferia estar em qualquer outro lugar —, mas a forma como tudo ali parecia funcionar em harmonia. O trabalho árduo, os animais, as pessoas... tudo seguia um ritmo, um ciclo. Eu, no entanto, me sentia completamente fora de sintonia.

Voltei para o meu "quarto", onde a sensação de exílio continuava. O calor abafado e o cheiro de mofo eram quase insuportáveis, mas eu estava cansado demais para me importar. Caí na cama, sentindo o corpo exausto de um jeito que eu nunca havia sentido antes. Meus músculos doíam, e minha mente rodava em círculos, pensando em como havia chegado àquele ponto.

Meu pai sempre dizia que o trabalho dignificava o homem, mas eu sempre achei que ele estava errado. Trabalho braçal, pelo menos. Sempre acreditei que meu talento estava em outras coisas — socializar, lidar com pessoas, influenciar decisões com meu charme e inteligência. Mas ali, naquela fazenda, tudo isso parecia inútil. Joaquim não estava nem aí para o que eu sabia ou para quem eu era. Para ele, eu era apenas mais um garoto mimado que precisava aprender o valor do suor.

E por mais que eu odiasse admitir, talvez ele estivesse certo.

Deitado na cama dura, olhei para o teto manchado. Amanhã seria outro dia. Mais uma rodada de humilhação, com certeza, mas eu me recusava a desistir. Se Joaquim achava que podia me quebrar, estava enganado. Eu era mais forte do que ele imaginava. O que ele não sabia era que, apesar de toda a minha arrogância, eu também tinha uma vontade teimosa de provar que eu podia superar aquilo.

Eu não sabia ainda como faria isso, mas uma coisa era certa: eu não deixaria aquele caseiro chucro, ou meu pai babaca, acharem que eu não era capaz de aguentar aquele inferno.

Fechei os olhos, tentando ignorar o desconforto ao meu redor, e me forcei a dormir. O amanhã, por mais que eu temesse, estava logo ali, e eu estava determinado a sobreviver a mais um dia naquela fazenda.

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