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CAPÍTULO 3 - O OLHO QUE QUASE TUDO VÊ


Leon finalmente, depois de quase três anos de espera, ganhou suas sonhadas lentes de contato. O mundo agora é visto com novos olhos, tudo desde a formiga andando no chão, até a fumaça saindo das panelas, o jovem agora conseguia ver tudo. Ele não acreditava no que via, depois de anos vendo borrões desfocados, finalmente ele pode ver o mundo como ele realmente é. Na escola ele já não precisa mais forçar as vistas para enxergar a lousa, na quadra ele consegue facilmente ver a bola, ele não erra mais os chutes e não é acertado por boladas, na rua ele não corre mais o risco de ser atropelado por ter atravessado na frente de carros sem perceber. Agora não havia mais comentários e brincadeiras maldosas por parte de alguns colegas devido à sua condição, Leon agora tem olhos de falcão, via quase tudo.

Porém, a coisa que Leon mais queria ver não estava por perto... A garota do metrô. Ele ficou por dias pensando nela, até comentou sobre isso com seus amigos na escola.

- A menina deu bola pra você? Deve ser retardada. – brincou Edgar.

- Eu tô falando sério, imbecil. – respondeu Leon.

- Mano, falou com a menina uma vez e tá assim? – questionou Afonso. – Deixa de ser idiota, esquece isso.

- Eu não vou esquecer nada...

- Você é burro, nem perguntou o nome dela. – lembrou Fernando.

- E daí? Eu posso descobrir.

- Como? – questionou Fernando.

-  E o que você pretende fazer então? – perguntou Edgar.

- Eu vou procurar ela, eu sei que vou achar.

Nesse momento Edgar, Afonso e Fernando se encararam com cara de paisagem.

- Você tá falando sério? – perguntou Afonso com um sorriso malicioso em seu rosto.

- Sim.

- Não mano, você ta zoando, não é possível... – disse Edgar.

- Eu tô falando sério, eu vou encontrar essa menina!

- Não é possível... – desacreditou Fernando.

- Mano, olha o tanto de menina que tem na escola e você nunca nem tentou ficar com nenhuma, aí você conversa por uns minutos com uma no metrô e acha que ela é o amor da sua vida? – gesticulou Afonso. – Ah não... – completou, se retirando indignado.

- Você deve estar louco... Essas suas lentes aí devem ter vindo com cocaína de brinde. – afirmou Edgar, voltando para a sua carteira.

- Cara, você não pega ninguém daqui, como vai pegar uma menina que nem conhece? – perguntou Fernando.

- E você pega quem? – questionou Leon.

- Ninguém, mas também não tô preocupado em ir atrás de uma menina que só vi uma vez na vida.

- Eu vou encontrar ela e vou calar a boca de todos vocês... – pausa dramática. – Na verdade vou calar a boca só deles porque você nem vai tá aqui no dia que eu for contar. – completou em meio a risos.

- Muito engraçado você...

Leon se mostrou determinado em encontrar a garota, mas sabe que o objetivo é difícil. Ele não sabe seu nome, para onde estava indo, de onde vinha, onde mora, com que freqüência ela pega o metrô e quais seriam as chances de ambos, por acaso, acabarem no mesmo vagão novamente. Ele só tem duas referências: Seus gostos musicais, já que ambos gostam da banda Nico Touches The Walls, e o mais importante... Em meio a tantas vozes que já ouviu, a voz dessa garota havia algo de diferente, uma voz que o transmitia paz, tranqüilidade, de longe a voz mais linda que ele já escutou, e tendo apenas essas informações, ele partirá na missão de encontrá-la, mesmo sem saber se vale à pena.

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