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CAPÍTULO 2 - ELA FOI EMBORA


- Só disse a verdade. – respondeu Leon, um pouco envergonhado.

- Ninguém nunca me disse isso. – disse a garota.

- Para de mentira. – disse Leon, que não se convenceu.

- É verdade, os meninos nem olham pra mim... – ficou um pouco triste.

- Ué. – ficou confuso o garoto. – Mas por quê? Você é linda de verdade.

- Você mesmo disse que não enxerga, só está mentindo pra me animar...

Leon é um jovem que se irrita muito fácil, e uma das coisas que lhe deixa bravo é quando ficam o lembrando que ele é ruim de visão. Mesmo que a menina não tenha feito por mal, Leon se enfureceu.

- Eu sei que eu não enxergo bem! Vai ficar me lembrando disso toda hora? – disse o garoto, em tom de grosseria. – Eu falei que é bonita, se não quer acreditar o problema é seu. – completou, em seguida fechando a cara e colocando o fone no ouvido.

Passaram-se duas estações e Leon continuou concentrado ouvindo música, enquanto a menina, enxugando lágrimas, pensava em um jeito de tentar reverter à besteira que ela tinha feito.

No fone de Leon estava tocando a música The Unforgiven, da banda Metallica, a música acabou e a próxima a tocar foi a música preferida do jovem, Broken Youth, da banda japonesa Nico Touches The Walls. Nesse momento o garoto expressou um sorriso em seu rosto, a menina percebeu que ele não estava mais bravo e o cutucou, Leon tirou o fone e a olhou com cara de paisagem. – O que foi? – perguntou.

- Tá ouvindo o quê? – ela perguntou, tirando o fone da mão de Leon e colocando no ouvido. – Não acredito, eu amo essa música.

Nesse momento estava Leon com um fone e a garota com outro, ele ficou a olhando sem acreditar no que acabara de ouvir. – Como é?

- Essa música é demais. – respondeu, empolgada.

- É minha música preferida. – disse Leon, ainda sem acreditar.

- Tem um gosto muito bom então. – enfatizou a sorridente garota.

- Não é possível... – pensou.

- Eu ainda prefiro Diver deles, mas essa aqui é muito boa também.

Em questão de segundos a garota reverteu uma situação que para ela já estava perdida. Ela ofendeu Leon sem querer, mas o alegrou em intensidade maior ainda, haviam muitos pra tirar sarro dele por sua condição, mas poucos pra dividir os mesmos gostos. O garoto não acreditou no que estava acontecendo, a maioria das meninas o achavam um otaku fracassado por gostar de música japonesa, encontrar uma menina que gostasse também foi incrível. Nem é preciso dizer que Leon rapidamente ficou encantado pela garota, que ia ficando cada vez mais empolgada a cada verso da música. Infelizmente nada é eterno, e a música terminou, Leon pensou que ela iria lhe devolver o fone, mas para sua surpresa ela continuou com o fone no ouvido, e ainda deitou sua cabeça sobre o peito dele.

Leon chacoalhou a cabeça de um lado para o outro, ainda sem acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Ele pensou estar sonhando, aquilo era inédito, uma garota estava literalmente nas mãos dele.

A viagem de metrô seguiu, e à medida que o coletivo ia passando nas outras estações, mais pessoas iam entrando e mais cheio o vagão ia ficando. Helena, a mãe de Leon ficou preocupada, pois ela sabia que o garoto se distraia quando começava a ouvir música, ou seja, o risco dele não desembarcar na estação correta era alto. Ela pensou em avisá-lo, mas mesmo que quisesse, não conseguiria, o vagão estava lotado e não dava pra andar, vida de paulista que usa transporte público. Por fim a mulher decidiu confiar que o filho perceberia quando fosse a hora de descer, até porque a estação que eles iriam descer era o destino de 90% dos usuários, então ao ver um monte de gente descendo, Leon desceria também.

A viagem continuou enquanto Leon e a garota ouviam música e conversando sobre assuntos aleatórios, como o filme preferido de Leon, O Show de Truman, a comida preferida da garota, pastel de calabresa com queijo, entre outras coisas. O assunto foi fluindo e pareceu que os dois eram velhos conhecidos, uma conversa longa e descontraída, eis que Leon percebe que o vagão, que estava abafado, do nada foi ficando frio, ele olhou para o lado e percebeu que era aquela a estação que ele deveria descer. Ele olhou para fora e, mesmo com a visão embaçada, conseguiu ver sua mãe lhe esperando, o garoto se desesperou.

- Eu tenho que descer aqui! – gritou, tirando o fone do ouvido da garota e correndo para fora do vagão. A menina ficou com um semblante triste e sussurrou um tchau, quando as portas fecharam e o metrô partiu, Leon percebeu a besteira que fez. O garoto parou de caminhar e ficou vendo o coletivo levar a menina embora.

- O que foi? – perguntou Helena.

- Merda, eu não perguntei o nome dela...  – pensou o garoto, bravo consigo mesmo.

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