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Capítulo 4

Jasmine

Três dias, fazem três dias que estou trabalhando com Ravi e sinto que a cada dia, minha vida dá mais um passo adiante. É maravilhoso ter estudado e estar na área que eu gosto.

Sigo rapidamente pelo caminho de pedras, até chegar nas escadas e por fim o pátio. Digito a senha na porta  e entro com calma, ao me virar dou de cara com Anny com suas muitas toalhas e Kristine ao seu lado com um kit de primeiros socorros.

— Bom dia? — Digo levemente confusa pelo aparente clima.

— Péssimo dia. Ravi acordou com uma forte enxaqueca e ontem o serviço de limpeza veio, não sei o que passaram no chão do banheiro dele, mas estava muito liso e ele escorregou e caiu, se machucou mas não deixou ninguém ajudá-lo, tente a sorte. — Anny diz com pesar.

— Nossa! Ele está no quarto? Será que não quebrou nada?

— Sinceramente não sabemos, ele sempre fica péssimo com essas enxaquecas e agora isso. Tente pelo menos ver se ele precisa de um curativo — Kristine suspira e me entrega o kit de primeiros socorros.

— Ok...— Respiro fundo. — Devo cancelar a agenda de hoje? — Faço uma careta.

— Pode apostar! — Anny me entrega a pilha de toalhas. — Aproveita e leva as toalhas dele.

Recebo as toalhas enquanto tento organizar rapidamente a agenda pelo tablet. Caminho lentamente pelo corredor, tentando não fazer barulho.

Assim que me aproximo da porta, respiro fundo e abro a porta lentamente e adentro o mais rápido possível do quarto que está em uma escuridão.

— Ravi? — Sussurro enquanto fecho a porta.

— Enxaqueca. — Sussurra de volta e eu afirmo com a cabeça como se ele pudesse ver.

Pisco algumas vezes até que meus olhos se acostumem com a escuridão, deixo a caixa ao lado da cama e sigo até o closet guardando as toalhas.

Volto ao quarto, me aproximo sentando na beirada da cama e noto que Ravi está todo enrolado.

— Você comeu alguma coisa? — Sussurro enquanto tiro meu blazer e deixo sobre um gancho, e amarro rapidamente os cabelos em um rabo de cavalo.

— Caí no banheiro, deitei e não fiz mais nada. — Sua voz soa longe, baixa e angustiada.

— Machucou em algum lugar? Posso ver? — Pergunto com receio enquanto puxo o kit e coloco sobre a cama.

— Pode...— Ele suspira. — Acho que nos braços e aqui nas costas...Aaargh! Estão ardendo pra caramba!

Acendo a luz do abajur, uma luz mínima amarela que mal me permite vê-lo. Logo ele se senta e a coberta cai revelando seu peito nu. Oh, céus!

Puxo um dos braços delicadamente e vejo alguns arranhões, noto que o outro braço está igual, em seguida,  abro a caixa e procuro por curativos e uma pomada. Aplico um pouco da pomada e colo curativo para evitar o atrito.

— Agora deixa eu ver essas costas. — Retruco enquanto pego novos curativos. — Deita de costas. — Peço ao notar sua confusão sobre como mostrar.

No instante que ele vira, prendo a respiração para não demonstrar o espanto, é uma boa ferida, aposto que o lençol está manchado de sangue, pois mesmo a meia luz consigo vê-lo escorrendo.

Limpo com cuidado o ferimento, aplico uma boa camada da pomada e novamente cubro com curativos.

— Ravi acho que terá que trocar o lençol. — Sussurro próximo ao seu rosto.

— Mais tarde, meu tornozelo está doendo muito também. — Resmunga enquanto vira de barriga para cima.

— Deixa eu ver. — Peço.

Ravi puxa a coberta de uma vez e engulo o susto ao notá-lo com apenas a cueca. Eu definitivamente nunca vou me acostumar!

— Ai Jasmine! Você deve achar que eu sou um pervertido, busque pelo menos uma bermuda, por favor. — Sua voz soa envergonhada e eu rapidamente obedeço.

— Não penso nada. — É o que eu respondo e começo a tatear sua perna direita com cuidado.

No instante que toco, noto que ele não quebrou mas está bem inchado. — Caiu por cima dele? — Ouço seu ranger de dentes.

— Eu nem sei mais, só sei que dói. — Um fio de suor escorre por sua testa e sei que deve estar doendo bastante.

— Tome uns analgésicos e fique de repouso. — Entrego os comprimidos que peguei no kit e um copo de água que estava ao lado da sua cama.

— Pareceu meu médico falando. — Uma risada tenta surgir mas ele logo a impede, toma o remédio e volta a se deitar.

Guardo a pequena maleta embaixo da cama e fico a encarar-lo.

— Vai ficar? — Sussurra curioso.

— Sim, quer comer alguma coisa?

— Mais tarde, quero descansar um pouco.

— Certo...Escuta, seu cabelo está ensopado. — Toco nos fios. — E embaraçado. — Me levanto e sigo ao closet, voltando com uma toalha e seu pente. — Senta que eu vou secá-lo. — Indico e Ravi obedece como uma criança.

Seco os fios com cuidado e começo a penteá-los devagar, quando finalmente o pente corre livre pelos fios.

— Por que está fazendo isso? — Sua mão toca a minha, assim que faço menção de guardar o pente.

— Porque acho que ficar com a cabeça molhada é bem pior. — Guardo o pente, apago o abajur e volto a me sentar na beirada da cama.

— Já que vai ficar, senta aqui ao meu lado. — Ravi me dá espaço e eu tiro os sapatos e me sento ao seu lado.

— Pronto. — Sussurro e sinto que de repente o clima se tornou mais íntimo.

— Como você está? — Sussurra.

— Estado de espírito ou de roupa? — Decido perguntar.

— Os dois. — Sua resposta é firme.

— Estou bem. Em uma descrição rápida, camiseta preta, calça jeans, blazer e tênis. — Dou de ombros.

— Como você é? — Sua voz soa quase inaudível.

— Por que você mesmo não descobre?— Sussurro de volta.

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Ravi

— Por que você mesmo não descobre? — Como se levasse um baita susto, meu coração acelera e quase posso ouvir meus batimentos.

— Você tem certeza? — Pergunto incerto e ainda sem acreditar que isso aconteceu mais cedo do que eu previ.

— Sim, vamos lá. — Ouço o movimento no colchão e sua mão se apoia em meus joelhos, enquanto sinto que ficamos de frente para o outro.

Minhas mãos  tateiam o colchão devagar, até que encontram as mãos dela, dedos finos, unhas levemente pontudas e mãos pequenas.

Os toques continuam pelos braços finos, chegando aos ombros que não são tão largos, o pescoço morno e o topo do queixo levemente pontudo e redondo.

Desço novamente as mãos pelo pescoço, querendo deixar o rosto para o final. Passo as pontas dos dedos lentamente e encaixo as duas mãos em sua nuca, sentindo que os fios estão presos.

— Posso? — Sussurro e sinto o balançar de cabeça.

Levo uma das mãos ao topo e puxo do modo mais delicado que consigo, o elástico que prende os fios, que escorrem por minhas mãos. Seguro alguns fios e enlaço sobre meus dedos as mechas que sinto que escorrem até o meio das costas, descendo até a cintura.

— Que cor? — Pergunto.

— Preto, bem escuro. — Jasmine sussurra e gostaria de saber o que ela pensa.

Passo as mãos sobre os fios e brinco um pouco passando as pontinhas por seu pescoço e rosto. Ouço sua risada leve e suas mãos se apoiam em meus ombros.

— Para com isso. — Sua voz soa divertida e sorrio sem deixar a brincadeira.

Solto os cabelos e vou descendo as mãos, do topo da cabeça, passando pela testa, os olhos curvilíneos, que se fecham quando meus dedos lhe tocam. Cílios pequenos, o nariz fino e levemente arrebitado, as bochechas redondas e por fim a boca, pequena e bem desenhada.

— Batom? — Sinto a textura em meus dedos e ela balança a cabeça.

— Que cor? — A curiosidade me toma de tal modo que mal percebo quando eu pergunto.

— No tom de vinho. — Sua voz soa tranquila e um pequeno sorriso surge.

Sinto vontade de tocar novamente seus olhos e noto as pálpebras fechadas.

— Olhos fechados?

— Estou relaxando um pouco. — Sinto quando Jasmine sorri e sorrio de volta.

— Está confortável? — Decido perguntar.

— Sim, mas não tanto quanto você que anda seminu. — Seu tom é divertido e ela volta a se encostar na cabeceira da cama.

— Desculpe, eu esqueço, realmente me sinto tão confortável…— Volto a deitar e sinto que ela se mantém sentada.

— Tudo bem, eu realmente acredito. — Jasmine ri. — Mas não é algo que me incomode. Fique à vontade. — Sinto sua sinceridade.

— Obrigado, eu acho. — Ela ri e eu abro um sorriso.

Ficamos em silêncio, ouvindo apenas nossas respirações e percebo que eu realmente gosto dessa paz e desse conforto.

Pisco algumas vezes e mantenho meus ouvidos atentos, ouço a respiração de Jasmine e ela parece ter cochilado assim como eu.

Procuro meu celular e me assusto ao notar que são quase uma da tarde. Quem dorme tanto assim?

A mulher ao meu lado se mexe e sinto quando ela se senta na cama.

— Bom dia? — Sua voz soa um tanto rouca

— Boa tarde! Hora de almoço já! — Digo e escuto seu resmungo em choque.

— Vamos almoçar? Quer que prepare algo?

— Não se preocupe, vou lhe mostrar meus dotes culinários. — Dou risada.

Me levanto com a cabeça um tanto pesada e respirando fundo para aliviar a dor no tornozelo.

— Não está doendo muito? Posso pedir para as meninas prepararem algo. — Jasmine sugere.

— Elas estão de folga, liberei. — Respiro fundo e sigo em direção a porta. — Vou sobreviver.

Descemos até a cozinha e me sinto confiante para preparar algo não muito complicado, um bom sanduíche caprese bem recheado e um smoothie vai nos ajudar.

Me aproximo da pia, lavo as mãos e sigo em direção ao armário procurando os pães. A todo tempo sinto olhar de Jasmine sobre mim, gosto que ela me dá essa liberdade, não fica o tempo todo em cima de mim.

— Ah, vou me sentar aqui na ilha. — ouço ela arrastar a cadeira. — Se você precisar de ajuda, me avise.

— Gosto disso em você. — Digo sincero. — Dessa liberdade, você não fica tentando me ajudar ou fazer as coisas por mim. — Já que você se sentou, preciso que você procure frios, queijos, tomates e tudo o que se possa colocar em sanduíches, lá na geladeira.

— Uff! Só porque eu já estava sentada. — Sorrio levemente enquanto escuto seus resmungos.

Corto as baguetes e as deixo em cima dos pratos, procuro uma frigideira e a deixo sobre o fogão, enquanto aguardo os ingredientes.

Depois com um pouco de dificuldade, tosto o pão e alguns frios, cubro as fatias com molho e monto os sanduíches.

Com a ajuda de Jasmine termino os smoothies e com um pouco de dificuldade, coloco tudo sobre a bancada.

— Se estiver horrível, eu posso dizer né? Porquê você não vai ver minha careta.

— Ok, faça uma crítica construtiva. — Digo rindo enquanto procuro me sentar. — Mas pode acontecer de estar delicioso.

— Será? Acho difícil. — Escuto sua risadinha e aguardo sua degustação.

— E então? — Pergunto um tanto ansioso.

— Hm... não sei, vou ter que provar de novo. — Ouço sua risada e começo a comer.

— Ótimo, coma bastante depois quero uma boa crítica.

— Ah, com certeza! Vou te criticar, pode deixar!









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