XXI - Vinte e um
Oscar se afastou dos lábios de Olivia, mas não o suficiente de seu corpo. Hector entrou no picadeiro mais irritado que o normal e não escondeu o desgosto ao ver o filho bastardo ali tão cedo, ainda mais na companhia da moça que segundo ele, a família só trazia prejuízo.
– O que você tá fazendo aqui? – Hector perguntou para Oscar em seu tom arrogante de sempre.
– Cuidando da minha vida – Oscar respondeu ainda mais rude. Olivia estava vendada, mas foi capaz de imaginar o desconforto estampado no rosto do rapaz.
– Tá querendo se mostrar pra Olivia Turner, né moleque? Peitando o dono dessa porra toda aqui – Hector riu com escárnio.
– Eu não vou discutir com você de novo, Hector – Oscar falou em meio a um suspiro cansado.
– Eu não vim aqui pra perder meu tempo com você, eu quero saber do Richard e o tamanho do meu prejuízo, ele tá aqui?
Sem responder a pergunta de Hector, Oscar tirou a venda de Olivia e soltou seus pulsos. "O treino acabou, me desculpa", sussurrou para a moça que apenas assentiu enquanto massageava os punhos. O rapaz virou as costas e saiu caminhando em direção ao seu trailer. Foi seguido por Olivia, que não queria de forma alguma ficar na companhia do dono do circo.
Os dois caminharam lado a lado em silêncio e qualquer clima que estivesse rolando durante o treino ficou sob a lona do circo. Oscar estava estressado demais, a presença de seu progenitor sempre o tirava do sério e tudo o que ele queria era ficar sozinho. Por outro lado, Olivia estava voltando para casa sem a única fotografia que tinha de sua mãe e com a certeza que a chance do assunto continuar em pauta quando entrasse pela porta era imensa e naquele dia nem mesmo Megan poderia ajudar. Com um sorriso forçado, se despediram e entraram em suas casas.
– Cadê o Adam? – Olivia perguntou para o pai ao ver que o sofá estava arrumado e não havia nenhuma roupa do irmão espalhada pela sala.
– Mandei embora – David deu de ombros.
– Quanto tempo será que dura dessa vez? – Olivia se jogou no sofá.
– Aposto que ele volta até meia-noite. Onde você estava?
– Treinando o número com o Oscar.
– Você sabe que eu não gosto de te ver andando com esse cara.
– Pai, eu tenho vinte e cinco anos, acho que estou bem grandinha pra escolher minhas amizades.
– Mas o Hector já me disse que esse rapaz não é boa pessoa, não vem de uma família decente, toma cuidado.
– O Hector também disse que meu acidente foi culpa minha por estar na rua – Olivia deu de ombros – O senhor realmente leva em conta o que esse babaca diz?
Vendo que o pai não a responderia, Olivia foi para o quarto e assistiu o dia passar através de sua janela. Pensou em ir até a casa de Megan mais uma vez, mas se a porta estava trancada era porque ela não queria visitas. Estava anoitecendo quando a voz de Richard e Hector foi ouvida em sua sala. A risada do dono do circo a fazia revirar os olhos e ela precisou cobrir a cabeça com o travesseiro para abafar o som irritante que vinha do cômodo ao lado.
Alguns quilômetros longe dali, sentado em uma mesa com mais três homens, Adam encarava as cartas em suas mãos com um cigarro barato apoiado no canto da boca. Ele tinha dezoito pontos, mas estava convicto de que poderia comprar mais uma. Puxou a primeira carta sobre o baralho e ao ver que era uma dama, jogou para longe todas as que estavam na sua mão.
O homem à sua frente abaixou seu jogo e ele viu um rei de copas e um oito de espadas. Dezoito pontos. Mais cinquenta libras foram arrastadas sobre a mesa em direção ao seu adversário, que sorria ao lado dos dois amigos que apenas assistiam às partidas. "O dobro ou nada", Adam falou e começou a tamborilar os dedos nervosos sobre a madeira. Eram suas duas últimas notas de cinquenta e ele sabia que não deveria fazer aquilo, mas a necessidade de jogar falava mais alto.
Seu adversário o conhecia há muito tempo, sabia que Adam era um bom jogador, mas o seu desespero por ganhar o fazia não ler o jogo da forma correta, então tirava vantagem disso. Dizia ser amigo do rapaz, mas aproveitava todas as oportunidades de deixá-lo nervoso e apreensivo.
– Acho que você vai perder suas cem libras, meu amigo – o homem falou ao comprar uma carta.
– Isso é o nós que veremos – Adam comprou uma carta e somou vinte pontos – Parei – falou com um sorriso triunfante.
Certo de sua vitória, Adam estendeu sobre a mesa suas três cartas – um oito de ouros, rei de paus e dois de copas. Os dois homens que assistiam ao jogo riram e seu adversário colocou as cartas uma a uma em sua frente, fazendo o sorriso do rapaz morrer aos poucos. Um valete de paus, um cinco e um seis de espadas. Vinte e um.
Ao se dar conta que perdeu todo o seu dinheiro mais uma vez e no auge do desespero, Adam puxou todas as notas da mesa e saiu correndo do lugar. Os três homens se levantaram num pulo e saíram correndo atrás dele, que apesar de rápido, estava em desvantagem. Não demorou para o rapaz ser alcançado por um dos amigos de seu adversário, que o empurrou no chão e o levantou pelo pescoço.
– Adam, Adam... – seu adversário se aproximou, meneando a cabeça negativamente – Você era meu amigo, cara, por que fez isso?
– Eu preciso muito do dinheiro, você não tem ideia – Adam respondeu um tanto ofegante.
– Eu não te obriguei a apostar, você apostou porque quis – deu de ombros – A culpa não é minha se você não sabe se controlar.
– Eu paro a hora que eu quiser – ele tentou se soltar das mãos do homem.
– Não, você não para – estalou a língua – E você sabe que eu acho isso ótimo? Quer dizer, eu achava, até você me roubar.
– Eu agi por impulso, você sabe que eu nunca fiz isso.
– Sempre tem uma primeira vez – recuou um passo – Mas não vai ter uma segunda. Não comigo.
Com um aceno de cabeça, o homem deu o sinal para os amigos. O primeiro chute veio direto no estômago de Adam, que caiu de joelhos no meio da rua. Apesar de alto, o irmão de Olivia era muito magro e cada soco que recebia parecia doer mais que o normal. Os dois homens distribuíam chutes e socos no rapaz caído no chão enquanto seu adversário apenas assistia.
Quando achou que o o palhaço já havia apanhado o suficiente, o homem deu a ordem para que os amigos parassem de bater e foi até o rapaz cheio de hematomas caído no meio da rua. Agachou em sua frente e revirou seus bolsos atrás do dinheiro. Adam mal conseguia falar, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas não só por conta das dores que estava sentindo, mas porque se sentia humilhado.
– Isso foi pra você aprender que comigo você não brinca, amigo – o homem sorriu e deu dois tapinhas no rosto de Adam – Ah, toma isso aqui pra você pagar o táxi pra te levar pro hospital.
O homem jogou uma nota de vinte libras sobre o rapaz imóvel no chão e pulou seu corpo como se pulasse um saco de lixo na rua. Adam continuou ali, sentindo o sangue escorrer em seu rosto e se misturar com as poucas lágrimas que escorreram. Com dificuldade, agarrou o dinheiro jogado e forçou-se a levantar.
***
O circo continuava no escuro e à essa altura nenhum celular tinha bateria, assim como as lanternas também já não emitiam uma luz tão forte quanto na noite anterior. Sortudos foram aqueles que tinham algumas velas guardadas para situações como essas. Era o caso de Oscar, que durante o dia encontrou algumas velas antigas na gaveta da cozinha que ele não abria há pelo menos um ano. Não era o caso de Olivia, que continuava no escuro de seu quarto por não ter nada para iluminá-lo.
Não adiantava ter velas se não achava seu isqueiro pela casa escura. Nem mesmo seu maço de cigarros era capaz de encontrar, já que não fazia ideia de onde o colocou na última vez que usou. Cansado de procurar, Oscar se lembrou do dia em que emprestou um isqueiro para Olivia e mesmo sabendo que corria o risco de ser atendido por David, atravessou até o trailer vizinho.
– Oscar? – Olivia atendeu a porta com os olhos cerrados, tentando enxergá-lo com a ajuda da luz do luar.
– Você ainda tem o isqueiro que eu te dei?
– Claro, pode entrar, eu vou pegar – abriu a porta e foi em direção ao quarto.
– Prefiro esperar aqui, o seu pai...
– Ele não está – o interrompeu ao gritar do quarto – Saiu com o Richard tem umas duas horas, parece que foram atrás de um gerador.
– O que seria desse circo sem os dois, né?
– Pois é. Aqui está – Olivia acendeu o isqueiro e Oscar viu seu sorriso iluminado pela chama – Desculpe pela demora para devolver.
– Obrigado – pegou o isqueiro de sua mão – Você não vai precisar?
– Não – deu de ombros – Não temos velas aqui em casa.
– Eu tenho algumas sobrando, se quiser.
Olivia concordou e o seguiu até seu trailer. Com a fraca luz da chama do isqueiro, Oscar encontrou as velas e acendeu duas, uma para ela e uma para ele. Pingou algumas gotas de cera sobre a pia e assentou a vela. A iluminação estava bem fraca, mas o permitia ver o reflexo do fogo nos olhos de Olivia. Ela também se distraía com os olhos dele, só se lembrando que estava com uma vela acesa nas mãos quando sentiu a cera pingar sobre a pele.
– Droga! – levou a mão à boca por reflexo – Acho que é a minha deixa pra ir embora e te deixar sozinho.
– A menos que você queira ficar sozinha, não vejo problemas em você ficar aqui.
– Não quero atrapalhar seja qual for seus planos pra essa noite de escuridão.
– Quais são os seus planos? – Oscar perguntou.
– Encarar o teto até pegar no sono – torceu os lábios.
– Então é o mesmo que o meu. Acho que o teto do meu trailer é igual ao do seu – deu de ombros – Podemos encarar o teto juntos.
– Tem como negar um programão desses?
Oscar sorriu com a risada baixa que Olivia soltou. Os dois se sentaram no sofá e como combinado, começaram a encarar o teto em silêncio. Vez ou outra ela desviava os olhos para ele e flagrava seu olhar sobre si. Cada vez que isso acontecia, um arrepio diferente corria por sua espinha.
– Desculpa por cancelar o treino e vir pra casa hoje – Oscar decidiu falar.
– Tudo bem, o Hector tira qualquer um do sério – virou o rosto para ele.
– Você não faz ideia do ódio que eu sinto desse homem, Olivia.
– Eu nunca vi alguém bater de frente com ele como você fez hoje – ela riu – E eu adorei.
– Ah, claro, além de encher o saco ele ainda atrapalhou o nosso beijo – Oscar sorriu ao olhá-la nos olhos.
– Olha, acho que ele já foi embora – Olivia aproximou seu rosto do dele.
– E eu acho que ninguém vai entrar na minha casa pra atrapalhar, não é mesmo?
Com um sorriso, ele a puxou para mais perto e tomou seus lábios com toda a vontade que precisou conter naquele sutil beijo no picadeiro. Olivia agarrou em sua nuca e com a mão livre tirou sua camiseta, exibindo o tronco tatuado do rapaz. Oscar a deitou no sofá e lentamente debruçou seu corpo sobre o dela, passeando as mãos por sua cintura e puxando sua blusa para cima até deixá-la de sutiã.
Oscar descia uma trilha de beijos por seu pescoço quando ouviram um pedido de socorro que não conseguiram dar atenção. Sua mão estava no fecho do sutiã quando mais uma vez o pedido de ajuda foi ouvido, mas dessa vez mais perto do trailer. Olivia o empurrou e se levantou apressada, sentindo um choque tão forte na panturrilha que fez sua perna falhar.
– Olivia! O que aconteceu? – Oscar perguntou ao se recompor no sofá.
– Essa voz é do meu irmão!
Olá meus amores! Como estão?!
Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Sei que demorei muito para aparecer por aqui, mas a minha vida nunca esteve tão corrida e nunca trabalhei tanto como ultimamente (vida de professor é osso), e além disso eu estou com um bloqueio imenso e meu estoque de capítulos está acabando.
Juro que vou tentar organizar meu tempo, ler mais, me dedicar mais para terminar esse livro que eu tanto gosto, mas que não consigo mais escrevê-lo como ele merece. Mesmo que eu não poste com frequência, eu juro que não vou abandonar essa história.
É isso, me digam o que acharam. Eu gosto desse capítulo, eu amo a química do Oscar e da Olivia e morri de dó do Adam.
Beijinhos e até breve (eu espero) ♥
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