XVI - Se fosse gostoso não era remédio
A sensação que Olivia teve ao abrir os olhos era de que todo o quarto de Megan parecia mais iluminado do que um estádio de futebol, mas era só a luz acesa enquanto sua amiga lia um livro deitada ao seu lado. Seu corpo parecia flutuar no espaço e sua cabeça parecia pesar uma tonelada a cada vez que tentava se mexer, além da dor em todo o corpo.
– Bom dia, Bela Adormecida, são quatro horas da tarde.
Megan falou com um sorriso, mas sem desviar os olhos de sua leitura. No que Olivia pensou em responder, sentiu um gosto amargo na garganta e levantou apressada em direção ao banheiro, se esquecendo totalmente de seu tornozelo em recuperação e sentindo uma dor latejante subir por sua perna esquerda ao correr até o vaso sanitário. Teve a impressão de que sentiu a mesma dor na noite anterior.
– Por que eu estou aqui? – perguntou em um sussurro ao voltar para o quarto, ainda tampando os olhos da claridade do cômodo.
– Imaginei que você não se lembraria – Megan fechou o livro e se levantou – Vem, vamos pra cozinha, você tem que comer.
Olivia protestou, estava sentindo dor, enjoo, moleza e queria ficar deitada o resto do dia, mas Megan a puxou pela mão, sem dar atenção a todas as reclamações da amiga. Se arrastou até o sofá e deitou em posição fetal até que a ruiva lhe trouxesse um copo de suco e duas fatias de pão. Logo no primeiro gole a náusea voltou.
– Chega de vomitar e toma isso aqui, o Oscar disse que você ia precisar de uma aspirina e um relaxante muscular – esticou dois comprimidos para ela.
– Como eu vim parar aqui? – perguntou assim que conseguiu engolir os comprimidos.
– Primeiro me diz que ideia foi essa de sair escondida de madrugada e voltar do jeito que você voltou?!
– Eu não aguentava mais, Meg. Eu precisava esquecer a minha casa, ficar longe do meu pai e do Adam.
– E você achou que beber até não saber como chegou em casa ia te ajudar a esquecer?! Isso foi tão irresponsável, Liv! – Megan aumentou o tom de voz.
– Sério? Você quer falar comigo sobre os danos do álcool?! – se levantou e a encarou de frente – Logo você, que começa a beber sete horas da manhã?! Que bebe pra conseguir dormir?! Não vem me dar lição de moral não, porque você não é a minha mãe.
– Realmente não sou sua mãe, porque ao contrário dela, eu estou aqui e me preocupo com você – foi até o quarto e voltou com uma toalha – Agora vai tomar um banho, você tá fedendo a vômito.
Megan jogou a toalha na direção da amiga e apontou para a porta do banheiro. Olivia queria negar só para contrariá-la, mas mesmo sua teimosia gritava que ela precisava de um banho, então ela seguiu até o chuveiro e deixou a água quente cair nas costas. Logo as gotas ficaram geladas, a fazendo arfar. Quando questionou Megan, recebeu como resposta "bêbado precisa é de banho frio".
Mesmo gelado, o banho foi longo. Olivia demorou a se acostumar com a temperatura da água, mas passou tanto tempo pensando no que disse para Megan que até esqueceu do frio. Saiu enrolada na toalha e ao chegar no quarto, sua amiga estava de volta em sua leitura e sem dar atenção a ela.
Ela chamou pela ruiva, mas não obteve resposta. Olivia deu de ombros e abriu o armário em busca de uma roupa de Megan, que sequer desviou os olhos do livro. Assim que se trocou, sentou-se ao lado da amiga e a chamou mais uma vez – e mais uma vez foi ignorada.
– Megan, olha pra mim! – Olivia tirou o livro de suas mãos.
– Você vai perder a página e eu vou te socar por isso.
– Meg, me desculpa. Eu fui uma idiota e você tem razão. Eu não tenho direito de te chamar de bêbada irresponsável.
– Você não me chamou de bêbada irresponsável – franziu o cenho.
– Só não foi com essas palavras – torceu o nariz – E você não é minha mãe, você é muito melhor que ela, você nunca me abandonou. Você é minha irmã de alma.
– Tudo bem... Me desculpa também, a vida é sua, afinal. Eu só fiquei preocupada demais. Você não sabe a sensação ruim que eu tive quando o Oscar apareceu na minha porta com você desacordada no colo.
Olivia questionou o motivo pelo qual Oscar preferiu acordar sua amiga em plena madrugada ao invés de simplesmente deixá-la dormir em sua casa, então Megan contou toda a conversa que tiveram naquela noite. Enquanto ouvia, Olivia refletia sozinha qual seria sua reação caso tivesse acordado no trailer dele. Provavelmente acordaria assustada, assim como da primeira vez, mas agora algo parecia diferente, era como se um lado seu quisesse acordar lá.
– Você ainda tá me ouvindo, Liv?! – Megan estalou os dedos em frente ao rosto da amiga.
– Oi... ehn... Claro! – sorriu.
– E o que eu disse? – levantou uma sobrancelha.
– Você disse... – parou para pensar – Eu não faço ideia do que você disse.
– Eu falei que tá na hora de você ir pra sua casa porque eu estou o dia inteiro dando desculpas pro seu pai, dizendo que a gente virou a noite conversando e fomos dormir quando já estava amanhecendo, por isso que é quase hora de trabalhar e você ainda não deu as caras por lá.
Não era isso que Megan havia dito. Na verdade, ela contou que ele agiu estranho e desconversou quando ela perguntou o porquê ele aceitou ir até o pub, mas quando se deu conta que era só um achismo seu, agradeceu pela distração da amiga e preferiu não colocar mais dúvidas na cabeça de Olivia, que já vivia com a mente atribulada.
Ao olhar as horas no celular, Olivia se despediu de Megan e a passos lentos e doloridos, foi para a sua casa. Agradeceu por David e Adam já estarem no circo e a casa estar vazia, pois estava com muita dor de cabeça para ouvir qualquer sermão que fosse. Espiou o trailer de Oscar através da cortina esperando vê-lo, mas o lugar parecia vazio, então foi até seu quarto para preparar seu figurino.
Olivia chegou na coxia com certo atraso, sua maquiagem estava feita de qualquer jeito e ela mal conseguia manter a cabeça em pé. O barulho vindo do picadeiro parecia mais alto que o normal enquanto Oscar fazia seu número solo do homem mais forte do mundo e tudo o que ela queria era sumir dali. Assim que a viu, Adam questionou a aparência da irmã e na mesma hora Megan inventou que as duas comeram algo que não caiu bem no estômago.
Vendo o estado de Olivia e caindo na história de Megan, Richard a mandou de volta para casa, não podia correr o risco de uma das artistas vomitar no meio do picadeiro. Ela só se despediu da amiga e do irmão e seguiu de volta para o trailer, não negaria aquela folga, já que cada palma do público parecia ressoar como um sino tocado diretamente em seu cérebro.
Sob as palmas da plateia, Oscar agradeceu e voltou para a coxia. Esperava encontrar com Olivia, já que ambos faltaram ao treino da tarde. Também queria se desculpar pela noite anterior, pois se sentia culpado por ela ter bebido daquela forma. Quando soube por Megan que ela foi embora por não estar tão bem, informou Richard que não faria seu último número – até porque sua parceira não estava ali – e voltou para casa.
Deitada no escuro, Olivia dava leves tapinhas na própria cabeça na tentativa de aliviar pelo menos esta dor. Resmungou quando ouviu algumas batidas na janela do quarto. Obrigou-se a levantar, já que quem quer que fosse, era insistente. Abriu a cortina e se deparou com Oscar ainda em seu figurino completo.
– Você sabe que eu tenho porta, né? – Olivia falou ao abrir a janela.
– Eu também sei que ontem você correu e provavelmente seu tornozelo está doendo, então não quis te fazer andar tanto.
– Eu corri? – riu – Oscar, acho que você estava bêbado também... Eu não posso correr.
– Então você não se lembra mesmo... – esboçou um meio sorriso – Mas não foi pra falar disso que eu vim aqui não. Toma, preparei isso pra você.
Oscar estendeu um copo através da janela e o conteúdo não parecia nada saboroso. Era verde e um tanto quanto denso, o cheiro também não era dos melhores e Olivia sentiu ânsia só de se imaginar tomando aquilo. Assim como uma criança, fez uma careta e negou com a cabeça.
– Pode tomar, isso vai curar sua ressaca.
– Isso parece ser horrível – torceu o nariz.
– E é. Se fosse gostoso não era remédio, era bebida – estendeu ainda mais o braço para dentro da janela – Vai, Olivia, toma isso.
– O que tem aqui dentro? – pegou o copo de sua mão e analisou com a pouca claridade que entrava.
– Não pergunta, só toma.
Ainda encarando o copo com aquele líquido estranho, Olivia tampou a respiração e virou todo o conteúdo de uma vez. A vontade de vomitar veio, mas ela conseguiu segurar. Oscar sorriu de todas as caretas que ela foi capaz de fazer em tão pouco tempo, a fazendo sorrir também, mesmo com aquele gosto amargo na boca.
– Viu, não foi tão ruim.
– Não foi ruim, foi péssimo! Eu só espero que funcione.
– Vai funcionar sim. Minha mãe sempre tomava, aprendi a fazer e a tomar com ela.
– Ela fazia quando você chegava bêbado? – sorriu.
– Não. Quando ela chegava.
Oscar desviou o olhar, cada vez que falava de sua mãe lembrava de todo o seu passado. Mas naquele momento não estava ali para aquele assunto, queria apenas ajudar Olivia e sua ressaca que ela dizia ser interminável. Ela percebeu que o semblante do rapaz mudou e decidiu procurar outro assunto.
– Eu nunca mais vou beber – falou – Odeio ressaca.
– Quantas vezes você já falou isso? – Oscar sorriu.
– Mais do que eu gostaria – Olivia retribuiu o sorriso – Mas me diz, o que você se lembra de ontem?
– Nós dois saindo do pub sem pagar – riu.
– Eu não acredito! – Olivia soltou uma gargalhada – Então é verdade? Eu corri?!
Oscar assentiu com a cabeça, a fazendo rir ainda mais ao imaginar a cena. Lembrou-se de alguns flashes rápidos dos dois pelas ruas de Windenburg, ou então dele a carregando nos ombros. Até que um flash confuso surgiu. Uma sensação de borboletas no estômago, lábios macios e tudo rodando. Mas não, isso não era possível.
– Oscar... tem mais alguma coisa que eu deveria me lembrar? – perguntou com certo receio.
– Eu acho que não. Isso é tudo o que eu me lembro.
Olá meus amores! Como estão?
Eu estava sumida, mas voltei a trabalhar presencialmente e ainda estou me habituando ao horário.
Sei que esse capítulo está chatinho e sem muitos acontecimentos e que ultimamente os capítulos estão assim, me desculpem por isso, mas eu pretendo compensar! Só rezem para eu ter inspiração porque meu estoque de capítulos estão acabando haha
Espero que tenham gostado!
Vejo vocês em breve.
Beijinhos! ♥
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