🧛Capítulo 4
Oi, oi, tesudinheeeeeeees! Chegando um pouco mais cedo de novo porque vou estar fora de casa às 19:00 e sempre vivo o pavor do wattpad desformatar se eu postar pelo celular.
Como vocês estão? Passando bem a semana?
Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!
#VampiroTristeComT
»»🐺««
Bem, como em todas as situações em que eu não sabia o que fazer, tentei pôr meu fracassado plano A em ação, apesar dele já ter se mostrado uma bosta várias vezes. Sim, aquilo que tava fazendo Belzebu rir de dó, certeza.
Tentei evitar o Jungkook.
E, como moramos do lado um do outro, pra botar meu desastre disfarçado de plano à prova, comecei a acordar todo dia às 04:00 e pular o muro do vizinho — o que não era Jungkook, claro — antes de atravessar umas moitas que pinicavam e conseguir pegar um caminho alternativo pro colégio. A sorte era que nunca fui muito de dormir.
A fisiologia de um vampiro era uma coisa meio estranha, principalmente os "puros" como eu. E, por Belzebu, o "puro" não faz parte de um papo supremacista escroto, mas porque tem dois jeitos de um vampiro existir, tá?
O primeiro era um humano, ainda vivo, ter toda sua energia vital consumida por um vampiro. E era perceptível, pelas minhas preocupações centradas em hormônios e pau durão em vez de, sei lá, caçar humanos pra serem minha janta, que não era mais comum. Basicamente, a Cúpula dos Hematomaníacos, um bando de vampiro fodão e muito velho mesmo que decidia as coisas pela comunidade vampira — inclusive esse nome escroto que tirava toda a credibilidade da organização —, tinha deliberado duzentos anos antes que vampiros não deveriam criar novos desse jeito.
Por quê? Eu não fazia a mínima ideia. Sempre achei essas conversas de burocracia vampiresca um saco, então passava longe. Deveria ser pra ter menos vampiros fazendo bosta por aí. Em geral, quando um de nós saía dos trilhos, ameaçava o resto da espécie inteira ao botar o governo de olho na gente.
Sério, morríamos de medo daqueles caras malucos que se dedicavam à profissão questionável de exterminar de vampiros — e que, não raramente, mais caçavam humanos comuns —, porque a maioria de nós, apesar de superforte e geneticamente criada pra fazer lanchinho de humano e blablablá, não tem mais técnica de combate pra matar nem uma formiga. Nem armas ilegais do calibre das daqueles caras. Enfim, toda aquela adequação porca dos vampiros às normas humanas por causa de um acordo escroto de paz feito há tantos anos que apenas os vampiros se lembravam. Humanos e seus cérebros e expectativa de vida de mosca.
Mas enfim, a parte de não transformar humanos em vampiros até que funcionava bem. Só não significava que humanos ainda não fossem janta de alguns vampiros, principalmente dos mais velhos (oi, tio, foi pra você mesmo). O único ponto diferente era que se matava as pessoas antes de extrair a energia vital, porque aí elas não viravam vampiras. Só um defunto ressecado mesmo.
A verdade era que eu tinha muita sorte de ter um esquema tão conveniente com o Jungkook, porque era difícil evitar a antropofagia quando ela era literalmente a sua forma de se manter vivo. Ficar bebendo doações de sangue também não era muito simpático.
Enfim. Adequação porca dos vampiros às normas humanas. A gente vivia do jeito que dava.
Era óbvio que um humano normal não conseguia prover sangue e energia vital o suficiente prum vampiro, então os vampiros que optavam por manter relações estáveis com humanos pra conseguir sua parcela de sangue eram adeptos da poligamia. Lá em casa era diferente por causa do esquema com os lobisomens, então eu não tinha muitos detalhes do poliamor sangrento, mas parecia funcionar.
Enfim, voltando ao assunto de novo: quem virava vampiro a partir do primeiro jeito era considerado mestiço, porque já tinha sido um humano. E era, em resumo, uma pessoa morta que caminhava; a consciência tinha ido com Belzebu. Com a energia vital virando papinha de vampiro, a vítima perdia todas suas necessidades fisiológicas e permanecia em pé como uma espécie de maldição dos vampiros puros. Não sobraram muitos vampiros assim. Não que tivessem muitos vampiros por aí, de um modo geral.
E a segunda forma de ser um vampiro era nascer de um casal de vampiros puros. Ninguém sabia muito bem de onde os primeiros vampiros puros tinham vindo, evolutivamente falando, mas achávamos ser uma meiuca entre os mamíferos hematófagos e os macacos que tinham originado os humanos.
Enfim, vampiros puros pareciam muito mais seres humanos do que os mestiços, que literalmente eram... mortos que gostavam de dar uma voltinha. Apesar de mais fortes do que os humanos normais, tínhamos maior propensão genética à fotossensibilidade e um cardápio bem restrito chamado sangue. De resto, era bem parecido. Eu não tinha a pele gelada como um morto (apesar de o frio não me incomodar), sentia um tesão do caralho pelo meu melhor amigo (certeza que isso não era incomum entre os humanos), às vezes ficava com anemia e precisava dormir algumas horas por dia (mas só umas três), principalmente se eu não tivesse bebido sangue.
Ah, informação desagradável que ninguém pediu e eu vou contar mesmo assim: como vampiros não comiam, vampiros não cagavam; mesmo assim tínhamos os mesmos órgãos que os humanos, só que eram inúteis e só serviam pra inflamar e dar problema, tipo a versão vampira de apêndice e siso. Vampiros eram equipados com umas enzimas doidas que transformavam sangue em energia, o que era bem mais prático do que todo um processo digestivo.
Eis a forma ainda existente de criar novos vampiros, só pra espécie não acabar de vez porque a Cúpula dos Hematomaníacos achava que seria uma pena. Aliás, eles além de fazerem o trabalho de mandar na porra toda, eram uma espécie de Tinder de sanguessugas. Como éramos pouquíssimos vampiros, a Cúpula botava vampiros de órgãos reprodutores opostos em contato pra ter mini vampirinhos e perpetuar a espécie, e tudo mais. Meio deprimente.
Aliás, só porque eu sabia um pouco sobre a anatomia meio zoada dos vampiros, não significava que eu entendia sobre a dos lobisomens, que não fazia sentido nenhum. Eles eram os mais sobrenaturais dos sobrenaturais, porque não entrava na minha cabeça como eles simplesmente saíam se transformando em várias formas tão diferentes. E o Jungkook nem parecia sentir dor. Sem contar que ele também era uma fonte de sangue infinita... Doideira.
Enfim, eu tava falando sobre evitar o Jungkook, né? Talvez o devaneio fosse pra eu fugir do ponto principal e não ter que refletir sobre minhas atitudes de fracassado.
Depois que eu chegava na escola, era um pouco mais fácil, porque éramos de salas diferentes e eu, uma flor antissocial, então não tinha nenhum tipo de colega que pudesse contar pro Jungkook onde fui parar. Não que Jungkook precisasse perguntar, claro, porque ele tinha aquele olfato maldito dele.
Pra compensar o nariz de cão farejador, na hora do intervalo, eu fazia questão de sair correndo prum lugar bem longe e distante, que ele não conseguiria chegar a tempo e voltar pras aulas usando a forma humana. O único problema era que eu gastava muita energia com aquela correria besta. E tava fugindo justamente da minha fonte de energia, porque meio que tinha me masturbado na frente dela e não conseguia lidar com aquela lembrança.
Porra, eu até tinha enfiado o dedo no cu. Que ódio. Por que o tesão tinha achado uma boa ideia?
E eu, que tinha conseguido bater o incrível recorde de fugir do Jungkook por três semanas a muito custo da vez anterior, consegui chegar fácil aos dois meses sem falar com ele e até precisei roubar uma bolsa de sangue em um hospital de rico — protejam o serviço público! — depois de desmaiar de anemia na volta da escola e me queimar de um jeito horroroso no Sol depois de horas desacordado.
Foi aí que comecei a ficar preocupado. Na verdade, já tava preocupado há muito tempo, mas depois de dois meses sem ver o meu único amigo, dava pra ter certeza de que era preocupação, e não saudades por não ter mais porra nenhuma pra fazer da minha vida.
Então, parei de fugir durante os intervalos. Jungkook nunca apareceu na minha sala pra procurar por mim. Preocupado, um dia fui até a cantina — coisa que eu nunca fazia porque, né...? Não me alimento — e parte de mim ficou muito mais tranquila ao ver Jungkook sentado no meio de um grupinho de amigos, conversando feliz. A outra ficou triste ao perceber que ele nem levantou o olhar pra mim.
Eu devia ficar feliz ao saber que Jungkook tava bem e que aqueles dois meses conseguindo evitá-lo não tavam relacionados a nenhum problema misterioso de saúde em sua imunidade impecável de lobisomem. Eu deveria ficar feliz, mas saí da cantina chorando como o grande fracassado que era.
Meu tesão tinha mesmo estragado tudo entre nós, e lembrar daquilo me dava uma vontade automática de chorar até meu corpo não ter líquido mais. E, pra piorar a situação, não teve nenhum dia daqueles dois meses em que minha cabeça não recriou Jungkook se tocando deliciosamente. Eu era todo errado mesmo.
Depois daquele dia pós-dois-meses-de-fuga no qual atestei que Jungkook tava cagando pra mim e muito bem com isso, fiz questão de observá-lo escondido em qualquer atividade do seu dia só pra chorar. Sei lá. Tem umas coisas que a gente faz que não dá pra explicar.
Eu assistia aos treinos dele chorando. Eu o observava chegar na escola só pra correr prum cantinho me debulhar em lágrimas. O meu momento de autoflagelamento emocional favorito era ir na cantina e passar uns dez segundos o encarando, não receber nenhum olhar de volta e ir procurar um lugar pra lamentar sobre minha vida horrorosa.
E eu já tinha aceitado o meu destino de chorar todos os dias pelo Jungkook quando o vi, pela janela, em sua forma de lobo. E, sim, eu tava lendo um livro ao lado da janela que dava pro quintal dos Jeon na esperança de vê-lo e matar um pouco das minhas saudades. E chorar, claro, porque eu era um imbecil.
Mas era muito estranho o lobo-Jungkook sair no meio da noite pra algum lugar. Não era Lua Cheia, momento em que ele e os pais se isolavam em um bunker na floresta lá porque ficavam meio descontrolados.
Será que ele ia caçar? Nossos pais gostavam bastante, volta e meia saíam juntos prum final de semana caçando, mas ele nunca tinha mostrado interesse na atividade.
Se eu fosse um protagonista legal, eu o seguiria em segredo e descobriria alguma coisa maneira que daria uma reviravolta no roteiro. Mas nunca fui, então só chorei mais e deitei na minha cama pra molhar os lençóis com minhas lágrimas e imaginar o que aquilo poderia ser.
Quando acordei, tinha um pedaço de madeira estranho no quintal do Jungkook. Ele saiu de casa no meio da noite pra virar um lobo madeireiro? Cada vez eu entendia menos.
Depois da escola, a madeira já não tava lá. E, mais uma vez, fui completamente incapaz de entender o que tava acontecendo. Bem, tudo dentro do planejado; minha única capacidade, ou habilidade, era ficar duro em momentos que não deveria.
Fiz minha rotina de automartirização na escola com certa pompa, porque já era sexta e aí eu teria que passar o final de semana na janela procurando traços do Jungkook, como um stalker, e raramente dava certo.
Belzebu deveria estar orgulhoso de mim, por achar meu comportamento obsessivo ou qualquer coisa do tipo. Eu também achava (mas não gostava), porque não conseguia ter paz na minha cabeça enquanto lia meus livros. Eu tava tão arrependido de ter causado aquela distância que parecia que meu cérebro fazia questão de pensar sobre tudo que eu poderia aproveitar com Jungkook se não fosse o meu pau duro infernal. E, por mais que eu tentasse calar a boca da minha cabeça, ela continuava chiando arrependimentos.
Em um belo sábado — pra não-vampiros, o Sol me fritaria fácil —, o interfone da minha casa tocou. Como meus pais passavam parte do final de semana em casa — se não estivessem caçando com os Jeon—, deixei que atendessem, muito ocupado em abraçar meu travesseiro e olhar pro teto, refletindo se minha vida seria melhor se eu arrancasse meu pau, sei lá. Mas minha atividade crucial foi interrompida pelos meus pais me chamando pra falar com a visita. Apesar deles terem passado a manhã inteira tentando me convencer a sair do quarto, só não pude evitar daquela vez.
Eu tava tão puto em ter que parar de remoer o quanto eu era um perdedor safado que não pensei muito em quem poderia ser a visita, ainda mais pra mim. Ninguém me visitava, eu não tinha amigos. Mas só fui notar aquilo quando desci as escadas e dei de cara com Jungkook, sentado à mesa da cozinha — que existia mais de enfeite — junto dos meus pais.
Como de praxe, o arrependimento se debateu no meu peito que nem um diabo-da-tasmânia. Eu com certeza tava descabelado, com a cara amassada de quem não saiu da cama apesar de nem precisar dormir direito e com uma expressão de quem foi pego no flagra. Ah, e usava um pijama do Stitch. Meus pais trocaram um olhar entre eles que nem Belzebu na causa e saíram da cozinha, me deixando sozinho com o Jungkook.
Juro por Belzebu: meus pais devem me detestar pra serem capazes de tamanha covardia.
A última coisa que eu queria era ficar sozinho com Jungkook. Sério, eu preferiria ficar com a bunda de fora apontada pro Sol, o meu pesadelo por muitos anos. Respirei fundo, na tentativa de conter minhas lágrimas de vergonha e de arrependimento.
— Oi — disse.
— Oi — respondi.
Mais um silêncio estranho. Daqueles silêncios que só ter ficado de pau duro e depois ter se masturbado na frente do amigo causava. Dar um reset na minha existência parecia a opção perfeita pro caso.
Jungkook respirou fundo e se levantou da cadeira e, só aí, percebi que ele segurava um longo objeto embrulhado. Ele ia me dar uma vassoura pra eu limpar toda a sujeira do meu coração? Talvez aqueles rodos mágicos. O embrulho metalizado vermelho fez um barulhinho característico quando Jungkook o entregou pra mim. Eu encarei o objeto na minha mão, confuso; Jungkook tava mesmo me dando uma vassoura pra eu tomar vergonha na cara? Ou seria algum outro tipo de simbologia?
— Feliz aniversário, Ji — murmurou, afastando o olhar.
Arregalei os olhos, espantado, porque não lembrava de jeito nenhum que era meu aniversário, ocupado demais em lamentar sobre minha vida pra olhar os dias no calendário ou perceber que meus pais tavam tentando comemorar comigo. Mas a parte mais fodida foi ver Jungkook desviando o olhar. Jungkook era lindo, confiante e direto. Eu me senti um bosta por fazer um cara como ele replicar ações de um perdedor como eu.
Incapaz de falar qualquer coisa, apenas aceitei o presente, planejando o que eu faria com uma vassoura. Talvez varrer a casa. Quem sabe aquele fosse meu chamado pros serviços domésticos?
Park Jimin, o vampiro da limpeza.
Vendo a expectativa no olhar tímido de Jungkook, abri a embalagem. Em vez de uma vassoura, encontrei uma bela espada de madeira. Lustrosa, firme e cor caramelo. Um nó se formou na minha garganta.
— Foi porque cê disse que queria tentar kendo... Mas serve pra treinar kenjutsu e aikido também... — explicou. Seu tom de voz ainda era baixo e ele olhava constrangido pros próprios pés. — Acho que essa aí vai aguentar o teu tranco, meus pais consultaram algumas enciclopédias sobrenaturais e encontramos uma árvore super-resistente, aí eu peguei um galho dela pra fazer essa espada.
O nó em minha garganta ficava ainda maior. Eu encarava a espada estático, sem ter coragem de respirar, nem de falar, nem de olhar pra nenhum lugar. Minhas mãos começaram a tremer.
— Desculpa te incomodar, Ji... — murmurou de novo. — É só que eu... Bem, vou voltar lá pra casa. Desculpa mesmo o incômodo.
Eu não conseguia entender, de verdade. Não conseguia entender o presente, muito menos as desculpas do Jungkook. A única coisa que sentia era mais vontade de chorar.
Só consegui levantar o meu olhar quando ele recuou. E não me sentia capaz de lidar com a possibilidade de deixar Jungkook ir embora daquele jeito, com meu silêncio. Ao mesmo tempo, não sabia o que falar, tava tudo tão confuso. Eu era tão confuso.
Avancei alguns passos e segurei a barra de sua camisa. Ele parou e olhou pra mim, parecendo preocupado. Mesmo assim, não me abraçou, nem me tocou, nem ofereceu algum dos seus carinhos físicos tão costumeiros. Apenas se virou em minha direção, meio amedrontado.
Abri a boca pra falar, mas nenhuma frase parecia certa. Ao ver Jungkook franzir o cenho e morder os lábios, forcei uma frase pela garganta:
— Você me odeia, Kook?
Dentre todas as frases rodeando minha cabeça, desde um mero "obrigado" até "desculpa por ser tarado", aquela foi a que eu disse, sem pensar. Talvez porque expressasse meu maior medo. Eu não ligava pra opinião dos outros. Mas Jungkook tava longe de ser "os outros".
— Quê? — arfou e arregalou um pouco os olhos castanhos tão lindos. — Claro que não, Ji... Pensei que cê me odiasse. Cê sabe... por ter sugerido aquilo. E também porque...
Dei tempo pra que ele completasse a frase, mas nunca aconteceu. Não julgava, porque eu também tava falando desconexo pra porra.
— Eu nunca te odiaria... — murmurei, em choque. Em um ímpeto de coragem, segurei sua mão e o puxei até meu quarto, nervoso. — Juro que não vou fazer nada de errado com você...
— Ji... — Suspirou, mas me deixou guiá-lo.
No meu quarto, soltei sua mão e fui até a cama, ainda segurando a espada de madeira como se ela valesse mais do que minha vida. Me escondi debaixo dos meus lençóis, encolhido na minha própria vergonha.
— Podemos conversar? — pedi, baixinho, sabendo que os sentidos aguçados de Jungkook seriam capazes de ouvir, mesmo em meio a todo aquele abafamento. As palavras saíam mais fáceis daquele jeito. — Desculpa, Kook... Eu sou covarde, não sei se consigo falar tudo te olhando no olho...
Ele não respondeu com palavras, apenas caminhou pelo meu quarto e se sentou na ponta da minha cama, soltando um novo suspiro. Seu peso fez o colchão afundar, e meus pelos arrepiaram com sua presença.
— Me desculpa, Kook... Eu jurei que você me odiava... Você sabe, por eu ter ficado daquele jeito na sua frente. Eu morri de vergonha.
— Eu não achei ruim... — respondeu no mesmo tom baixo. Sua voz me arrepiava dos pés à cabeça a cada frase, eu a adorava. — Pensei que tivesse ficado claro. Tanto que eu fiz aquela... hm... proposta. Mas aí, depois de tudo aquilo, cê voltou a me evitar... Pensei que cê tinha se arrependido de ter feito comigo e não queria mais me ver por perto. Desculpa ter feito a proposta... eu achei que cê também queria, de verdade.
— Kook... Eu não me arrependi de ter feito com você... — confessei, cheio de coragem debaixo das cobertas. Era como se eu também admitisse pra mim mesmo. — Eu... sei lá... só me arrependi de ter feito. Me achei vergonhoso por ter mostrado tanta coisa. Aí, quando você não foi atrás de mim quando comecei a te evitar por vergonha, tive certeza de que você tava arrependido de ter feito comigo e que me odiava. Desculpa... Agora que você explicou, faz muito sentido você ter entendido errado. Desculpa, Kook, eu só não sabia o que fazer.
— Mas eu também mostrei tudo, Ji... Cê viu tudo... Eu... eu não consigo entender! Cê só pode ter ficado arrependido de ter feito comigo! Faz mais sentido. Não precisa se forçar a voltar a falar comigo, não vim entregar o presente pra isso. É só que eu tava com ele na cabeça desde que cê falou que queria testar um esporte.
— Desculpa, Kook... — Comecei a chorar, arrasado por ser incentivo de tantos mal-entendidos. Tudo porque eu tentava me esconder. Porque eu não queria falar a verdade a ele. — Eu... acho que sei explicar um pouco. Mas pra isso, tenho que contar coisas que tenho medo de contar, porque tenho medo da sua reação. Enfim, não precisa me perdoar, mas você pode me ouvir até o final, Kook?
Ele se remexeu na cama, e meu corpo tensionou todo. Dizer que eu tava morto de medo era eufemismo.
— Não precisa contar pra mim se cê não quiser... Tá tudo bem — respondeu, por fim. E mais um suspiro deixou seus lábios. Era a primeira vez que o via assim; pelo menos desde que entramos no ensino médio.
— Não, Kook, acho que preciso, não é certo ficar escondendo de você. Ou tentar ficar escondendo de mim também...
Com aquela súbita clareza, tomei coragem de sair dos lençóis. Eu não sabia explicar de onde aquela tranquilidade meio estranha veio, mas queria aproveitá-la enquanto existisse.
Se fosse pra perder Jungkook sendo sincero com ele, eu o faria cara a cara. Sentei no colchão e fitei meu amigo. Ele correspondeu o olhar, parecendo um pouco sério e amedrontado. Os longos fios negros caíam sobre os olhos castanhos. Lindo. Jungkook era muito bonito mesmo.
— Kook... — soltei, após inspirar profundamente. — Faz um tempo já que comecei a ter ereções enquanto bebo seu sangue... Desculpa, de verdade. Eu escondi, porque me senti muito sujo... Tipo, a gente funciona assim desde sempre, achei horrível sexualizar algo que deveria ser normal. Achei horrível te transformar em um objeto de desejo sendo que você é meu único amigo. E eu fiquei morto de medo de você descobrir... e me odiar. E nunca mais podermos ser amigos de novo. Acho que esperei por tanto tempo uma reação ruim se você descobrisse, escondi tanto, que mesmo quando você meio que correspondeu no banheiro, só consegui pensar que tudo daria errado e fugi.
Encarei as minhas mãos, em cima do meu colo. Eu tinha falado.
— Eu só não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós... — choraminguei. As lágrimas voltaram a verter, de frustração, assim que percebi ter feito as coisas ficarem estranhas tentando fazê-las não ficarem estranhas. E eu sentia como sempre fosse ser assim: eu deixando tudo estranho. Eu estragando tudo. — Desculpa, Kook, de verdade.
Ele não falou nada, pensativo. Um silêncio constrangedor preencheu meu quarto e, apesar de todos os sentimentos ruins, também senti certo alívio. Porque enfim Jungkook sabia da verdade e podia escolher o que fazer com ela. Esconder meu desejo dele era horrível, porque o tesão não deixava de existir mesmo que eu tentasse contê-lo, e Jungkook não tinha opção de se negar antes.
— Ji... Cê não tá com fome? — sussurrou, após longos minutos. — Faz mais de dois meses que cê não...
— Kook... Relaxa, eu posso conseguir de outros jeitos, tá tudo bem... — respondi, apesar de me sentir, sim, um pouco fraco. Mas eu não queria que o Jungkook se forçasse a aceitar meus impulsos sexuais ao se achar responsável por me manter em pé.
Mais silêncio e, apesar da minha vontade de observar Jungkook, mantive a cabeça baixa. Queria dar algum tipo de... privacidade? Bem, só não queria que ele tomasse uma decisão com meu olhar desesperado de medo, de solidão e de tesão em cima dele.
Ele se levantou e pensei que deixaria o meu quarto e a mim. Respirei fundo, tomado de tristeza, mas meio que em processo de aceitação. Antes aquilo do que ficar enganando Jungkook.
Levantei os olhos, confuso, quando ele andou até minha frente. Arfei, surpreso, quando ele se abaixou e enlaçou minhas coxas, levantando meu corpo com facilidade. Comigo no colo, se virou e sentou no chão, com as costas apoiadas na cama, como fazia na própria casa.
Inclinou a cabeça, expondo o pescoço forte e deliciosamente cheiroso pra mim. Parecia a rotina de sempre. O jeito dele de sentar, de oferecer o pescoço... Mas daquela vez, eu tava acomodado no colo dele.
Meu corpo se incendiava enquanto distinguia melhor a situação, já excitante, mas ainda mais provocativa daquela vez. O jeito que as mãos grandes de Jungkook ainda se apoiavam nas minhas coxas, por baixo do shorts do meu pijama. Que seu corpo tava tão colado no meu. A pele quente dele me fazia ferver. E os olhos... Ele me encarava tão seriamente com aqueles profundos olhos âmbar que fiquei sem ar.
— Cê não quer morder, Ji? — sussurrou de uma forma muito convidativa. Ajeitou-me no colo e senti seu volume me roçar. Queimei mais uma vez, as bochechas já coradas de tesão. — Eu quero...
Com a cabeça nublada de fome e excitação, não titubeei mais. Deixei meus dedos agarrarem os fios longos e macios antes de afundar meu rosto em seu pescoço. O cheiro era sensacional, algo como sândalo; dourado, almiscarado e doce ao mesmo tempo. Tudo nele fazia minha gengiva formigar enquanto os caninos cresciam.
Mordi, e Jungkook verteu abundantemente pra mim junto a um gemido rouco que me desestabilizou por completo. O cheiro férrico de seu sangue misturado ao perfume natural de sua pele pareceu alimentar ainda mais o meu furor de sangue, e minha consciência foi embora enquanto eu banhava meus lábios com o líquido quente, sorvia parte de sua energia vital.
Foi intenso demais pra um vampirinho cheio de hormônios como eu.
Supri minha sede com tamanho desespero que só fui notar que também tinha ficado duro quando já tava saciado. Sentado, ofegante, no colo de Jungkook com seu olhar âmbar e nublado. Ele limpou meus lábios com o polegar como da outra vez. Contudo, naquele instante, nasceu em mim a coragem de chupar o resquício de sangue de seu dedo, o encarando nos olhos. Tanto eu quanto Jungkook arfamos.
Ele usou o mesmo polegar pra acariciar meus lábios com cuidado, os observando com tanta concentração que perdi o ar. Sua outra mão subiu até minha bunda, por dentro do shorts de pijama, e a agarrou. Saber que só minha cueca separava o contato direto me deixava sem rumo.
— Eu sabia, Ji... — sussurrou, ainda acariciando minha boca devagarinho, o olhar fixo. Eu entendia, também não conseguia parar de olhar seus lábios tão bem desenhados, tão perto dos meus, pronunciarem cada palavra.
Nenhum de nós aguentou mais um segundo, e nossos lábios se encontraram como que por instinto. Não sabia Jungkook, mas aquele era meu primeiro beijo e a lembrança da minha inexperiência me deixou nervoso. A preocupação, porém, foi rapidamente sobrepujada pelo prazer de sentir a boca habilidosa dele capturar a minha. Enfim o tesão me ajudou, porque deixou que eu me entregasse aos lábios afoitos do Jungkook.
Separamos, respirando pesado apesar do beijo não ter sido de tirar o fôlego; toda a situação nos desestabilizava naturalmente. Ele inclinou o rosto pra beijar meu pescoço, e minha espinha toda se arrepiou ao sentir seu hálito, o toque úmido de sua boca ali. Ele logo voltou ao meu rosto.
— Eu sabia, Ji... — repetiu, em um tom de voz pastoso e sensual. — Toda vez o teu cheiro ficava tão... Hm... Eu ficava quase tonto de tanto feromônio, Ji. Eu só fingia que não sabia porque cê escondia tanto... Achei que fosse só um impulso e cê não desejasse ou quisesse mesmo algo comigo.
— Caralho... — foi a única coisa que consegui dizer antes de ser puxado pra um novo beijo, desajeitado. Mesmo assim, era tão terrivelmente gostoso que eu não tinha ressalva nenhuma a fazer, ainda mais com o corpo de Jungkook tão colado ao meu, tão quente e delicioso.
— Você quer, Ji? Fazer essas coisas comigo? — propôs contra minha orelha quando afastou o beijo. Eu queria gritar "sim" com todas as forças, apesar de tudo acontecer tão rápido que me confundia. Jungkook descer de novo seus lábios pro meu pescoço não ajudou. — Acho que funciona... Eu aguento tua força, e você aguenta a minha...
Tentei raciocinar entre os arfares e os toques tão gostosos de Jungkook na minha pele. Fazia sentido. Nossa força era sobre-humana e, mesmo Jungkook tendo um controle de sua força muito melhor do que o meu, sexo parecia arriscado... Sexo parecia tão... sem controle.
— Você já fez com alguém? — perguntei. Jungkook contra mim era tão gostoso que, por um momento, acreditei que era experiente e lembrei dos nossos dois meses separados. Muita coisa poderia ter acontecido ali. Jungkook tinha curiosidade, não tinha? Mas seria difícil pra mim dizer, inexperiente demais pra saber se era habilidade dele mesmo ou apenas encantamento virgem meu. Ele se ajeitou pra me fitar cara a cara.
— Não. E tu?
— Óbvio que não...
Ele levantou uma sobrancelha.
— Por que óbvio? — questionou. Suas mãos, travessas até então, repousaram na minha cintura, a acariciando.
— Ah... Porque sim, né...? Superforça descontrolada, ser socialmente estranho, ter uma aparência sombria... Quem iria me querer?
— Eu quero — disse, sério. Seus olhos pareciam queimar. Foi tão sério que fiquei doido pra fugir pra outro continente.
— Sim... Porque é uma garantia que você não vai machucar a pessoa com quem você vai transar. É conveniente.
— O caralho! Eu só falei aquilo pra tentar te convencer também, Ji.
— Mas é conveniente, não é? — perguntei, meio temeroso.
— É, mas não adianta ser conveniente se cê não me deixasse doido também... — Ele pausou por um momento pra sentir meu cheiro, suspirando satisfeito. — Cê se coloca muito pra baixo, Ji... Tua personalidade pode ser estranha pros outros, mas eu amo ela demais! Tua aparência é maravilhosa também, não aguento tua beleza, sério. O motivo da superforça eu até entendo, mas as outras coisas... Não são nada óbvias.
— Não precisa cuidar da minha autoestima, Kook... — reclamei, um tanto desconfortável ao ter aquilo ser apontado com tanta facilidade. Virei o rosto.
— Uhum... — respondeu, pouco convencido, mas me ajeitou no seu colo e nós dois arfamos fraquinho com a fricção entre sua ereção e minha bunda. — Se não acredita nas minhas palavras, cê podia pelo menos acreditar no meu pau.
Minhas bochechas coraram ainda mais, e ele deu um sorriso sacana ao observar. A diferença era óbvia... Eu era uma porta, confuso pra porra, e Jungkook encarava nós dois juntos com uma naturalidade bizarra, como se não tivesse nada a temer.
Ele levou a mão até meus cabelos e me deu um cafuné. Quase derreti. Ele continuou me olhando com cuidado e certa calma, mesmo que as bochechas ainda coradas indicassem a nossa euforia de antes.
— Quer continuar? — perguntou, baixinho.
— Não sei... — respondi, com sinceridade. Eu ainda tava confuso, e muito. Conseguia entender, racionalmente, que Jungkook também sentia atração sexual por mim, mas... Estranho, muito estranho. Por Belzebu, por que era tudo tão estranho? Por que eu não sabia responder?
Assim que ouviu minha resposta, Jungkook segurou minha cintura com mais firmeza e me tirou de cima dele. Comecei a arregalar os olhos de desespero, achando ter estragado tudo de novo. Pelo visto, eu era um livro aberto, porque Jungkook logo notou meu desespero e passou o braço pelos meus ombros.
— Calma, Ji... Não tô chateado, nem nada, mas se cê não tem certeza, é melhor não fazer nada, né? Não quero que cê fique arrependido depois.
— Ah... — Eu me sentia bobo. E Jungkook era muito maneiro.
— Cê sabe dizer por que não sabe? — perguntou ele depois de um tempo em silêncio.
— Não sei se é certo...
— E por que seria errado?
— Também não sei...
— Tudo bem então.
Mais uma vez silêncio se fez presente enquanto a gente pensava. Eu não tinha a mínima noção do que me dava tanto receio. Parecia tudo certo... Seria um esquema funcional, assim como o de beber sangue. Mesmo assim, eu morria de medo.
— Podemos só... tentar voltar a como era antes? — sugeri.
— Fingir que a gente não sente tesão um no outro? — Ele ergueu a sobrancelha. — Parece difícil, Ji.
— Não podemos tentar? — pedi, quase engolindo minha própria voz.
— Podemos, mas, sendo sincero, não faço a mínima questão de colaborar! Não vou esconder mais meus desejos, então cê que vai ter que colocar limites em mim.
Ele tava resoluto e me encarava com aquele ar de quem não ia mudar de opinião tão fácil, até cruzou os braços. Mordi os lábios e arrisquei perguntar:
— E se eu não colocar?
— Cê já sabe, Ji...
Seu olhar sobre mim queimava e dizia muito. Ele aproximou seu rosto do meu vagarosamente, testando minha reação e buscando o limite que eu ia impor. E eu?
Não impus nenhum.
Seus lábios tavam prestes a tocar os meus quando ele soltou um risinho e deixou um beijo na minha bochecha no lugar. Eu devo ter feito uma expressão de um completo pateta, porque, ao se afastar, ele gargalhou.
— Vou colaborar só hoje, que é teu aniversário. Não se acostume — disse antes de se transformar em lobo.
Bem, descobri que Jungkook notava que eu era capaz de agir como gente com sua forma de lobo. Precisei ajudá-lo a tirar a roupa que usava antes, incapaz de fazê-lo com as patas sem destroçar de vez o tecido. Achei até respeitoso da parte dele não ter tirado a roupa antes da transformação.
Imponente como sempre era, coberto por sua lustrosa pelagem negra, Jungkook-lobo vasculhou meu quarto com o focinho. Logo encontrou na minha mesa de cabeceira um livro e o pegou com cuidado entre os dentes antes de deixá-lo cair no meu colo.
Subiu na minha cama e se acomodou lá, deixando um espaço pra mim. Balançou o rabo algumas vezes, deixando claro o que queria. Peguei o livro e guardei minha nova espada, todo zeloso, antes de deitar ao seu lado.
— Muito obrigado pelo presente, Kook... E por lembrar do meu aniversário. — Acariciei sua cabeçorra antes de deixar um beijo nela; ele semicerrou os olhos amarelos de prazer. — Fiquei tão feliz que quase chorei...
Recebi uma lambida na bochecha e parei pra pensar no beijo que tinha recebido dele no mesmo lugar, algo raro. Jungkook, apesar de muito carinhoso fisicamente, não me beijava ou ultrapassava os abraços quando tava na forma humana, mas era bem mais próximo na animal.
Era eu quem causava aquela distância.
Então... se eu conseguisse agir de um jeito normal com sua forma humana também, seríamos próximos... Eu não sabia o que fazer com aquela informação, apesar de certa forma gostar dela. Suspirei.
Deitei na cama e ele se ajeitou, pousando a cabeça nos meus pés e deixando o rabo ao meu alcance, por motivos óbvios. Cocei sua bunda, do jeitinho que ele gostava, e o vi semicerrar os olhos de novo. Felizmente, minha ereção aliviava, e eu esperava que minhas bolas não doessem muito. Nem as de Jungkook.
— Você quer que eu leia meu livro?
Ele concordou com a cabeça antes de voltar a aquecer meus pés com ela.
Aceitei a proposta. E, pela primeira vez, consegui aproveitar de verdade as palavras impressas que pareceram tão frias e distantes durante aqueles dois meses; a cabeça distante e preocupada demais pra que eu pudesse viajar na leitura. Soltei um suspiro satisfeito.
Já mais à vontade em ter os pelos negros de Jungkook me aquecendo, eu me ajeitei na cama pra ficar mais próximo dele, apoiando o livro perto de seu rabo de forma a conseguir lhe oferecer um carinho enquanto lia. Ele também se acomodou melhor contra mim e lambeu a sola do meu pé pra demonstrar sua satisfação, o que me fez cócegas.
Jungkook era tão quentinho que me senti acolhido. E também sentia certa clareza de mente depois do apoio dele, mas talvez fosse só porque eu enfim tinha tomado sangue em quantidade suficiente.
Enfim, independentemente de toda a confusão, eu tava certo sobre uma coisa: recebi presentes de aniversário legais pra caralho.
»»🐺««
Vampiro triste com confusão agora. Mas pelo menos a torta de climão passou, olha só!
Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜
Qual é seu detalhe favorito do capítulo? Eu me desmancho toda com o Jungkook dando a espada de kendo pro Jiminzinho, sério 😭😭😭😭😭😭😭😭😭 preciosos demais, amo que amo!
Beijinhos de luz, amo vocês, e até dia 20/05 às 19:00!
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