🧛Capítulo 18
Oi, oi, oi, tesudinheeeeeeeees!!
Oi, bebêsssss, como passaram a semana? Aqui foi uma semana boa até, apesar de ainda ter trabalhado mto kkkkkkkkrying
Vem mais desventuras do nosso Jimico no colégio por aí!!! Já é o penúltimo capítulo, help. Eles cresceram tão rápido 😭 (agora que parei pra pensar, notei que nem divulguei a fic direito, coitada kkkkkkkkkkkk mas foi tudo tão corrido!)
Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!
#VampiroTristeComT
»🐺«
O barulho de canudo sugando final de copo me despertou de meus pensamentos profundos: a morte da bezerra. Ao olhar pro lado, encontrei Yoongi fulminando o copo de sangue vazio, ainda com o canudo de aço entre os lábios.
— Já?! — questionei. Minha garrafa tava com mais da metade do conteúdo inicial.
— A sede me consumiu de forma voraz.
Ele deu de ombros e voltou a sugar o ar.
Dois anos antes, eu teria achado sua frase dramática demais. Ou melhor, eu continuava achando, mas já tinha aceitado que aquele era o jeito dele de falar. O jeito dele de agir também era, no mínimo... curioso. Mas enfim, quem era eu pra julgar o comportamento alheio sendo descompensado também?
Pensei que Yoongi iria embora, mas ele continuou ao meu lado. Então, voltamos à nossa tarefa inicial: observar os vampiros esportivos.
Como uma boa instituição criada por um vampiro, o Instituto Valahia Voievoda era equipado com quantidades cavalares de sangue. Os boatos eram que o titio Drácula também tinha fundado um hospital que atendia aos enfermos em troca de uma pequena quantidade de sangue quando se recuperavam (doação de sangue pra "outros pacientes", claro), além do próprio instituto recolher sangue de algumas espécies metidas a chafariz, como os lobisomens e as hidras.
Enfim, aquela era a parte básica. O problema (ou nossa felicidade) era: além de oferecer sangue em copos ou garrafas, a sala de alimentação também disponibilizava uns manequins, só de busto, com um reservatório de sangue no pescoço. Eram feitos pra suprir a vontade de alguns vampiros de "caçar", supostamente, porque dizer que aquilo era caça... Enfim, o importante era que nos divertia.
Eu e Yoongi engolimos um riso assistindo a um veterano alto e mal encarado atacar um busto inocente. Porra, nem sei como ele convencia os dentes a crescerem, os meus broxariam. Alguns segundos depois, ele se lambuzava todinho de sangue e estrelava um show de rosnados. Se eu não soubesse ser impossível com sangue inerte, diria que ele tava em furor.
— A única forma que vejo de enquadrar esse comportamento, é em fetichismo descomedido — Yoongi comentou, talvez pela milésima vez.
Murmurei em concordância. Não fazia sentido nenhum aquilo ser prazeroso, beber em uma garrafa era bem mais prático.
Nossa diversão foi interrompida pelo badalar do relógio central do Valahia. Eu sempre me espantava com sua capacidade sonora. Ele copiava o estilo do relógio astronômico de Praga (cujo projeto um astrônomo safado tinha roubado do pobre monstro do rio Moldava, antes reconhecido entusiasta por engenhocas de coração puro e, depois do ocorrido, comedor voraz de humanos, especialmente astrônomos) que não tinha sino nenhum, nem cuco, nem nenhum mecanismo pra fazer barulho; mas alguém fez a pegadinha de botá-lo pra badalar ao longo dos anos e, no final, tinha se tornado super útil.
— Você não está inscrito na maldita competição Interespécies? — Yoongi chamou atenção.
— Sim! — Pausei pra terminar de tomar meu sangue. — Daqui a pouco é a final: vampiros contra gárgulas.
— Pensei que os favoritos desse ano fossem os sacis.
— Eram... — Empanturrado de sangue, me levantei e rumei pra floresta nos fundos do instituto. Yoongi me seguiu. — Mas a última rodada foi a céu aberto e tá frio, imagino que pedras sejam mais resistentes a baixas temperaturas do que seres de floresta tropical.
— De fato, eles se vestem só com um short curto...
— Nesse sentido, as gárgulas tão peladas.
Yoongi deu de ombros, porque nunca concordava com alguém de forma verbal. Caminhamos pelos corredores de pedra cinza, de ar abafado pelo sistema de aquecimento esquisito. Mais alguns passos e senti o olhar do meu companheiro de quarto queimar a nuca.
— Que foi?! — perguntei ao me virar pra ele.
Yoongi tava com a expressão imutável.
— Apenas comparando seu comportamento agora com o de quando você acabara de chegar. Eu nunca vira um vampiro se debulhar em lágrimas como você.
Durante e após aquela fala, Yoongi continuou e continuava com a mesma expressão e o mesmo tom de voz. Mas porra, meu peito aqueceu e avancei alguns passos até ele, o capturando em um abraço. Ele fez menção de tentar fugir, mas não se esforçou de verdade.
O meu primeiro dia como criatura noturna no Valahia tinha sido meio bosta e meio bom. Eu não tinha conseguido pregar o olho de tanto pensar no Jungkook, e Yoongi me arrancou da cama com uma única mão e nenhuma palavra. Ele tinha me levado pra beber sangue, pra rir de vampiros esportivos e até pra gigantesca biblioteca que parecia ser um de seus lugares favoritos (eu tive a impressão de que seria meu lugar favorito também, e era). Ele tinha me explicado como funcionavam as competições, quais eram as outras modalidades de atividades por lá, as matérias, percursos acadêmicos e missões diversas (dava pra fazer parte de uma turma filantrópica, de uma de pacificação com humanos e um monte de outras coisas). E eu? Eu tinha chorado que nem um desgraçado.
— É que eu nem sei por onde começar. — Era o que eu tinha justificado no dia. A real era que eu nem sabia direito todos os motivos do meu choro, apesar daquele ser um. Eu tava triste pra cacete, mas também aliviado.
Aquela tinha sido uma das únicas vezes em que Min Yoongi mudou a expressão: ele me olhou com uma mistura de confusão e desgosto.
— Você é um vampiro — ele tinha falado, ríspido. — Você pode começar de qualquer forma. E pode começar de outra depois. Nós literalmente somos amaldiçoados com uma vida milenar.
E era verdade. Eu era um vampiro. E, naquela noite, eu tinha me sentido abençoado por uma vida milenar. Por Belzebu! Nascer um vampiro nunca tinha me soado mais glorioso.
Tudo tinha mudado depois do comentário do Yoongi. Como se eu fosse uma nova criatura.
Eu acordava mais cedo do que Yoongi pra participar um pouco da vida diurna do Valahia Voievoda, sempre guiado pelo estranhamente-sempre-disposto Kim Taehyung. Apesar de simpatizar com os dias, meu lugar de fato era o ambiente noturno. Eu tinha ficado amigo do Datu (o bungisngis bibliotecário simpaticíssimo) e conquistado as melhores recomendações de livros entre os milhões nas prateleiras. Era tanta coisa. E Wooshik tinha me falado a verdade: muito aquém qualquer esforço da literatura humana. Até as cópias dos livros queimados na Biblioteca de Alexandria tavam lá! (Como alguém do futuro que sabia do incêndio, meu sonho era que os exemplares fossem os originais, pra que eles tivessem sido salvos; mas, ao contrário da Inglaterra, o mundo sobrenatural não era muito de surrupiar a cultura dos outros sem mais nem menos. Datu me deu um sermão dizendo que aquele meu desejo perigava virar um paternalismo branco daqueles que tiram autonomia e riquezas de povos originários sob o discurso de "cuidar". Eu concordei. Mas aí comecei a perceber que, na verdade, havia um paternalismo sobrenatural bem normalizado entre nós. A gente não confiava nos humanos pra cuidar da própria história e não destruir tudo por causa de terras ou dinheiro, mas aquele paternalismo provavelmente não era tão fácil de cercear. Enfim. Biblioteca incrível.)
Mas, sim, apesar de eu sempre ter sido um grande entusiasta de livros e continuar sendo, a coisa mais incrível pra mim eram os esportes, jogos e brincadeiras — do mundo inteiro, sem a fixação por um ocidentalismo supérfluo e homogenizador, nem uma romantização da vida adulta sem o lúdico —, qualquer competição que organizavam, eu tava dentro. Por aquele exato motivo, eu chegava a uma floresta enevoada e de pinheiros negros com Yoongi ao lado.
— Ji! — A voz grossa de Taehyung se fez ouvir. Ele corria, vindo de lugar algum. — Vai me dar um autógrafo quando ganhar? Eu quero na bunda! As gárgulas são umas frouxas, massacra elas!
Assim que disse aquilo, voltou a correr em outra direção. Por um segundo não entendi, mas então vi uma gárgula obscena tentando acertá-lo com... bem, com coisas não muito agradáveis, apesar daquele tipo de gárgula sempre mostrá-las.
Aliás, uma coisa que percebi durante aquele tempo de Valahia: ninguém "não ligava" pra Taehyung. Ou ele era amado, ou odiado. Um semideus intenso, pra dizer o mínimo.
O deixei sofrer as consequências dos próprios atos e palavras, caminhando até onde parecia a largada da prova final. Já havia alguns alunos amontoados ao redor pra assistir, mas não tantos; a prova demoraria um pouco pra começar (os organizadores daquele ano eram os aigamuxa e, apesar de muito bons em correr atrás de humanos, eram muito desorganizados com a papelada).
Observei os aparatos distribuídos pela floresta; poucos, uma linha de chegada e algumas grades pra contenção de trolls (historicamente, alguns deles conseguiam se enfiar no meio da prova, ser atropelados e reverter o placar. Os trolls se recuperavam bem rápido do atropelamento, mas os organizadores sempre tinham que fazer mais uma rodada de tanto que os competidores prejudicados reclamavam. E, se refaziam a rodada, o time que supostamente tinha ganhado antes montava uma vingança contra. Um caos. Organizadores sempre detestavam trolls).
Parecia ser uma simples corrida. Se fosse, meu time ficaria em vantagem. Na verdade, meu sonho era que fosse algo bem simples mesmo, pois qualquer jogo com regras minimamente mais complexas e execução menos bruta (como o matacuzana nas quartas de finais) poderia nos levar à derrocada. Apesar de muito poderosos, vampiros eram igualmente desinteressados. Tão desinteressados que eu era o único que tinha chegado, sendo que as gárgulas tavam até com líderes de torcida (era engraçado vê-las vestidas com pedaços de tecido que claramente ninguém fez questão de deixar bem ornado).
Passei mais alguns minutos aguardando, matando conversa com Yoongi e tentando convencê-lo a participar. Um dos organizadores aigamuxa veio pegar meu nome pra lista de presença; e a torcida das gárgulas arranjou um coro jocoso pra entoar ao time adversário (nosso).
A chuva cai, a rua inunda! Ô vampirinho vou rancar seu couro!
— Vou procurar os outros — Yoongi disse com uma carranca. — Aposto que esses energúmenos estão se prostituindo com os bustos de sangue.
Ele sumiu rápido. Quando queria, até que mostrava sua agilidade, e me senti muito honrado dele ir atrás dos outros vampiros por mim. Yoongi não era muito de palavras fora as de observação do corriqueiro, mas definitivamente tinha seu jeito de mostrar carinho.
— Cadê o Yoon? — exclamou Taehyung, surgindo de trás de mim. Pelo arranhão novo na testa, a gárgula tinha levado a melhor.
— Foi caçar a galera do meu time.
— Véi, vampiros... — Rolou os olhos dramaticamente. — Falei que você é simpático e interessado demais pra ser dessa espécie, não falei?!
— Bem, considere um lado positivo de ter vivido como humano por um tempo.
— Ah, então era isso que você fazia antes de vir para cá? Pensei que era aluno transferido de algum outro instituto sobrenatural. Doideira.
— Ah, é.
Só então notei que nunca havia tocado no meu passado com meus amigos. Nem eles nos próprios. Talvez fosse o jeito de seres sobrenaturais lidarem com traumas: fingindo que não existiam.
— Mas então tirando seus pais, você só falava com humanos antes?! — Taehyung continuou, curioso. Enfim, quem tinha dado brecha era eu.
— Não...
Queria dizer que não, eu não falava só com humanos: conversava com um lobisomem, com o Jungkook. E também não: não conseguia falar com os humanos; era deslocado, por isso tinha vindo ao Valahia.
Era engraçado, meu passado sempre tinha sido um tabu. Mas depois de todo aquele tempo (e muitas sessões de vampsicoterapia) parecia até bobo e fácil comentar, tão bobo que estranhei ter dado aquela travada. Talvez porque nunca tinha chegado a ocasião de falar antes. Quando abri a boca pra responder, Seokjin (filho de Afrodite e amigo com benefícios de Taehyung) apareceu e empurrou o passado da ponta da minha língua pro fundo da garganta de novo. Fiquei meio decepcionado.
Do nada, eu queria contar.
Mas eu teria tempo praquilo também. Eu sempre tinha muito tempo.
— Onde você arranjou esse machucado? — ralhou o semideus de rosto esculpido e cabelo sempre sedoso (nunca vi um fio fora do lugar). Taehyung sorriu. — Não me diz que você roubou a cruz do Cinocéfalo de novo! Kim Taehyung, quer morrer?
— Ai, ai, ai! — gemeu o filho de Apolo, fazendo uma careta e apoiando a mão próxima ao machucado. — Dói tanto! Preciso de um beijinho pra sarar!
— Vai tomar no cu.
— Você não ouviu a profecia?! Só o beijo de um filho de Afrodite para me sarar!
— Vai procurar outro.
Eles continuaram com o flerte revoltado, mas parei de prestar atenção por me sentir um candelabro. Esperei mais um pouco e avistei, ao longe, Yoongi puxando quatro outros vampiros pelo colarinho das capas dramáticas. Ah, sim. A maioria dos vampiros usavam capas longas e pretas por cima de um conjunto esquisito de blusa, calça e colete sociais, tudo preto. Era a coisa mais engraçada e ridícula do mundo. Yoongi e eu nos destoávamos — Yoongi só usava moletom, e eu calças de brim e qualquer camisa —, apesar de também só usarmos coisas pretas. Eu ainda não tinha achado uma explicação razoável pra predileção absoluta de vampiros por preto e música emo.
Assim que Yoongi os empurrou na minha direção, um dos aigamuxas da organização pegou as assinaturas deles na lista de presença e nos encaminhou pro ponto de partida, onde receberíamos instruções. Ninguém parecia tar feliz de tar ali, o que eu esperava ser um bom sinal no caso de uma corrida (meteriam o pé rápido), apesar de tar de saco cheio das reclamações deles. Mas também não falei nada, nem me atrevia. Eram poucos os que animavam participar dos jogos Interespécies, uma das minhas maiores paixões, então eu precisava cuidar com carinho dos raros que topavam.
— Sejam bem vindos à final do campeonato semestral Interespécies!! — gritou um aigamuxa que se diferenciava dos outros por usar calças amarelas vibrantes.
Seu grito não parecia de animação, e sim um assustador, fino e esganiçado, que usaria pra perseguir pessoas. Velhos hábitos, supunha eu. Ele apoiou as mãos no chão e se equilibrou nelas pra estender um pé na direção de cada time, e o olho incrustado na sola se abriu, nos olhando de baixo a cima. As gárgulas e sua torcida fizeram festa, enquanto o lado dos vampiros continuou no mais profundo silêncio.
— Meu nome é Atshumao e serei o juiz desta partida! — continuou o aigamuxa de calça amarela. — A prova final é simples, mas não tanto: uma corrida de revezamento. Porém, antes de poderem passar o bastão pro próximo integrante do seu time correr, vocês devem encontrar um objeto.
"O percurso da corrida é ao redor da floresta e deve ser feito no mínimo pela sua totalidade. O objeto estará dentro da floresta. A estratégia é de vocês; se quiserem procurar o objeto primeiro e depois correr, ou ir até o meio do caminho, achar o objeto, e depois voltar... A regra é apenas ter o objeto e ter feito o percurso inteiro antes de passar pro próximo do revezamento. Entendido?"
Eu tiraria dúvidas, mas a torcida das gárgulas já tava cantando:
E o objeto? E o objeto?
— Os objetos são... minerais preciosos que roubamos do Alicanto! Cada uma das gárgulas deve achar uma pepita de prata, e cada um dos vampiros, uma pepita de ouro.
Uma enorme ave resplandecente, de asas douradas e corpo prateado, nos sobrevoou com ódio, piando alto e mostrando as garras. Atshumao agachou (os braços? As mãos?) sem pressa, como se tivesse acostumado com a situação. O Alicanto não tava nada alegre com o furto de seus metais (na verdade, o fato dele tar voando, e não pesado com o tanto de metais preciosos depois de comê-los, mostrava que o furto tinha sido até maior do que aquelas dez pepitas; os olhos, bicos e garras também não pareciam tar tão cobertos de metal).
Forças, Alicanto.
— Essas são as únicas regras? — perguntei.
— Sim — Atshumao afirmou.
Findadas as regras, as gárgulas viviam sua melhor vida, cantando alto e fazendo um espetáculo de líder de torcida, com direito a saltos altos demais pra criaturas feitas de pedra (elas deveriam aprender que a argamassa que usavam pra colar os membros desconjuntados era mais frágil que a rocha original, mas eu nunca tinha conhecido sequer uma gárgula com senso de preservação). Olhei pros meus quatro companheiros vampiros; eles continuavam parecendo muito desinteressados.
— Entenderam as regras? — perguntei.
— Nem tem tanta coisa para se entender, não nos compare com essas criaturas rudimentares — respondeu o mais almofadinha de todos, cujo colarinho alto da capa tinha seu nome bordado com rubis, uma breguice só. O tio dele era da Cúpula dos Hematomaníacos e, por causa daquilo, ele se achava muito importante.
— Certo... — Eu me aproximei dele e murmurei ao seu ouvido: — Se você não fizer a volta completa, nem achar o objeto, eu espalho pra todo mundo o que você faz nas primeiras luzes do dia.
Ele pareceu abalado, apesar dos outros três vampiros continuarem desinteressados, mesmo sendo capazes de ouvir os sussurros. O almofadinha-do-rubi não soltou mais um pio, então fiquei confiante que minha ameaça tinha sido efetiva. Não era muito meu estilo, mas funcionar era o importante. Tava claro que eu levava a competição Interespécies bem a sério.
— Alguém mais tem dúvidas sobre a prova? — insisti, e não recebi nenhuma reação de volta. — Entendo que ganhar não traz glória nenhuma pra vocês, mas vocês querem mesmo tar marcados na história da Valahia Voievoda como vampiros que perderam praquelas gárgulas ali? Usando calcinha fio dental?
Eles levantaram o olhar pros oponentes barulhentos e torceram o nariz. Suspirei de alívio. Nada mais motivador prum vampiro noviço do que seu orgulho; ainda mais com a cereja do bolo: roupas que pouco cobriam. Não sei explicar, mas vampiros (que não eram da minha família) tinham profunda aversão a mostrar a pele, mesmo de noite, como se vivessem uma eterna fase emo. A calcinha fio dental (até que charmosinha nas gárgulas, eu tinha que dar o braço a torcer) era um grande ultraje.
Inclusive, o que o almofadinha fazia nas primeiras luzes do dia era exatamente aquilo: desfilava de sunga na frente do espelho do clube de reuniões dos vampiros, em geral vazio naquele horário porque ficava de cara pro Sol. (Aliás, a sunga também tinha seu nome bordado com rubis, bem na bunda. Vira e mexe eu ficava pensando em como ele teve a coragem de pedir pra alguém costurar; e como a pessoa lidou com tal pedido). Ainda me arrependo de ter feito Yoongi continuar acordado aquele dia com a promessa de que era muito bonito ver o nascer do sol privilegiado do clube.
Ele odiou, tanto o Sol, quanto o almofadinha de sunga.
De repente, todos os vampiros tavam motivados o suficiente pra se amontoarem na linha de partida e chegada (languidamente demarcada com um graveto). Como eu era o mais motivado de todos, fiquei como o último do revezamento pra dar o gás final.
A torcida das gárgulas ficava cada vez mais alta enquanto o início da partida se aproximava. Yoongi gritou um "cale-as, eu suplico!", e Taehyung lançou um "mostra pra essas froux..." até ser interrompido por Seokjin, que não parecia muito feliz com a ideia de ajudá-lo com o machucado mais uma vez ou com o risco de levar uma "bala perdida" de uma gárgula obscena.
Atshumao se empertigou nos braços perto da chegada e, do nada, a luz cinzenta do Sol foi bloqueada. Olhei pra cima e encontrei Ziz sobrevoando a floresta com suas asas gigantes. Pelo visto, ela tinha sido convidada como árbitra, o que fazia muito sentido pro desafio, mas era inesperado porque não costumava se envolver com atividades frugais como o torneio Interespécies. Ela preferia reformular as disciplinas e criar novos cursos, era uma grande nerd.
— É, um, é dois! — gritou Atshumao do jeito assustador dele. — Nem precisa do três! Corram!
As gárgulas pareciam na vantagem no começo, porque começaram a correr primeiro, mas foi porque decidiram completar a volta como primeiro passo. Por outro lado, o primeiro do meu time de vampiros entediados entrou direto na floresta, provavelmente à procura da pepita de ouro. Eu não fazia a mínima ideia de qual estratégia seria melhor.
As vencedoras da primeira rodada do revezamento foram as gárgulas. Depois de uns quarenta minutos, a primeira chegou muito satisfeita voando com dificuldade (as asinhas eram pequenas demais em comparação ao corpo enorme), pepita de prata em garras. Assim que atravessou a linha de chegada, foi atacada pelo Alicanto, que fez questão de comer de uma vez a pepita e um pedaço do focinho dela. Nenhum dos aigamuxas a desclassificou, as tarefas tinham sido concluídas.
O primeiro do nosso time chegou uns quinze minutos depois, parecendo contrariado. Ao afanar o ataque do Alicanto com a mão e resmungar com o próximo da fila, eu percebi que deveríamos ter estratégia se quiséssemos compensar as gárgulas. Saí do fim da fila e me postei como o próximo a fazer o percurso. Atshumao não ligou.
— Confiem — eu disse pro resto dos vampiros antes de me embrenhar na floresta. Eles nem ligaram, o que era uma pena porque tinha sido bonito e dramático, mas enfim. Claro que Yoongi conseguia ouvir àquela distância e nutri esperanças de que tivesse dado alguma bola, mesmo que mínima, pra minha palavra.
As árvores da floresta tinham troncos finos, mas eram muito próximas uma à outra e muito altas, deixando o espaço todo escuro. Não que fosse um problema, claro. Privilégios de vampiro.
Acostumado com o local por sempre usá-lo pra caminhadas diurnas (meu estilo de vida no Valahia era quase o mesmo de uma blogueira fitness do mundo humano), comecei a varrer o perímetro, buscando rastros de brilho. Nos primeiros metros, achei um, mas era de prata. Eu o peguei mesmo assim. Eu não tinha intenções de ser filho da puta a ponto de pegar todas as pepitas de prata pra mim. Mas que eu as colocaria em lugares mais difíceis... Ah, sim, eu ia. Um pouco filho da puta, mas não completamente.
Continuei correndo, a uma velocidade moderada que me permitia ser mais atento aos detalhes. Naquele trecho de floresta, não encontrei mais nada, então passei pra próxima seção. Lá, encontrei uma das pepitas de ouro.
O resto do meu passeio pela floresta não foi muito diferente. Teve uma hora que esbarrei na segunda gárgula (uma obscena, inclusive), que já tinha achado sua pepita de prata e aproveitou cedo demais o sabor da vitória, apontando a bunda (em que um cano saía do lugar que deveria ser o cu) pra minha cara. Pessoalmente, só me motivou a esconder ainda melhor as outras pepitas de prata.
Queria narrar algo emocionante, como o fato de que cheguei ao fim da floresta, mas não tinha encontrado uma das pepitas; abandonada em um local bem misterioso e de difícil acesso, mas deu tudo surpreendentemente certo. Ao final da floresta, eu tava com quatro pepitas douradas e três prateadas em mãos. Mais fácil que tirar doce de liliputiano.
Aproveitei o fato de que a segunda gárgula já tinha se afastado bastante e enterrei as pepitas de prata bem fundo na terra, em lugares completamente distintos e fora de rota. Próximo à linha de partida, guardei as pepitas de ouro dos próximos três vampiros no tronco de uma árvore.
Quando voltei pra linha de partida a fim de dar a volta completa na floresta sem nenhum impedimento, fui vaiado pela torcida das gárgulas. Dava pra ver que a terceira participante delas já tinha começado a prova dela, já que a gárgula obscena de antes tava sendo atacada pelo bico já mais reforçado de prata do alicanto. Um sorriso tomou meus lábios enquanto eu começava a correr.
Eu amava o sabor da vitória, mesmo que ainda só fosse a possibilidade dela. Na verdade, meu dia a dia de Valahia Voievoda tinha me ensinado que eu era extremamente competitivo.
E, mais que ganhar, eu amava competir como um vampiro. Meus pés podiam afundar na terra fofa com toda a força. E eu, correr o tanto que eu quisesse. Na velocidade que eu quisesse. Em menos de cinco minutos, eu tinha contornado todos os 6 km do perímetro da floresta. Perto da linha de chegada, mostrei a pepita em minhas mãos pros aigamuxas, e caminhei até o almofadinha da sunga pra sussurrar o local das pepitas pra ele.
Muito motivado a não ter o amor por pele exposta descoberto, ele zuniu pra dentro da floresta. Enquanto isso, segredei pro resto da fila a nossa estratégia pra vitória.
A cada sete minutos, mais ou menos, um dos meus companheiros de time chegava com pepitas em mãos e trajetos corridos. Sempre carregando a típica cara de cu, mas um sorriso seria pedir demais.
Concluímos o revezamento antes mesmo da terceira gárgula achar a pepita de prata (o pensamento delas perdidas, passando por cima da pepita afundada na terra, me alegrava). Como nós, vampiros, não tínhamos torcida; recebemos uma chuva de vaias das gárgulas assim que Atshumao nos declarou campeões do Interespécies.
Os outros quatro caras do meu time foram embora no mesmo segundo, mantendo o nariz em pé e a pose de desinteressados apesar de terem corrido igualzinho o Naruto. Yoongi, Taehyung e Seokjin se aproximaram de mim (desviando das pedras jogadas pelas gárgulas).
— Meu vampirinho campeão! — Taehyung me abraçou forte. Apesar da voz carregar um quê de deboche, eu sabia que a parabenização era sincera. — Sabia que esse campeonato era seu, Ji! Parabéns!
O semideus me pegou nos braços como uma princesa e quase me matou do coração no processo. Começou a me jogar pra cima, muito dedicado ao papel de meu líder de torcida pessoal (e de causador de infartos pessoal). Continuou me jogando, mesmo entre meus resmungos e gritinhos pouco másculos, até o pequeno pódio improvisado com três largas rochas cinzentas alinhadas por um yeti da organização do Interespécies passado.
Quando desci dos braços de Taehyung e escalei a pedra central, mais alta e primeiro lugar do torneio, um formigamento quente e gostoso tomou meu peito. Me desviei de mais pedradas das gárgulas vaiadoras (inclusive das de uma obscena que subiu na pedra do segundo lugar) até os aigamuxas chegarem com as medalhas.
— Ordem! — Atshumao gritou, irritado. Mesmo não sendo o epicentro da bagunça, também dei um jeito de ficar mais caladinho do que já tava depois de ser encarado pelos olhos sinistros na sola de seu pé.
Ficamos todos quietinhos: eu, as gárgulas e o grupo de sacis que tinha aparecido pra premiação. Atshumao assentiu a cabeça com certo orgulho, e voltou a se aproximar com as medalhas penduradas em seu tornozelo.
Quando pegou a primeira medalha pra passar pelo pescoço do saci no pódio, o aigamuxa caiu pra trás. Foi tudo em um segundo: a queda, o grito e a visão do Alicanto correndo extremamente rápido dado as perninhas que tinha. O pássaro carregava as medalhas de ouro e de prata no bico.
Ninguém teve reação, nem mesmo as sempre enérgicas gárgulas.
Caí no riso, mesmo que pudesse me gerar mais uma encarada assustadora do Atshumao. Eu não podia culpar o Alicanto também, tinha sido um dia longo pra ele.
— Acabou a premiação. Parabéns para todos. Tchau — resmungou em forma de grito Atshumao, depois de se recuperar. Ele e o resto dos aigamuxas, ultrajados, foram embora. Observei, do alto da pedra, os sacis fazerem o mesmo (eles foram os únicos que ganharam medalha, bronze dava indigestão no Alicanto).
As gárgulas ainda queriam brigar e ganhar a medalha devida, óbvio, e começaram a se dispersar atrás do Alicanto cantando coisas assustadoras (forças, Alicanto). Enquanto a vista se abria pela evasão da multidão, eu enxergava mais fácil meus amigos e...
Pisquei meus olhos algumas vezes, confuso. Seria ilusão de algum anhangá que veio parabenizar os sacis? Não era possível.
Meus amigos, que se aproximavam de mim pra mais um abraço, seguiram meu olhar, confusos.
— Você conhece aquele lobisomem, Ji? — Taehyung perguntou.
Então não, não era ilusão.
Era Jeon Jungkook ali.
»🐺«
GRITO BERRO DESESPERO EFEITOS SONOROS DE BUZINA DANÇA GATINHO DANÇA! JUNKOOK APARECEEEEEEEEU
Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜
Qual foi a parte favorita do capítulo para vocês? Eu continuo achando muito divertido os personagens novos! Basicamente todos são criaturas folclóricas que existem pelo mundo e foi muito divertido estudar sobre elas 🥺
Ahhhh! Lembrando que a rede social na qual sou mais ativa é o instagram (sou a callmeikus lá também) e, além do dia a dia escrevendo fanfics, estou pensando em projetinhos pessoais (ou melhor, dando mais atenção a eles, porque ter eu tenho há anos), caso queiram me acompanhar por lá!
Beijinhos de luz, amo vocês, e até dia 23/12 às 19:00! (o último, meu deuuuuuuusss 😭😭 chorem comigo!!)
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