🐺 Capítulo 17
Oi, oi, oi, tesudinheeeeeeeees!!
Como vocês estão? Continuo na correria! Essa semana mesmo foi loucura, mas acho que tá virando o novo normal kkkkkkkkkk
EU AMOOOOO o capítulo de hoje! Inclusive aparece meu personagem favorito! Vamos ver se vocês adivinham qual é! (favor, ignorar o fato de que acontece no antepenúltimo capítulo kkkkk)
Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!
#VampiroTristeComT
»🐺«
Foi um adeus. Ao Jungkook.
Wooshik me acompanhava na travessia de uma velha ponte de pedras cinzas, com um caudaloso rio de águas negras abaixo e um enorme castelo medieval à frente, coberto por neblina espessa. Eu carregava uma maleta enxuta, meu único pertence grande era a espada de kendo, atravessada nas costas.
O vampiro vitoriano ao meu lado parecia familiar ao local. Assim que se aproximou, o rastrilho que barrava a entrada se ergueu com um penoso barulho metálico. Eu me sentia em um daqueles livros que não tinha trazido comigo (aparentemente, lá dentro havia uma biblioteca gigantesca; com uma grande curadoria de tudo que os humanos não souberam preservar, por ter guerras em demasia e por terem uma vida tão curta que o banimento de um livro ou de outro era capaz de mergulhá-los ainda mais em ignorância, de acordo com minha mãe).
Atravessamos a entrada da fortaleza e demos de cara com um pátio amplo e fervilhante. Yetis, fadas, ninfas, centauros, faunos, kitsunes, curupiras, fantasmas (e mais um monte de seres que eu nunca tinha ouvido falar da existência) andavam apressados ou trocavam conversas em rodinhas. Todos eram muito diferentes do que eu esperava (confissão: a fada e-girl me desestruturou).
Me senti receoso com tanta coisa diferente e nova? Sim, até me aproximei um passo de Wooshik. Mas, ao mesmo tempo, tava tão curioso sobre que outro tipo de seres o local abrigava que, no fundo, não daria pra chamar meu sentimento de "medo".
O vampiro vitoriano me largou sozinho após me conduzir até a secretaria, deixando pra trás apenas um "tchau" simplório. Por Belzebu, vampiros eram mesmo muito frios. Pelo menos ele me tinha me levado até lá, meus pais continuaram em Busan (eles disseram que era porque tinham uma rixa com o diretor interino, da época em que os três estudavam lá, e poderiam manchar minha imagem; mas eu achava que era pra continuarem do lado dos Jeon mesmo). Mas até que não tinha sido tudo tão frio assim... Meus pais pareceram aliviados com minha escolha, me contaram um tanto de coisa que eu não sabia sobre a família e sobre vampiros, e me ajudaram a escolher aquele castelo: o primeiro e maior complexo estudantil de seres sobrenaturais do mundo.
A secretaria era muito diferente do que eu esperava (mas claro que eu não deveria ter esperado uma secretaria de escola normal, de cores brancas e azuis, impressoras capengas e uma tia que era secretária há tanto tempo que usava, por cima do uniforme, um moletom de zíper colorido e chamativo sem ninguém a repreender). As paredes eram feitas das mesmas pedras cinzas do resto do castelo. Não tinha balcão, nem impressora, nem cadeira pra sentar. A única coisa que me garantia tar no lugar certo era um letreiro neon de péssimo gosto, verde e com "Secretaria" escrito em letras garrafais, no fundo do aposento.
— O seu destino está selado, meu jovem — sussurrou em um tom pastoso uma mulher próxima de mim, enrolando um fio em um tear. Eu tinha a impressão de que uma impressora seria mais útil.
— Você... — tossiu outra mais atrás. — ... você está fadado a uma vida de estudos!
A última palavra ecoou de um jeito místico e dramático enquanto ela me entregava um papel com as ofertas de aulas. Como, se não tinha impressora?
— Sua vida... será dividida. — A terceira e última do que entendi serem moiras, me estendeu uma pesada chave de ferro fundido.
Elas voltaram a interagir com o tear, ignorando minha presença. Tive que usar a palavra "interagir" porque não parecia que elas tavam tecendo nada além de frases incompletas.
Não me preocupei muito com os acontecimentos estranhíssimos; apesar de lendas humanas terem motivos pra existirem, elas eram tomadas como universais demais. Moiras eram importantes? Sim, mas só teciam o destino de deuses e semideuses gregos, e nada tinham a ver com o destino de vampiros, por exemplo.
Assim como humanos tinham etnias diferentes, seres sobrenaturais seguiam o mesmo. O próprio Deus com a letra maiúscula (aliás, ele só a conseguiu pelo cartório. O nome de nascença dele era Jáquison, e ele era só um dos vários deuses assírios), que meus parentes tanto odiavam, era plural como todos nós, mas tinha resolvido desenvolver sua aptidão como ditador e negava a existência de outros seres sobrenaturais pra conseguir continuar com a ideia de onipresença, onipotência, etc. etc, que seus seguidores tanto adoravam. Não dava pra dizer que não era uma boa estratégia: assim como vampiros se alimentavam de sangue, deuses se fortaleciam com devoção humana. O cara era tipo um maromba entre os deuses. Enfim, além de ser vingativo pra porra!
— Hm... Vocês não podem ser mais específicas? — pedi. — Ou é tudo uma charada?
— Jovem insolente! Não consegue nem encontrar o caminho que já te foi traçado — cuspiu a mais distante.
— Entendo que esse papel é a oferta de atividades. Mas depois que eu selecionar, como me matriculo?
Fui respondido apenas com olhares julgadores. Me restava perguntar pra qualquer criatura que não se comunicasse por charadas (em suma, qualquer uma que não tivesse origem grega. Esfinges, por exemplo, eram insuportáveis). Vasculhei minha chave em busca de qualquer pista de qual porta ela abriria. Nada.
— Hm... Isso é do dormitório? Qual quarto?
Elas deram um chiado sobrenatural e esquisito. Sem opções, saí da secretaria, de volta ao grande pátio. O chão era de pedra cinza, úmida mesmo sem chuva, com alguns canteiros de flores azul-escuras que, em vez de trazer vivacidade, trazia uma vibe de morte. Tudo tinha um jeito de castelo assombrado, e talvez realmente fosse (e eu era uma das novas assombrações, no caso). Busquei por placas que me orientassem algo. Sério, podia até ser o caminho de volta pra secretaria. Não achei nenhuma.
Eu tinha duas opções: pedir ajuda a alguém ou vagar pelo local. Obviamente, escolhi a segunda, apesar de saber que a possibilidade de eu precisar da ajuda de alguém mesmo após vagar muito era gigantesca. Velhos hábitos.
O pátio rodeava uma estrutura que parecia ser a construção principal, cheia de torres, janelinhas pequenas; mas, pra meu espanto, também alguns vitrais representando o fundador da escola, o titio Drácula (grande filantropo, apesar de erroneamente confundido com um humano sanguinário só por ter sido o primeiro vampiro pego no meio de um poliamor sanguíneo e por usar um colar de pedra carmesim, bem comum à época dele. Mas titio Drácula era, no fundo, muito simpático e gente fina; um charme mesmo. Até Belzebu, rabugento do jeito dele, era seu amigo. Melhor amigo).
(Aliás, Belzebu era uma criatura sobrenatural como qualquer um de nós, não me lembrava de ter deixado tal informação clara. Só que ele era o primeiro advogado e super-executivo do mundo sobrenatural, então, apesar do seu grande ímpeto de pregar peças infantis, era ele quem dava a palavra final na maior parte dos assuntos sobrenaturais. Ou quem tinha que resolver algum problema na justiça humana.)
Passei por um portal alto de formato abaulado, dando de cara com um saguão lotado de corredores, escadas, portas e seres sobrenaturais. Meu olhar não enxergava o fim e minha cabeça não processava o tanto de passagens. Lá era grande mesmo. O titio Drácula deve ter tido um trabalhão fundando aquele lugar e o acobertando como um internato pra "crianças riquíssimas".
Se bem que seres sobrenaturais costumavam ser riquíssimos mesmo, pelo menos pra padrões humanos... só não tínhamos a ambição de sermos bilionários e trilionários como certos humanos por aí. Enfim, militância demais contra humanos. E desnecessária. Eu não precisava mais fingir ser um humano e, por consequência, não precisava me incomodar com nada humano.
Escolhi, sem nenhum critério, uma escada qualquer pra subir. Por algum motivo, sentia que os dormitórios ficariam em andares acima, mas meu conhecimento sobre castelos utilizados como escolas de seres sobrenaturais era bem superficial. O fim da escada levava a um corredor circular; a parede de um lado era a própria construção principal e a do outro, uma sequência de arcos que davam vista ao pátio pelo qual entrei, como uma varanda.
Segui o caminho e trombei com muitos alunos, bem mais do que no pátio. Eles saíam de grandes portas de mogno incrustadas na parede da construção principal. Talvez fossem dormitórios.
Apesar daquele tanto de criatura, fiquei sem coragem de perguntar se realmente eram os dormitórios. Observei melhor a movimentação e espiei um pouco pelas portas: eram salas de aula. Fazia sentido. Notei também que não havia nenhum vampiro, lobisomem ou fantasma; olhei o cronograma de atividades nas minhas mãos. Será que as criaturas noturnas faziam aula de noite?
As ninfas me olhavam com dó; os semideuses, com curiosidade; e as fadas, com desinteresse. Resolvi sair dali, temendo que alguém viesse me ajudar.
Mas eu não queria que alguém me ajudasse?
Velhos hábitos eram horríveis mesmo, mas não consegui ordenar que meus pés parassem; eles tinham muito mais força de vontade do que meu cérebro. Olhei pra trás pra checar o quanto eu já tinha me distanciado das salas de aula.
E trombei com alguém.
Apesar de assustado, levantei o olhar e dei de cara com um cara alto e, pasmem, com muita cara de coreano. A pele era bronzeada, os cabelos pretos, fartos e levemente ondulados. Parecia um humano normal; ou seja, muitas chances de ser um semideus. Do pouco que eu sabia sobre semideuses, se ele fosse um mesmo, iria se apresentar.
— Desculpa — pedi, e meus pés tavam prontos pra continuar correndo em direção a uma escada.
— Que nada, acontece! Eu sou Taehyung, filho de Apolo.
Definitivamente semideus. Até que minha enciclopédia sobrenatural não tava tão desatualizada assim. Semideus adorava falar que era semideus. Era um nome maneiro, não julgaria. Mas eu tinha mesmo que trombar logo com um ser de origem grega?
— Ah, sim. Oi.
Tentei dar mais um passo pra longe. Taehyung se enfiou na minha frente com um sorrisão no rosto e não me deixou seguir.
— Ei, diz seu nome! Você é um vampiro, não é? Nunca vi raça mais antissocial!
— Sou.
— E o nome? — insistiu. — Ele é tão feio assim pra você fazer tanta questão de esconder? Só entre nós: o sarrafo de nome estranho aqui é bem alto! Minha melhor amiga se chama Deusarina Vênus, acredita? O pai dela tem muito orgulho de ter transado com a Afrodite. Acho um comportamento meio de virjão, mas não vou falar isso na cara dela, né? Você também é coreano, né? Aposto uma ferradura de sátiro que seu sobrenome é Kim igual o meu!
— Não, não. Sou Park.
— Aff! Tão perto! — Taehyung parecia genuinamente chateado, e ele nem tinha passado perto. — E o primeiro nome?
— Jimin.
— Bonito! Viu? Nem precisava esconder. É seu primeiro dia aqui, Jimin?
— É tão óbvio assim?
— 100% óbvio! Tá com carinha de quem não foi orientado direito pelas moiras e essa sua mala aí meio que deixa óbvio que você nem chegou a achar os dormitórios. Ah, depois você tem que me contar por que você tem uma espada! Mas voltando ao assunto, vocês nada-gregos têm sorte de não ter que lidar com esse povo misterioso diariamente.
— É, elas são bem complicadas mesmo...
Taehyung riu, alegre.
— Você é tão vago! Como eu amo vampiros, sério! Pena que a maioria fica acordada de noite e não vejo tanto. Aliás, sabia que tem um outro vampiro coreano por aqui? Ele é antissocial que nem você! Talvez ele seja seu colega de quarto! Seria perfeito, nossa! Vamos pro seu quarto!
Taehyung me arrastou pelos corredores sem eu conseguir emitir sequer um som de aprovação (ou reprovação). A grande verdade era que eu me sentia meio aliviado pela adoção. Conquistei com esforço próprio? Não, mas ainda bem que deu certo.
Taehyung parecia uma espécie de vereador de cidade pequena, só faltava o santinho. Parou pra conversar com umas mil criaturas diferentes enquanto me conduzia de volta ao primeiro andar, perpassando o meio do castelo até um pátio do lado de trás, onde algumas casinhas de vários formatos e tamanhos tavam espalhadas.
— Essas casinhas altas são pros grandalhões! Yeti, trolls, orcos e talz. Eu recomendo ficar longe, principalmente no início da manhã, que eles estão vindo dormir. A real é que até quando tão 100% são meio lerdões, então quando ficam grogues de sono, o risco de pisoteamento é altíssimo. Tanto que os dormitórios dos pequenos, tipo fadas e gremlins, têm os dormitórios bem distantes pra não dar problema. Aliás, isso me lembra que semestre passado uma mini-fada veio pra esses lados ter um caso com um elfo de micropênis e acabou morrendo pisoteada. Foi muito triste, ela era bem popular, e os dois eram um casal destinado um pro outro. Damayanti, a yeti, nunca superou o que fez e voltou pro Kanchenjunga, que é a montanha natal dela.
— Ah... — tentei reagir. Em minha defesa, era muita informação de uma vez só, e muito mórbido também.
— Enfim, pra sua sorte, você é um vampiro, bem difícil de morrer. Queria ser quase imatável desse jeito, acho que eu me cagaria menos de medo quando o Olimpo inventa de me mandar pra missões sem sentido e muito risco. Ah, então, essas casas de tamanho médio são pra espécies do nosso tamanho mais ou menos, provavelmente você foi alocado aqui. Deixa eu ver sua chave.
Entreguei a chave a ele, já muito compelido a obedecê-lo. Taehyung observou o pedaço de ferro e deu um sorriso.
— Olha, é aqui mesmo! Todas as chaves dessa ala têm um buraco no formato de círculo.
— E pra eu saber meu quarto? Não tem nenhum número aqui.
— Ah, isso é tranquilo, a chave te guia até lá. É tipo chave de hotel caro, por aproximação! Chique, né?
Eu o encarei por um longo tempo, esperando ele completar a frase, pois só poderia ser piada. Ele me olhou de volta sem esboçar nenhuma reação.
Que coisa.
Apesar de ter minhas dúvidas se uma chave medieval que aparentemente tinha vida própria se assemelhava mesmo a uma chave de hotel, eu assenti devagar e dei um sorriso amarelo. Ainda não sabia o que fazer pra chegar no quarto.
Taehyung notou minha dificuldade de assimilar e tirou da pochete amarela que carregava atravessada no peito um cordão tipo de crachá, com estampa de Sol. Prendeu minha chave nele e o passou pelo meu pescoço.
— Vai ser útil — justificou.
Assenti.
— Você sempre anda com cordões a mais?
— Não, não! — Riu, como se a ideia fosse um absurdo. Vindo dele, nada me parecia absurdo, mas me calei. — É que meu pai vira e mexe dá cordão temático pra gente que é filho dele. Pra compensar a ausência e não ter que pagar multa por abandono de menor na justiça do Olimpo, sabe? Ele me deu esse aí anteontem, mas faz três anos que ele dá o mesmo cordão com a mesma estampa, então não tenho o que fazer com eles. Acho que ele fez um monte pra baratear o custo dos brindes e agora não tem onde enfiar. — Taehyung puxou de dentro da camisa branca seu próprio cordão com a chave e, de fato, tinha a mesma estampa de Sol. — Na real, nem sou menor de idade, mas ele não lembra disso. Se tá de graça, eu tô pegando.
Eu o encarei estarrecido. Sério, fiquei tão em choque que eu precisei utilizar aquela exata palavra: estarrecido. Achava meus pais vampiros frios, mas comecei a rever meus conceitos. E, pelo que eu sabia, Apolo era um dos deuses gregos menos merda.
Quando nos aproximamos da ala de tamanho médio, a chave em meu peito começou a flutuar e quase me matou do coração, de verdade mesmo; quase segui os passos da pobre fadinha, mas no primeiro dia de aula e sem promessas de um sexo gostoso. Taehyung se divertia demais com minha cara e, de fato, notei que a chave dele também flutuava.
O semideus apontava insistentemente a chave e, em seguida, o corredor após o grande portal de entrada, tentando me convencer a seguir o objeto. Ao obedecê-lo, renovei minha gratidão por ter sido alvo do interesse obstinado dele; em silêncio, claro. Eu nunca seria capaz de achar meu quarto.
Segui o corredor até o final, percebendo que havia uma bifurcação pra ambos lados. A chave me mandou ir pra direita, e eu obedeci. Peguei várias outras bifurcações intrincadas que eu jamais decoraria — e comecei a ver o valor da chave flutuante — até uma porta de madeira escura e pesada assim como todas as outras; sem placa, sem decoração, sem nada. Só a chave mesmo pra saber que aquele era o certo.
Eu tava esperando um barulho de tranca de ferro fundido girando, além de um longo gemido da porta de madeira. Enfim, o feijão com arroz de castelos medievais. Porém, a porta, ao interagir com a chave ("interagir" porque não tive que colocar a chave na fechadura), fez um "pi" eletrônico que certamente me arrancou uma careta, pois Taehyung disse:
— Viu? Tipo chave de hotel chique.
— Tá de sacanagem.
— Tô, sim. O som original não é esse, mas trocar pelo "pi" é muito popular entre os alunos. Você tem que ver o quarto da fada gótica e da fada e-girl, é um jumpscare!
Eu, pessoalmente, esperava muito nunca ter que visitá-las.
Mas o gosto duvidoso de personalização de fadas rebeldes foi sobrepujado pela minha curiosidade com a visão do que seria meu quarto nos próximos dias. Não, meses, provavelmente. Belzebu, eu era um vampiro, seriam séculos? Parecia meio esquisito passar séculos numa espécie de internato, como se eu nunca fosse crescer.
Crises à parte, o quarto era muito mais bem-apessoado do que eu esperava. Em vez das pedras cinzas como o resto das estruturas até então, as paredes eram cobertas por madeira escura e tapetes com aparência de limpos, assim como o chão. Em cada lado do quarto, havia uma cama feita acompanhada de um pequeno, mas sólido, armário. Havia até uma janela, mas pesadas cortinas vermelho-sangue impediam o Sol de entrar.
Taehyung entrou antes de mim, curioso. Olhou aos arredores e deu um suspiro de chateação.
— Não tem ninguém aqui... Será que você não tá dividindo quarto? Chato demais, jurava que ia ficar com o outro vampiro coreano.
Eu não sabia interpretar minhas emoções. Havia um certo alívio, sim; meu lado antissocial gostava demais da ideia de não ter que dividir quarto com ninguém; nunca ter conflito, nunca ter uma cara pra olhar. Ao mesmo tempo, havia uma certa decepção. Talvez Taehyung tenha projetado a própria expectativa em mim.
Apoiei minha mala e minha espada do lado de uma das camas — na qual Taehyung, ainda com cara de chateado, sentou sem pedir permissão — e, por curiosidade, fui abrir as cortinas pra checar a vista.
— Você é o primeiro vampiro que vejo que não se incomoda com o Sol — Taehyung comentou, casualmente. — Até chegou de dia, sério, nunca tinha visto antes. Mas é bom, você pode ser meu primeiro amigo vampiro. Não sei se é porque sou filho do deus do Sol, mas vampiros me detestam.
Fiquei pensando no que responder sobre a tal amizade pra qual fui recrutado sem saber, mas, quando abri as cortinas, um chiado alto tomou conta do quarto, quase me matando do coração (tirando o fato de que vampiros não morriam do coração). Taehyung deu um grito também.
Nós dois nos viramos pra origem do barulho; seriam as fadas dark pregando peças? Vimos alguma coisa atrás de um dos tapetes se mexer.
— Fecha essa cortina — mandou uma voz baixa.
Eu obedeci. Já na quase-escuridão de novo, uma figura saiu de trás do tapete. Cabelos pretos lisos, pele pálida como a minha, olhos pequenos, lábios finos, rosto redondo irritado.
— Eba! — Taehyung gritou e saltitou até o novo elemento em busca de um abraço; levou um chega-pra-lá. — Ji, seu migo de quarto realmente é o outro vampiro coreano. Vai, Yoon, se apresenta pra ele!
Pisquei os olhos, aturdido. Primeiro que era estranho ouvir uma pessoa que não era... Bem, que não era o Jungkook, me chamando de "Ji". Meu coração apertou de saudades. Segundo era ver, de verdade, um vampiro que parecia ter a mesma faixa etária que eu. Ou melhor, um vampiro que não fosse meus pais ou parceiro sexual deles.
O... Yoon(?) me olhou de baixo a cima. Seu rosto parecia mais uma escultura de mármore, não mexia. Eu não conseguia interpretar se carregava desinteresse, irritação ou ódio. Mas, partindo do princípio que ele não tinha matado Taehyung com aquela aproximação agitada, ele não parecia mau.
— Min Yoongi — ele falou e voltou pra trás do tapete.
— Esse é o nome dele, tá? — Taehyung explicou pra mim e espiou por trás do tapete. — Sério mesmo que você não vai deitar na cama, Yoon?
Outro chiado soou, o mesmo da primeira vez.
— Mal-humorado — acusou Taehyung. Soltou o tapete, deu de ombros e se virou pra mim. — Acho que você só deve conseguir falar com ele de noite. Juro que não sabia esse rolê do tapete também! Falei que você é diferenciado com esse negócio de pegar Sol!
— Pois é... Achei que fosse normal. Meus pais também não se importam de sair de dia. É só caprichar no protetor solar.
Taehyung começou a contar que Yoongi me mostraria e me ensinaria sobre as instalações específicas pra vampiros (pelo visto eram várias, já que o fundador era um vampiro) e, por um momento, pensei que ele terminaria a nossa tour ali. Mas não. Ele fez questão de me agarrar pelo braço e me levar pra passear por toda a estrutura gigantesca do local. Eu me perguntei (e acabei perguntando de verdade) se eu não tava atrapalhando as aulas dele. Ele riu e disse que eu tava o ajudando a cabular.
No fim do dia, eu tinha sido recrutado pelo time do Taehyung pras competições esportivas das espécies de tamanho mediano; além de prometido ao time dos vampiros no torneio Interespécies (não fiquei surpreso em saber que os lobisomens eram os favoritos daquele ano); matriculado pruma dúzia de aulas que eu não fazia a mínima ideia sobre o que eram (seis diurnas pra ter aulas com Taehyung e seis noturnas pra que eu estudasse com o Yoongi, porque o semideus jurava pelo pai que Yoongi seria uma ótima companhia vampira); e convidado pruma festa da qual eu não queria participar na semana seguinte e que eu tive certeza não ter a opção de dizer um "não". Apesar de ter tentado muito pedir pra visitar a biblioteca, fiquei tão tímido que não consegui. Com sorte, o tal do Yoongi gostaria de me levar lá.
Voltei ao meu novo quarto com poucas horas de luz sobrando. A ideia era dormir até o começo da vida noturna. Eu gostava da ideia, na verdade; a noite sempre me tinha parecido mais confortável. Com sorte, Yoongi (cujo contorno no tapete eu percebi de cara daquela vez) taria mais disposto e me ensinaria sobre a vida vampiresca no internato.
Assim que deitei minha cabeça no travesseiro, bateu a sensação de que eu não conseguiria dormir, mesmo vestindo o pijama do Stich, meu pijama supremo pra conseguir dormir. Minha mente tava agitada, entretida em relembrar aquele dia, tão curto e tão longo, quase em loop.
A verdade era que eu me sentia o mesmo Jimin de sempre: introvertido, esquisito; um cara que precisava ser adotado por algum extrovertido pra fazer algo acontecer. Talvez eu me sentisse até menos Jimin do que o normal naquele aspecto: a falta que eu sentia do Jungkook era tanta que era como se eu fosse um pouco menos eu. E, toda vez que algo me lembrava de Jungkook (tinha acontecido com frequência durante o dia, até porque... Bem, tinham vários lobisomens lá e toda hora eu reparava que eles não eram não eram o lobisomem que eu queria ver), um aperto tomava meu peito. Eu sentia falta dele, de verdade. Eu me sentia sozinho sem sua presença, apesar da recepção calorosa de Taehyung e da fria de Yoongi (que me tinha sido prometido como uma espécie de salvador).
Mesmo sendo o mesmo Jimin, mesmo me sentindo distante daquela realidade por causa da minha introversão estranha, eu, pela primeira vez, não me sentia errado. Não sentia como se o mundo ao redor fosse feito de papel, projetado pra que eu nunca fosse me encaixar, projetado pra que eu sempre me lembrasse que tava a um fio de destruí-lo. De matar alguém.
Era conflitante, não vou mentir. Eu me sentir assim, tão mal, mas também tão normal, tão bem. Sem precisar controlar tanto minhas ações insossas. Como se... Sei lá. Como se eu não precisasse ser tão insosso assim.
Ao me virar mais algumas vezes na cama, mergulhado em pensamentos, eu entendi o agridoce daqueles sentimentos. Aquele peso. Era óbvio que era uma despedida, e que despedidas doíam. A despedida de Jungkook tinha arrancado um pedaço de mim. Mas a verdade era que tinha uma que me deixava feliz.
Foi um adeus. Àquela vida que tanto me prendia, que tanto me impedia de ser eu mesmo.
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Viram??? Falei que esse capítulo era divertido!!! Gostaram de conhecer os Taegi??? Acho eles um fofo
Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜
Qual foi a parte favorita do capítulo para vocês? Eu AMEI criar e escrever a escola e os personagens novos, sério! Saiu tão fácillllllll, amo que amo. Espero que tenham gostado tanto quanto eu!
Ahhhh! Lembrando que a rede social na qual sou mais ativa é o instagram (sou a callmeikus lá também) e, além do dia a dia escrevendo fanfics, estou pensando em projetinhos pessoais (ou melhor, dando mais atenção a eles, porque ter eu tenho há anos), caso queiram me acompanhar por lá!
Beijinhos de luz, amo vocês, e até dia 09/12 às 19:00! (já vai ser o penúltimo cap, acreditam???)
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