2.
OLIVER
A noite no hotel estava linda e movimentada, a cada momento parecia que precisavam ser registrados e lá ia eu posar mais uma vez. Tentei acompanhar Maria Luíza com o olhar mas falhei em poucos segundos, quando me chamaram para posar com a modelo do comercial.
Depois de meia hora me liberaram para finalmente curtir o coquetel e eu só tinha uma missão: Encontrar Maria Luíza.
Procurei em algumas rodinhas de conversa, no bar, na mesa do buffet e quando já estava prestes a ligar para ela, eu a vi. Quando seu olhar encontrou o meu lá estava a irritação, eu podia senti-la de longe
– Que bom que te encontrei! Pensei que tivesse ido embora – Cheguei sorrindo e fui cumprimentá-la com um beijo no rosto mas ela desviou, ajeitando seu cabelo.
– Eu não te conheço, na verdade, acho que tenho mesmo que ir embora – Ela disse séria olhando ao redor, parecia procurar alguém e eu não entendi mais nada.
– Maria Luíza, nós marcamos de nos encontrar aqui hoje, não lembra? – A expressão de incredulidade dela me fez rir, não era possível que a mesma pessoa que estava toda derretida para nosso encontro fosse a mesma pessoa na minha frente.
– Você só pode estar louco, eu vim encontrar minha chefe ou uma cliente importante, não sei direito – Ela soltou um riso falso e continuou a olhar por cima do meu ombro e para os lados a procura de algo.
– Você até me pediu desculpas pelos nossos encontros desastrosos, deve ter se esquecido... – Dei de ombros e usei o mesmo tom de voz casual que ela.
– Não acredito em você, Yago! – Maria Luíza se virou de frente para mim, cruzando os braços, desafiadora.
– Pois bem...– Por mais estranho que fosse eu estava me divertindo horrores com aquela situação – Maluquinha...
– Como é? – Antes de olhar a tela do meu celular, Maria Luíza me lançou um olhar quase mortal e eu queria muito rir, mas esperei que ela lesse as mensagens para ver sua reação.
– Isso... Isso.. – Ela correu o olhar pela tela umas cinco vezes antes de me entregar o celular – Eu vou matar a Lóri! E a Ceci! – Maria Luíza disse mordendo de leve o lábio, claramente tentando conter sua raiva e não pude deixar de notar o quão sexy ela ficava daquela maneira.
– Viu?! Não estava louco! - Sorri tentando me conter mas ela percebeu e me olhou furiosa
– Por isso você veio cheio de intimidade... Olha, eu não sou como essa galera aqui – Ela mostrou ao redor e depois me encarou – Tô nem aí se você canta, dança, pula corda, não vim pra ficar com você! Quem falou contigo foram as minhas amigas, então se quiser, vá atrás delas!
Maria Luíza estava a cada segundo mais bravinha e eu precisava confessar, ela ficava mais linda ainda daquele jeito. Não negaria que o fato de não ter sido ela quem mandou as mensagens me deixou aliviado e encrencado ao mesmo tempo. Agora eu precisava correr para não deixá-la escapar, pelo menos, por essa noite.
– Preciso ir embora! – Maria Luíza pegou seu celular da bolsa e em um segundo de coragem a segurei pela outra mão
– Ei, sei que esse encontro não está sendo como o esperado mas acredito que podemos tirar algum proveito dele – Sorri pra ela que olhou para nossas mãos unidas, a soltei e ela me olhou com a sobrancelha erguida
– Não vou ficar com você! – Ela repetiu com um sorrisinho no canto da boca que me dizia o contrário, mas eu ainda tinha a noite toda pra isso.
– Temos uma festa com bebida à vontade, sem risco de prejuízos para nenhum dos dois – Dei uma piscada pra ela que riu jogando a cabeça para trás – Comida e música, suas amigas não sabem, mas te deram o passe livre pra noite perfeita!
– Quem disse que...– Maria Luíza começou a retrucar mas peguei novamente em sua mão, a interrompendo.
– Aproveita! Essa pode ser uma noite única, relaxa!!! – Sorri pra ela da maneira mais simpática que consegui, Maria Luíza suspirou e assentiu
– Por onde começamos?! – Vi os ombros dela relaxarem e ela jogar os cabelos para o lado, sorrindo pra mim.
Mal pude acreditar que Maria Luíza realmente aceitou meu convite, apontei para um garçom atrás dela, que vinha com uma bandeja cheia de canapés e cumbucas com escondidinho de carne. Nem pensei duas vezes e peguei um escondidinho, Maria Luíza olhou em dúvida, e depois pegou o mesmo que eu.
Brindamos e devoramos aquela maravilha em poucos minutos.
– Isso aqui é bom demais! – Maria Luíza riu e eu assenti
– Poderia comer uns 10 desse, tranquilamente – Disse pegando outro de outra bandeira e a vi fazer o mesmo.
Depois que comemos quase tudo que passava por ali, partimos para a champagne.
– Um brinde a essa noite única! – Maria Luíza riu e deu uma piscada antes de brindar comigo.
– Eu avisei – Ri mais ainda e ela apenas virou os olhos em resposta.
– Você é sempre tão metido assim – A olhei pronto para fingir estar ofendido mas vi uma das organizadoras do evento me chamando.
– Preciso fazer uma coisa, mas nossa conversa não acabou, hein! – Indiquei com a cabeça o palco próximo a nós e fui até lá, sabendo que Maria Luíza me seguia com seu olhar de águia.
A organizadora me disse que já poderia encerrar minha participação no evento e dei graças a Deus por isso, agora teria todo o tempo para aproveitar a noite ao lado de quem eu realmente queria.
Subi ao palco junto do patrocinador do evento e da modelo que fez meu par romântico.
– Gostaríamos de agradecer a presença de todos vocês! – A organizadora começou os agradecimentos junto do patrocinador.
– Estamos felizes demais com mais esse lançamento, nossa parceria que já vem dando certo há alguns anos só vai se fortalecer! Obrigada pela confiança – Agradeci sorrindo e recebendo alguns aplausos em resposta.
Posamos pra várias fotos e depois de alguns abraços e apertos de mãos fui liberado daquela obrigação e por sorte eu achei Maria Luíza sentada no bar conversando com uma das garçonetes.
– Agora tô livre! – Cheguei ao lado dela e me sentei, senti o olhar da moça que estava do outro lado do balcão sobre nós
– Oi, tudo bem? – Sorri pra ela que arregalou os olhos como resposta, olhei em seu uniforme em busca do nome dela – Bianca, né?! – Ela assentiu e eu sorri de novo – Pode me ajudar?! Você me daria uma garrafa de champanhe, por favor?!
Senti Maria Luíza ao meu lado arregalar os olhos e segurei a vontade de rir, Bianca meio trêmula me deu a garrafa fechada.
– Muito obrigada, linda! – Beijei as costas da mão dela em agradecimento, ela riu nervosa e olhou para os lados verificando o movimento.
– Eu sei que não pode, mas por favor, tira uma foto comigo? – Ela pediu nervosa e eu acenei com a cabeça.
– Mas é claro! É pra já! – Ela me passou seu celular discretamente com a câmera aberta, tirei algumas fotos de nós dois e devolvi a ela.
– Muito obrigado!! Eu amo as suas músicas! Tenham uma ótima noite – Ela voltou a guardar o celular e me deu duas taças.
Peguei na mão de Maria Luíza e olhei ao redor, não tinha ninguém nos observando, então o caminho estava livre até as escadas de incêndio. Sabia de um lugar incrível ali naquele hotel, um terraço com a vista mais incrível da cidade, privativo e totalmente seguro, eu a levei comigo até lá.
– Uauuu! Que lugar é esse? – Estava ao lado dela, dava para ver o quanto ela ficou impressionada com a vista. A visão daquele pedaço da cidade era realmente muito linda, as luzes impressionam pela beleza que distribuem, tudo parecia calmo e brilhante dali.
– Nem parece a mesma cidade! Como isso pode ser real? – Maria Luíza sorriu e se aproximou do parapeito do prédio, tudo dava a impressão de ser menor e nós éramos gigantes.
– Um dia estava fugindo de uma galera meio pirada, subi como louco as escadas e parei aqui, uma das funcionárias do hotel disse que quase ninguém vem aqui por medo de altura ou porque acha que é sempre trancado.
– E você, claro, nunca contou a ninguém sobre isso, certo?! – Maria Luíza me olhou de canto de olho e eu ri dando de ombros
– Não vou estragar o melhor lugar de todos né?! – A puxei para sentar comigo no chão, estourei a champanhe e ri junto dela
– Você não conta do seu esconderijo mas faz um barulhão nele! Quer ser descoberto, Oliver? – Parei por um segundo e me dei conta que era a primeira vez na noite que ela me chamava pelo nome. E adorei a sensação.
– Claro que não, foi apenas empolgação! – Pisquei para ela, servi a champanhe e ergui a minha taça – A nossa noite!
– A nossa noite – Ela sorriu largo e brindou comigo.
– Posso te confessar uma coisa? – Disse me lembrando das mensagens que recebi mais cedo, Maria Luíza me olhou desconfiada – Fiquei feliz que não foi você quem me mandou as mensagens, pensei que teria uma Maria Luíza completamente diferente aqui, mas assim é bem melhor.
– Diferente como? – Ela arqueou uma das sobrancelhas e eu ri
– Não parecia em nada com a garota que eu conheci, cheia de marra e atitude, parecia mais uma coisinha fofa,...– Olhei de canto pra ela que semicerrou os olhos ao me encarar.
– Fácil, não é? Isso que você queria dizer! – Ela rolou os olhos e se virou pra mim – Você não fica nem vermelho de pensar algo assim de alguém que você nem conhece?! Que lindo! – O tom irônico dela era forte e palpável, ela deu mais um gole na champanhe e balançou a cabeça me reprovando.
– A mensagem me surpreendeu, você parecia saber quem eu era e queria algo mais, se é que você me entende...
– Posso ler de novo essa pérola? – Estendeu a mão me pedindo o celular, abri a conversa e entreguei a ela, que leu "nossa" conversa.
– Filhas da mãe..."Ainda mais com você" – Resmungou aquela frase de forma tão brava que não consegui segurar o riso, ela ficou ainda mais linda daquele jeito.
– Não diria que isso é engraçado – Maria Luíza jogou os cabelos para o lado e me encarou
– É porque você não vê o que eu vejo – Pisquei pra ela que desviou seu olhar do meu, consegui vê-la corar e tomar mais um gole da sua champanhe para disfarçar
– Posso confessar algo agora?! – Maria Luíza disse baixo assim que tomou sua bebida, aproveitei a deixa e me aproximei dela para ouvir sua confissão.
– Fico feliz que você não seja o mentiroso que eu pensei que fosse! – Fiz a minha melhor cara de indignação e me virei para ela, seu rosto estava tão perto do meu, que podia sentir sua respiração, seu perfume e admirar cada cantinho do rosto dela.
– Eu nunca menti pra você, poxa! – Sorri dando de ombros, Maria Luíza riu com força e me deu um soquinho no braço.
– Ah, não né, "Yago" – Ela fez aspas com a mão e me encarou desafiadora, ergui uma mão e abaixei a cabeça.
– Culpado! Eu sei... Mas acho que agora você consegue entender o motivo, né?! – Voltei a encará-la e o seu olhar desconfiado continuava ali, sempre à espreita tentando me pegar em algum deslize.
– Não sei não, parecia que você estava se divertindo com a cara da garçonete, fiquei meio puta da cara com você por causa disso, inclusive uma das razões do seu telefone ter ido parar na mão das minhas amigas – Maria Luíza disse em tom de brincadeira, mas eu conseguia perceber que ela não brincou quando disse que ficou brava com a minha atitude.
– Não foi por maldade, eu juro! – Dei meu melhor sorriso inocente e cheguei um pouco mais perto – Eu te vi e esqueci completamente do nome que tinha dito no meu pedido, geralmente eu só fico quieto num canto e pego meu pedido sem chamar a atenção – Peguei a mão dela que estava livre e num gesto quase involuntário a beijei, Maria Luíza estreitou os olhos e deu um sorriso de lado.
– Você é malandro, Sr. Oliver Marques – Ela disse baixo e puxou delicadamente sua mão da minha, não contive a risada e devolvi o olhar dela, que apenas virou toda sua champanhe de uma vez, secando sua taça em instantes.
– Posso saber o porquê, Srta. Maria Luíza? – Disse baixo ainda tão perto que podia vê-la se arrepiando de leve, ela jogou o cabelo pro lado e sorriu tímida antes de responder.
– Você gosta de falar coisas bonitas pra me distrair, sua sorte foi as minhas amigas terem resgatado seu telefone do lixo, senão eu seria uma forte candidata a ser sua hater por aí – Ela deu de ombros e eu não consegui evitar a cara de surpresa.
– Maria Luíza, você jogou meu telefone fora? – Coloquei a mão no peito na melhor pose de ofendido que pude pensar, ela apenas deu de ombros e riu assentindo com a cabeça.
– Claro que sim, eu achei que você era um mentiroso metido a besta, e que ainda atrapalhava o trabalho alheio... Foi mal! – No melhor tom de obviedade Maria Luíza se justificou e eu comecei a rir, jogando a cabeça pra trás e tudo.
– Caraca! Você ia fazer minha caveira por aí, tenho certeza! – Pensei alto e a vi concordando com veemência.
– Não há dúvidas! Quando minhas amigas me explicaram que você era "famoso" eu achei que era quase uma obrigação minha contar ao mundo que você era bem doido das ideias – Ela se serviu de mais champanhe enquanto contava displicentemente tudo aquilo, eu poderia me ofender, não querer mais nada com ela ou até mesmo levantar e ir embora, mas tudo ali me deixava ainda mais fascinado e Maria Luíza não fazia nem ideia.
– Você não me conhecia mesmo? – Perguntei sem conseguir esconder minha curiosidade, ela me olhou desconfiada e suspirou antes de responder
– Não vai se ofender se eu disser que nunca nem vi ou ouvi nada seu? – Apenas neguei com a cabeça e ela sorriu culpada.
– Elas tentaram me mostrar alguma coisa mas eu não vi, sempre fiquei muito alheia às coisas que estão tocando por aí, mal renovo minhas playlists.
– Então, prazer: Oliver Matheus Marques, ou Oliver Marques ao seu dispor – Fiz um floreio com as mãos, quase como uma reverência e ela sorriu ainda mais.
– Prazer, Maria Luíza Vieira! – Ela deu uma piscadinha e não resisti, dei um beijo em seu rosto a pegando de surpresa. Maria Luíza revirou os olhos e fez uma careta em resposta, se afastando alguns centímetros me dando vontade de puxá-la de volta pra mais perto.
– Matheus? – Maria Luíza me olhou com curiosidade e eu dei de ombros, afirmando.
– Matheus não é muito comercial, não combina com a carreira, então pegamos só metade do meu nome e criamos o Oliver!
– Hmm, interessante! Não sabia dessa sua dupla identidade, fiquei quase chocada.
– Porque quase?
– Sei que algumas pessoas no passado mudaram o nome e tal, pensei que a nova geração não fazia mais isso, só a Anitta!
Cai na gargalhada e a olhei mais uma vez.
– A minha mudança nem é grande coisa, mas é bom pra poder separar a "pessoa física" do cantor da mídia e tudo mais.
– Sabemos que você adora esse lado Oliver... – A maneira como Maria Luíza me olhava, desafiando e sorrindo como se conhecesse tudo sobre mim
– Ei, tô sendo julgado aqui! Cadê o benefício da dúvida? – Voltei a ficar de frente pra ela, a olhando da mesma maneira desafiadora, vendo-a esconder um sorriso.
– Olha, posso até tentar te dar esse benefício mas foi você quem achou que tudo era fácil só por você ser famoso, não foi legal da sua parte – Ela também estava de frente pra mim, nossos olhares tão conectados que chegava a ser estranho estar tão confortável ali.
– Acho que você nunca vai me deixar esquecer disso....
– Provavelmente não – Ela riu e bateu de leve no meu braço – Nem você, nem minhas péssimas amigas, elas vão ouvir também...
– Hmm... E se...– Pensei alto e vi que ela ficou interessada.
– O que? – Maria Luíza me olhou desconfiada e eu cheguei ainda mais perto, sentindo a respiração dela tocando meu rosto.
– A gente enviasse uma foto pra brincar com elas, devem estar curiosas pra caramba...
– Gostei! – Maria Luíza sorriu e deu uma piscadinha, se empolgando com a ideia.
Nos olhamos e acho que tivemos a mesma ideia, peguei meu celular e abri na conversa que supostamente era a "nossa", cheguei mais perto, as mãos dela foram para o meu rosto, como se fosse fazer um carinho ali e assim que nossos olhares se cruzaram eu registrei o momento.
Abaixei o celular e continuei a olhá-la, especificamente para a boca, e Maria Luíza fez o mesmo, tão perto, tão linda, as mãos dela se moveram para o meu pescoço e eu já estava pronto pra acabar com qualquer distância entre nós quando meu celular começou a tocar histericamente, eu ia apenas ignorar mas Maria Luíza foi mais rápida do que eu e olhou pro display.
"Aninha <3"
As mãos dela automaticamente me soltaram e em poucos segundos ela já estava de pé.
– Preciso ir, tchau!
E como o furacão que eu conheci naquele primeiro dia, Maria Luíza sumiu, sem me dar a chance de explicar nada, sem ao menos pegar seu telefone ou qualquer coisa assim.
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