S2 Capitulo 06 S2
Depois que Nathaniel terminou a música, ele sorriu pra mim, o que fez minhas bochechas queimarem por um instante. Ele não parecia nada desconfortável em trazer uma desconhecida para uma sala de música, cantar uma música pra ela e depois abrir um dos sorrisos mais lindos sem se importar com nada.
Acho que ele é louco... — deduzi.
— Mia? — Nathaniel estava bem próximo de mim, quase deu pra sentir sua respiração.
— Ah-desculpa... — desnorteada, tento colocar a cabeça no lugar. — é que ninguém nunca compôs uma música pra mim, ainda mais alguém que acabou de me conhecer... — tentei fazê-lo entender o óbvio.
Nathaniel apenas jogou a cabeça para trás, dando uma bela gargalhada que me deixou mais confusa ainda. Depois ele abriu as pernas, apoiou os cotovelos nos joelhos e curvou as costas pra frente. Bem próximo de mim.
— Eu vejo... — ele sorri serenamente.
— Vê o que? — agora minha mente bugou.
— A luz em você. A luz de Deus.
Eu fico em choque. Nunca pensei que ouviria alguém dizer isso pra mim. Ainda mais... um desconhecido.
Eu? Sal da terra e Luz do mundo? A luz de Deus?
— Eu... — as palavras somem e Nathaniel percebe.
— Fique tranquila, Mia. Eu não sou nenhum perseguidor. Eu apenas gostei de você a primeira vista... digamos que eu quero ser seu amigo. Se você topar, é claro. — Ele pega na minha mão, seus olhos se cravam nos meus e seu sorriso me transmite paz. Ele me faz sentir segura naquele momento.
— Topo... amigos. — com um aperto de mãos, "selamos" a amizade.
Nathaniel guarda o violão, pega na minha mão e me conduz para fora da sala. Ele — praticamente — cola meu corpo ao seu, me abraçando pela cintura.
Me sinto constrangida, mas nada muito anormal. Apenas não estou acostumada com tanta aproximação, apesar de gostar um pouco dessa atenção dada pelo Nathaniel. Mas não posso me deixar levar pelo seu sorriso doce e seu jeito envolvente. Eu vim para estudar e não para namorar e pra piorar as coisas, ele é amigo do Rodrigo.
Não quero confusão pro meu lado, jamais!
Caminhávamos pelo corredor, quando bem à frente vejo Rodrigo vindo na nossa direção. Sua expressão séria me incomoda e me desgrudo de Nathaniel nos afastando. Ele estranha o meu comportamento e tenta pegar a minha mão, mas Rodrigo o segura pelo ombro e eu dou as costas para os dois, saindo às pressas do corredor e indo para o refeitório.
O refeitório é enorme de longe se nota as famosas "panelinhas" formadas. Eu, com certeza, quero ficar de fora desses grupos.
Me sento em uma das mesas vazias. Após pegar minha bandeja de comida. Antes de comer, eu fecho os olhos e oro. Quando os abro, levo o maior susto, quase derrubando tudo no chão. Havia três garotas ao meu redor. Elas me encaravam com olhares bem ameaçadores, mascarados por seus sorrisos plastificados. Com certeza não era coisa boa elas estarem ali comigo. Aí tinha coisa...
— Você é a nova aluna transferida do Brasil, certo? — a morena pergunta.
— Sim, porque?
— É que vimos você chegando com o professor Samuel, depois conversando com o Nathaniel e... talvez tenha algum tipo de contato com o Rodrigo. — ela falava pausadamente e sempre me encarando. Aquilo não era uma pergunta simples, era um interrogatório.
— Então... você é alguma intercambista que veio morar com os Morelles? — as três me confrontam com o olhar.
Talvez estivessem esperando uma reposta que as agrada. Se sabem tanto sobre a vida dos Morelles, devem ter alguma atração pelo Samuel ou pelo Rodrigo, já que viram o momento que cheguei com um deles e perceberam a minha aproximação com o Nathaniel, sugerindo então que Rodrigo seja o motivo.
— Eu...
— Acho que a minha vida não lhe diz respeito, não acha Nayara? — Rodrigo chega por trás das três. A tal de Nayara que deduzo ser a morena que me "interrogou" mordisca o lábio, parecendo irritada. Ela se levanta e se vira para Rodrigo.
— Rodrigo, meu amor... lembre-se, a princesa está voltando. Ela não vai gostar de saber que você hospeda uma qualquer em sua casa. — com a voz ameaçadora, ela me despreza na frente de todos.
— Mia não é uma qualquer! — Nathaniel se aproxima irritado. — Você que é uma garota esnobe. — ele pega na minha mão. — Vamos embora, Mia.
Nathaniel me puxa, mas eu continuo no lugar.
— Fique tranquilo, Nathaniel. — firmo a minha voz, chamando a atenção do grupo pra mim. — O desprezo de alguns, é a minha vitória amanhã.
Nayara zomba, rindo.
— Como é que é? Como você é patética garota.
— Prefiro ser patética do que ser uma garota esnobe que acha que humilhando os outros, vai te ajudar a se sentir melhor, por ser achar pior que os outros. — cruzo os braços.
— Quem você pensa que é? — Nayara me ameaça com olhar, percebo que ela ficou irritada com minha resposta.
— Eu? Apenas Sal da terra e Luz do mundo, porque?
Todos me encaram, espantados. Eu ignoro os olhares, pegando as minha coisas e saindo do lugar. Nathaniel me segue e Rodrigo continua lá, com as meninas.
— Olha, Mia! — ele acompanha meus passos acelerados. — Sin-to mu-muito pe-lo que aconteceu.
Eu paro, depois de quase sair correndo de perto dele.
— Eu não me importo com o que elas pensam de mim. — digo baixo. Me viro devagar para Nathaniel, levanto a cabeça e sei que tem lágrimas no meu rosto.
— Mia? — ele se aproxima, prestes a me dar um abraço.
— Vamos embora. — Rodrigo interrompe o gesto de Nathaniel. Ele me puxa pelo braço e me conduz pelo corredor da faculdade, sem olhar para trás.
— Rodrigo! — Nathaniel grita, mas é ignorado quando viramos à direita no corredor.
Eu tento me soltar de Rodrigo, mas só quando chegamos no estacionamento é que ele me liberta.
— O que pensa que está fazendo? — brigo com ele.
Rodrigo me ignora e manda eu entrar no carro.
— Eu não vou entrar, você não manda em mim. — quando me viro para ir embora, ele me segura pelo braço, me fazendo virar para ele com rapidez, encostando os nossos corpos.
— Eu prometi ao meu pai que cuidarei de você, só pra ele não me proibir de jogar no campeonato de hóquei. Então, por bem ou por mal, você vai entrar nesse carro e nós dois vamos embora. Você entendeu?
Engulo em seco. Rodrigo não aperta meu braço, então mal algum, talvez, ele não vá me fazer, mas ele falou tão sério que me deu um pouco de medo, então escolhi obedecer e entrei no carro.
Ele entra no lado do motorista e me sinto incomodada por estarmos tão perto assim. Ele liga o carro e saímos do estacionamento, entrando na avenida em direção à nossa casa.
Nossa casa... que hilário! Eu nunca me imaginaria nesse mundo inteiro que estaria morando debaixo do mesmo teto que Rodrigo Morelles. Se eu soubesse, eu não teria aceitado de jeito nenhum! Eu quase me matei por causa dele. Nós éramos para estarmos tão perto assim. Era para eu esquecer tudo isso. Eu vim pro Canadá para uma vida nova e não para encarar o passado.
Mas parece que Deus sempre tem planos diferentes dos nossos. Se isso é um propósito do Pai pra minha vida, eu aceito. Porém, sozinha eu jamais conseguirei vencer essa luta.
Só espero não piorar a situação.
— Aconteceu alguma coisa? — Jane pergunta, ao vermos chegar cedo em casa.
— Eu...
— Ela passou mal e eu a trouxe pra casa. — Rodrigo me corta, sério. Ele dá as costas e sobe para o quarto, me deixando sozinha com sua mãe.
— Minha nossa... você está bem, meu amor? — Jane me conduz até a sala e me senta no sofá. Ela vai até a cozinha e volta com um chá nas mãos. Se senta de frente pra mim e mostra um sorriso singelo.
Perto dela, me sinto um pouquinho mais perto da minha mãe. A falta que tenho dela é muito grande e sei que nesses momentos, ela iria até a faculdade e brigaria com aquelas meninas, mas ela não está aqui e eu não sei o que fazer.
— Me conte, Mia. O que aconteceu? — Jane parecia preocupada, então eu decidi contar a verdade.
— ... e então, Rodrigo me trouxe pra casa.
— Uau. — ela parece surpresa. — Rodrigo fez bem em te trazer pra casa. Nós sabemos que você tem a Síndrome de Vasovagal, então pedimos aos meninos que cuidassem bem de você.
— Não quero ser um peso pra vocês. — me sinto envergonhada.
— Você não é minha querida. Você é um presente.
— Mas... eu só dou trabalho. Não faz nem dois dias que estou aqui é já acordei a casa inteira com os meus gritos e ainda faço Rodrigo me trazer pra casa, por nada. — concluo, frustrada.
— Sabe Mia? Quando seus pais nos disseram o que havia acontecido com você, eu e meu marido ficamos perplexos! Nós não queríamos que nada te acontecesse, porque antes da Demetria nascer, sempre a considerei uma filha. Apesar de você não lembra muito de mim... é claro.
— Verdade. Há última vez que nos vimos eu tinha 10 anos. — Era minha festa de aniversário. Tema foi da Mulher Maravilha. Jane brincou comigo o dia inteiro e me encheu de mimos. Demetria deveria ter uns 7 anos.
— Quando Demetria nasceu, eu fiquei muito feliz, mas nunca deixei de perguntar pra sua mãe como você estava, porque você ainda era e sempre será como uma filha pra mim. Mas... quando eu soube o que aconteceu... meu coração se apertou por dentro e eu disse a Gabriel que deveríamos te trazer pra cá, pra você construir uma vida nova e... aqui está você. — Jane me abraça. — Você é importante para nós, querida. Para todos nós.
— Obrigada. — sei que meu rosto está em lágrimas. Jane às seca com um pano.
Sei que ela quis dizer que também sou importante para o Rodrigo, mas isso é uma mentira. Talvez, ele não saiba o "real motivo" do meu auto-suicido, já que pedi sigilo aos meus pais, porém... ele era o garoto que eu amava e que me desprezou na frente de todos. Eu não sei o porque dessa atitude comigo, mas eu o conheço melhor que ninguém pra saber que isso não significa nada. Apenas nada.
— Agora vá tomar um banho e descansar. Mais teremos o jantar.
Nos abraçamos de novo e eu saio da sala, indo para o meu quarto. Tomo um banho e depois de me trocar, deito na cama para descansar. Antes eu oro:
Peço a ti Deus que me ajude nessa jornada. Que a tua vontade seja feita em nome de Jesus, amém!
PS: Voltei! Não esqueçam de comentar e votar. Me digam o que estão achando? Beijos. Toda Honra e Glória à Deus!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro