Me sinto sufocada. Era como se estivesse dentro de um ônibus, com o ar condicionado quebrado, sem nenhuma circulação de ar, dificultando-me de respirar junto das pessoas.

Eu queria gritar, fugir e desaparecer.

— Mia? — Demetria me cutucou.

— Oi, estou bem, o que houve? — incerta do que acabou de acontecer, voltei minha atenção pra ela.

— Você está pálida. — afirma, tocando na minha testa. — Não está com febre. — declara feliz. Eu rio, impressionada com sua preocupação comigo.

Um barulho forte interrompe a nossa conversa animada. Demetria instintivamente olha na direção do corredor de onde viemos. Seguindo seus olhos, vejo que ela está fixada na segunda porta branca, do lado esquerdo.

— Não sei qual é a dele. — diz, mais pra si do que pra mim. — Bem, é  melhor irmos. Depois mamãe pede para alguém chama-lo pra comer conosco. Vem! — acredito que Demetria está se referindo ao seu segundo irmão, Rodrigo.

O cara que partiu meu coração.

Ela pega na minha mão e me conduz para sala de jantar, no andar térreo. Tio Gabriel, Jane e Samuel estão à nossa espera. Por um momento, a timidez me faz abaixar a cabeça e esboçar um sorriso amarelo.

— Milena! — a voz do tio me anima. Ele se levanta da sua cadeira e me abraça apertado. Quase implorei para Samuel me ajudar, mas rapidamente fui “libertada”.

— Oi, tio. — falei sem-jeito, mas ele colocou a mão nos meus ombros e me analisou dos pés a cabeça.

— Cresceu e está linda! Que saudades eu tinha de você.

— Também, tio Gabriel. Obrigado por tudo. — nos abraçamos de novo e depois nos sentamos à mesa, junto com os outros.

— Aonde está Rodrigo? — Jane indaga Demetria.

— Acho que não vai descer, bateu a porta do quarto, todo revoltado. — ela dá de ombros. Voltando a mexer no celular.

Jane balança a cabeça, inquieta.

— Ele precisa comer, não pode simplesmente chegar do treino e não comer nada! — seu tom de voz aumenta, me assustando um pouco. — Desculpe, Mia. — ela se levanta da cadeira. — Vou chama-lo.

— Meu amor… nosso filho sabe o que faz. —   com a voz amorosa, tio Gabriel diz.

— Estou indo. — determinada, Jane pede licença e some do nosso campo de vista.

Tio Gabriel suspira pesado, parecendo frustrado. Havia uma tristeza em seu olhar, mas prefiri não comentar, continuando minha refeição.

— Samuel, como foi o trabalho hoje? — Meu tio muda de assunto, suavizando o clima pesado.

Samuel de prontidão, abre um sorriso charmoso, mostrando suas covinhas.

— Foi ótimo, a classe me recebeu bem e ninguém fez gracinha na hora da explicação. Conversamos bastante e espero ser assim todos os dias. — confiante, ele emana paz e tranquilidade. Gostei dele. Bem diferente do ser estressado que está trancado no quarto.

E falando nele… Jane aparece na frente e Rodrigo logo atrás com cara de poucos amigos. Ele é sério até junto da família. Nos anos que estudamos juntos, sempre achei que sua seriedade era apenas para afastar as pessoas, mas até em casa, ele não mantém sorriso, ou será que a minha presença o incomoda?

— Não vai dar as boas-vindas a nossa nova integrante da família, Rodrigo ? — Tio Gabriel cerra os olhos, encarando o filho que continua de braços cruzados e sem olhar pra mim.

— Não tenho nada a falar. — ele dá de ombros. Relaxando na cadeira e eu engulo em seco.

Quase posso sentir o ódio dele vindo até mim. Não sei porque esse cara me odeia. Não fiz nada pra ele!

— Milena vai morar conosco até terminar a faculdade. Ela é como uma filha pra mim. Então, deve trata-lá bem. — Tio Gabriel diz, severamente.

Rodrigo não responde e eu estou procurando um buraco para me esconder. Demetria me chamou por um instante e começamos a conversar sobre algumas coisas.

— Então... seu pai é pastor? — Demi é curiosa. Ela está me fazendo vários tipos de perguntas! Parece uma detetive e não iria me impressionar, se ela seguisse carreira policial.

— Sim. Tenho muito orgulho dele. Levar a palavra de Deus e ainda cuidar das ovelhas não é fácil. Mas o Senhor sempre esteve ao nosso lado. Incrível, né? — eu sabia que meus olhos estavam brilhando e que por um momento, falava com empolgação.

Quando as pessoas me perguntavam sobre Deus, eu tinha o enorme prazer de explicar a eles, sobre aquilo que eu aprendi, vivi e estou aprendendo com Ele. Me dá ânimo e chego a sorrir mais do que qualquer outra pessoa, ao falar dEle. Eu o amo muito e Ele me ama também.

— Sinto muita falta do seu pai, Milena. Estávamos juntos desde crianças, éramos os melhores no futebol e tínhamos fama de popular na escola. Ele sempre foi o mais exibido. — Gabriel riu, lembrando do passado. — Eu sempre fui tímido e admito, ele que me ajudou a conquistar essa belezura ao meu lado. — ele pisca para Jane que retribiu tocando na mão dele, com um sorriso de ponta-a-ponta.

— Meu pai é cearense e todo mundo diz, que ele tinha uma grande fama com as mulheres. Ele me conta algumas histórias, eu rio horrores!

Estava sendo gostosa a conversa, bem descontraída, por um momento, não me senti mais tão deslocada e tio Gabriel me fez sentir como se fizesse parte da família desde sempre. Ele era divertido. Lembrava o meu pai, o que fez eu me sentir mais alegre.

Pelo canto dos olhos, podia ver Rodrigo me observando. Ele comia silenciosamente e em nenhum instante, participou da conversa. Era o único isolado e sem vontade pra conversar. Até Samuel e Demetria entraram no papo e se divertiam com as histórias do pai que aprontava junto do meu.

Mas Rodrigo… sei lá... nunca o entendi. Nem na escola e agora, nem mesmo aqui. Ele simplesmente parece um homem de pedra, impassível até com a família. Porém, não posso julga-lo. Acabei de chegar e nem convivemos juntos ainda. ainda…

É melhor eu esperar pra tirar minhas próprias conclusões depois de um tempo. Quem sabe essa pose de durão é apenas agora?

Esperava que fosse.

— Está na hora de dormimos. — Jane ponderou. Todos nos levantamos à mesa que estava sendo limpa por um dos empregados.

— Boa noite, Saulo. — Tio Gabriel se direcionou ao empregado. O mesmo endireitou a postura e agradeceu a gentileza, desejando uma ótima noite à todos.

Agradecemos e seguiu cada um para o seu quarto, subindo as escadas, Samuel veio ao meu lado e sorriu pra mim.

— Vejo que já se sente mais… bem-vinda na família.

— Pois é... quando você me buscou naquela hora, não houve um segundo em que eu não fiquei nervosa. Estava com medo de me arrepender. Apesar de ainda ser o primeiro  dia, ou seria primeira noite? — brinquei e Samuel ficou à minha frente, seu corpo ereto e magro, com alguns músculos escondidos pela camisa branca e engomada.

Ficamos de frente um para o outro. Ele umedeceu os lábios e colocou as mãos nos bolsos da cama social. Estava relaxado.

— Boa noite, Mia. Bons sonhos e bem-vinda.

— Boa noite, Samuel. — ele se virou e seguiu na direção do seu quarto, eu fui logo atrás e entrei no meu.

O quarto estava escuro, mas a luz da lua entrava por entre as cortinas da varanda. O ambiente estava sossegado e o cansaço me atingiu em cheio. Amanhã mesmo iria começar minhas aulas e precisava de um bom descanso para não acordar no outro dia com enormes olheiras.

Antes de me deitar na cama, orei agradecendo a Deus por tudo e pedindo apenas uma coisa: Paciência!

Porque com o Rodrigo... só paciência mesmo.

♡ Hey meninas! Tudo bem? Espero que sim. Quero saber a opinião de vocês! O que estão achando dessa nova versão? Gostando? E o Samuel… será que ele é um possível crush pra Mia? Estão gostando dos detalhes no capítulo? Querem fotos dos personagens?

Comentem, comentem, COMENTEM!!! HEHEHEHEH

Beijos e até a próxima!