•Miriel•
[GÊNERO: FANTASIA]
Mais um dia cinzento em Seattle. Alguns pingos de chuva começaram a cair e pelo visto logo se transformará em uma tempestade, o que não ajudaria em nada já que Miriel está mega atrasada para uma entrevista de emprego.
Porque tudo sempre dá errado? Ela se faz essa pergunta todos os dias. Não consegue arrumar um emprego decente, não acredita mais no amor e muito menos nas pessoas.
Ela sai do seu prédio apressada, vai até a garagem e pega o carro. Não costuma correr, mas hoje precisará abrir uma exceção por causa do horário.
Depois de um trânsito caótico, finalmente estava quase chegando ao seu destino quando uma moto entrou contudo na frente. Ela deu uma freada brusca, fazendo o pneu cantar no asfalto, mas devido ao chão já molhado começou a capotar. O carro girou várias vezes, assustando quem passava no local. A jovem bateu a cabeça no vidro e então não viu mais nada...
Miriel está enjoada, se sentindo tonta e com dor, nem se quisesse conseguiria se levantar. Com os olhos ainda fechados, sente cheiro de grama e água. Mas como? Ela levanta a cabeça devagar e força para abrir os olhos analisando tudo ao redor. Percebe então que está em uma floresta, árvores enormes a sua volta e pássaros cantando.
A jovem ainda deitada de bruço, nota que está molhada, metade do seu corpo está dentro de um riacho e a outra metade sobre a grama. O céu já não é mais escuro e cinzento, pelo contrário, está límpido e azul. Mas ela continuava muito enjoada, sua cabeça latejava.
Enquanto tenta se rastejar para fora da água, vê uma sombra e o que parece ser a silhueta de um rapaz. Ela sorri para ele e então desmaia.
A jovem desperta lentamente. Está deitada em uma cama grande no centro de um cômodo amplo e bem iluminado. Ela olha deslumbrada ao redor, o lugar é cercado por detalhes em madeira e pedras, tudo muito luxuoso e deserto. Jogando o lençol para o lado, ela desce da cama cambaleando e sai caminhando descalça pelo piso gelado de mármore.
Não estava com suas roupas habituais, usava um longo vestido branco de mangas compridas que arrastava no chão. Os cabelos longos e loiros estavam perfeitamente alinhados, com cachos delineados que caiam por seus ombros. Enquanto caminha pelos extensos corredores, passa por várias portas que lembram o lugar que estava a pouco. Paredes de pedra, chão de mármore e algumas tochas iluminando o caminho.
Foi então que ouviu alguns barulhos vindo de uma grande porta. Seguiu o som, e ao abrir, se deparou com um rapaz, em um gramado gigantesco em pé, escorado em uma árvore de costas para ela.
Ele também tinha cabelos longos e loiros, quase brancos, era muito alto e tinha um corpo aparentemente forte. Vestia uma blusa branca de mangas compridas com um colete por cima, na cor verde musgo.
- Não é educado ficar espiando senhorita.
A jovem quase cai sentada com o susto. O rapaz se vira devagar e ela reconhece imediatamente seus lindos olhos azuis.
Ele que a salvou.
- Muito prazer sou Angrod, se lembra de mim?
- Sim eu me lembro, você me ajudou. - Ela diz com uma voz firme.
- Você está melhor senhorita...?
- Miriel.
No mesmo instante o jovem franze o cenho e a encara com o olhar surpreso.
- Me desculpe senhor mas que lugar é este?
- Esta é casa de meu pai.
- Como assim? Quem é seu pai? - Ela o fita confusa.
Angrod cruza os braços e suspira.
- Bem Miriel, acredito que esteja perdida e depois posso tentar lhe ajudar de alguma forma, mas agora venha, você precisa se alimentar.
Por mais desconfiada que esteja, ela sente confiança em Angrod e no fundo sabe que ele não lhe fará mal.
- Estou mesmo com fome... - a jovem dá de ombros.
Angrod sorri e caminha em direção a cozinha, a jovem logo o segue. É um lugar lindíssimo, algumas faixas de luz entram pelos pequenos espaços entre as pedras, formando pontos brilhantes no ar.
Eles param de frente a uma grande porta de madeira esculpida com alguns desenhos que Miriel não consegue decifrar. A jovem com curiosidade, passa o dedo indicador por todo o relevo das esculturas. Angrod que está ao lado dela encosta na porta e ela se abre como num passe de mágica, fazendo Miriel dar um salto para trás e olhar incrédula. Aquele pedaço de madeira devia pesar toneladas.
Eles entram em um salão enorme e se sentam em uma grande mesa, recheada de frutas, peixes e pães frescos.
Angrod se senta de frente para Miriel, que resolve começar a fazer milhões de perguntas.
- Onde eu estou Angrod?
- Eu já disse, você está em Algatar, na casa de meu pai.
Miriel acaba soltando uma risada.
- Eu não estou brincando. Fala logo...
- Não costumo brincar. - Falou sério, dando uma mordida num pedaço de pão.
Ela parou de rir na mesma hora e estava ficando cada vez mais aflita.
- Não consigo entender: eu sofri um acidente a algumas horas, acordei no meio de uma floresta, desmaiei e acordei depois em uma cama grande. Como isso tudo aconteceu?
- Acidente? De onde você veio?
- Ora que pergunta, sou de Seatlle, na terra sabe? - Ela ri debochada fazendo um círculo no ar com os dedos.
Angrod então se levantou num impulso com o semblante assustado e estendeu a mão para a jovem.
- Venha comigo Miriel.
Ela se levanta e segue Angrod rumo a outra enorme porta que também se abre praticamente sozinha. Eles entram em um lugar que mais se parece uma caverna, toda iluminada por tochas.
- Você veio da terra Miriel? Já ouvi algumas histórias de lá. -Angrod diz enquanto caminha até uma grande estante feita de mogno.
- Como assim ouviu histórias?
- Meu povo tem histórias sobre tudo: O sol, a lua, a água, o fogo, e sobre a terra. E em uma dessas histórias havia uma de nós que foi parar na terra, mas não cheguei a dar muita atenção, não me lembro de detalhes.
- Uma de nós? - Cada vez Miriel ficava mais confusa. Sua cabeça começou a latejar de novo e ela olhava assustada para Angrod, que revirava alguns pergaminhos.
Ele então se vira e para de frente para a jovem.
- Como eu sou pra você? Como você me vê?
- Ora como eu te vejo, normal, um pouco mais alto do que estou acostumada.
- Olhe direito Miriel... Você reparou nas minhas orelhas? -Ele diz puxando o cabelo para trás e revelando duas orelhas pontudas.
A jovem sentiu que ia desmaiar e se apoiou. Claro que ela havia reparado que ele era muito mais alto que o comum e tinha uma cor diferente nos cabelos, mas essas orelhas...
- Elfo, eu sou um elfo Miriel.
- Meu Deus! - Ela levou a mão na boca surpresa.
Seu coração batia tão rápido que por um instante ela pensou que fosse infartar.
- Eu não sei como você veio parar aqui, mas iremos descobrir. Vamos encontrar meu pai e então saberemos de tudo.
A jovem que anciava por respostas decide seguir Angrod. Eles saem rumo a floresta, caminhando por entre as árvores.
Tudo ali era incrível, o cheiro de pinho, da grama fresca, da terra molhada inundavam o olfato de Miriel. No chão verde as borboletas brincavam por entre as flores e cogumelos. Havia muitos pássaros e alguns chamaram sua atenção, eram bem grandes e coloridos, possuíam três asas e uma calda enorme. O canto deles é peculiar e por um instante a jovem se sente relaxada.
Miriel para e olha para o céu franzindo o cenho. Pequenos pontos brilhantes dançam no ar.
- O que são aqueles pontinhos Angrod? - Ela apontou.
- Fadas, das mais diversas espécies.
Miriel fica em silêncio só admirando o espetáculo cintilante que elas fazem por entre as flores.
Após algum tempo caminhando, eles passam por uma linda cachoeira de águas cristalinas. O barulho da água se chocando com as pedras os fazem parar e descansarem ali. Durante o percurso, Angrod colheu algumas maçãs e figos e eles comem sentados no gramado.
Deitados sobre a grama, fitando o céu, eles de repente se assustam com barulhos de galhos se partindo, vindo do meio das árvores. Angrod e Miriel se levantam num impulso, ele retira uma flecha das costas, encaixa no arco e fica parado em posição de ataque, enquanto ela se esconde atrás dele. Lentamente, um unicórnio branco com uma crina lilás brilhante sai da floresta. Miriel fica paralisada por um tempo admirando a criatura.
- Phoenix - Ela murmura baixo.
Angrod olha para ela surpreso, enquanto a jovem e o unicórnio se encaram. Miriel então ameaça dar um passo, mas é impedida por Angrod.
- Não faça isso, ele irá te machucar.
Angrod a agarra pelo braço lhe puxando para trás e em questão de segundos Phoenix está em cima dele. O unicórnio ataca o elfo e relincha com ira. Miriel que está estagnada no lugar, demora a ter alguma reação e só consegue gritar:
-PARE!
Phoenix cede o ataque imediatamente se curvando diante a ela, que se aproxima e toca em seu pelo macio.
- Ele não me machucará. - Ela diz sem desviar os olhos do animal.
Já era noite e eles continuam viajando, guiados somente pela luz da enorme lua prateada e das estrelas.
Quando chegam a um determinado local da floresta, adentram em uma caverna bem iluminada, sobem uma longa escadaria de pedras e se depararam com um homem tão alto quanto Angrod. Ele aparentava ser um pouco mais velho, corpo musculoso e vestia trajes luxuosos em tons de branco e azul turquesa. Seus cabelos também eram longos e loiros. Miriel não consegue parar de encará-lo e quando ele a olha, parece ter visto um fantasma.
- O que faz com ela Angrod? -Ele pergunta sem desviar o olhar da jovem.
- Eu a encontrei desmaiada na floresta pai. Viemos lhe procurar para tentarmos sanar algumas dúvidas. Ela disse que veio da terra, sei que nosso povo tem algumas histórias de lá e precisamos ajudá-la.
- Miriel. - O pai de Angrod diz sem desgrudar os olhos dos dela.
Ele então caminha na direção de Phoenix e acaricia sua crina.
- Claro que você a encontraria amigão.
- O que o unicórnio tem a ver com isso pai?
- Tudo no seu devido tempo Angrod.
Ele então se vira para a jovem e a olha nos olhos se aproximando, deixando uma distância quase nula entre eles.
- Te esperamos tantos anos Miriel. - Ele abaixa a cabeça e inala o perfume de seus cabelos, fechando os olhos.
- Não entendi senhor...
- Maedhros, me chame assim.
A cabeça de Miriel começa a latejar novamente. Como ele sabia seu nome? O que Phoenix tem haver? E lhe esperaram? Como assim? As perguntas invadiam seu pensamento cada vez mais.
- Sentem-se, vou tentar explicar o possível.
Enquanto Maedhros ia em direção a uma grande lareira feita de rochas para colocar mais lenha, Angrod e a jovem se sentaram.
- Você esteve entre nós Miriel durante 500 anos e era a companheira fiel de Phoenix. Um certo dia você sumiu sem deixar rastros, depois disso o unicórnio se isolou e nunca mais foi montado por ninguém. - Maedhros começou a contar de cabeça baixa.
- Uma energia mística abriu um portal na mata e você acabou atravessando. Foi enviada para a terra e só conseguiria voltar para nós caso sua vida lá se findasse, o que provavelmente aconteceu. Agora que está de volta precisaremos ir até as montanhas, antes da terceira lua de sangue ou você pode desaparecer para sempre.
Miriel estava pálida. Ela olhava para Maedhros sem reação.
- Quando você foi para a terra, se tornou uma mestiça e acabou perdendo sua imortalidade. Só tem uma maneira de conseguirmos reverter isso, que é fazendo um ritual para Janchet antes da terceira lua de sangue. Mas para isso, teremos de partir amanhã bem cedo já que a primeira lua é hoje.
Miriel não queria ouvir mais nada. Já não bastava estar em um mundo que ela mal sabia qual era, ela ainda poderia desaparecer...
Depois de uma noite conturbada, onde Miriel não conseguiu pregar os olhos, eles partiram no nascer do sol. A viagem foi longa e cansativa e quando já estavam no final da jornada, foram surpreendidos por Orc's, seres horripilantes, de braços grossos, dentes amarelados e podres. Angrod e Maedhros lutaram bravamente com suas flechas e após alguns minutos de combate, não havia sobrado nenhuma criatura.
Foram quase dois dias exaustivos viajando até que finalmente chegaram no topo das montanhas. Havia um templo enorme, com alguns símbolos marcados nas pedras e uma mesa enorme de cristal depositada em cima de uma rocha.
Maedhros se aproxima da jovem e segura suas duas mãos.
- Miriel falta pouco para a terceira lua e você retornou para nós. Eu sou teu esposo e Angrod nosso filho. Te esperei pacientemente todos esses anos porque sabia que um dia você voltaria e não posso lhe perder novamente. Sei que está sendo difícil digerir tudo isso, mas precisa confiar em mim.
Ela olha para Angrod que está com o rosto mais pálido que o comum e lágrimas se formam em seus olhos. Tudo então começou a fazer sentido: Sua vida fracassada na terra e sua ligação quase que imediata com Angrod e Phoenix.
- Assim que fazermos o ritual, você se lembrará aos poucos de tudo que aconteceu. - Disse Maedhros.
- Tudo bem, faça. - Ela diz sem conseguir conter as lágrimas.
Eles se aproximam do templo e Maedhros retira da bolsa uma pequena garrafa d'água, despejando um pouco dentro de um recipiente feito de quartzo que está no centro da mesa de cristal. Ele pega uma faca e faz um pequeno corte em sua mão, derramando algumas gotas de seu sangue ali. Fecha os olhos e se ajoelha.
- Janchet, deusa da imortalidade, como rei de Algatar, lhe ofereço meu sangue e em troca lhê peço a imortalidade desta serva. - ele pega a mão direita de Miriel, e imerge no líquido.
Poucos segundos depois o céu todo se ilumina, vários trovões se formam e a lua fica vermelha da cor da água. A jovem senti uma dor na cabeça e no peito muito forte que a fazem cair. Tudo parece girar e flashes de memórias invadem sua mente: um portal próximo a cachoeira, ela atravessando e acordando em um beco escuro de Seattle.
O corpo de Miriel é envolvido por uma luz muito forte que a faz levitar. O traje simples que vestia se transformara em um lindo vestido de seda brilhante e os cabelos longos e dourados adquiriram um tom mais platinado. As orelhas de Miriel se tornaram pontudas e agora no topo de sua cabeça, uma linda coroa cravejada de diamantes. Lentamente a luz vai se dissipando e ela cai deitada no chão. A jovem, agora elfo novamente, olha para Maedhros e Angrod sorrindo e então desmaia.
Fim...
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