•De Janeiro a Janeiro•
[TEMA: DIÁLOGOS]
- Merda, você só faz merda Felipe. Estourar caneta na mão, maravilha.
- Água e sabão resolvem.
- Que susto! Desculpe pelo palavreado, não reparei você sentada ai.
- Felipe né? Sou Elisa, tenta limpar com isso.
- Como sabe o meu nome?
- Bem, você disse que só faz merda, então ou você se chama Felipe ou tem algum amigo imaginário.
- Não tenho. Eu sou o Felipe, e obrigada pelo lenço.
- Há quanto tempo está aqui?
- Três semanas e você?
- Quatro meses.
- É muito tempo.
- É... Realmente é.
- Elisa é um bonito nome.
- Era o nome da minha mãe, ela faleceu quando eu nasci.
- Eu... é... sinto muito.
- É brincadeira.
- Não pode brincar com isso garota.
- Desculpa, não consegui evitar.
- Sua risada é esquisita, mas ao mesmo tempo engraçada.
- Relaxa, minha mãe está vivíssima andando por aí. Mas e o seu nome? Tem a ver com o piloto da fórmula 1?
- Provavelmente...
- Então Felipe, alguma vez você já parou pra pensar que se encontrarmos um caminho sem obstáculos, ele provavelmente não nos levaria a lugar nenhum?
- O que isso quer dizer?
- Que não importa o quão difícil esteja sendo, não podemos nos abater. No fim o destino de todos nós é um só.
- Ou seja, vamos todos morrer?
- Exatamente.
- Isso sim é deprimente.
- É uma realidade que ninguém aceita. Você não acha?
- Mais ou menos. Acho que as pessoas aceitam, só não se conformam com o fim.
- Como assim?
- O fato de uma pessoa aceitar, não significa que ela se conformou com aquilo. Por exemplo: Eu não me conformei da caneta ter estourado, mas aceitei.
- Gostei de você Felipe. Você curte MPB?
- Não é muito o meu estilo.
- E qual é o seu estilo?
- Pop e Rock.
- Canta alguma coisa aí.
- Não.
- Prometo que não faço piada.
- De jeito nenhum. Não conheço você o suficiente.
- Você é um careta.
- E você curiosa...
- Hoje estão demorando mais que o normal para chamarem.
- Por mim nem chamariam.
- Aí você estaria desistindo.
- Tanto faz.
- Não fala assim Felipe...
"- Não consigo olhar no fundo dos seus olhos e enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar. As várias fases e estações que me levam com o vento e o pensamento bem devagar..."
- Eu amo essa música.
- Eu sonhava em dançar essa música no meu casamento. Nem sei se terei um...
- Você pode dançar quando quiser, não precisa esperar se casar para isso.
- Tem razão Lipe. Vamos?
- Pra onde?
- Dançar.
- Elisa... eu... eu não sei dançar.
- Eu também não sei muito, por isso vai ser divertido. Só siga meus movimentos.
- Não acredito que faremos isso...
"- Outra vez, eu tive que fugir, eu tive que correr, pra não me entregar as loucuras que me levam até você, me fazem esquecer, que eu não posso chorar..."
- Você tem um cheiro incrível e uma voz linda.
- Você está me paquerando Felipe?
- Talvez.
- Você mente mal.
- O que eu menti?
- Você sabe dançar, e muito bem.
- Você também...
- O que você pensa em fazer da vida Lipe?
- Quero fazer Direito e você?
- Música.
- Você tem talento.
- Você só me ouviu cantar por um minuto.
- Mas já foi o suficiente.
- Posso te pedir uma coisa?
- Não sendo cantar, pode.
- Me conta alguma coisa especial, que ninguém saiba.
- E depois será sua vez?
- Combinado.
- Eu vou conhecer meu pai. Depois de 17 anos ele finalmente resolveu fazer parte da minha "vida", logo agora, irônico não?
- E isso é especial pra você?
- Por incrível que pareça sim, eu sempre quis saber como seria tê-lo por perto. Mas enfim, agora é a sua vez.
- Eu descobri hoje que só tenho mais dois meses de vida...
- Felipe Mendes?
- Sou eu.
- Boa tarde, eu sou a enfermeira Ana. Vamos? Sua sessão de quimio irá começar.
- Vamos sim, só preciso de um minuto... Elisa, e isso é especial pra você?
- Te conhecer aqui, hoje, nesse corredor de hospital, foi a melhor coisa que já me aconteceu nesses quatro meses. Não desista Lipe...
- Ei me dê sua mão e não ria de mim ok?! "Mas talvez, você não entenda essa coisa de fazer o mundo acreditar. Que meu amor, não será passageiro, te amarei de janeiro a janeiro até o mundo acabar..." - Eu não vou desistir.
Fim....
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