Capítulo único
Ela está chegando perto. Seu perfume é doce e seus lábios pintados de rosa estão entreabertos.
Está acontecendo. Si Yeon, a garota mais popular da escola, vai me beijar. Exatamente como Somi, minha melhor amiga desde a infância, disse que aconteceria.
Ir ao cinema foi a escolha perfeita. Além de nos dar privacidade e o filme escolhido nem ser tão bom assim, a luz provinda apenas da tela grande é ideal para que eu tenha um vislumbre do rosto de Si Yeon.
Aproximo o rosto lentamente, criando aquela tensão no momento precedente ao beijo. Meu primeiro beijo, aliás.
A ponta do seu nariz raspa no meu, nossas respirações se mesclam e o ar se torna denso. Eu consigo sentir um nervosismo estranho subindo pela espinha, e, apesar de não me importar muito, não consigo sentir as borboletas no estômago; a sensação de felicidade plena.
Não, algo está errado.
Franzo as sobrancelhas, numa careta. Somi me disse que eu sentiria isso com a pessoa certa. Mas... Eu não sinto isso agora.
Tento continuar o que comecei, no entanto, de repente, como se uma força maior me impedisse, eu paro de me aproximar e abro os olhos, atordoado.
Não demora muito até Si Yeon não sentir os meus lábios e também abrir os olhos, confusa.
- O quê? - pergunta, constrangida.
A observo por alguns segundos. Ela é linda e doce. Todo garoto da nossa escola gostaria de estar no meu lugar agora.
Mas... Eu não sei.
A situação parece tão artificial que chega a fazer meu estômago revirar.
Um encontro arranjado... Que ideia ridícula! Por que eu aceitei?
Sequer fiquei ansioso ou nervoso antes de ir buscá-la na sua casa; sequer passei muito tempo parado em frente ao guarda-roupa cogitando qual roupa seria mais adequada; e, pior, sequer liguei para Somi em busca de mais dicas.
Aliás, particularmente hoje, ela estava estranha. Falou pouco nas aulas e evitou a conversa animada dos meninos no intervalo.
- Yoon Gi, está tudo bem? - pergunta, quebrando o silêncio.
Pisco os olhos, como se despertasse do transe, e suspiro.
Não acredito no que estou prestes a dizer...
- Não posso fazer isso - falo rápido, antes que perca a coragem. - Sinto muito.
E no segundo seguinte, estou saindo daquela sala de cinema sem esperar ela protestar.
(...)
Esgueiro-me para dentro da pequena casa na árvore, o rangido do último degrau de madeira avisa a Somi que estou aqui. É a nossa comunicação. Hoje, porém, eu não esperava vir aqui. Foi mais forte do que eu. Não conseguiria esperar até amanhã para falar com ela.
Somi está com fones de ouvido, as mãos cruzadas atrás da cabeça e os olhos fechados, sustentando uma expressão serena.
Não sei por que exatamente, já que diversos impulsos confusos me guiaram até aqui esta noite, mas sorrio. Talvez eu apenas esteja feliz por vê-la em sua mais genuína leveza, usando um vestido amarelo - sua cor favorita - e seus all-stars surrados.
Deito-me ao seu lado, olhando para o pequeno buraco no teto que Somi fez questão de adaptar para poder observar as estrelas, mesmo com os protestos de seus pais, que se preocupavam em manter a casa intacta em dias chuvosos e a sua engenhoca poderia ser frágil. Retiro um fone de ouvido de si e ponho no meu; sua melodia favorita sendo compartilhada comigo.
- Yellow... Porque não poderia ser diferente, certo? - balbucio.
Ela abre um sorriso lento, preguiçoso.
- Você me conhece - sua voz carrega um tom nostálgico.
E, de fato, eu a conheço muito bem. Não consigo contar em uma mão o tempo em que estivemos juntos. Somos vizinhos e amigos desde pequenos. Ela me ajudou com a timidez nos primeiros anos da escola, quando eu tinha medo de interagir com as outras crianças.
- É, há muitos anos - respondo, orgulhoso por ter convicção disso. Em seguida, aproveito da situação para acrescentar: - Assim como eu sei quando há algo de errado com você.
- Como assim? - Somi abre os olhos, mas não me encara.
Eu a observo com atenção, agora parece tensa, esperando meu próximo passo.
- Me evitou o dia todo.
- Você estava ocupado - rebate de imediato.
- Bom - umedeço os lábios -, normalmente, você me ajudaria a escolher uma roupa e passaria o dia todo no meu quarto, despojada na cama, enquanto me escutaria divagar sobre o que eu deveria fazer para não estragar tudo.
Ela diz, em seguida, com pesar:
- Já passei muitos dias assim, mas não consegui te fazer entender.
Franzo o cenho e entreabro os lábios.
- Não gosta dela? - acabo perguntando.
Somi vira o rosto em minha direção, nossos olhares se conectam, e por um momento, eu perco o fôlego. Há algo nela... Um brilho, uma emoção singular que faz meu coração bater mais forte.
- Ela é bonita - responde, por fim. - Formam um belo casal - um sorriso fraco emoldura seu rosto.
- É, acho que sim - engulo em seco.
- Mas você voltou cedo, deu tudo certo?
Abro a boca para responde-la, porém termino por apenas acenar a cabeça positivamente. A esse momento, sequer presto atenção nas músicas que tocam.
Somi contrai os lábios e pisca os olhos várias vezes, chego a pensar que não dirá nada. Mas, logo após, pergunta:
- E como foi?
Dou de ombros.
- Ah, fala sério! Você teve o seu primeiro beijo e não tem nada a me dizer? - brinca, empurrando meu ombro com o seu.
Ambos rimos, e eu fico feliz por conseguir animar-lhe. Somi tem o sorriso mais bonito que já vi, e eu só estou reparando nisso agora. É algo que me ilumina de dentro para fora.
Quando as risadas se cessam, eu aproximo um pouco o corpo do seu, a ponto de minha mão tocar a sua, e digo, num sussurro, como uma confissão:
- Eu não a beijei.
Demora apenas um segundo para ela entender as minhas palavras.
- Por quê? - sussurra de volta, entrelaçando ainda mais sua mão entre a minha.
- Não podia. Beijá-la não teria nenhum significado para mim.
Ela franze as sobrancelhas, confusa.
- Mas... você me disse que estava ansioso para isso acontecer.
- Com a pessoa certa. Ela não era.
- E como descobriu isso?
- Hum... - pondero minha resposta, olhando para as estrelas. - Eu descobri várias coisas sobre ela hoje, acho que qualquer envolvimento não dará certo. Primeiro, porque ela não gosta da combinação: pipoca e milkshake de morango.
Somi sorri, espontânea.
Nós adoramos essa combinação.
- Pois é! - exclamo. - Como não gostar?
- E o que mais? - consigo sentir seus olhos queimando minha pele.
É uma sensação boa, como se a verdade, aos poucos, fosse revelada.
- Bom, ela não gosta do meu estilo de música!
- Isso é uma ofensa!
- Eu sei! - rebato, exasperado.
E após um momento, gargalhamos alto. O som da sua risada energiza meu corpo.
Então, de repente, paramos. Viro o rosto na direção de Somi e nossos olhares se conectam mais uma vez. A intensidade faz meu coração bater mais forte.
Aish! Com certeza é ela...
- A Si Yeon não parece nem um pouco com a garota ideal para você - Somi irrompe o silêncio reflexivo, o momento em que eu entendia perfeitamente o quanto estou apaixonado por ela.
- Tem razão - sussurro, sentindo sua respiração contra meu rosto. - Principalmente porque ela tem mais um defeito.
- Qual?
Antes que possa recuar, digo:
- Ela não é você, Somi.
Somi arregala os olhos, surpresa, mas não assustada.
- Yoongi... - meu nome sai carregado de emoção.
Sinto o coração apertar, o medo latente de ter tomado a decisão errada fazendo-se presente.
- Aish, não deveria dizer isso tão de repente - recuo. - E eu sei que estaríamos dando um passo arriscado, mas tenho pensado nisso ultimamente. Tentei buscar os sinais, aqueles sinais, que você me contou. E a verdade que eu tanto ignorei é que eu só consigo sentir arrepios quando você me toca, só consigo sentir felicidade plena quando você sorri e, principalmente, apesar de te conhecer há tantos anos, todas as vezes que eu a vejo, fico ansioso como se fosse a primeira vez.
Respiro fundo. Acho que esse é o máximo de palavras que já falei de uma vez, o máximo de sentimentos que já consegui demonstrar a alguém.
O máximo de mim, para ela.
- Então, me beije - diz, enfim.
E eu não preciso de muito tempo para processar suas palavras.
Está acontecendo. Mas, dessa vez, com a pessoa certa.
Somi se aproxima, seu rosto está corado. Por um impulso, levo a mão à sua bochecha, acariciando o local, enquanto a tensão criada por nós dois fazem as borboletas baterem asas dentro do meu estômago, meus lábios se entreabrirem com receio de fazer algo errado, receio de não ser suficiente para ela, e a mistura de ansiedade e felicidade se assolam no meu corpo.
Até nossos lábios se encontrarem, e uma explosão indescritível de sensações boas tomarem conta do meu corpo; o sentimento puro aflorando em cada célula. Tudo se encaixa perfeitamente, conforme as estrelas se alinham e a história do meu primeiro beijo vai se moldando; uma história especial, com uma pessoa especial, que ficará marcada na minha memória para sempre.
💋
[1500 palavras]
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