18
- Será que essas flores vão combinar?
Henry olhou para as poinsétias que cultivava em sua pequena estufa, as flores vermelhas estavam ainda mais lindas do que esperava e ficariam perfeitas nos arranjos que Charlotte iria fazer para o jantar de Natal.
- Vão ficar lindas. - concordou, limpando a terra das mãos em um pano que estava em seu ombro. - Só vou terminar de plantar essas últimas mudas de begônias antes de irmos.
- Não tem pressa, minha família só chega atrasada aos eventos mesmo. - afirmou, apoiando o quadril na lateral da mesa de madeira enquanto o observava.
- O que foi? - indagou, alguns arrastados segundos depois, ainda concentrado em sua tarefa.
- O que foi o quê?
- Estou sentindo o seu olhar, Charlotte.
- Não posso nem mais olhar para o meu marido sem parecer suspeita?
O tom falsamente indignado dela o fez rir baixinho. Pelo canto do olho a viu se remexer meio desconfortável, ela queria lhe contar algo e provavelmente estava arrastando o tempo.
- O fato, minha querida esposa, é que eu lhe conheço a mais de trinta anos, não tem como você esconder nada de mim.
- Você que pensa. - resmungou, cruzando os braços e o olhando séria. - Será que podemos conversar?
- Já não estamos fazendo isso?
- Henry.
- Ok. - cedeu, a encarando com um meio sorriso. - O que a preocupa tanto?
Se aproximou um pouco mais e estirou a mão para tocá-la, porém Charlotte recuou alguns centímetros.
- Você está cheio de terra e acabei de tirar essa roupa da secadora. - apontou enfaticamente para a blusa azul que usava, o que o fez rir antes de se inclinar e beijá-la rapidamente nos lábios. - Assim é melhor. - um sorriso satisfeito adornou seu rosto.
- Sobre o que você quer conversar?
- Harriet. - o nome saiu em meio a um suspiro resignado. - Ela tentou iniciar uma conversa comigo que eu sei muito bem pra onde vai e não estou gostando nada disso.
- Como assim? - agora estava preocupado.
- Ela falou que a Jane vai morar em Boston e depois começou a contar dos programas de Engenharia que a universidade de lá oferece.
- Ela quer se mudar pra Boston?
- Ela quer desistir da Caltech, Henry.
Não soube o que responder, já havia conversado com Charlotte sobre essa possibilidade, porém nenhum dos dois acreditou que a filha pudesse realmente desistir de sua faculdade dos sonhos. Harriet chorou quando recebeu o e-mail de admissão, fizeram uma pequena festa comemorando e ela havia afirmado diversas vezes desde então o quanto estava ansiosa, de uma maneira boa.
- Ela não vai desistir, Char.
Disse confiante, não conseguia acreditar que sua estrelinha fizesse isso. Sua esposa soltou um suspiro audível e o encarou como se ele fosse meio tonto.
- Claro que vai. - torceu o nariz para o tom paciente dela. - Ela está apaixonada, meu amor, tão apaixonada quanto você quando brigou com o Ray por causa da Veronika.
- Você desenterrou essa memória de um lugar bem fundo, viu. - resmungou impaciente.
- Não encontrei nenhuma outra comparação. - declarou, dando de ombros sem se importar.
Henry limpou as mãos novamente e virou de frente para ela, o quadril apoiado na mesa em uma posição como a de Charlotte.
- E que tal quando você fugiu de Distopya no meio da noite nos deixando desesperados só pra encontrar seu namorado em Nova York? - indagou, a vendo ficar sem fala por um segundo, o que considerou uma vitória.
- Puff, isso não foi nada. - recobrou o controle do corpo e abanou a mão como se aquilo não tivesse tido importância. - E eu avisei que ia encontrar o Jackie pra acertar tudo.
- Oh, claro, um bilhete resolve tudo. - ironizou, resolvendo voltar as suas plantas.
Charlotte deu a volta para parar do seu outro lado, apoiou uma das mãos na mesa e cutucou seu ombro com a mão livre.
- Isso foi há anos atrás, por que estamos discutindo?
- Você quem começou.
Lembrou, retirando com cuidado uma muda para transportá-la para outro vaso. Apertou os lábios para evitar o sorriso quando a escutou bufar.
- Olha, sua filha está querendo jogar o futuro fora por uma garota que não está fazendo bem pra ela.
- Pensei que você gostava da Jane.
Praticamente podia escutá-la cerrar os dentes. Não negava que estava preocupado com Harriet, mas Charlotte tendia a ir fundo de mais em suas suposições e mexer com seus nervos a distraía um pouco, sem contar que era imensamente divertido.
- E gosto, ela é uma garota legal e esforçada e todas essas outras coisas, mas a Harriet some quando está ao lado dela. - aquilo chamou sua atenção, virou a cabeça para o lado encontrando os olhos nublados de sua esposa. - Não percebeu que ela se encolhe dentro dela mesma e deixa a Jane tomar todas as decisões? Essa não é a minha filha.
- Ela faz isso? - perguntou preocupado.
- Infelizmente. - o ar saiu por entre seus lábios em um suspiro trêmulo. - Eu não sei como conversar com ela sem que ela fuja, toda vez que toco no assunto parece que estou com uma doença contagiosa que faz ela praticamente correr pra longe.
- Precisamos tentar, nós dois no caso.
- Só não quero que ela seja infeliz, querido. - inclinou a cabeça para frente, apoiando a testa em seu ombro. - Quero que ela corra atrás dos seus sonhos e realize o máximo possível, sei que não vou conseguir proteger ela do mundo, mas vou fazer o possível.
- Eu sei, meu amor. - falou carinhosamente, encostando a lateral de sua cabeça na dela. - Vamos fazer o nosso melhor, só que ela deve seguir as próprias escolhas ao fim de tudo.
Charlotte iria falar algo a mais, porém foi interrompida por um grito agudo. Os dois se separaram e correram para fora da estufa, ao longe conseguiam ver seus dois filhos um pouco afastados da entrada da cozinha, como faltava uma na contagem, resolveram olhar para cima e encontraram Daisy flutuando até o telhado. Após trocarem um olhar descrente, correram até eles.
- Se alguém não começar a me explicar agora o que está acontecendo, todos vão ficar de castigo.
Charlotte começou a falar quando estava alguns passos longe deles, Harriet foi a primeira a se virar para ela e abriu um sorriso confiante, Oliver praticamente pulava no mesmo lugar enquanto observava a irmã menor.
- Vamos pegar um Papai Noel.
- Como? - Henry perguntou, um sorriso animado começando a nascer em seu rosto.
Charlotte olhou para Daisy, se certificando de que ela estava bem e voltou sua atenção para Harriet.
- Como a Daisy já tem uma idade pra entender toda a logística, eu e o Oliver pensamos que três pessoas era melhor que uma pra finalmente conseguirmos prender um Papai Noel.
- Vamos prender alguns velhinhos! - Oliver gritou animado, tendo seu grito ecoado pela mais nova.
- Contanto que não se machuquem e fiquem de olho naquela ali. - apontou para a filha que instalava algum aparelho. - Podem usar tudo que precisarem do depósito.
Harriet soltou um gritinho e enrolou os braços ao redor do pescoço da mãe.
- Já falei que você é a melhor mãe do mundo?
- Hoje ainda não.
As duas riram, ainda abraçadas, enquanto Henry saiu com Oliver para procurarem algo de útil no depósito de Charlotte. Daisy olhou para o céu que começava a se encher de nuvens escuras, fechou os olhos e se concentrou, quando os abriu notou que algumas das nuvens haviam sumido. O Natal estava a semanas de distância, porém eles ainda tinham muito trabalho pela frente já que iriam viajar para a casa de uma tia para a ação de graças.
- Ainda vou capturar você, seu velhinho espacial fofo. - sorrindo, voltou ao trabalho.
*****
Então, antes de tudo, obrigada pelos comentários e pelos votos, fico muito feliz por estarem gostando.
E após tudo, essa coletânea irá somente até o capítulo 25, já está planejado e só gostaria de avisar com antecedência.
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