16
Charlotte fechou com cuidado a porta do quarto de Oliver, o bebê finalmente dormira depois de muita luta. Eram quase dez horas da noite, ele havia batido o próprio recorde e passado o dia acordado, seu filho possuía mais energia do que todos os que moravam naquela casa juntos. Encostou a testa na porta fria e se permitiu relaxar um pouco, Harriet dormia um sono de pedra no quarto à frente e Henry estava na sala terminando de dobrar algumas roupas.
Ainda bem que seu marido estava em casa durante o dia ou ela não teria conseguido terminar de revisar todos os estudos e documentos que haviam lhe enviado. Deveria sentar com ele e conversar sobre o que fariam em relação à ONG que ajudavam, as crianças e adolescentes precisavam de doações e eles teriam que organizar uma nova campanha para o início do ano. Se afastou do quarto e caminhou em direção à cozinha, abriu a porta que dava para o quintal e observou seus cachorros dormirem tranquilos em suas casinhas, com sorte eles não iriam latir durante a noite à procura de algum animal. Quando ia voltar sentiu seu celular vibrar, ao olhar viu que era uma ligação de Piper, ficou realmente tentada a ignorar.
- Oi. - não conseguiu.
- Boa noite, cunhada.
Reconheceu na hora o tom puxa saco dela. Saiu para fora e sentou no banco que ficava perto da porta.
- O que você quer?
- Não posso mais ligar para a minha amada cunhada/melhor amiga só por querer?
- Piper. - praticamente implorou, só queria ir para a cama e dormir. - Diz logo, por favor.
- Tá bom. - cedeu, Charlotte sabia que ela devia estar com um bico enorme no rosto. - Eu só preciso da Harriet e do Oliver emprestados no próximo fim de semana.
- Por acaso eu acabei de escutar que você quer meus filhos emprestados? - ela só poderia estar brincado.
- Sim, foi isso mesmo.
- Piper, me diga o que você vai fazer com os meus bebês antes que eu te peça para calar a boca.
- Se acalma que eu nunca machucaria meus sobrinhos. - disse indignada. - Eu só quero passar o dia com eles pra tirar da cabeça do meu namorado estúpido a ideia da gente ter filhos.
Piper resmungou tão irritada que Charlotte não teve como segurar o riso, podia até imaginar as discussões entre os dois. Pelo visto o próximo almoço em família iria ser caótico.
- Não vou mentir e dizer que não vou agradecer um tempo de silêncio. - teve que admitir, escutando a gargalhada de sua amiga. - O Oliver dormiu agora, descobrimos hoje que o choro dele tem um pequeno detalhe bem inconveniente. - informou, fechando os olhos e sentindo o vento frio da noite.
- Vamos combinar que choro de criança já é inconveniente por si só.
- Piper.
- Ok, mas o Oliver não chora ele grita. E pelo visto vai ser assim até quando ele estiver maior. - a lembrou.
- Bom, a questão é que quando ele chora bem alto, o que acaba sendo um grito mesmo, quem escuta pode ficar levemente atordoado.
- Ele também tem poderes? - perguntou animada.
- Pelo visto. Marcamos uma consulta na próxima semana com a doutora Emily, acho que o poder dele não tem tanta potência porque ele ainda é muito pequeno. - explicou, conseguindo escutar os gritinhos entusiasmados que Piper tentava abafar. - Mas temos que saber como controla-lo um pouco já que o Oliver vai demorar para fazer isso por conta própria.
- Eu estou tão animada! Mal posso esperar pra passar o dia com eles.
- Piper, me prometa que você não vai usar a Harriet de balão novamente. - pediu séria, quase surtou quando encontrou sua filha flutuando no quintal presa por uma corda que Piper segurava.
- Me desculpa, não vou mais fazer isso. - garantiu, rindo em seguida. - Mas ela adorou.
- Claro que ela adorou, que criança não quer ficar flutuando pelo quintal soltando bolhas de sabão pros cachorros pegarem?
- Mas eu posso passar um dia com eles? - retomou o assunto inicial.
- Sim, vou conversar com o Henry para saber um dia bom para todos.
- Ótimo, qualquer coisa me avisa.
- Pode deixar. Boa-
- Charlotte!
O grito veio de dentro da casa e a fez correr para dentro assutada. Ao chegar na sala encontrou Henry em pé nervoso e um Ray claramente desesperado andando de um lado para o outro do local.
- O que houve? - perguntou preocupada.
- Char? - Piper a chamou do outro lado da linha.
- Te ligo depois. - avisou a cunhada, desligando em seguida. - Por que o Ray parece que vai ter um infarto a qualquer minuto?
- Ele meio que descobriu algo hoje. - Henry respondeu, se aproximando dela e em seguida falando em voz baixa. - Gwen apareceu.
- Oh.
Foi só o que conseguiu falar, nunca deixou transparecer que sabia o que o futuro de Ray guardava para ele, somente Henry sabia de poucas partes, ela resolveu que ocutaria algumas datas. O conhecia o suficiente para saber que em alguns momentos ele surtava desnecessariamente e poderia comprometer tudo.
- Isso não pode estar certo, não pode. - Ray repetia a todo momento, balançando a cabeça e torcendo as mãos.
Charlotte lançou um olhar para Henry em clara busca por respostas.
- Ela apareceu com uma bebê no colo e disse que é filha dele. - começou, surpreendendo a mulher. - Ele surtou e veio direto pra cá.
- Onde ela está?
- Em Swellview, o Ray deixou ela na casa dele junto com o Ryan.
- Mas. - não conseguia entender, seu futuro sobrinho havia dito que ele era o único filho. Mas Harriet apareceu e pelo visto aquela bebê era como ela, uma pequena curva no futuro.
Pelo o que lhe foi dito era para Ray ter encontrado Gwen há muito anos, mas o encontro demorou um pouco e quando aconteceu foi bem turbulento. Seu amigo havia prometido que nada havia acontecido entre eles, porém, ao olhar sua reação algo grande havia acontecido. E esse algo o esperava na cidade vizinha.
- O que vamos fazer? - Henry perguntou, Charlotte somente o puxou pela mão para sentar no sofá com ela.
- Esperamos ele se acalmar e damos tchau a nossa noite calma de sono. - Respondeu simples, deitando a cabeça no ombro dele e sentindo os braços do mesmo a contornarem.
Ray precisava deles, e se ele precisava eles estariam ali sempre. Mesmo que o amigo acabasse afundando o chão de tanto andar.
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