12
8° mês de gestação
Charlotte acordou cedo, notou que o sol ainda estava nascendo. Virou-se para o outro lado da cama e tentou voltar a dormir, mas o som alto de vozes na cozinha a fizeram despertar. Percebeu que Henry não estava mais na cama, ele afirmou que deveria estar de madrugada entregando as flores para o casamento que seria ao nascer do sol, talvez ele já tivesse voltado. Retornou a ficar deitada com a enorme barriga para cima, talvez conseguisse mais algumas horas de sono, porém o som de um objeto de vidro se estilhaçado no chão seguido de um grito estridente pôs seu plano por água a baixo.
- Olha o que você fez!
Não tinha como, ela deveria se levantar. Com uma enorme dificuldade, não sabia o que estava fazendo para aquela criança engordar tanto, mas pelo visto ele iria ser um esfomeado igual ao pai, calçou suas pantufas e saiu do quarto. Antes de ir para a cozinha parou para olhar Harriet, sua filha dormia tranquila e soltou um suspiro aliviada, ela realmente tinha um sono de pedra.
Assim que chegou na sala já podia ver o que se passava na cozinha, Siren estava com uma frigideira levantada na direção de dona Marta, que a encarava irritada, Jasper se encontrava no meio das duas e que Marie Curie a ajudasse, mas era Elana/Ilara/Qualquer-que-seja-o-nome-dela que estava sentada na ilha de sua cozinha usando sua caneca favorita?!
- O que está acontecendo aqui? - perguntou alto, se concentrando para manter o máximo de calma aquela hora da manhã.
Não deu um segundo para que um emaranhado de vozes começassem a cuspir explicações ao mesmo tempo. Conseguiu pegar pequenos relatos antes de não entender mais nada.
- Essa louca não entende nada!
- Elas iam se matar!
- Não tenho culpa dela ser amarga!
- Obrigada pela hospedagem!
- Hospe. O quê?! - gritou acima de todos, o que fez um tenso silêncio cair sobre a casa. Encarou a nova incógnita de Jasper e depois encarou o amigo, ele pelo menos teve a decência de se sentir envergonhado e antes que Charlotte ousasse abrir a boca, um grito infantil a parou.
- Mama! Mama!
Inspirou profundamente e se virou para ir ao encontro de sua filha, mas antes avisou em um tom gélido para que não restasse dúvida.
- Eu não quero saber o que aconteceu, só sei que quando eu voltar minha cozinha deve estar limpa e essa aí. - apontou para a garota na bancada que ainda tomava o café da manhã despreocupada. - Tem que ter sumido da minha casa.
○ ○ ○ ○ ○
Era só inspirar fundo e expirar devagar. Inspirar o ar pelo nariz e soltar pela boca, só precisava fazer isso mais algumas vezes e não iria matar ninguém.
- Será que você não entende que ela tem alergia?!
- Essa coisa de alergia não existe, é só uma desculpa pra parar de dar o que é bom para as crianças!
- Tia!
- Não adianta, Henry. Ela vive na idade da pedra!
- Quem você pensa que está chamando de velha?!
- Ora mais, só vejo você aqui com a mente de um velho dos anos 50!
- Falou a pessoa mais que perfeita, a frente do seu tempo. Quem vê nem pensa que mente a idade só pra ganhar elogio dos vendedores!
- Isso não é verdade!
- Dá em cima de qualquer coisa que se mexe e vem me criticar? Olhe para sua própria vida antes de vim falar de mim, Siren!
- Quem você pensa-
- Eu não penso, eu sou simplesmente a pessoa que ajudou a te criar!
- Será que vocês não conseguem passar pelo menos um minuto sem discutir?!
O grito de seu marido a fez abrir os olhos. Era tarde da noite, as duas não paravam de brigar, não estavam nem com uma semana morando sob o mesmo teto e Charlotte tinha mais certeza ainda a cada dia que passava que uma delas deveria ir embora. Mas se testassem ainda mais sua paciência ela iria mandar todos embora.
- São onze horas da noite, estamos todos cansados. Vocês podem fazer o favor de ir dormir e parar com essa discussão sem sentido? - Henry pediu, claramente exausto.
Sua mãe se aproximou e depositou um beijo em sua bochecha.
- Vou parar quando ela calar a boca. - disse, dando as costas para eles e indo para o quarto.
- Ela simplesmente não admite quando tá errada. - dona Marta falou e Charlotte a encarou incrédula.
- Sério mesmo? Ela é quem não sabe quando tá errada?
- O que você quer dizer com isso?
- Ela não quer dizer nada. - Henry se apressou e começou a empurrar sua tia para longe da cozinha. - Vá dormir, tia, vai ser melhor pra todo mundo.
- Vou porque eu quero e não porque você está claramente me expulsando. - deixou claro, saindo de perto deles.
Quando ficaram a sós, Henry se ajoelhou à frente de Charlotte que estava sentada em uma cadeira, e soltando um resmungo indecifrável apoiou a cabeça na barriga dela.
- Não precisamos ficar com elas até o bebê nascer, por favor, não deixe elas aqui juntas até o bebê nascer. - pediu cansada, levando a mão direira aos fios curtos do cabelo dele, iniciando um carinho muito bem-vindo.
- Só mais um dia e conversamos com elas.
- Uma delas tem que sair, Hen.
- Eu sei, querida.
- Vai ser a tia Marta. - afirmou, soltando uma risada involuntária.
- Não estou duvidando. - confessou, rindo junto com ela. - Mas vamos dar mais uma chance à ela.
Definitivamente sua tia era uma pessoa de doses pequenas. Mas Charlotte só iria dar outra chance a mulher controladora por Henry, e então passaria mais de um ano sem vê-la.
○ ○ ○ ○ ○
No dia seguinte
Sentada no sofá, assistia a Princesa e o sapo pela enésima vez, Harriet encontrava-se deitada ao seu lado com as pernas apoiadas em sua barriga. A criança nem piscava ao olhar encantada para a TV, poderiam passar a tarde inteira assim, principalmente porque Charlotte havia conseguido fazer com que Siren e Marta fossem fazer algo bem longe dela, e com Jasper trabalhando tinham a casa toda para si.
- Eu juro que o fato de sermos primas não vai me impedir de cometer um assassinato!
A voz irritada de sua sogra tirou toda a magia da Disney. Já prevendo a confusão, encarou a porta de entrada que havia sido aberta de supetão e viu dona Marta entrar quase soltando fumaça.
- Você queria que eu fizesse o quê?!
- Definitivamente não era necessário insultar a vendedora!
- Eu não sabia que ela não estava grávida e só gorda!
- E é extamente por isso que eu não saio com você! - Siren gritou, antes de dar às costas e seguir para o quarto de hóspedes.
Marta ficou parada na entrada da sala, Charlotte não ousou abrir a boca. Viu que a tia de Henry tentava se acalmar e após alguns segundos quase eternos, virou-se para ela com um enorme sorriso.
- Bem, querida, vejo que você passou a tarde vendo TV. E ainda com a pobre Harriet.
O tom doce dela quase a fez revirar os olhos, não estava com disposição para discutir mais uma vez sobre o tempo que sua filha passava em frente à TV.
- Pode parar por aí, dona Marta.
- Tia Marta, Charlotte. - a interrompeu com firmeza.
- Tia Marta. - se corrigiu, estreitando os olhos na direção dela. - Já tivemos essa conversa antes e não deu certo.
- Não deu certo porque você não me escuta. Eu criei três filhos, meu amor, além dos meus irmãos e daquela ingrata também. - afirmou, deixando escapar em um tom amargo a última parte. - Nunca deixei que eles ficassem tanto tempo presos à essa tecnologia e-
- Ok, já deu. - a cortou rapidamente. Bateu com carinho nas pernas de Harriet para que as afastasse e levantou-se devagar. - Vamos, estrelinha.
- Pa onde? - perguntou curiosa, rapidamente seguindo sua mãe até a entrada da casa.
- Vamos visitar o papai. - contou a fazendo pular animada. Vestiu o casaco amarelo nela e pegou o seu nos braços, enquanto procurava as chaves do carro e da casa.
- Você vai sair agora? - indagou preocupada.
- Acho que todos merecemos um pouquinho de descanso. - falou em um tom condescendente, assim como ela fazia quase todas as vezes em que conversava com a Hart.
- Sozinha você não vai. - decretou, cruzando os braços e a encarando séria. - Sabe o quão perigoso é você sair com quase nove meses de gravidez?
- Eu vou ficar bem e não estou sozinha. - garantiu, segurando a mão de Harriet enquanto saíam para fora.
- Siren! Siren! Venha já aqui! - começou a gritar enquanto seguia Charlotte até o carro.
- Se vira! - gritou Siren de dentro da casa.
- Charlotte, você não pode sair! - Marta protestou indignada, a vendo ajeitar Harriet na cadeirinha e dar a volta para entrar no carro.
- Observe. - falou, abrindo com um sorriso provocativo quando colocou o cinto e ligou o carro.
- Você está cometendo uma loucura!
Desta vez não tinha como não revirar os olhos, a encarou com uma expressão neutra e afirmou antes de sair de frente da garagem.
- Loucura eu vou cometer se continuar nessa casa.
Enquanto dirigia com cuidado até a floricultura tinha a plena certeza de que dona Marta deveria voltar para a própria casa, e se possível naquele dia ainda.
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