05
- Já lhe disse muitas vezes essa noite e vou continuar repetindo. Você não vai ter uma quiceñera porque não somos latinos. Se quiser ter uma festa não vai poder colocar esse nome.
Charlotte disse, tentando controlar sua impaciência, mas parecia que Harriet estava atrás de uma discussão e não iria descansar até conseguir. Estavam conversando na cozinha enquanto Oliver, Nick e Daisy pintavam na sala, terminava de retirar do forno o jantar daquela noite, que no caso eram três pizzas de sabores diferentes feitas com a massa especial que somente a Bolton conseguia fazer, era o que seus filhos sempre falavam.
- Eu falo espanhol, praticamente-
- Nem ouse terminar essa frase. - a cortou em um tom repressor, Harriet fechou a boca em uma linha fina e cruzou os braços impaciente. - Você sabe muito bem que essa é uma das desculpas mais desonestas que existem.
Terminou de preparar a mesa e olhou para a filha, deixou um suspiro cansado sair de sua boca quando notou a forma como ela a encarava. Não poderia pedir ajuda à Henry pois o mesmo estava em uma "Noite dos garotos" com Jasper, Ray, Schowz e Bob. Eles tinham um acordo de terem uma noite de folga sempre que dessem para saírem sem o outro, nessa noite eles só poderiam atender o celular em caso de total emergência. Às vezes eles a convidavam, mas Charlotte realmente não queria ter que lidar com as loucuras que os planos deles deveriam levar, então preferia continuar com esse sistema que estava dando muito certo até o momento.
- Você nunca me escuta, nunca pede minha opinião e nem me entende.
- Mas do que raios você está falando? - perguntou descrente, sem entender a forma magoada com que Harriet falava.
- Você sabe muito bem. - rebateu seca, o que fez Charlotte franzir a testa confusa, não estava achando lógica no comportamento da filha. - Papai sempre me entende, ele sim sabe como me ajudar e não me privar das experiências da vida!
- Eu não faço ideia do que aconteceu com você, mas te aconselho a baixar um pouco a voz porque não sei se você se lembra, mas eu sou sua mãe.
Abriu um sorriso doce para Harriet, sua filha somente revirou os olhos e resmungou algo antes de sentar-se emburrada à mesa. Charlotte finalmente entendera sobre o que ela estava falando, mas não iria deixar transparecer, era melhor Harriet pensar que ela não lembrava da quase discussão que tiveram quando ela impediu a filha de ir a uma festa com Naty. Sua vida e de Henry foi muito agitada quando eram jovens, mas era uma agitação diferente do normal, porém sabia muito bem que deixar uma adolescente de quase quinze anos sair para uma festa com sua amiga de quase dezessete em um campus de universidade não era uma boa ideia. Henry demorou um pouco para lembrar que os perigos no mundo iam além dos vilões e de pessoas toupeiras. Soltou o ar devagar pela boca e terminou de preparar a mesa para o jantar, estava tão absorta em Harriet que nem lembrava que ainda tinha três crianças na sala.
- Seus irmãos estão quietos.
Observou, não tendo resposta e vendo que Harriet resolveu adotar um tratamento de silêncio, sua paciência estava por um fio aquela noite e não queria ter gritar com alguém, era sempre ela que gritava e detestava isso desde que era criança. Deu às costas para ela e olhou através do balcão para as crianças na sala, Oliver estava de costas para ela, Nick pintava algo distraído. Os dois estavam a horas naquela brincadeira, faziam desenhos para o Dunlop materializar, porém estava achando estranho o seu filho estar em silêncio e não escutar a voz de Daisy que nunca parava de falar.
- Ollie.
Chamou alto, o garotinho pareceu levar um choque e respondeu com a voz cautelosa.
- Oi.
- Onde está sua irmã?
Oliver continuou de costas, mas Charlotte notou como Nick baixou a cabeça para que seu cabelo longo cobrisse seu rosto. Caminhou até se apoiar no balcão e cruzou os braços adotando a postura de "mãe" que Henry sempre afirmava que ela fazia.
- Que irmã? - se fez de desentendido.
- Oliver. - o tom era de aviso e o Hart sabia muito bem disso.
Harriet franziu a testa e levantou-se para ficar ao lado da mãe. Nick ainda permanecia de cabeça baixa e Charlotte começou uma contagem regressiva bem lentamente.
- Sete... seis... cinco. - Oliver se remexia desconfortável e tentava a todo custo não se virar. - Quatro... três... dois. - fez uma pausa dramática e Harriet cobriu a boca para não rir, era nítido o desespero do garotinho, mesmo de costas. - Ummm-
- Tá bom! Tá bom! - gritou rapidamente, girando no lugar para encara-la.
- O que é isso no seu rosto?!
Perguntou incrédula enquanto a gargalhada de Harriet tomava conta do ambiente. O rosto de Oliver estava tomando por figuras estranhas que pareciam grudadas a sua pele, eram meios quadrados, árvores, dragões? Charlotte não sabia dizer, mas não precisou de muito tempo para que a explicação começasse a sair da boca dele sem espaço para respiração.
- Estávamos os três aqui e a Daisy falou que ia ser incrível se tatuagens também pudessem ser reais iguais os desenhos que estamos fazendo aí o Nick falou que não ia dar certo porque podia dar muito errado só que a Daisy disse que a gente podia tentar e eu falei que podia ser em mim e saiu isso!
Seus ombros caíram cansados e ele puxou o ar com força ao passo que o peito dele subia e descia rapidamente.
- Vocês sabem que as ideias da Daisy só fazem vocês entrarem em confusão. - disse em um tom de voz firme, dando a volta no balcão para poder se ajoelhar em frente à ele. Pegou o rosto de Oliver entre as mãos para analisar a pseudo arte em sua face. - Vamos ter que ir na doutora Anne amanhã, ela vai conseguir dar um jeito nisso porque eu não faço ideia de como resolver.
- Eu vou ficar assim pra sempre?! - perguntou com a voz embargada, os olhos brilhavam pelas lágrimas que Charlotte tinha certeza de que iriam cair. Mas antes que ela tivesse a chance de tranquiliza-lo, Oliver continuou a falar. - Eu vou ter que sair do teatro, só vou ser convidado para fazer parte de papéis que cubram meu rosto, minha fofura vai chegar ao fimmm.
- Ela já está chegando. - Harriet afirmou divertida, fazendo Oliver abrir a boca assustado e começar a chorar.
Charlotte lançou um olhar impaciente para ela, que deu de ombros despreocupada, isnpirou profundamente antes de puxar o filho para um abraço. Mas logo lembrou da filha sumida. Se afastou de Oliver e perguntou novamente.
- Onde está sua irmã?
Ele piscou rapidamente para parar as lágrimas já que não conseguia limpar com a mão, olhou para Nick em busca de ajuda, a garotinho permaneceu calado o encarando como se dissesse "Eu avisei". Oliver bufou e com a voz ainda trêmula, respondeu à mãe.
- Ela disse que ia sair pra fazer chover na festa de aniversário da Nataly.
- Essa menina não mora do outro lado da cidade?
- Não, no fim do outro lado da cidade. - respondeu à irma, torcendo o nariz ao lembrar do bairro. - Naquele lugar chique que todo mundo mata o meio ambiente. - completou irritado.
- Por que vocês deixaram ela sair? E como ela foi?
- Vocês estavam brigando e ela meio que é. - parou, olhando para o amigo em busca de uma reposta.
- Assustadora. - Nick sussurrou, se encolhendo um pouco ao lembrar das ameaças da Hart.
- Quando ela quer ela é bem assustadora, mãe. - reafirmou, falando como se aquela explicação fosse o suficiente.
- Ela foi de bicicleta. - Nick informou, tendo a atenção da tia. - Disse que não ia demorar porque estava aprendendo a usar o vento como amigo, não faço ideia do que ela quis dizer com isso.
Charlotte tombou a cabeça para trás e praguejou baixinho, Daisy estava aprendendo a controlar seus poderes, ainda se encontrava bem longe de ter um deles como um amigo, como ela mesma dizia. Atravessou a sala até a mesinha onde guardava as chaves, pegou a do carro e procurou seu casaco azul que estava pendurando em um dos ganchos ao lado da porta. Oliver levantou rapidamente junto com Nick e Harriet caminhou até a mãe preocupada.
- O que vamos fazer?
- Procurar sua irmã e torcer para ela ficar longe da rodovia. - respondeu, ao passo que Harriet entendeu o sinal e puxou os outros dois para vestirem seus casacos.
Era uma noite fria e quando foram para o lado de fora, viram que o tempo estava fechado e provavelmente iria chover. Daisy não tinha controle de seus poderes e não era imune à eles, se pegasse uma chuva em um tempo como aquele, certamente iria adoecer e o fato dela não ter levado sua bombinha, que havia ficado em cima da mesinha de centro, só fazia o coração de Charlotte apertar em angústia.
- Ela vai ficar bem.
Harriet afirmou, apertando sua mão quando se preparavam para sair da garagem, Charlotte assentiu e soltou o ar lentamente, agradecida pelo controle da filha mais velha. Oliver chorava no banco de trás enquanto Nick, ao seu lado, olhava preocupado pela janela. Harriet apertou a bombinha de Daisy na mão e Charlotte saiu pela rua à procura de sua bebê.
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