9.
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Definir Harry Potter era algo que Draco sabia fazer como ninguém. Ele sabia que o moreno costumava tomar café da manhã sempre no lado esquerdo da mesa da Grifinoria, de costas para a Sonserina. Ele também gostava de café e dois torrões de açúcar, nunca forte, nunca fraco. Ele não tinha tanto interesse nas aula de Artimancia, mas ficava entretido com facilidade nas aulas de História da Magia. Sua favorita era DCAT e Quadribol, claro.
Draco também sabia que ele andava pelos corredores sozinho as vezes, com um pergaminho vazio nas mãos. Aos sábados costumava passar com Granger e Weasley, mas quando ficava sozinho, ele deitava na grama do pátio de transfiguração, do lado de fora dos muros, fora da vista da maioria dos alunos.
O herdeiro Malfoy sabia mais do que gostaria sobre Harry. Mas esse Harry... ele era diferente. Ainda gostava do café com dois torrões, mas tomou puro duas vezes na última semana. Não andava com o pergaminho velho, ao invés disso com um livro de poções. Ele invés de se esconder dos alunos na grama, se sentava embaixo da estátua do pátio, a vista de todos, mas completamente relaxado como se não houvesse ninguém.
Quem era ele, afinal? Draco não sabia. E não queria saber. Mas lá se encontrava o herdeiro Malfoy, olhando de um dos bancos a cabeleira escura e bagunçada.
— Você deveria dar uma chance e tentar fazer amizade com ele, agora que ele está... assim. — a voz de Pansy soou ao seu lado como um pequeno demônio em sua cabeça lhe incentivando a coisas que Draco prefere relutar em fazer.
— Não. — respondeu seco, desviando o olhar do garoto para seu próprio livro.
— Qual é, Dray? Vai mesmo ignorar o fato que a Sonserina agora tem Harry Potter? E que ele está angustiado para ter a sua amizade?
— Ele teve oportunidade de ter minha amizade antes. E ele não é da Sonserina, Pans.
A garota bufou e se levantou, desistindo de conversar sobre a situação. Draco acompanhou ela saindo do pátio, não antes de chamar por Potter e acenar para ele, que fez o mesmo de volta e tornou a ler o livro de poções.
E levou mais um longo mês nessa situação. Qual Draco tinha perdido pontos em seus status quando começou a ficar recluso.
Ele comparecia a Armada de Dumbledore, ajudava os alunos com necessidade de poções e aprendia o que precisava com Potter, Granger e os Weasleys mais velhos. Mas... tinha algo incomodando, além de seus dilemas familiares.
— Draco?
O loiro piscou os olhos das letras que nem mesmo raciocinava, erguendo o rosto para ver Potter parado diante de si, com o uniforme da Sonserina lhe envolvendo tão bem.
— Diga, Potter.
— Hm... — ele fez uma pausa, olhou ao redor, antes de encarar Draco mais uma vez, parecia tímido. — Quer estudar Poções comigo? O professor Snape passou aquele trabalho para daqui duas semanas, e como você é o melhor da turma, gostaria de ter sua ajuda.
Draco ficou em silêncio e olhou incrédulo para Harry, antes de se dar conta novamente que não era o seu Harry.
Seu Harry. Que piada.
— Estou ocupado ajudando Pansy. Tenho certeza que você tem inúmeros colegas dispostos a te ajudar, Tonks.
O moreno abaixou os ombros em sinal de desistência, ele assentiu desviando o olhar e dando as costas para ir embora. Draco até pensou que teria de negar mais de uma vez, mas ver Potter desistindo tão rápido, fez o ego de Malfoy vibrar.
— Tonks. — Draco falou antes mesmo de controlar sua boca. Harry se virou para ele, parando de andar. — Eu te ajudo. Mas com uma condição.
Harry sorriu se aproximando de novo, ele assentiu indicando estar ouvindo.
— Te ajudo, mas apenas se eu poder te chamar de Potter de novo.
O moreno fez uma careta mas pareceu aceitar a condição, principalmente porque ele ergueu a mão para firmar o acordo.
— Me encontra amanhã depois do almoço na biblioteca? Não irei a Hogsmead.
— Certo.
Draco notou a relutância do moreno em seu afastar, mas o sorriso que ele tinha nos lábios fez o estômago de Malfoy revirar de uma forma que ele não compreendeu.
Por que decidiu ajudá-lo se estava indo tão bem a distância de um mês que teve com ele?
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Albus Dumbledore era um homem de muitas camadas. Isso era algo que Remus Lupin tinha consciência desde quando era um garotinho cheio de temores.
Mas não seria capaz de dizer a plenos pulmões que o achava maluco, não.
— O menino está perdendo o limite das coisas, já fazem um mês e duas semanas que ele está frequentando a Sonserina como membro legítimo, além de ter abandonado totalmente seu antigo ciclo. — Madame Polfrey dizia em tom estridente, implorando ser ouvida. — Eu preciso de ajuda médica externa. Precisamos averiguar o castelo e a criança. Ele não pode continuar fugindo de sua própria realidade. E quando for as férias? O que faremos quando ele tiver que voltar para os Dusleys e não os Tonks como ele diz estar acostumado? Precisamos achar a raiz do problema.
Ouve um silêncio tenebroso na sala do diretor. Onde os demais professores pareciam concordar silenciosamente com Polfrey e suas palavras de preocupação.
Remus piscou os olhos, ergueu o rosto e acompanhou Dumbledore com o olhar mais uma vez.
— Eu posso falar com ele, tentar descobrir mais sobre seu passado. Eu... posso levá-lo a Sirius.
— Santo Merlin, irá levá-lo para um fugitivo, Lupin. — Snape disse com desprezo, Remus lhe lançou um olhar tão cansado que foi suficiente para o professor resmungar sem jeito e se calar.
— Ele não falou nada sobre Sirius. — Polfrey reflete, antes de prosseguir. — Mas, você é próximo da Srta Tonks, Remus. O que acha de tentar explicar a situação para ela e deixá-la decidir se pode contribuir com sua presença nessa investigação toda.
— Sim. Se ele pensa que cresceu com os Tonks, ele confia em Nymphadora, de fato. — Remus concorda. — Falarei com ela.
O silêncio retornou e todos olharam para Dumbledore, que não esboça preocupação além de uma face plena de reflexão. O homem se virou para eles mais uma vez, com as mãos para trás.
— Está na hora de chamarmos o Ministério, mas não é possível dada as circunstâncias. Irão levá-lo daqui e em pouco tempo vão entregá-lo de bandeja a Tom. — Albus fala simples, mas isso arranca um suspiro de Polfrey que odiava ter seus alunos em perigo. — Por isso, deixo a investigação disso na mão de vocês. E confio plenamente que irão envolver apenas pessoas de extrema confiança.
Remus, Severus, Poppy e Minerva assentiram em lealdade quase como em eterna devoção a Dumbledore. Exceto por um deles ali presente.
— Se meu pai descobrir que estou ajudando a salvar a pele dele de alguma forma, eu espero ter a sua proteção. — Draco deixou seu tom mais sério alcançar os tímpanos de todos pela primeira vez desde o início daquela reunião.
— Ele não irá te machucar. — Albus fez uma pausa antes de dar um passo a frente e pousar a mão no ombro do garoto loiro. — Eu vi eu sei nome em um certo pergaminho. E garanto a você, Draco. Que seu pai não poderá te machucar sobre nada disso. Estamos todos orgulhosos do que você e seus amigos têm feito ao prol de um futuro melhor para todos.
Draco apenas assentiu, com a expressão neutra. Ele não tinha palavras para responder, mas um formigamento dentro de seu estômago talvez indicasse o medo de tudo que vinha a seguir. Mas, o olhar que todos naquela sala lhe davam de segurança foi suficiente para não se recusar a participar do que quer que fosse necessário.
E desde quando salvar a vida de Potter se tornou parte de sua rotina?
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