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Dia 2
12 de Setembro de 1995
Terça-feira
Não era uma piada. Draco pensou ao se dar conta com as expressões tensas e confusas dos membros da Grifinória olhando para Potter que se sentou na primeira carteira da sala de História da Magia. O garoto Malfoy seguiu em silêncio até ao lado dele, se sentando totalmente a contra gosto e sua face raivosa indicava a todos como odiava totalmente aquela situação.
— Bom dia, alunos. — disse Cuthbert Binns adentrando a sala sem precisar abrir a porta. A visão fantasmagórica passeou pela sala sem se importar com alunos fora de foco.
Draco colocou seu pergaminho sobre a superfície sólida da mesa enquanto observava de canto Potter se desleixar na cadeira e levitava tediosamente sua pena e tinteiro. Era claro que direcionavam olhares confusos e curiosos para Potter.
— Estava pensando... — começou Harry em um murmuro no meio da aula onde o professor falava sobre Merlin ou alguém que viveu naquela época. Draco desviou o olhar do resumo no quadro que copiava em seu pergaminho, saindo de sua bolha estudiosa para se lembrar do fardo que tinha. — Podíamos pregar uma peça nos alunos da Corvinal.
— O que? — Draco murmurou de volta, largando sua pena para prestar atenção na face de Potter que tinha um olhar cheio de cinismo e sorrisinho sacana. Caramba, ele tinha essas expressões antes? Draco se perguntou.
— É tão engraçado pregar uma peça neles. Porque são tão inteligentes e metidos a sabe-tudo que nunca estão esperando cair por qualquer pegadinha. — Potter responde movendo os ombros em pouco caso como se falasse algo banal, encostando as costas no apoio do banco, sua tinta e pena ainda levitavam sobre a carteira.
O loiro desviou o olhar sobre a fala de Potter. De fato, concordava internamente. Mas... e se Potter estiver apenas tentando fazer com que Draco apronte algo para culpar ele depois?
— Não estou aprontando algo para você. É apenas para nos divertirmos como ano passado. — Potter respondeu como se lesse sua mente. Puta merda, aquilo era tão sonserino de pensarem em situações de risco antes de aceitar uma oferta.
— Você vai calar a boca e prestar atenção nas próximas aulas se fizermos isso? — Draco tenta negociar, só queria que ele calasse a boca e fosse um bom cachorro e o seguisse pelos cantos, mas era óbvio que aquele combo era completo com direito a brindes.
O herdeiro Malfoy ergueu a mão para avisar ao professor que precisava estar na sala do diretor com Potter e havia se esquecido. A sala fez silêncio para observar Harry em seu próprio mundo de miopia, sem seus óculos ele não notava os olhares preocupados dos amigos, em sua cabeça ninguém ali importava de fato para tornar elas seu foco. Em poucos instantes estavam fora da sala com o material na mochila e andavam em direção ao quarto andar, Corvinal do quinto ano estava tendo aula numa das salas, pararam corredores antes e se olharam finalmente. Que merda estamos fazendo? Malfoy se questionou.
— Por enquanto, pensei em ativar um sensor ali e quando eles passarem, aquela armadura vai expirar tinta neles!
— Tinta? De onde vai tirar isso?
— Fred e George Wesley. Os únicos possíveis daquele bando todo. — Harry respondeu com a expressão de nojo ao se referir a Grifinória. Draco tentou disfarçar sua surpresa. — Eles vão estar aqui logo.
— Como entrou em contato com eles se esteve comigo o tempo todo?
— Quando sai da enfermaria e precisei ir a diretoria, trombei com eles no caminho.
— E eles não questionaram...?
O Potter olhou para Draco sem entender, tombando suavemente a cabeça para o lado. Tudo já estava confuso suficiente e ver seu melhor amigo agindo assim era uma situação que incomodava o moreno, mas ele não quis questionar e apenas negou com um movimento de cabeça. Assim, aguardou encostado na parede. Malfoy o imitou e encostou na parede também em silêncio. De repente, o silêncio no corredor pareceu estranho para ambos mas por motivos diferentes.
— Draco.
— Sim? — ainda era estranho o ouvir chamá-lo de maneira íntima.
— Esse não é o meu mundo, né?
O loiro virou o rosto pasmo para o moreno, que estava encostado na parede e encarava um ponto da janela do corredor. Ele tinha uma expressão séria e perdida. Poderia ser uma pergunta, mas soava mais uma afirmação do que uma dúvida. Malfoy suspirou, ele deveria esconder até que os professores e o ministério fizessem algo, mas no que iria adiantar? Parecia mais simples explicar para Potter.
— Não sei sobre ser mundos diferentes. Pra mim, você só bateu a cabeça. Mas você aparece ter uma vida oposta do que ao Potter que bateu a cabeça. — explicou, o tom calmo como de costume. Sua voz era lenta, não fazia esforço para falar. Só exaltava a mesma quando estava bravo ou brincando.
— Tonks.
— O que?
— No meu mundo. Eu sou Tonks.
— Ah, é mesmo.
Eles ficaram em silêncio novamente. Ambos perdidos nos próprios pensamentos. Era confusa aquela situação que estavam, Harry agora precisava entender que mundo era esse, porque era tudo tão parecido e tão diferente ao mesmo tempo. E aparentemente, o cara que é apaixonado desde os treze anos, não está apaixonado por si aqui. Bom, não que estivesse no outro, mas ao menos eles tinham algo... especial. Ou algo do tipo. Tonks se contentava com as migalhas com medo do futuro deles, agora em outro mundo parecia pior ainda, teria de reconquistar Draco e entender o que esse mundo tem para ele. E como pode voltar para o seu.
— Esse Potter. Acha que está no meu lugar? — Draco move os ombros em indiferença e resmunga um "não sei" antes de soltar o ar com força dos pulmões.
— Eu e Potter nos odiamos aqui. Não é como... você e o outro eu, que você parece ter muita intimidade... — deu uma pausa sugestiva antes de continuar. — Então gostaria que respeitasse meu espaço. Estou designado a cuidar de você por esse tempo aqui, mas não a sermos próximos.
— Compreendo. Bom... temos trabalho a fazer. Você pode tirar algumas dúvidas minhas mais tarde?
— Depende delas. — continuava a responder sem nem olhá-lo. Harry suspirou ao notar que ele não parecia querer estar ali e nem a responder, mas provavelmente só aceitou por estar sendo obrigado a participar daquilo.
Tonks desviou o olhar do perfil de Draco e tombou a cabeça na parede, um tanto entristecido de ter comprovado sua teoria que rondava já algum tempo, mais ou menos desde a diretoria mas era uma hipótese quase nula, porém tudo estava estranho demais para deixar essa teoria de lado. Bom, estava certo. Gostaria de estar errado. Queria sua vida de volta... mas ao menos as pessoas ao redor estavam tentando fazer ele se sentir nessa vida até entenderem a sua situação. Fingiria não saber de nada. Se os adultos dessa realidade gostavam de esconder as coisas como fazem na sua, não confiaria tão facilmente neles.
— Harry, aí está você! — ouviram a voz de Fred ou George, era difícil diferenciar. Os ruivos se aproximaram, achavam graça da situação que o moreno estava, odiavam Malfoy então nem olharam de fato para ele.
O que aconteceu a seguir foi um Harry bom de papo negociando com os gêmeos o valor da tinta para a pegadinha. Pretendia dar trabalho aos adultos daquele mundo, principalmente para comprovar suas teorias. Então, ao armou a armadilha com os gêmeos animados com esse lado rebelde de Harry. Claro que sabiam que algo estava errado, mas parecia divertido para ambos. Assim, a pegadinha aconteceu quando os alunos da Corvinal saíram da sala, com tinta verde sujando o uniforme de alguns. Os quatro estava do outro lado do corredor e de cara os gêmeos levaram a culpa e foram perseguidos por alunos furiosos mas fugiram aos risos, eles ignoraram o fato de que poderia ser Harry. Ele nunca tinha feito algo do tipo. Ao menos Tonks pode rir em paz até vê-los sumir na curva do corredor.
***
Ao anoitecer, Harry seguiu Malfoy para a comunal. Os alunos da Sonserina estavam quietos e curiosos com a reação do moreno quando chegasse lá. Mas novamente ele agiu naturalmente, sem dar atenção a ninguém ao subir para o dormitório masculino. Draco o seguiu imaginando que poderia dar errado já que tinham todos os membros do seu dormitório completos. Entretanto, para a sua surpresa, a cama de Goyle estava vazia, os professores devem ter cuidado disso em base nas coisas contadas por Harry.
As demais camas tinham as cortinas levantadas, o que dava a entender que já estavam dormindo. Blaise e Theodore dormiam cedo. Draco pegou seu pijama no malão e foi para o banheiro se trocar. Ao retornar, reparou que Potter havia se trocado no quarto mesmo e usava uma calça de moletom e uma camisa larga, pareciam roupas arranjadas e não as dele de fato.
Ao se deitar na cama, não pretendia nem dar boa noite. Apenas fechou as cortinas e respirou aliviado pelo silêncio. Entretanto, não durou muito. Potter abria uma brecha da cortina e entrava engatinhando na cama, puxando o cobertor para entrar no meio também, o que fez Malfoy resmungar sem entender, o olhando incrédulo enquanto se afastava na cama.
— O que está fazendo?
— Olha. Eu sei que disse que preciso respeitar seu espaço. Mas gostaria que entendesse que eu e o meu Draco éramos muito amigos e próximos, ver você e não poder agir como eu mesmo é torturante.
Ele se explica enquanto se aconchega para perto, mas Malfoy se esquiva novamente se sentando na cama ainda com as pernas sobre a mesma. Encarou o moreno que lhe lançava um olhar entristecido, pela primeira vez sentia um pouco de pena do outro, se ele realmente não estava fingindo, deveria ser complicado um mundo diferente do que está acostumado.
— Não precisa falar comigo ou cuidar de mim como te pediram, mas me deixa contar sobre o meu dia e as minhas ideias. E de noite... me deixa te abraçar. Você é o único que me deixa seguro no meu mundo, quero sentir isso só um pouquinho de novo, é menos solitário enquanto nada volta ao normal... por favor?
O tom de voz baixo e entristecido era golpe muito baixo. Nunca havia ouvido o outro falar daquela forma com ninguém, não era possível que fosse pura encenação de Potter. Ele era vergonhoso demais para simplesmente se deitar em sua cama e pedir para ser abraçado para se sentir seguro. Não era Harry... talvez estivesse tudo bem em ajudá-lo se isso significa um pouco de paz.
— Diga a eles que estou sendo bom pra você e me deixe andar livremente sem você e poderá dormir comigo algumas noites. — respondeu após o tempo em silêncio para pensar naquilo, o tom de voz um tanto ríspido demonstrando sua marra para aquilo.
Harry sorriu largamente e ergueu o tronco para abraçar Malfoy de maneira animada, um risinho baixo escapando ao ouvir o bufar do loiro.
O loiro odiava cada segundo desde a briga da escada. Se sentia um idiota de ter cedido a ele, mas se não era Harry, estava tudo bem em aceitar aquilo. Contanto que o outro não o tente lhe beijar de novo, poderiam dormir na mesma cama. Esperava que Potter fosse se afastar mas ao deitar, o moreno deitou a cabeça em seu ombro e pousou um dos braços sobre o peitoral de Malfoy, se aconchegando em si para dormir. Por Merlin, Draco estava numa baita encrenca.
[N/A] Olá, me desculpem a demora para atualizar. Quem leu ou lê minhas outras histórias, sabem que demoro mesmo. Mas atualmente eu estou trabalhando, fazendo faculdade e um curso do Senac ao mesmo tempo, fora meus diversos problemas pessoais e demais hobbies além de escrever, então as vezes fico sem tempo (e admito sem vontade) para escrever, e como sabem, DETESTO entregar algo meia boca. A única fanfic que eu de fato terminei foi porque eu não me foquei na escrita ou em um plot muito coerente, fiz algo clichê com mensagens legais que queria passar, mas com uma narração podre. Então eu também demoro porque quero entregar algo bom que vocês tenham prazer em ler, ainda sinto que não faço isso mas tento me esforçar.
Enfim. Estão gostando de Slytherin? Eu também diria que ela não é curta, mas também não vai ser gigante como Murphy é, mas não se preparem para poucos capítulos! :)
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