༻ Que os jogos comecem༺

Morrigan não tinha tido uma noite tranquila. A véspera dos jogos havia sido horrível para ela. Uma noite repleta dos mais diferentes pesadelos, a maioria deles envolvia sua morte e a morte de seu irmão. Por fim, Morrigan preferiu ficar acordada até alguém aparecer.

O fato de não existirem regras na arena tornava tudo pior. Bom, a única regra era não cometer canibalismo e Morrigan se sentia um pouco mais tranquila com isso, afinal, a ideia de alguém comendo seus restos a deixava enjoada.

Morrigan e Logan não se viram naquela manhã. Jasper apareceu um pouco antes de amanhecer, entregou uma muda de roupa e a conduziu para o local onde um aerodeslizador pegaria ela. Quando entrou no meio de transporte, uma mulher foi até ela com uma seringa.

— Esse é o seu rastreador, Morrigan. Se ficar imóvel eu consigo injetá-lo de forma rápida e eficiente. — a mulher disse e Morrigan apenas fechou os olhos com força, sentindo um dor aguda quando a agulha inseriu o dispositivo metálico em seu antebraço.

A viagem durou cerca de meia hora. Quando o aerodeslizador pousou, Morrigan e James voltaram para a escada por onde haviam entrado, mas daquela vez, os dois foram conduzidos para um túnel subterrâneo que os levou até às catacumbas que ficam abaixo da arena. Os dois seguiram as instruções até o destino, uma câmara onde seriam feitos os últimos preparativos. Morrigan descobriu que o lugar se chamava Sala de Lançamento.

— Nos Distritos…chamamos esse lugar de Curral. — Morrigan comentou e Jasper a olhou para ver se ela falava sério. — O lugar onde os animais são mantidos antes de serem abatidos, sabe?

Morrigan estava lutando para manter a comida no estômago enquanto tomava banho e escovava os dentes. Ela nem queria comer, mas Jasper insistiu, dizendo que ela poderia passar dias sem comer após a entrada na arena. Morrigan fez até a mórbida piada: “Se eu sobreviver tempo suficiente para passar fome.” Jasper a repreendeu, dizendo que Morrigan devia ser mais confiante de si, afinal, uma nota máxima não era algo muito comum.

Jasper deixou o cabelo de Morrigan com uma trança soltinha, a garota havia comentado que o cabelo preso por muito tempo tinha dado dor de cabeça a ela, então Jasper fez um penteado que não a deixaria com dor e ainda assim mostraria as mechas azuis no cabelo dela.

— Hora de vestir o traje. — Jasper falou e Morrivan podia jurar que seu coração não batia mais.

Jasper ajudou Morrigan a vestir suas roupas, iguais para todos os tributos. Ele ajudou Morrigan a vestir as roupas de baixo, uma calça térmica preta que possuía pelinhos por dentro, uma outra calça verde musgo por cima, que Morrigan notou ter um tecido bem grosso, uma blusa preta de manga comprida com detalhes da mesma cor da calça, um cinto, mas Morrigan notou ser inútil para ela, afinal as duas calças eram bem justas na cintura, e por cima de tudo uma jaqueta preta com capuz. Nos pés, Morrigan calçou uma meia preta com pelinhos por dentro e botas pretas com pelinhos cinza nas bordas de cimas.

— Eu acharia elas lindas se não estivesse as usando para a caminhada da morte. — Morrigan falou e Jasper riu.

— Toda a roupa é projetada para temperaturas extremas…se prepare para noites frias. — Jasper comentou.

— Estou com medo. — Morrigan disse com os olhos lacrimejando.

— Eu sei. — Jasper disse puxando Morrigan para um abraço. — Tenho uma coisa para você. — ele disse pegando o colar de Finnick.

— Onde conseguiu? Eu tinha…

— É, não totalmente. — Jasper disse e Morrigan baixo. — Sabia que não ia colocar, então trouxe para você.

— Não quero perder ele.  — Morrigan disse.

— Não vai. — Jasper disse e Morrigan assentiu. — Vai se sentir mais tranquila tendo algo de casa.

Morrigan assentiu e ele prendeu o colar no pescoço de Morrigan, ela tocou o colar e o guardou dentro da camiseta.

— Quase não passou pela vistoria. Acharam que poderia ser uma arma, mas no fim eu os convenci que não. — Jasper contou. — Muito bem. Você está toda equipada. Se mexa um pouco para termos certeza que está confortável. — ele disse e Morrigan começou a andar. — Corre um pouco, dá uns pulos, agacha, faz movimentos de luta.

— Tudo certo. — Morrigan disse rindo um pouco depois de testar tudo. — É bem quentinho. Nunca usei roupas quentes assim.

— Pra tudo tem uma primeira vez. — Jasper disse e Morrigan assentiu. — Hora de ir. — ele disse começando a caminhar na direção do círculo de metal, mas Morrigan travou.

— Eu não consigo.

— Ei, se eu pudesse apostar em qualquer um naquela arena…esse alguém seria você. — Jasper disse e Morrigan o olhou.

— Verdade? — Morrigan perguntou sussurrando.

— Verdade. — Jasper disse dando um beijo na testa de Morrigan. — Boa sorte, pequena Morrigan. — ele disse e Morrigan sorriu fraco. — Eu acredito em você, no seu irmão também.

— Obrigada. — Morrigan disse entrando no cilindro.

Morrigan respirou fundo enquanto observava o vidro descer a sua volta. Segundos depois, a plataforma começou a subir e Jasper foi sumindo. Morrigan precisou fechar os olhos por causa da luz forte, ela sentiu um vento gelado tocar sua pele e quando abriu os olhos viu um local inteiramente branco, azul e verde. Uma arena de inverno. Tinha neve por toda a parte. Um penhasco. E uma floresta de pinheiros também coberta de neve, que ficava do lado contrário do penhasco.

Os olhos de Morrigan buscaram por seu irmão, e quando o viu, sentiu um alívio imenso apenas por vê-lo e se assustou de leve quando uma voz disse:

— Senhoras e senhores, está aberta a sexagésima sexta edição dos Jogos Vorazes!

Um minuto. Sessenta segundos. Este é o tempo que os Tributos precisam ficar nos círculos até que um gongo os libere. Caso saia antes disso, bem, minas terrestres levarão seus membros pelos ares.

A Cornucópia era grande e dourada, se destacando do resto do ambiente. Todos estavam distantes da mesma forma, mas Morrigan notou as armas próximas de onde estava e calculou que se corresse rápido o suficiente conseguiria pegar o que precisava e correr para a mata, local onde Seth insistiu que ela e Logan corressem assim que ouvissem o gongo.

Morrigan conseguia ver que duas lanças e algumas facas bem a sua frente, só precisava correr em linha reta e sair dali, passar pela neve e entrar na mata. Mas ao mesmo tempo ouvia a voz de Finnick e Seth em sua cabeça a fazendo prometer que não correria para a Cornucópia em hipótese alguma.

Seus olhos se encontram com os de seu irmão, que estava a quatro tributos de distância e ela notou a cabeça dela indicando a floresta, Morrigan apenas assentiu. Ela olhou para frente e assim que o gongo soou ela correu.

Morrigan sabia que sem armas ou uma mochila, ela e Logan seriam alvos fáceis da morte. Foi apenas por este motivo que correu em direção a Cornucópia. Assim que pegou as lanças saiu correndo, escapando por pouco de tributos que a atacavam. Quando estava se aproximando de Logan, viu que ele lutava com o garoto enorme que havia falado com ela durante a entrevista do irmão.

— Ei! — Morrigan gritou distraindo o garoto para que seu irmão o empurrasse. — Logan!

Morrigan jogou uma lança para ele e Logan matou o garoto antes de pegar a mão da irmã e eles correrem em direção a mata. Os dois estavam correndo apressados e pararam apenas quando seus pulmões já ardiam pelo esforço feito.

— Você ficou maluca?! — Logan perguntou ficando de frente para a irmã.

— De nada. — Morrigan disse. — Essa era a hora de você me chamar de heroína e me abraçar!

— Podia ter morrido. — Logan disse e Morrigan o olhou em silêncio.

— Você também poderia. Não sei se chegou a perceber, mas quem te salvou, fui eu. — Morrigan falou e Logan a puxou para um abraço.

— Não faz mais isso. — Logan disse e Morrigan assentiu.

— Você também. — Morrigan falou e Logan riu.

— Silêncio. — Logan pediu quando notou que Morrigan ia falar algo.

Segundos após o pedido, um grupo de Carreiristas dos Distritos 1 e 2 apareceu rindo e falando sobre quem queriam encontrar.

— Quero encontrar a menina do 04. A de cabelo azul, sabem? — um dos garotos falou e Morrigan sentiu frio, embora soubesse não ser causado pelo tempo.

— A parente da velha muda? — outro garoto  perguntou. — Eu ficaria contente de encontrar ela.

— O problema é o irmão dela. — uma menina falou. — Até parece que vão se separar.

— A gente pode… — a outra menina começou a falar, mas como se afastaram, Logan e Morrigan não conseguiram ouvir o resto.

— E você queria ficar sem armas. — Morrigan disse rindo de leve. — Espertão. — ela disse saindo de onde estava.

Logan riu baixo e seguiu a irmã. Os dois andaram para a direita depois de tirarem no par ou ímpar. Logan caminhava à frente de Morrigan, que estava cansada de caminhar na neve.

Morrigan já estava com seu rosto levemente avermelhado nas bochechas e nariz. Ela prendeu a lança em suas costas e estava soltando seu cabelo para aquecer as orelhas, logo em seguida colocou o capuz da jaqueta é se assegurou de que as facas que Logan pegou a cerca de uma hora atrás em uma mochila que ambos acharam, com certeza de algum tributo morto, estavam em sua bota. Soltou um suspiro e observou a fumaça sair de sua boca, logo em seguida pegou o colar dentro da blusa e o apertou.

— Logan, você… — Morrigan começou a falar, mas se calou ao bater nas costas do irmão. — Ei, porque parou do nada?

— Cala a boca. — Logan disse e Morrigan o olhou indignada.

— Cala a boca? A mamãe tá vendo isso, sabia? Ela vai brigar com você no segundo em que…

— Morrigan, cala a boca! — Logan disse entredentes e Morrigan assentiu. — Tem um grupo de Carreiristas ali na frente.

— Um o quê? — Morrigan perguntou com a voz um pouco alta.

— Um grupo de Carreiristas — Logan disse quase sem mexer a boca. —  A gente vai dar meia volta sem fazer um barulho sequer.

— Aí, galera! — uma voz atrás deles disse e Morrigan arregalou os olhos ao sentir o metal em sua garganta. — Olhem só quem eu encontrei!

— Logan… — Morrigan chamou com a voz falhando.

— Estão em desvantagem, princesa, acho bom ficar quietinha. — o garoto disse no ouvido de Morrigan e ela fechou os olhos, se preparando para morrer.

Morrigan abriu os olhos assustada ao ouvir um rugido extremamente alto e próximo deles. Todos ficaram imóveis e em completo silêncio. Morrigan ainda sentia a lâmina em seu pescoço, mas em questão de segundos ela deixou de sentir a lâmina e passou a sentir a neve congelando suas bochechas.

Assim que ela levantou o olhar, viu dois enormes ursos polares correndo na direção deles. Logan levantou Morrigan com um único puxão no braço e os dois começaram a correr quando um dos ursos atacou o garoto que antes ameaçava Morrigan.

— Corre! — Logan gritou para a irmã.

Morrigan não hesitou em sair correndo o mais rápido que conseguia. Ela correu sem olhar para trás, caiu em determinado momento, após tropeçar em uma pedra. Mas se levantou o mais rápido que pôde e continuou correndo, parando apenas quando sentiu os pulmões arderem pelo esforço excessivo e apoiou as mãos nos joelhos.

— Tomara que aqueles ursos tenham dado um jeito naqueles idiotas. — Morrigan falou olhando para trás. — Logan? — ela chamou ao não ver o irmão.

Um canhão soou pela arena. O desespero tomou conta de Morrigan e ela sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo.

— Logan! — Morrigan gritou.

— Ela tá ali!

— Merda.

Morrigan voltou a correr em linha reta. Ela conseguia ver o fim da floresta à sua frente, apenas alguns metros a separavam da Cornucópia, mas era uma estratégia perigosa se esconder por ali, ela sabia que a tomada do lugar por algum Distrito era certa, e não tinha ideia do que encontraria do outro lado da arena.

Quando saiu da floresta, parou de correr e olhou ao redor. Ela olhou para trás e viu que ainda a perseguiam. Voltou a correr, ouvindo os gritos de seus dois perseguidores, dizendo um para o outro que atirasse nela com o arco. Morrigan olhou para trás e viu o mais alto deles apontando o arco para ela, mas depois de duas flechadas, ele recebeu um xingamento de seu companheiro por ser muito ruim de mira, Morrigan riu com a ironia da situação.

Ao alcançar o outro lado do centro da arena, parou de correr e arregalou os olhos ao ver o enorme penhasco a sua frente, com um lago semi congelado logo abaixo. Morrigan olhou para trás, viu que os dois garotos estavam chegando e teve uma rápida e impulsiva ideia.

Morrigan guardou o colar de Finnick dentro de sua camiseta. Deu alguns passos para trás. Esperou que os garotos estivessem perto o suficiente e correu até a beira do penhasco, fechando os olhos ao pular do mesmo.

Os olhos de Morrigan abriram quando ela sentiu a água congelar seu corpo enquanto ela afundava. Assim que Morrigan recobrou os sentidos, ela começou a nadar para a superfície com a eficiência digna de uma moradora do Distrito 04. Ela chegou à superfície já no limite de seu fôlego e puxou o ar com força. Depois de respirar um pouco, Morrigan olhou em volta e viu terra firme. Ela nadou até o lugar, jogou sua lança na neve e então impulsionou seu corpo para cima da mesma, se deitando de costas na neve e respirando de forma acelerada.

Seu corpo tremia e dessa vez sabia ser culpa do frio. Entrar na água congelante da arena havia sido uma ideia estúpida e Morrigan sabia disso, mas aquilo tinha salvado sua vida naquele momento, mesmo que pudesse matá-la dentro de algumas horas.

Baby let the games begin!

Como vcs estão, pessoal?

Aqui está um capítulo sobre a primeira parte dos jogos que a Morrigan participou. O próximo continua, não vou me estender muito, acredito que este primeiro ato vai ter no máximo uns 10 capítulos, ou seja, mais 05 capítulos.

Espero que tenham gostado, não se esqueçam  de favoritar e comentar bastante.

Bjs, Ana!