Taehyung nunca se sentiu tão fraco, desamparado.

O olhar vago mostrava que não estava realmente ali, claro que não. Estava em Youra, no modo como os gritos da mesma adentraram lhe os tímpanos, vendo-a ser torturada sem poder fazer nada. Soluçando à cada rastro de sangue que formava nas laterais de sua cabeça, ou grunhindo quando o Moon desferia um tapa em uma das bochechas cortadas dela.

A live que era transmitida à um pequeno público que havia pagado com bitcoins pela deep web, terminou com o mesmo em prantos encolhido ao muro em frente ao cadáver de Alice, ao lado de Namjoon que lhe abraçava os ombros.

Era como se tivesse voltado a ser uma criança, como se não estivesse ficando mais velho.

Após a movimentação toda, quando conseguiu se acalmar. Levaram o corpo da mais velha para o carro. Já haviam feito aquilo várias vezes, mas quando é alguém de nossa família, é mil vezes pior.

Jimin assim como Alice sempre brincava com si, aceitou o desejo da mesma e o corpo fora cremado, com as cinzas sendo guardadas, não como Alice, mas sim na identidade falsa da mesma.

O Park tinha seus pensamentos embaraçados, a mente trabalhando à mil, sem tirar os pés do consultório clandestino do amigo de Yoongi. Já que eles não poderiam explicar a situação se fossem à um hospital.

"Então doutor temos uma criança prematura de três meses, onde a mãe fora torturada até a morte por que somos de uma máfia."

Estava sentado na poltrona azul ao lado da incubadora, uma de verdade e não à qual a criança estava quando fora encontrada.

Seus olhos não paravam de observar aquele ser pequeno, com os olhos fechados, a pele frágil que parecia se derreter há qualquer momento. As mãos minúsculas, conseguia reparar em cada detalhe.

A ponta de seus dedos passeavam sobre o vidro da incubadora, seus lábios por vezes transmitiam sorrisos, mesmo tendo passado por tudo aquilo, mesmo ainda abalado, mesmo ainda sofrendo.

Ele estava abalado, claro que estava! A pessoa que mais amava havia morrido, mas lhe deixou uma criança, fruto de tudo o que viveram. Uma criança que corria riscos, possuía menos de nove centímetros, estar viva aos três meses já era um milagre, reagindo aos estímulos era ainda mais.

-Jimin.-Jungkook chamou pelo mais velho, as mãos dentro dos bolsos da jaqueta de couro. Os fios de cabelos pretos colocados para trás, as olheiras fundas abaixo dos olhos mostrava o quão morto de sono estava. Ele resolveu ficar com o primo, já que o mesmo em nenhum momento arredou o pé dali.-Vai comer alguma coisa pelo menos.

Esfregou os olhos que ardiam, e Jimin somente sorriu sem levantar o rosto.

-Ela é linda, não é Jungkook?

Perguntou se referindo a criança que parecia tão calma, nem parecia estar no meio daquilo tudo.

-É sim.-Jeon sorriu fazendo seus dentes aparecerem, tombou a cabeça para o lado arqueado uma das sobrancelhas.-Bom, pra mim ela tem cara de joelho.

A observação um tanto infantil sua, fizera o menor rir minimamente balançando a cabeça negativamente.

Ele queria parecer mais forte, queria ser mais forte. Afinal aquela criança dependia de si agora, de seu humor, sua educação, sua maneira e seu amor.

Deixou o ar pesado esvair-se por entre os lábios, levantou da poltrona olhando para a menininha, não querendo sair.

-Eu já volto.-Sussurrou, mesmo que ela não lhe ouvisse.

[...]

27 de Fevereiro de 2018.

Os cabelos do acastanhado balançavam conforme a brisa passava ali, os traços de seu rosto estavam os mesmos, mas não aos olhos de Seokjin. Para ele, o caçula parecia mais velho, o pouco tempo lhe transformou.

O sorriso quadricular era visto apenas em fotos, a mania de ser inexpressivo sumiu, agora era sempre a feição triste. Os olhos avermelhados por conta do choro, os lábios sempre com filetes de sangue por ficar os mordendo quando ficava ansioso encarando o celular feito louco.

Afinal nunca mais recebeu mensagens ou ligações de 2082.

Era Jongup já sabia, mas era como de o mesmo não estivesse naquele planeta. Fora a casa do mesmo, quebrou os móveis desde a entrada até os fundos. Faltou apenas atear fogo no lugar.

O caçou nas bases que possuía em outras cidades, socou Jongin até que o sangue do mesmo impregnasse lhe as mãos, e perceber que ele também não sabia do paradeiro daquele desgraçado.

Yoongi fez de tudo para rastrear o número, não conseguiu nada na deep web, a conta à qual Jongup usou para fazer a live de tortura era de outra pessoa. Pediu desculpas por não conseguir fazer nada, e Taehyung apenas ouviu.

Youra poderia muito bem não ter resistido, os choques elétricos descarregados por seu corpo, as reações que tivera, aquela carta poderia ter sido realmente seu adeus.

Trouxe as pernas rente ao corpo, os braços rodeando os joelhos contra seu peito, deitando a cabeça acima dos mesmos. Sentado no banco de madeira abaixo da árvore do quintal.

Ele daria sua vida pela a da mais nova, afinal Jongup não ganhava nada com a Im, não se tinha motivo algum para fazer o que estava fazendo, à não ser lhe ver fraco, e era o que havia conseguido.

Por vezes pensava em acabar com tudo aquilo, acabar com si mesmo. Assim o Moon não teria motivos para ainda estar com Youra.

Seu mundo se resumia em uma melodia fria e calma, onde as notas do piano juntamente com o violino e violoncelo transmitiam suas lágrimas solitárias que escorriam sobre as bochechas, os intervalos entre um instrumento e outro deixando o vazio completo era onde na verdade deveria estar a garota de cabelos acastanhados, à qual gostava de ver com um bico nos lábios todas as vezes que brincava com sua altura.

Tombou a cabeça para o lado, onde seus olhos rolaram até o lugar vazio no banco, e sua mente lhe pregou a peça de mostrar o sorriso que fazia as bochechas cheinhas da namorada erguendo enquanto sorria.

"-Eu não aguentaria ver você indo embora também.-Um nó formou em sua garganta.-Não restaria nada de mim, nada...

-Shh...-Deslizou a mão pelas costas do Kim até que chegasse nos fios de cabelos castanhos, e os afagou carinhosamente.-Eu não vou embora, ninguém vai me tirar do seu lado, ouviu?"

Ouviu o click da porta da cozinha, levantou levemente o rosto, e Namjoon adentrou seu campo de visão. O casaco preto jogado de qualquer maneira sobre o ombros deixando amostra a camiseta cinza com detalhes em amarelo mostrando a logo do Nirvana, a calça jeans larga. Era o Namjoon de antes.

Sentou-se ao lado do dongsaeng, as mãos por entre os joelhos prensando o banco abaixo de si, virou o rosto na direção do mesmo.

-Você têm que comer.

Taehyung ficou em silêncio fixando o olhar em qualquer canto, dando a mínima para as palavras do irmão.

Nam deixou o ar pesado se esvair por entre os lábios. As coisas haviam dado uma parada, desde que retornou, não fizera a cobrança dos clientes, não forneceu mais drogas, estava dando um tempo à todos.

-Yoongi estava te procurando.-Exclamou enquanto observava o céu por entre as folhas da árvore, sorrindo quando percebeu o menor levantando o rosto em sua direção.-Disse que era urg...

Não deixou o mais velho terminar sua fala, Tae apoiou as mãos no banco dando o impulso necessário para levantar, saindo correndo em meio ao gramado ignorando os chamados do irmão, quase tropeçando nos próprios pés.

Estava se apegando à cada pista, cada mínima informação que o Min conseguia enfurnado naquele porão.

Adentrou a cozinha passando por Hoseok que lhe disse algo mas nem se importou em prestar atenção, talvez até sendo meio rude por não o olhar nos olhos. Mas pouco lhe importava, não queria mais deixar uma falsa expressão no rosto apenas para agradar o próximo.

Em passos apressados atravessou o cômodo dando em direção ao corredor extenso, parando em frente à porta, sua mão moveu até a maçaneta fechando os dedos empurrando a mesma, fazendo a porta se abrir, descendo imediatamente a escada de degraus estreitos.

-Yoongi!

Exclamou avisando que já estava ali, e teve a visão do mesmo sentado na cadeira giratória com as costas viradas para si, os dedos ágeis batendo sobre as teclas em frente ao monitor, por vezes virando o rosto encarando as outras telas.

-Taehyung...-O de fios de cabelos descoloridos murmurou ao sentir o Kim em seu encalço provavelmente tentando entender todos aqueles números e letras em verde nas telas.-Espere aí, acho que consegui uma coisa...

Mordeu o lábio inferior juntando números e letras, chegando ao resultado final e digitando o código que chutava ser o certo.

Os dedos do Min travaram no mesmo momento assim como todos os músculos do corpo, deixando a tensão no ar já que o maior estava ansioso de mais para saber o que o mais velho tinha conseguido.

-Então hyung? O que conseguiu?

-Ah...-Os lábios rosados do menor tremeram, piscando os olhos repetidas vezes, levantou o rosto em direção ao mais novo.-O endereço daquele número 2082, as mensagens foram enviadas deste endereço.

Yoongi apontou o dedo indicador para o monitor principal em frente à si, os olhos de Tae migraram até onde era lhe indicado, lendo o endereço de sua casa, a casa em que moravam, o lugar em que exatamente estavam.

-Que merda é essa Yoongi.

Perguntou piscando os olhos enquanto o Min retornou a sua atenção para o teclado, mas o endereço continuava ali.

-É isto Taehyung.-O de fios de cabelos descoloridos se sentou direito na cadeira, descansando um dos braços sobre a mesa, os lábios entre abertos não querenso acreditar naquilo.-Não há erro, é o endereço...

O maior levou uma das mãos aos próprios lábios, engolindo um seco, e como um filme tudo o que já viveu naquela casa passou diante os olhos. As risadas de Hoseok quando Seokjin contava uma piada boba, Jungkook e Namjoon tirando sarro um do outro, Yoongi e Jimin apostando quem iria ficar bêbado primeiro.

Momentos bobos, mas que definiam sua família desde que perdeu os pais. Desde que descobriu que família, podia ser um termo dado quando cuidamos, nos preocupamos, amamos e confiamos em alguém.

Confiar.

Confiança.

Era algo que conforme o tempo fora passando, não conseguia mais ter, não havia motivos, mas apenas sentia que não era a mesma coisa. A atmosfera entre eles, parecia ser monótono, mas não tinha uma justificativa.

-Q,quem enviou as mensagens.-O Min arqueeou uma das sobrancelhas, mordendo o lábio inferior em seguida, se encolhendo na cadeira.-Hyung eu sei que tem alguma maneira de ver o aparelho que enviou...

Ia dizendo aumentando o tom de voz, fechou a mão em punho batendo contra a mesa, fazendo o café chacoalhar dentro da xícara ao lado.

-Não dá!-O mais velho exclamou no mesmo tom, puxando o ar por entre os lábios.-Eu não sei, parece que a pessoa deixou a mostra a localização, mas travou o aparelho, é como se...

-Como se o que.-Falou entre dentes, já perdendo a paciência que lhe restava.

-Como se a pessoa quisesse que soubéssemos que as mensagens foram enviadas daqui.-Torceu a face com o que ele mesmo havia pensado.

Era doentio tudo aquilo, pensar que há pouco tempo atrás era capaz de morrer por qualquer um deles, eles que eram a sua família, saber que um membro de sua própria família fora capaz de matar Alice.

Plantar a discórdia entre todos, torturar Im Youra, mas com a pergunta que martelada em sua cabeça.

"Por que?"

Até agora nada vinha em sua mente, não tinha motivo algum para aquilo estar acontecendo. Inclusive contra Youra.

Taehyung fechou as mãos em punhos, as veias em seus braços saltaram dando para ver cada detalhe das mesmas que se intensificaram, ao levar um dos braços para trás pegando o impulso necessário. Seu punho atingiu a parede ao lado próxima as prateleiras velhas que acabaram por cair para o lado.

A pele rente aos dedos começara a ficar vermelha por conta do sangue, mas a dor nem ao menos lhe incomodava por conta da raiva que sentia.

O Min já não prestava mais tanta atenção assim no mais novo, que agora estava socando sua parede sem parar. Contando que o mesmo depois lhe pagasse tudo o que estava a quebrando, tudo bem.

Arqueeou uma das sobrancelhas tombando a cabeça para o lado, os dedos ágeis sobre a tecla e rapidamente a janela azul se agiu na tela do computador, com o endereço à mostra eem letras e números em branco.

-Taehyung.-Chamou pelo o outro com a voz baixa, um tanto em choque por depois de tantas tentativas, finalmente tinha chegado em algum.-Tae.-Exclamou de novo e tudo o que ouviu foram mais uma prateleira caindo ao chão.-Taehyung CARALHO!

Elevou o tom de voz virando o rosto por cima do ombro.

O Kim puxava o ar por entre os lábios observando as mãos ensanguentadas por seu próprio sangue, limpando uma delas na camiseta que usava, como se estivesse em um transe levantou o rosto, olhando Yoongi.

-Apareceu outro endereço.-O mais velho dissera com um sorriso nos lábios.

[...]

Os olhos castanhos não possuíam brilho, assim como pareciam não possuir vida também. O olhar vago apenas fazia acreditar mais naquilo, por mais que ainda estivesse respirando.

A cabeça pendida para frente fazia os fios de cabelos caírem sobre o rosto, destacando uma das mechas que antes era castanho agora era completamente branco, grisalho.

O responsável por bloquear a transmissão do pigmento que dá cor aos cabelos são os radicais livres, hormônios que o organismo produz quando está estressado. Quando a pessoa passa por momentos estressantes, ou traumatizantes, é possível acelerar tal processo.
E era o que tinha acontecido à Im Youra, a mecha rente à franja estava grisalha, sem ajuda de nenhum produto, apenas confinada todos aqueles dias sem ver a luz do sol, sem saber se era dia ou noite.

Resultado das torturas diárias há todo momento, o terror psicológico passou a ser mais doloroso do que as agressões e mutilações.

Sentiu a textura gélida cutucar sua pele como se estivesse brincando, a ponta do do parafuso fora empurrado contra a pele das costas de sua mão, e aos poucos a ponta atravessou a camada de pele, e sem esboçar reação alguma no rosto.

A Im sentiu o objeto lhe adentrar a carne quente, a textura gélida cada centímetro rasgar, o sangue escorrer pela pele como de costume, mas nada além disto.

Ela já não sentia mais dor.

Os pés da garota estavam presos à cadeira que estava sentada, os pulsos sobre as laterais da cadeira também presos.

Jongup passou a mão por entre os fios de cabelos azulados, um canto dos lábios repuxou para cima, sorrindo de uma orelha à outra.

O peitoral à mostra dava a visão das várias tatuagens espalhadas tanto ali quanto pelo tronco, jogou a cabeça para trás contemplando o que tinha conseguido.

Puxou o ar por entre os lábios, talvez esperando que Youra sorri-se assim como ele, mas logo voltou à si, sabendo que aquilo era impossível.

O sangue escorria pelos dois lados da pele da menor, a onde o prego a atravessava, mas sabia que aquilo no mínimo agora fazia cócegas nela.

-Eu te disse, não?-Falou se referindo aos primeiros dias de tortura dela.-Iria fazer a dor se tornar suportável, assim como aconteceu comigo.

A garota respirou fundo calmamente fazendo o peito subir e descer, balançando a cabeça positivamente.

Jongup passou a ser sua única companhia, seu pesadelo, medo e carrasco, mas ao mesmo tempo era o único ao qual conseguia ouvir a voz, ver, e sentir presença de vida, já que ela duvidava um pouco de si mesma.

Youra não tinha muita noção de tempo, sua mente se prendia à lembranças principalmente a Taehyung. Por vezes, ainda acordada quando seu corpo clamava por descanso mesmo estando acorrentada, conseguia sonhar acordada pm os braços do maior lhe rodeando. A voz do Kim tão tente à sua orelha, lhe arrepia A por inteiro, mesmo sendo tudo uma ilusão.

A miragem de um paraíso tão distante, que resumia-se em uma única pessoa.

-Hakyeon.-Ela falou com a voz embargada em melancolia e o olhar fixo ao canto da sala escura, sem nem sequer piscar.-Minha liberdade, a convivência com uma família nova, e agora tira a minha sensibilidade.-A mecha grisalha caiu sobre um dos olhos da menor, e levantou levemente o rosto entre olhando o mais velho com a feição séria.-Só resta a minha vida agora, não é?

Havia um ar de desafio naquilo, e Jongup estava orgulhoso, ele havia transformado Im Youra, a machucado de todas as formas possíveis, quase à transformando nele mesmo.

Negou com a cabeça, se aproximando da mesma, abaixou-se fazendo seu rosto ficar rente ao dela, mas diferente das outras vezes, ela não recuou, apenas o encarou no fundo dos olhos, com o monotonia transbordando ali.

-Agora, eu irei tirar Taehyung de você.-As poucas palavras sendo sussurradas fizeram as pupilas de Youra contraírem, os lábios rosados e cortados se entre abriram.-Ele.-Moon arqueeou uma das sobrancelhas, se referindo ao mandante de todo o esquema, de tudo aquilo.-Ele deixou as informações visíveis para o Yoongi.-O homem inclinou a cabeça para o lado, como se fosse um boneco ventrículo.-Pronta para ver o Taetae morrer na sua frente, Youra-ssi?

[❁❁❁]
Skydive free fall.

Como minhas amorinhas estão? Espero que bem, eu sinto muito a falta de vocês <3

O que vocês estão achando? Espero que tenham gostado.
Comentem pois a opinião de vocês é muito importante.

O próximo capítulo é o último!!! Eu tô muito ansiosa para ele, finalmente vocês saberem quem foi que tramou tudo isto, quem está por trás!
Eu queria muito ver a reação de vocês! Kkk seria incrível AAAAHHHH.

E votem, já que me inspira muito 💕

Amo muito vocês, obrigada a qiem me enviou mensagens lindinhas, não sabem o quanto isso me ajudou.
Obrigada a todos que acompanham as minhas fanfics, vocês são muito especiais <3

Bjinhos Panda do Tae ♡