Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

♕ + ♔




Eu podia ver claramente seu rosto encarando a tela de seu celular. Ela sabia que era eu. Ela sabia que o número desconhecido ousando discar seu número e ligar era meu. Eu sabia que ela não ia atender, mas mesmo assim eu era estúpido o suficiente para tal desespero.

- Preocupado?

Tive que parar alguns segundos para não chamar a mulher ao meu lado pelo nome que sempre estava em minha mente. Ela passou as mãos pelos meus ombros, eu encarei sem pudor seu corpo com pouca roupa. Ela era quem parecia preocupada.

- Não, está tudo certo - eu disse, levantando e guardando o celular no meu bolso

Ela não ia atender, mas eu ia deixar tocar até chegar à caixa postal.

Como era viver com alguém sempre com uma terceira pessoa em mente? Perturbador. A cada momento, eu tinha que disciplinar meu pensamento a não contar as memórias erradas, a não falar as palavras que só eu e ela sabíamos, a não gemer seu nome nos ouvidos errados.

Não era como se eu estivesse traindo o meu presente, mas o passado estava constante em meu pensamento. Eu nunca disse que a amava, eu nunca disse que não havia outra pessoa na minha cabeça, eu nunca defini o que nós éramos. E esta "ela" não tem a menor razão para se sentir traída pela outra "ela". A ela do passado havia bloqueado meu número há mais tempo do que eu pensava ter passado.


- Tem certeza que está tudo bem? - o presente me pergunta

Eu estava concentrado no trânsito, olhando o relógio em meu pulso, no braço segurando o volante.

- Sim, que horas é seu vôo?

- Daqui a duas horas, se é por isso que você está preocupado, relaxa. Dá tempo.

- Eu só não quero que você perca esse compromisso - eu minto, eu não me importava

- Vai dar tudo certo - ela diz, beijando o meu rosto - Obrigada por me trazer até o aeroporto.

- Pode contar comigo - eu mostro um meio sorriso, mentindo de novo

Ela beija meus lábios quando tira o cinto, mas eu não sinto nada quando a vejo ir embora com as malas pelo saguão do aeroporto.

Resolvo tirar meu celular do bolso. A notificação no ícone do telefone faz meus olhos arregalarem. Eu clico e ouço a mensagem de voz como se fosse vital para minha sobrevivência... Talvez fosse.

A primeira coisa que ouço é meu nome. Meu peito parece um campo de batalha. Era sua voz, mas ela não parecia muito feliz.

"Por favor, para de me ligar. Acabou. Aceita que eu e você nunca mais vamos ser nada. Aliás, eu tenho alguém e, que eu saiba, você também".

A mensagem de voz acaba aí. Sem um tchau. Sem nada além de uma voz cansada. Apesar de não gostar de ouvir sua voz daquele jeito, repito sua mensagem aos meus ouvidos como um louco. E, também como um louco, decido que não vou mais ligar.


Aperto a campainha pela segunda vez. E desta vez ouço um suspiro vir do outro lado da porta.

- Eu disse para você não me ligar mais... - o suspiro se transforma na mesma voz cansada

- Eu não liguei mais, liguei? - falo, do outro lado da porta

A fechadura começa a girar devagar e eu posso ouvir o rangido das dobradiças. Ela abre a porta somente o suficiente para que eu veja metade de seu rosto. A outra metade eu já sei de cor.

Eu tinha tanto para falar a ela... Mas tudo o que eu consigo fazer é silêncio.

E o silêncio a faz suspirar mais uma vez, abrindo a porta mais um pouco.

- Entra, eu vou colocar água para ferver. E também tem umas coisas que eu preciso te devolver. Talvez isso seja o fechamento que a gente precisa.

- Ele não está aqui?

- Não, eu não sou tão maluca assim - ela se dirige à cozinha

Entro devagar pelo apartamento que eu conhecia tão bem. A rachadura no corredor continua ali, assim como aquela mancha no tapete. A mancha é quase imperceptível, mas só porque passamos um dia quase todo esfregando o tecido, tentando tirar o molho de curry que eu havia derrubado sem querer.

Vou até a cozinha, onde a encontro usando um vestido largo e as meias até o joelho que eu tanto gostava, de frente para a pia, enchendo o bule elétrico com a água da torneira.

No passado, eu já teria a abraçado por trás em um momento desses. Ela reclamaria que eu a fiz transbordar a água. Eu riria e tudo acabaria em chá. No presente, só existe o chá.

Nossa conversa é intercalada por suspiros e goles de Earl Grey. Nenhum de nós parece confortável. Ela olha para a janela ao invés de olhar para mim.

- Ela não se importa? - diz encarando o resto de sol indo embora pela janela

- Se importa com...? - eu espero ela terminar meu raciocínio

- Com você sempre me procurando, me ligando, com você aqui na minha casa tomando chá.

- Não sei. Ela acha que vai me curar de você.

- Eu não sou uma doença - ela me encara pela primeira vez por mais de três segundos

Eu devoro esses três segundos.

- Onde a gente errou? - eu pergunto, encarando-a de volta - Foi uma briga tão estúpida.

- Foi a última briga estúpida. A última de muitas que nunca resolvemos.

Eu levo minhas mãos devagar ao seu rosto, acariciando sua bochecha com meu polegar, tentando aproveitar o máximo antes que ela vire a cabeça.

Mas ela não o faz. Apenas fecha os olhos, sentindo meu toque por um breve momento.

- Você está sempre nos meus pensamentos. Quando eu chego em casa, eu fico esperando te ver usando minha camiseta e essas meias, mas tudo que eu encontro é minha cama vazia. E quando há alguém sobre meus lençóis, sou eu quem pareço vazio.

Ela suspira mais forte. Levanta da cadeira, deixando sua caneca com metade cheia de chá. Sai do cômodo, me deixando sentado, esperando. Depois, volta carregando uma caixa grande, apoiada na cintura.

- São as coisas que você esqueceu de buscar, ou que eu esqueci que eram suas. Eu separei tudo semana passada.

Eu me pergunto se quero ou não abrir a caixa.

- Eu não posso aceitar isso de volta. Foi um presente que eu te dei - eu digo, segurando nas mãos um álbum do Beck

- Tem uma declaração escrita no encarte. Eu não posso.

- Foi ele quem te fez separar essas coisas para me devolver? - eu começo a ficar com raiva - Ele não pode querer que você apague seu passado.

Ela dá um gole no chá, mas faz uma careta porque já estava frio. Não responde minha pergunta.

Começo a vasculhar a caixa. Há alguns papéis pequenos, alguns bilhetes que eu costumava deixar do lado da cama. Eu não me atrevo a ler nenhuma das coisas que eu escrevi. Eu sabia que meu sentimento não havia mudado, nada iria me surpreender.

Vejo que há mais alguns CD's com a caixa quebrada, uma meia que era minha e estava sem o outro par e um isqueiro estampado de pin-ups que eu havia comprado de um vendedor ambulante. Finalmente, toco o tecido da minha camiseta azul. O azul já está desbotado, o tecido, desgastado, mas eu a retiro da caixa, olhando-a melhor.

- Você um dia disse que essa minha camiseta era sua peça de roupa favorita. Um dia você até foi com ela no supermercado da esquina e voltou reclamando que te encararam. Lembra?

- Eu não esqueci de nada - ela diz, mexendo no chá frio, me evitando

- Você disse que a gente precisa de um fechamento, não é? Eu tenho algum último pedido a ser atendido?

- Fechamento não quer dizer "corredor da morte".

Eu espero ela olhar para mim.

- Por favor - eu digo, entregando a camiseta a ela - Eu só quero lembrar de você do jeito que eu mais gostava. Eu prometo nunca mais te procurar, nunca mais te ligar. Você nunca mais vai ter que me ver.

Ela parece indecisa. Suspira desanimada e demora um tempo até se levantar, levando a camiseta consigo. Ela vai até o corredor, onde eu não posso vê-la, e não demora nem dez segundos para tirar seu vestido largo e colocar minha camiseta.

- Pronto? - ela aparece na porta da cozinha, puxando a camiseta para baixo

Minha Lacoste azul tinha o comprimento perfeito para cobrir até o meio de seu quadril. Eu levanto, tentando gravar essa visão na minha mente pela milionésima vez.

Chego mais perto de seu corpo e a única coisa que eu digo é para que ela fique com a camiseta.

- Tem seu cheiro. Ia me deixar ainda mais maluco - explico

Ela parece ter esquecido que a camiseta era curta, porque para de puxar a barra para baixo e vai até a porta do corredor, falando que era melhor eu ir embora. Eu consigo ver sua calcinha cinza escuro. Eu tento não me lembrar de todas as vezes que eu já a retirei de seu corpo. Acompanho-a até a porta. Estou a um passo de sair completamente de sua casa quando vejo que é um erro. Eu não poderia desperdiçar mais chances de tê-la de volta. Se ela realmente não sentia mais nada, me mandaria embora de vez. Eu tinha que arriscar, afinal, tudo o que eu teria para perder eu já havia perdido.

Volto meu corpo a ela, que está segurando a porta.

- Mudei de opinião. Vou ficar com a camiseta. O resto das coisas naquela caixa você pode jogar fora.

Ela me encara. Não sei o que ela está sentindo, mas sua testa está franzida.

- Tá bem! - ela exclama, tirando minha Lacoste azul na mesma hora e me entregando - Pronto! Era tudo o que você queria?

Seu tom de voz é alto. Ela quase grita.

- Não, não era.


Minha ação é tão rápida que eu só percebo que ela estava usando o sutiã de renda que eu gostava quando minhas mãos o tocam. Uma de minhas mãos foi ao seu pescoço, a outra subiu pela sua cintura e minha boca se grudou à dela.

No fundo, eu estava esperando que ela me afastasse, me xingasse, me expulsasse dali. Só depois que afastei o beijo para beijar suas bochechas, percebi que ela não havia mostrado nenhuma resistência. Abro meus olhos só para ver que ela tinha os seus fechados.

Eu fecho a porta, levando-a pelo caminho que eu sabia de cor. Beijo a curva entre seu pescoço e seu ombro enquanto tento, ao mesmo tempo, guiar nossos corpos até seu quarto. Eu só esperava que ela não tivesse mudado a posição da cama.

Paro pelo corredor quando sinto sua mão no meu peito. Preparo-me mentalmente para pedir desculpas e sair de sua casa, mas a mão no meu peito não é com o intuito de me afastar. A mão em meu peito agarra a minha camiseta com força, me puxando para mais perto. Seu ato me faz jogar minha boca à sua mais uma vez, levando seu corpo contra a parede.

Eu tento não pensar que a qualquer momento ela pode decidir que aquilo era loucura demais, então tento aproveitar seu beijo e seu corpo perto do meu o máximo possível.

Sua perna esquerda se flexiona, se arrastando pela minha perna direita. Minhas mãos sabem exatamente o que fazer. Meus dedos contornam a parte de trás de sua coxa, só para passarem por dentro do tecido de sua meia. Ela me afasta um pouco. Talvez minha ação tenha despertado memórias demais.

- Era sempre assim. Eu quase nua. Você ainda de sapatos - ela diz de olhos fechados, talvez para não abri-los e perceber que não era só uma memória

Eu mal consigo evitar meu sorriso. Seus olhos abrem e ela sorri também. Céus, eu não queria despertar daquele momento.

Suas ações são um pouco comedidas, como se ela não quisesse acreditar que estava se rendendo àquilo, mas aos poucos tira minha jaqueta, que desliza pelos meus ombros. Minha camiseta sai com um pouco de dificuldade, bagunçando meu cabelo. Eu lembro do dia que ela me presenteou com uma camiseta nova porque eu "sempre usava a mesma camiseta preta rasgada". A camiseta nova não durou nem um minuto no meu corpo.

Eu olho pra baixo junto com ela, pensando que, se fosse para ela desistir, não estaria abrindo o zíper da minha calça. Consigo ver o contorno dos seus seios de cima, a renda fina do sutiã faz minha memória ficar ainda mais intensa. Eu tiro o cabelo de seu rosto e beijo sua testa, sentindo minha calça ficar mais larga na cintura. Ela suspira mais forte.

- Cueca nova?

- Praticamente um armário inteiro novo - eu penso se devo dizer ou não - Ela é estilista.

- Ah... - é tudo o que ela diz

Sua perna esquerda volta ao chão e ela se arrasta pela parede, indo para o quarto. Eu me livro da minha calça e dos meus sapatos, deixando-os no corredor.

- Isso não é justo - a encontro andando de um lado para o outro pelo quarto

- O quê?

- O que a gente está fazendo. Você tem alguém, eu também com outra pessoa. Não é justo com eles.

- Já parou para pensar o que é justo para gente? Por que a gente se preocupa tanto com as outras pessoas e nunca faz o que é certo para nós dois? - digo, puxando-a pelo braço

- Porque a gente só discute por coisa inútil quando a gente está junto. Porque a gente quase nunca concorda com nada.

- É um tédio viver com alguém que concorda e aceita tudo o que você fala. Por exemplo, eu reclamava da sua cadeira com roupas usadas empilhadas, mas eu prefiro ter que reclamar disso do que chegar em casa e todas as minhas meias estarem organizadas por cor na gaveta.

Ela ri, olhando para o canto, vendo sua cadeira com roupas empilhadas.

- Ela parece uma chata controladora - diz com humor

- O que dizer então do neurótico ciumento que te faz devolver um CD porque tem uma declaração boba escrita nele?

Ela ri, eu a puxo mais para perto.

- Diz que não sente minha falta. Porque, se não sentir, eu vou embora agora. Juro. De cueca.

- Estou considerando dizer que não sinto só para te ver descendo o elevador de cueca - ela ri

Eu gosto do quão confortável ela está agora... Era como nos velhos tempos.

Fico observando seu rosto, tentando entender que eu a tinha assim para mim depois de tanto tempo achando que isso nunca mais ia acontecer. Estou tão focado nela que não percebo o momento em que ela resolve me beijar.

- Eu fiquei completamente quebrada quando você foi embora. Eu fiquei em pedaços - ela fala quase em um sussurro depois do beijo

- Eu só estou me sentindo inteiro agora.


Os seus lençóis tinham seu cheiro. As fronhas tinham seu perfume. Só que eu mal acreditava que eu no momento conseguia cheirar seu próprio pescoço, sentir o perfume entrando junto ao ar pelos meus pulmões.

Meus dedos estavam constantemente nas suas coxas, apertando-as e passando devagar por entre o tecido de sua meia sete oitavos e sua pele. Ela não se importava em tirá-las porque sabia que eu gostava, sabia que no final elas iam acabar deslizando por suas pernas e caindo pelo chão.

Minha boca se ocupa em beijar seu pescoço e seu colo quando minha mão direita se atreve a passear por debaixo de seu umbigo. Era ótimo quando eu a deixava concentrada em alguma coisa só para surpreendê-la com outra. E, se não fosse estranho, faria um quadro com a expressão de seu rosto assim que ela percebe que meus dedos já passaram pela barra de sua calcinha cinza e estão tocando-a do jeito que ela havia me ensinado. Eu só consigo olhar para seu rosto e sorrir. Ao mesmo tempo me lembro de quando ela começou a mover minha mão durante uma de nossas noites, me mostrando onde meus dedos deviam ou não ir. E eu lembro que eu nunca tive que ensinar nada a ela, já que tudo o que ela fazia conseguia me deixar extasiado.

Tinha algo especial em assisti-la a jogar a cabeça para trás e abrir a boca. Seus olhos fechados com força, suas costas curvadas, fazendo sua barriga se levantar. Eu observava-a como se a qualquer momento tudo voltasse a ser quebrado de novo, esperando talvez que aquela fosse realmente a última vez. Eu tinha que gravar cada minuto. Ela começa a me xingar e eu começo a rir, era sempre assim.

- Quer que eu pare? - eu digo

- Não! - ela grita - Eu vou te odiar... Para sempre... Se você... Parar agora.

Eu rio e continuo até ver seu corpo relaxar. Eu beijo seus ombros enquanto ela ainda está ofegante e subo meus dedos pela sua cintura, enfiando-os desta vez dentro de seu sutiã. Havia algo fascinante no nosso silêncio, não era assim com nenhuma outra garota. Eu adorava nossas conversas, muitas vezes discussões, e amava o som de sua voz, mas era no silêncio que eu via o quanto eu a queria perto mesmo sem som nenhum, o quanto eu gostava de tudo o que estava dentro da cabeça dela e o quanto eu gostava de ouvir sua respiração, saber que ela estava ali. Era no silêncio que nossas palavras mais significantes eram ditas.

Eu também me impressionava em relação ao tempo: ele não exista quando estávamos juntos assim. De algum jeito, queríamos sempre fazer com que durasse eternamente e eu sempre descobria algum jeito novo de fazê-la suspirar mais forte. Éramos cientistas: experimentávamos milhares de jeitos diferentes de fazer a mesma coisa e, no fim, a maioria das tentativas era bem sucedida.

Lembro-me de um dia que decidimos não sair da cama. Ela reclamava que eu havia mudado o canal e eu a provocava até que a TV não fosse mais importante. Depois ela escondia o controle e me fazia procurá-lo pelos lençóis só para que ignorássemos de novo o que estava sendo transmitido. Eu repetiria esse por toda minha vida.


Meus olhos tentavam ao máximo ficarem abertos, mas era involuntário. Eu queria continuar vendo seu corpo dançar sobre o meu sem nenhuma interrupção, mas não era justo. O que ela me fazia sentir não era justo, já que eu não conseguia manter minha visão focada nela por causa do furacão dentro de minha mente. Abro os olhos somente o suficiente para observá-la passar sua mão pela minha barriga. Fecho-os. Forço-os a abrir novamente, mas a visão de seu peito se contraindo e seus seios se movimentando milimetricamente para cima e para baixo me fazem fechá-los com força. Seus movimentos ficam cada vez mais lentos e eu busco uma força sobrenatural para virar meu corpo para o lado, levando-a comigo, deitando suas costas devagar nos lençóis.

Puxo a pele de seu pescoço com os dentes, do jeito que eu sabia que ela gostava tanto quando eu. No meio da minha ação, sinto como se meu corpo estivesse derretendo. Eu não consigo mais suportar meus braços na cama e deixo meu peito encostar-se totalmente ao dela por alguns segundos. Seu corpo embaixo do meu continua rígido, continua sem controle, mas, após alguns segundos, ela solta todo o ar guardado nos pulmões.

Eu jogo meu corpo para o lado, ainda tentando não me afogar no sentimento. A comparação é inevitável. Todas as outras conseguiam me levar para um planeta distante, mas ela conseguia fazer minha mente conhecer outra galáxia, com formas e cores nunca vistas.

Abro meus olhos e a vejo virando o corpo de bruços, se agarrando a um travesseiro, ainda respirando forte. Eu consigo ver sua pele e a camada fina de suor por cima de suas costas. Sei que a última coisa que queremos é mais contato entre nossos corpos quentes e sensíveis, mas não consigo evitar passar as pontas de meus dedos por sua pele, subindo até seu pescoço. Seu corpo acaba pulando com meu toque. Tudo o que eu consigo pensar é no quão sortudo eu era por tê-la para mim e no quão burro eu era por tê-la deixado quando ela pediu. Eu não devia ter aceitado o fim tão fácil. Não era como se o sentimento estivesse acabado, não tinha, mas as brigas estavam cada vez mais constantes. Por um momento de estupidez, achei que ela seria melhor sem mim, que eu acabava sendo nocivo à sua sanidade. E talvez eu era, mas era melhor nos enlouquecermos com a presença um do outro do que com a nossa ausência.

Ela abre os olhos devagar e me vê a admirando.

- Sabia que essa é a primeira vez que eu traio alguém?

Não era o que eu esperava que ela dissesse. Eu começo a me sentir culpado, mas o sentimento vai embora quando ela ri.

- E eu não estou me sentindo mal. Céus, eu sou uma péssima pessoa - ela ri

Eu a trago mais para perto.

"Você é uma das melhores pessoas do mundo. Pelo menos pra mim." Eu penso em dizer, mas desisto. Tem coisas que ficam melhores sem palavras bobas para descrevê-las.

Sinto algo nas minhas costas e tenho que me contorcer para resgatar e acabar com o incômodo. Era o meu relógio que havia se perdido no meio dos lençóis.

- Meia noite? - ela pergunta, agitada, ao olhar para os números no visor do meu relógio de pulso

- Sim, exatamente.

Eu ia continuar minha fala e dizer que o tempo voa quando a gente ficava junto, mas ela levanta da cama com rapidez e começa a se vestir, me deixando assustado.

- Você precisa ir - ela joga minha cueca em cima da minha perna

- O que foi?

- Ele vai chegar daqui a pouco.

- Ele?

- Você sabe muito bem quem é ele. Anda, por favor, eu não tô afim de drama.

Eu penso em me negar. Lá no fundo, eu quero que ele me encontre aqui. Eu quero encará-lo. Mas não era justo, não foi culpa dele eu tê-la deixado. Eu queria que ele me encontrasse assim para que, para ele, fosse o fim. Seria o método mais rápido de acabar com essa história dela namorando qualquer outra pessoa a não ser eu.

Só que ao mesmo tempo não era justo para ela ser descoberta assim, então eu coloco minha cueca rápido, mas ela me empurra pelo corredor. Eu visto a calça até a metade e seguro a camiseta e a jaqueta na mão.

A minha Lacoste azul está jogada atrás da porta, ela tenta colocá-la nos meus ombros, mas eu não deixo.

- Joga isso fora. Eu não tenho o menor interesse nela sem você dentro.

Ela mal sorri, apenas me empurra e fecha a porta. Eu me vejo de cueca no corredor do andar e torço para ninguém sair do elevador.


Eu me visto rapidamente e desço pelas escadas, não queria encontrar com ele no elevador, não queria causar mais dor na vida dela. Desço cada degrau sorrindo e ao mesmo tempo com medo disso ser definitivamente nosso fechamento, disso ser a nossa última vez.

Não vou direto para casa. Fico dirigindo pela cidade, sem rumo, vendo os bares fechando, os casais indo embora abraçados.

Eu ignoro as duas mensagens no meu celular. "Cheguei a tempo!". "Deu tudo certo, me liga depois."

Era eu quem era uma pessoa horrível. Eu estava usando alguém, eu estava brincando com os sentimentos de alguém com o qual eu não me importava. Não quis responder as mensagens, mas eu sabia que, quando ela voltasse de viagem, eu teria que me desculpar.

Deixo minha cabeça pousar no volante, mas levo um susto com a buzina de trás. Eu estava tão maluco que tinha acabado de parar o carro no meio de um cruzamento. Eu tinha que voltar logo para casa e tentar dormir ou assistir TV para me distrair, eu não sei me concentrar com ela na minha mente desse jeito. Ela: a outra ela, a que fazia meu coração explodir.

Subo as escadas, degrau por degrau, talvez para me torturar, para ocupar minha mente contando os passos, para não ter que encarar ninguém no elevador. De todo jeito, eram só três andares, o tempo passa rápido demais.

As luzes do corredor se acendem automaticamente e eu levo um susto. Um susto bom.

- Desculpa aparecer assim, sem avisar... Às duas da manhã.

Ela se levanta rapidamente. Eu quero dizer que é maluquice ela estar se desculpando, eu quero dizer que eu também apareci sem avisar na casa dela hoje, eu quero dizer que eu não quero mais viver sem ela, que ela devia terminar tudo com qualquer que seja o nome dele e voltar para mim. Porém, eu só consigo abrir minha boca como um idiota e não conseguir falar nem uma palavra.

Ela estava usando um sobretudo, botas de cano alto e eu conseguia ver as meias sete oitavos dentro delas.

- Eu posso ir embora, não tem problema - ela diz depois do meu silêncio

- Não - eu exclamo um pouco forte demais - Não tem problema.

- É que... - ela parece pensativa, escolhendo as palavras - Ele encontrou sua camisa Lacoste.

- Como assim? Achei que eu tivesse falado para você jogar fora. Onde ele achou? Dentro da caixa? Já te disse que esse cara é um controlador paranoico?

Eu fico nervoso. Nervoso porque talvez eles tenham brigado e talvez aquele idiota tenha a feito chorar ou tenha a chamado de nomes não muito amigáveis. Tudo por minha culpa. Ela olha para baixo. Desamarra o cinto do sobretudo e o abre.

- Eu estava vestindo ela.

Vejo a minha camiseta azul em seu corpo, por baixo do sobretudo. Ela não estava usando nenhum short ou saia, deixando a barra da minha Lacoste azul deixar sua calcinha aparecer somente o suficiente para me acender minha imaginação.

Ela sorri, morde os lábios. Eu penso em agarrá-la, mas me controlo. Eu sorrio e penso que esse era justamente o fechamento que precisávamos: o fechamento de um capítulo apenas para começar um ainda melhor.

- Vem - eu digo, abrindo a porta e a deixando entrar - Eu vou colocar a água para ferver.





F I M

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro