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Dentro do Quarto

     O vento batendo na janela, criando diálogos com o frio chegando ao meu quarto. Coberto e deitado na cama, mexendo no celular. Todo dia a mesma rotina, todo dia o mesmo looping emocional. Todo dia, todo dia, todo dia. O mesmo frio, o mesmo vento, deitado na cama. Sozinho a maior parte do tempo. Minha mãe e minha irmã trabalham o dia todo e eu não consigo emprego. A mesma rotina. O meu brilho está se esvaindo a cada manhã. Alguma coisa jogadas no meu quarto julga a aura que está em volta de mim. Sapatos, camisetas, cinto... Tudo jogado no chão.

     Virado para a parede. Eu escuto sons estranhos, remetendo ao mar. Olho para a cima. Vejo pássaros voando de cabeça pra baixo. Eu vejo um mar no teto do meu quarto. Que loucura é essa?

    Tudo está de cabeça para baixo. Enxergo as ondas dançando entre elas, vejo peixes ou tubarões fazendo graça pulando e pulando nas águas. Uma curiosidade me atiça. Que cenário curioso é esse. Fico de pé na minha cama e ignoro todo o frio... E devagar ergo o meu dedo no teto. E encosto nela. Sinto as ondas, aquela água gelada do mar como conheço. E devagar vou colocando todo o meu braço nas ondas que pulam e se agitam no teto.

     Flutuo no quarto colocando o meu rosto nas águas. Tudo está escuro. A metade do meu corpo chega no fundo do mar. Faço força para subir. Estou aqui em cima. E um buraco de onde eu saio eu vejo meu quarto. O lugar onde estou é todo deformado, todas as coisas são formados por águas.

— Sua cabeça se encheu, e você despejou — Me assusto com a voz do meu lado. E é uma pessoa com uma metade do rosto formado pelas águas do mar e suas ondas, com um rosto normal. Mas não vejo seu rosto devido a máscara.

— O que? — Pergunto, eu não entendi o que ele quer dizer.

— O seu fim foi adiantado pelo seu paradoxo emocional. Seu mundo fundiu ao seus. — Ele fala em enigmas.

— Eu não entendo...

— Entenderá, logo se acostumará. —  Ele segue o seu caminho me deixando sozinho nesse lugar

     E de repente, vejo vários relógios gigantescos no céu. Todos marcando a mesma hora, seis e meia da tarde.

— Horário do encerramento, horário do encerramen....— Muitas vozes dizendo muitas coisas ao mesmo tempo. Todos repetindo isso...Minha cabeça dói demais.

— HORÁRIO DO ENCERRAMENTO, HORÁRIO DO ENCERRAMENTO, HORÁRIO DO ENCERRAMENTO... PARE — Alguém anda em minha direção e tudo em volta fica lento.

— Tire o cinto — A sua voz, acolhedora e poderosa... Não consigo ver seu rosto, apenas suas vestes brancas e uma luz em sua volta. Ele coloca seu dedo na minha testa.

— Dói, mas vai passar. A noite é longa, mas amanhecerá. — Muitas lembranças dos meus amigos e família se passa na minha cabeça. Tudo ao mesmo tempo...

    Meu corpo é jogado ao mar e me afogo, até chegar no meu quarto. Em cima da cadeira com uma cinta na mão... Meu pescoço dói um pouco e a jogo no chão. Assustado comigo mesmo e a minha mente eu tento me recompor. Amanhecerá, tudo isso vai passar.

    Eu olho para o teto e ele está normal. Com sua lâmpada acesa e a velha tinta desgastada com o tempo, tudo intacto. Tudo isso vai passar. Elas não merecem isso. Fecho os meus olhos e respiro fundo com poucas lágrimas rolando sobre o meu rosto. Tudo isso vai passar.

                                FIM

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