Chapter 21
A noite estava inesperadamente fria enquanto estava na esquina tentando conseguir um táxi. O pequeno vestido vermelho que eu estava usando era definitivamente adequado para o Underground Club, mas provavelmente deveria ter levado uma jaqueta.
Félix me mandou uma mensagem.
"Divirta-se essa noite!"
Tentei convencê-la a ir comigo, mas ela disse que tinha um encontro quente com um barbeador elétrico, pois era o dia de depilação mensal.
Alugamos uma sala privada com um bar para a festa. Deveria ser uma noite épica e não uma em que eu estivesse preocupada em terminar o livro.
Finalmente consegui um taxi.
- Rua 16 Oeste.
Bati a porta e imediatamente peguei o kindle.
Depois que deixamos a churrascaria, meu humor estava de volta com força total. Jisoo foi pegar alguns drinques enquanto eu fui comprar mais fichas. Sentei para esperá-la quando do nada senti lágrimas molhando meu rosto. Não fazia sentido porque eu nem estava pensando em nada. Parecia a libertação de algo que estava guardado há muito tempo. Era o ultimo lugar onde queria desabar. Quando as lágrimas começaram, era impossível parar.
De um jeito autopunitivo, adicionei combustível ao fogo e comecei a pensar nas coisas que faziam a situação piorar. Às vezes me culpava por ter vindo ao mundo e tornando a vida de Heechul miserável. Eu me pergunto se o casamento dele com minha mãe teria durado se não fosse por mim. No fundo, sempre existia uma esperança que as coisas mudassem, que ele e eu poderíamos nos olhar nos olhos e ver algo além de ódio, que ele me diria que me amava mesmo que não soubesse como demonstrar.
Isso nunca aconteceria.
Levantei o olhar e vi Jisoo ali parada me olhando enquanto segurava as bebidas. Lambi uma lágrima quente dos meus lábios.
- Não me olhe, Jisoo.
Ela colocou as bebidas na mesa e imediatamente me abraçou. Nos braços dela as lágrimas se multiplicaram. Minhas mãos se enterraram em suas costas num pedido silencioso para que ela não me soltasse. Eventualmente me acalmei.
-Eu odeio isso. Não deveria chorar por ele. Por que estou chorando por ele?
- Porque você o amava.
- Ele me odiava.
- Ele odiava o que quer que visse em você que o lembrava dele mesmo. Não odiava você. Não poderia. Só não sabia como ser pai.
Surpreendeu-me em como ela chegou perto de estar certa mesmo que não soubesse o meu segredo. Heechul odiava o que via em mim que o lembrava de Taehyung.
- Tem muita coisa que eu não te contei. A parte doentia é que, apesar de toda merda que passamos, ainda queria que ele se orgulhasse de mim algum dia, queria que ele me amasse.
Respirei fundo porque nunca quis admitir isso a alguém.
-Eu sei disso, ela disse suavemente. Olhar em seus olhos me fez lembrar que estava olhando na alma da primeira pessoa que realmente conseguiu me fazer sentir amada. Por isso, seria eternamente grata.
- Onde eu estaria hoje à noite sem você?
- Estou feliz de estar aqui com você hoje.
- Nunca chorei na frente de ninguém antes. Nenhuma vez.
- Existe uma primeira vez pra tudo.
- Existe uma piada ruim aí em algum lugar. Você sabe disso, né?
Nós rimos. Eu amava sua risada.
- Você me faz sentir coisas, Jisoo. Sempre fez. Quando estou com você, seja bom ou ruim... Eu sinto tudo. Às vezes, eu não lido bem com isso, e luto agindo como uma idiota. Não sei o que existe em você, mas sinto que você vê meu eu real. O segundo em que a vi de novo pela primeira vez, no Yeonjun, olhando para o jardim... Era como se não pudesse mais me esconder. - Toquei seu rosto. - Eu sei que foi difícil para você me ver com Joy. Sei que ainda se importa comigo. Posso sentir mesmo quando você está fingindo que não sente mais.
Foi a coisa mais honesta que disse a ela a noite toda. Jisoo sempre mostrava o coração, e mesmo que tentasse não deixar óbvio, seu desconforto perto de Joy foi evidente (apesar de Joy não ter notado). Não sabia como lidaria com a situação se acontecesse o inverso.
Minhas lágrimas finalmente secaram. Enquanto ficávamos sentadas ali depois de nos separarmos, seus lábios me imploravam para lhe beijar. Desejaria que existisse uma borracha mágica que me permitisse beijá-la uma vez e depois apagar tudo. Claro, isso nunca seria possível. Não achava que ninguém merecesse aqueles lábios. Então, apenas encarei seus lábios, querendo beijá-la, mas sem poder. Talvez ela tenha lido minha mente e eu a assustei, porque ela se afastou como se visse o demônio. Quando me dei conta, ela correu para a sala das roletas, colocou algumas fichas no número 22 e o resto era história.
Essa garota estava com a sorte presa à suas costas naquela noite. Dezenove mil dólares. Não sabia o que tinha me chocado mais: que ela tenha ganhado pela segunda vez não me preocupava mais. Ao invés disso, mais uma vez estava agradecida por estar aqui e rezando para que nessas horas finais juntas, nos divertissemos muito. Ela me fez pegar mil dólares. Não tinha intenção de gastar. Usei meu dinheiro o tempo todo. Não ligava se gastasse tudo que tinha com ela, não podia pagá-la pelo que fez por mim aquela noite. E eu não fiz nada para merecer.
Fomos a uma das lojas de roupas do cassino, e foi quando o clima da noite mudou. Escolhi um vestido que achei que ficaria perfeito nela, e ela foi prová-lo. Brinquei com meu celular pra me distrair e não pensar nela se despindo a poucos passos de distância. Ela estava demorando muito, então perguntei.
- Está tudo bem?
Ela disse que o zíper estava preso, então sem pensar, abrir a cortina e entrei no vestíbulo.
- Venha cá.
Assim que vi suas costas naquele vestido, me dei conta que me colocar nessa posição tinha sido um erro. Meus dedos formigaram enquanto pegava seu cabelo de suas costas e colocava sobre seu ombro. Enquanto lutava com o zíper, sua respiração se acelerou. Saber que meu toque provocou isso, acelerou a minha respiração também. Eu estava perdendo o controle. Pensamentos impuros invadiam meu cérebro. Um em particular era de rasgar o vestido e tomá-la por trás enquanto via seu rosto no espelho.
"São apenas pensamentos", eu disse a mim mesma. "Se concentre na tarefa".
- Você não estava brincando. - disse enquanto tentava o melhor para consertar e poder dar o fora dali. Finalmente consegui. - Pronto.
- Obrigada.
Não tinha que tocá-la, mas não resisti à visão de suas costas nuas.
- Certo.
Isso me lembrou de todas as outras partes de seu corpo que ela me permitiu tocar uma vez, completamente. Pode ter sido uma vez, mas eu sabia que parte dela ainda me pertencia. Sua linguagem corporal era a prova e me fez pensar se fui a única a realmente lhe dar prazer. Minhas mãos não conseguiam deixar seus ombros. Ela olhava pra baixo, e eu sabia que ela estava lutando com seus sentimentos também. Era a primeira vez desde que nos reencontramos que eu realmente me dei conta de como Jisoo ainda me desejava. Nosso desejo era tão poderoso naquele espaço apertado que dava pra sentir no ar.
Continuei olhando para ela no espelho até que ela olhou pra cima e encontrou meu olhar. Quando ela se virou de repente, me pegou de surpresa. Nossos rostos estavam apenas separados alguns centímetros, e eu nunca quis beijá-la mais do que naquele momento. Meus olhos foram pra sua boca, e me forcei a me controlar. Não estava funcionando, então fechei os olhos. Quando os abri, já não tinha urgência em beijá-la. Era muito pior. Graças a Deus ela não podia ler mentes porque a imagem de foder aquela boca era tão clara que me senti endurecer e rezei para que ela não olhasse para baixo. Precisava sair, mas não conseguia me mexer.
Joy.
Joy.
Joy.
Você ama a Joy.
"Estava tudo bem em ter esses sentimentos desde que eu não fizesse nada", eu disse para mim mesma. Era natural. Não se pode prever o que seu corpo quer, você apenas pode decidir se faz algo a respeito. E eu merecia um troféu pela resistência.
A atendente veio.
- Tudo bem aí?
- Sim! - Jisoo gritou.
Mas eu sabia pela sua voz que não estava. Isso estava mexendo com ela, e eu seria uma maldita se terminasse a noite a magoando. Mesmo que não reconhecêssemos o que acontecia verbalmente, por instinto eu disse:
- Sinto muito. - Então saí.
Decidimos passar a noite no hotel, pois estávamos bebendo. Depois que nos separamos para tomar banho antes de ir a uma boate, encontrei Jisoo em seu quarto. Quando ela abriu a porta, a visão dela naquele vestido me nocauteou. Seu cabelo ainda estava molhado, mas ela parecia maravilhosa.
- Nossa. -Exalei, sem intenção de ter dito isso alto. A palavra saiu sem pensar. Precisava brincar para disfarçar. - Com certeza não parece mais uma senhora em luto.
-Com o que pareço agora?
-Na verdade você está vermelha. Está se sentindo bem?
Com toda a honestidade, ela parecia que tinha acabado de ser fodida, o que fez meu sofrimento aumentar.
-Eu estou bem. - Ela disse.
- Tem certeza?
- Sim.
- É tão bom tomar um banho. - Eu disse.
E eu quis dizer os dois orgasmos que tive pensando num final alternativo para a cena no provador.
-Sei o que quer dizer. - Ela disse.
- Precisa secar o cabelo?
- Sim. Só um minuto. - Liguei na ESPN e deitei na cama. Depois de dez minutos, ela saiu. - Estou pronta.
Seu cabelo estava preso, seu pescoço estava exposto, e sabia que estaria com problemas o resto da noite. Pulei e desliguei a televisão. Andamos pelo corredor, o cheiro de sabonete em sua pele estava invadindo meus sentidos. Olhei para ela e queria que ela soubesse o quanto estava bonita.
- Você está bonita. - Quando entramos no elevador, acrescentei - Gosto de seu cabelo desse jeito.
- Gosta?
- Sim. Estava assim na noite que nos conhecemos.
- Estou surpresa que você se lembre.
Não tinha esquecido nada.
NADA.
Começamos a lembrar de como eu costumava torturá-la e em um momento ela disse.
- Bem, você não era tão má como queria me fazer acreditar.
- E você não era tão inocente.
O tom na minha voz não escondia a que me referia. Nos olhamos em silêncio entendendo que a conversava precisava terminar. Se eu achava que a noite ficaria mais fácil assim que entrássemos na boate, estava totalmente enganada. Dançamos muito. Foi a noite mais divertida que tive. A batida estava alta, e conseguia senti-la em mim. Corpos se amontoavam a nosso redor, mas Jisoo e eu mantivemos um espaço entre nós. Era necessário.
Em um momento, eu fui até o banheiro e quando voltei, vi um cara dançando perto dela e falando algo em seu ouvido. Quando me aproximei, minha consciência deu lugar a um impulso instintivo. Envolvi meu braço em sua cintura e a puxei firmemente para mim. Ela não lutou. Meu braço ainda estava ao seu redor quando ela se virou para me olhar. Dei-lhe um olhar de aviso. Nesse momento, voltamos sete anos no tempo. Eu estava com ciúmes, e estava deixando isso óbvio. Tirando o detalhe que estava em um relacionamento sério, era injusto esperar que ela aceitasse coisas que eu não podia cobrar, mas ela se importava comigo o suficiente pra deixar para lá.
Não conversamos sobre isso, e eventualmente, minha atitude de mulher das cavernas passou. A soltei, e voltamos a nos perder na música. Mas tudo mudou quando começou a tocar uma música lenta. As pessoas começaram a procurar pares enquanto algumas deixavam a pista de dança. De alguma forma, parecia que só éramos nós. Jisoo entrou em pânico e começou a se afastar. Não podia culpá-la, mas e se essa noite fosse tudo que tivéssemos?
Eu queria essa dança.
Peguei sua mão.
- Dance comigo.
Ela parecia assustada, mas me deixou guiá-la. Soltei um suspiro quando seu corpo se derreteu no meu. Ela fechou os olhos enquanto encostava a cabeça no meu peito. Meu coração estava acelerado como se me dissesse que era uma idiota por não perceber que era exatamente isso que ele queria. Pela primeira vez desde que chegamos ao cassino, esqueci de Joy diante da intensidade de meus sentimentos por Jisoo.
Necessitando saber se ela sentia isso, eu a olhei no mesmo instante que ela olhava pra mim. Estava perdendo a habilidade de respirar. Toquei minha testa na dela e apenas soube. Foi o momento que parei de mentir para mim mesma. Ainda a amava. Não sabia o que fazer porque também amava Joy. Antes que pudesse pensar, Jisoo se afastou e começou a correr para fora da boate.
- Jisoo, espere!
Em alguns segundos, já tinha perdido ela de vista. Andei até a saída e corri para os elevadores. As portas estavam se fechando, e coloquei meu braço para fazer com que elas se abrissem de novo.
Ela estava chorando.
Deus, o que fiz a ela?
- Que merda Jisoo. Por que você correu?
- Apenas preciso voltar para o meu quarto.
- Não desse jeito.
Sem pensar, apertei o botão para parar o elevador.
- O que você está fazendo?
- Não é como eu queria terminar a noite.
- Cruzei uma linha. Sei disso. Eu me perdi no momento, e sinto muito. Mas nada aconteceria porque não poderia trair Joy. Não posso fazer isso com ela.
- Não sou tão forte quanto você, então. Não pode dançar comigo daquela forma, me olhar daquele jeito, me tocar daquele jeito se não podemos fazer nada a respeito. E só pra constar, não queria que você a traísse!
- O que você quer?
- Não quero que diga algo e aja de forma diferente. Não temos muito tempo juntas. Quero que converse comigo. Naquela noite no velório... Você envolveu a mão no meu pescoço. Pareceu que por um momento tinha voltado para onde paramos. É meio como me sinto todo o tempo perto de você. Então, mais tarde naquela noite, Joy me contou o que houve quando voltaram para casa.
Do que ela estava falando?
- O que ela lhe contou exatamente?
- Você estava pensando em mim? Foi por isso que não conseguiu ir até o fim?
Que porra?
Não tinha palavras. O fato que Joy tinha contado a Jisoo sobre um momento tão privado me deixou irada. Não sabia o que dizer.
- Quero que me diga a verdade. - Ela disse.
Ela não conseguiria lidar com a verdade, e eu não podia lidar com meus sentimentos. Mas estava irritada que elas estiveram conversando sobre isso por minhas costas. Além de tudo, minha vida toda parecia revirada. Então, perdi o controle.
- Você quer a verdade? Eu estava fodendo minha namorada e só conseguia ver você. Essa é a verdade. - Me aproximei dela de forma perigosa e ela recuou. - Entrei no chuveiro aquela noite, e a única coisa que me fez terminar foi imaginar gozar em todo seu lindo pescoço. Essa é a verdade. - Eu deveria ter parado aí. Ao invés disso, a prendi na parede com meus braços. E continuei. - Você quer mais? Eu ia pedi-la em casamento hoje à noite no casamento de sua irmã. Deveria estar noiva agora mesmo, mas ao invés disso, estou em um elevador lutando contra o desejo de te foder aqui mesmo tão forte que teria que te carregar até seu quarto. - Meu peito doía. Abaixei os braços. - Tudo que achei que conhecia foi revirado nas últimas 48 horas. Estou questionando tudo, e não sei que merda fazer. Essa. É. A. Verdade.
Coloquei o elevador em movimento porque mais um minuto aqui teria sido minha ruína, apesar de que ter sido brutalmente honesta ao menos uma vez pareceu como se um peso fosse tirado do meu peito. Quando chegamos ao nosso andar, ambas fomos para os nossos quartos. Sozinha na cama, culpa começou a tomar conta de mim e não me deixou dormir. Estava me torturando olhando as fotos de Joy de novo.
Ela não merecia isso.
Eu me revirava na cama, indo de pensamentos sobre Heechul, culpa por Joy e meu favorito: pensamentos carnais sobre Jisoo. Se não me importasse em ferir Joy, estaria no quarto de Jisoo essa noite. Sabia que com toda a frustração que estávamos sentindo, teria sido o melhor sexo da minha vida. Mas eu não era uma traidora, e não faria isso. Então, deixei minha imaginação fazer. Em algum momento, as fantasias ficaram tão vivas que tentei aliviar a culpa mandando uma mensagem pra Joy às 2 da manhã.
[Você] Eu te amo.
Imediatamente, mandei também uma para Jisoo.
[Você] Se eu bater na sua porta hoje, não me deixe entrar.
O táxi estava chegando ao meu destino, então achei que era uma boa hora para parar de ler, pois teria que cumprimentar meus amigos logo. Era tão doloroso largar o Kindle. Paguei o motorista e coloquei meu Kindle na bolsa. Enquanto entrava no Underground Club, o contraste entre luz e escuridão me deu uma sensação de irrealidade. Minha cabeça esteve presa na história de Jennie todo o dia, e era quase estranho me aventurar no mundo real. Comecei a sentir um pouco de pânico, misturado com tontura, o que acontecia às vezes.
Meu estado nervoso melhorou assim que vi duas colegas de trabalho, Jihyo e Jeongyeon, que me cumprimentaram enquanto entravamos na sala privada. O pequeno bar estava aceso com luzes roxas, e imediatamente fui até lá e pedi uma soda com vodka. Tomei um gole.
- A convidada de honra já chegou?
- Sem sinal de Chaeyoung ainda. - Jihyo disse.
Como Chaeyoung ainda nem estava ali, pedi licença para ir ao banheiro onde rapidamente peguei meu Kindle de novo.
Não me julgue. Ainda considero um milagre ter sobrevivido àquela noite sem fazer nada. Jisoo acabou me mandando uma mensagem dizendo que estava com insônia. Imediatamente liguei para ela e conversamos até que ela adormecesse, algo em torno de 4h da manhã. Fiquei no telefone ouvindo sua respiração.
A viagem de volta pra casa na manhã seguinte foi dolorosa. Uma serra elétrica não seria suficiente para cortar a tensão no ar. Jisoo me levaria ao aeroporto. Acabamos parando na casa de sua mãe primeiro. Voltar àquele lugar onde tudo começou foi mais difícil do que eu achei. Jisoo me serviu um pouco de seu sorvete caseiro. Foi nostálgico dividir a mesma vasilha com ela. Por alguma razão, apesar de tudo que vivemos em nossa pequena aventura, aquele momento foi o mais significativo e a melhor forma de me despedir.
Tive que largar meu Kindle quando Chaeyoung entrou no banheiro. Ela devia achar que eu era patética.
- Aqui está você. Estávamos te procurando.
- Oh, perdi a noção do tempo. Você ainda não tinha chegado, então vim aqui relaxar um pouco antes da festa começar. - A abracei. - Feliz aniversário, querida.
- Obrigada. Você estava lendo?
- Sim. - eu ri e acenei como se não fosse nada. - Sabe como é quando você começa um livro e não consegue largá-lo.
- É obsceno?
Tive que pensar sobre isso.
- Na verdade não.
- Ok. Bem, vamos lá! Quase todo mundo já chegou.
A segui e imediatamente corri até o bar para pedir outra soda com vodka. Jurando não pegar o livro pelo menos pela próxima hora, andei pelo salão e me vi olhando as pessoas conversando, mas sem saber o que elas estavam dizendo. Suas bocas se mexiam, mas meu cérebro não processava as palavras; minha mente ainda estava em Jennie.
Assim que a hora passou, voltei ao banheiro. Meus amigos provavelmente pensariam que eu estava cheirando cocaína, mas precisava terminar o livro, já que estava tão perto do fim. Dessa forma, eu poderia terminar a noite sem preocupações.
Respirei fundo.
Jisoo não me olhou na viagem até o aeroporto. Todos os momentos que compartilhamos, e ela nem ao menos me olhava. Tudo se resumia a isso, e eu não poderia culpá-la. Eu estava partindo e não sabia o que dizer a ela. Praticamente passamos pelo céu e o inferno nas últimas 24h e agora eu estava simplesmente partindo... De novo.
Quando saímos do carro no aeroporto, ventava forte. Era quase como uma cena de filme. Essa era a cena triste onde você ouvia uma música dramática. O som dos aviões partindo fazia ainda mais difícil pensar em algo para dizer.
O que dizer a alguém que você estava abandonando pela segunda vez?
Ela me abraçou e estava olhando para todos os lugares, menos para mim.
Finalmente, eu disse:
- Olhe para mim.
Jisoo balançou a cabeça repetidamente, e uma lágrima escorreu por sua bochecha.
Era oficial, eu era a pior pessoa da Terra.
Meus olhos começaram a se encher de lágrimas porque não podia tirar a dor que ela estava sentindo, porque não podia fazer a única coisa que ela queria: ficar.
Ela estava me distraindo.
- Está tudo bem. Vá. Por favor. Me mande uma mensagem se quiser. É só que... Não posso prolongar essa despedida... Não com você.
Ela estava certa. Não terminaria bem, então pra que prolongar?
- Ok.
Ela tremeu quando se inclinou e me deu um rápido beijo na bochecha. Correu de volta ao carro e bateu a porta antes que eu pudesse reagir. Ainda sentia o calor de seus lábios no meu rosto enquanto caminhava para o aeroporto. Queria olhá-la uma última vez, então me virei. Grande erro. Através do vidro, vi que sua cabeça estava no volante. Imediatamente corri para o carro e bati na janela. Ela se recusou a levantar a cabeça e ligou o carro, então eu bati mais forte. Ela finalmente se virou e saiu do carro, limpando as lágrimas.
- Você esqueceu algo?
Antes que me desse conta, estava beijando-a. Meu coração tinha tomado conta nesse ponto. Não abriria os lábios porque tinha me convencido que isso era inocente desde que não sentisse seu gosto. Era um beijo firme, desesperado, e nem sabia o que significava.
Eu me sentia vazia e confusa.
Ela interrompeu o beijo.
- Saia daqui. Você perderá seu voo.
Minhas mãos ainda estavam em seu rosto.
- Nunca superei ter te ferido a primeira vez, mas te ferir duas vezes... Acredite quando digo que essa era a última coisa que eu queria na vida.
- Porque você voltou?
-Me virei e te vi chorando. Que idiota sem coração te deixaria dessa forma?
- Bem, você não deveria ter visto isso. Deveria ter continuado andando porque agora está piorando tudo.
- Não queria que fosse a última coisa que eu visse.
-Se você realmente a ama, não deveria ter me beijado! - ela gritou.
-Eu a amo. - disse de forma defensiva.
Olhei para o céu porque precisava de um minuto para pensar. Como explicar o que tinha pensado na pista de dança à noite passada?
- Quer saber a verdade? Eu também te amo. Não sabia o quanto até te ver de novo.
- Você ama as duas? Isso é errado, Jennie.
- Você sempre me disse que queria a verdade. Acabei de dar a você. Sinto muito se a verdade é uma bagunça.
- Bem, ela tem a vantagem. Você logo se esquecerá de mim. Isso simplificará as coisas.
Ela estava voltando para o carro.
- Jisoo... Não vá embora assim.
- Não sou eu quem está indo embora.
Ai.
Ela foi embora e me deixou ali, o que fazia sentido, pois eu já tinha feito isso com ela... Duas vezes. Estava tentada a tomar um taxi e segui-la. Mas voltei para o Japão porque pela primeira vez na vida eu precisava fazer a coisa certa.
Continuei tentando passar para a próxima página esperando que existisse mais da história. Ela não me faria passar por tudo isso só para terminar aí. Quando me mandou o manuscrito me disse que não estava pronto. Provavelmente ela achava que eu não precisava saber mais nada.
Desde que o resto da sua vida envolveria Joy, não tinha necessidade de me torturar. Entendi isso, e agradecia. Jennie queria que eu entendesse o que ela estava sentindo durante todo aquele tempo para que pudesse encerrar isso e seguir em frente.
Bem, bom pra ela.
Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para ela que pareceria cordial apesar de minha raiva.
[Você] Terminei. Obrigada. Foi uma leitura maravilhosa. Estou honrada que tenha pedido a mim para ler. A história de sua família me impressionou e explicou muita coisa. Sinto muito que você teve que passar por tudo isso. Eu te entendo bem mais agora e também porque você terminou as coisas desse jeito.
Merda.
Estava chorando e precisava voltar para os meus amigos. Devastada, estava determinada a usar o resto da noite para esquecê-la de vez.
"Me ajude a afogar minhas mágoas." - Lembro dela ter dito isso no cassino. Bem, era o que eu precisava agora.
Meus amigos estavam na pista de dança e me cumprimentaram quando me viram. Eles me puxaram e dançamos juntos por uma hora pelo menos. Quanto mais pensava em Jennie, mais forte e mais rápido balançava os quadris e a cabeça ao ponto que meu cabelo ficou todo bagunçado. Me perdi na música, não queria parar para não sentir a dor que suas palavras tinham causado. Não queria aceitar que a personagem de Kim Jisoo não faria mais parte de sua vida.
Meia hora depois, meu telefone vibrou.
[Jennie] Qual sua teoria do porque eu terminei a história aí?
Sua pergunta me surpreendeu. Cuidando para não desabar na pista de dança, continuei dançando como se nada tivesse acontecido. Não queria que meus amigos pensassem que havia algo errado. Balancei os quadris e digitei.
[Você] Porque você não queria me ferir. O resto não tem nada a ver comigo.
[Jennie] Tem certeza disso?
[Você] O que você quer dizer?
[Jennie] Pare de dançar por cinco segundos e talvez eu te conte.
O quê?!
Antes que pudesse me virar, senti mãos fortes do lado do meu vestido, por trás, me fazendo parar. Elas lentamente me envolveram a cintura e apertaram minha bunda com segurança. Aquela pegada. Aquele cheiro. O jeito que meu corpo respondeu imediatamente.
Não.
Não podia ser.
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