Chapter 18
Ela estava tentando fazer a coisa certa, e eu a respeitava pra caralho por isso.
Tão poderosa como a tentação poderia ser, eu quis dizer isso quando falei que nunca iria querer que ela a traísse. Ao mesmo tempo, se eu não tivesse ido para o meu quarto, eu não tenho certeza de que poderíamos ter evitado alguma coisa de acontecer. Esta noite provou que qualquer conexão que existiu no passado entre nós estava muito viva ainda e poderosa. Era por isso que era melhor que nós passássemos o resto da noite separadas.
Eu estava me revirando na cama, ainda em conflito por deixá-la sozinha. Mesmo que o que aconteceu no elevador tenha contaminado o resto da noite, eu precisava me lembrar de como esse dia começou; ela ainda estava de luto pelo seu pai. Ela realmente não deveria estar por conta própria esta noite. Para não mencionar que nós estávamos perdendo um tempo precioso porque, uma vez que ela voltasse para o Japão, eu provavelmente nunca mais a veria ou ouviria falar dela.
Ela ia se casar com Joy.
Agitada entre meus lençóis, eu não conseguia superar a insônia. O fato de que o quarto estava congelando não ajudou. Levantei-me para desligar o ar condicionado e peguei meu telefone antes de voltar para a cama.
[Você] Você está acordada?
[Jennie] *mídia* Eu estava prestes a encomendar este espremedor incrível. Se eu comprar agora, eles vão até mesmo dar de bônus um minitriturador, tudo por apenas U$ 19,99.
[Você] Podemos conversar? Por telefone?
Nem mesmo três segundos se passaram antes do telefone tocar.
- Oi.
Ela sussurrou.
- Oi.
- Eu sinto muito. - Ambas dissemos em uníssono.
- Você estava sendo honesta.
- Mas ainda assim não foi certo. Sinto muito pela forma como saiu. Você traz para fora o pior de mim.
- Eu estou emocionada.
- Porra. Isso saiu errado.
Eu ri.
- Eu acho que sei o que você está tentando dizer.
- Graças a Deus que você pode sempre ler nas entrelinhas comigo.
- Que tal nós não relembrarmos tudo o que foi dito naquele elevador. Eu só quero falar.
Eu podia ouvi-la movendo-se na cama. Ela provavelmente estava se preparando para qualquer conversa que estavamos presies a ter. Ela soltou um suspiro profundo no telefone.
- Ok. O que você quer falar?
- Eu tenho algumas perguntas. Eu não sei se esta é a minha última oportunidade para perguntá-las.
- Tudo bem.
- Você parou de escrever?
- Não. Eu não parei.
- Por que você não disse a Jennie que você escreve?
- Porque desde que eu a conheci eu só vinha trabalhando em um projeto, e não é algo que eu realmente sinto que eu posso compartilhar com ela.
- Como assim?
- É autobiográfico.
- Você está escrevendo sua história de
vida?
- Sim. - Ela suspirou. - Sim, eu estou.
- Alguém sabe?
- Não. Só você.
- É terapêutico?
- Às vezes. Outras vezes é difícil de reviver certas coisas que aconteceram, mas eu senti que precisava fazer isso.
- Se ela não sabe sobre isso, quando você escreve?
- Tarde da noite, quando ela está dormindo.
- Você vai dizer a ela?
- Eu não sei. Há coisas lá que iriam perturbá-la.
- Como é que você...
- É a minha vez de fazer uma pergunta. · Ela interrompeu.
- Ok.
- O que aconteceu com o cara que você estava noiva?
- Como você sabia que eu estava comprometida, de qualquer maneira?
- Responda-me em primeiro lugar.
- O nome dele era Haein. Vivemos juntos. por pouco tempo em Nova York. Ele era uma boa pessoa, e eu queria amá-lo, mas não consegui. O fato de que eu não considerei me mudar para a Europa com ele quando ele foi transferido a trabalho me provou isso. Realmente, não há muito mais do que isso. Agora, você vai me dizer como você sabia?
- Heechul me disse.
- Eu pensei que vocês estivessem afastados.
- Nós ainda nos falávamos de vez em quando. Perguntei a ele sobre você uma vez, e ele me deu a notícia. Eu achava que isso significava que você estava feliz.
- Eu não estava.
- Eu sinto muito em ouvir isso.
- Você teve outras namoradas além de Joy?
- Joy é o meu primeiro relacionamento sério. Eu zoava muito antes disso.
- Eu entendo.
- Eu não quis dizer... Você. Você não fazia parte da zoeira. O que aconteceu com a gente foi diferente.
- Eu sei o que você quis dizer.
Depois de um tempo em silêncio, eu voltei a falar:
- Eu quero que você seja feliz, Jennie. Se ela te faz feliz, eu estou feliz por você. Você me disse que ela era a melhor coisa que já aconteceu com você. Isso é ótimo.
- Eu não disse isso. - Ela disse secamente.
- Sim, você disse.
- Eu disse que ela era uma das melhores coisas. Assim como foi você. Apenas em outro momento. Outro momento - um tempo que passou. Você entendeu agora, Jisoo?
- Obrigada. - Eu disse.
- Não me agradeça. Tomei a porra da sua virgindade e fui embora. Eu não mereço o seu agradecimento.
- Você fez o que achou que tinha que fazer.
- Ainda sim foi errado. Foi egoísta.
- Eu ainda não mudaria nada sobre aquela noite, se isso faz você se sentir melhor.
Ela soltou um suspiro profundo.
- Você está falando sério?
- Sim.
-Eu não me arrependo de nada que aconteceu naquela noite também, só o que aconteceu depois.
Fechei os olhos. Ficamos em silêncio por um longo tempo. Eu acho que o dia tinha finalmente apanhado nós duas fisicamente.
- Você ainda está aí? - Perguntei.
-Eu ainda estou aqui.
Deixei essas palavras afundarem, sabendo que amanhã ela não estaria mais aqui. Eu precisava de pelo menos um par de horas de sono antes da viagem de duas horas de volta para Boston pela manhã.
Eu precisava deixá-la ir.
Deixá-la ir pra sempre.
- Eu vou tentar dormir um pouco.
- Fique no telefone comigo, Jisoo. Feche os olhos. Tente dormir. Basta ficar no telefone.
Eu puxei o edredom sobre mim.
- Jennie?
-Sim...
- Você foi a melhor coisa que já me aconteceu. Espero que um dia eu possa dizer que você foi uma das melhores, mas, por enquanto, é só você.
Eu fechei os olhos e a ouvi suspirar do outro lado da linha.
Só você.
[...]
Jennie me encontrou na recepção do hotel onde nós duas fizemos o check-out. Cada uma tinha tomado banho, mas estávamos usando as mesmas roupas que usamos na boate na noite anterior. Mesmo que seus olhos estivessem cansados, ela ainda parecia dolorosamente quente na sua roupa de festa às 10 da manhã.
Suas palavras de ontem à noite soaram na minha cabeça.
"Estou lutando contra a vontade de te apoiar contra esta parede e te foder com tanta força que eu vou ter que te carregar de volta para o quarto."
Paramos no Starbucks do cassino e enquanto estávamos à espera dos nossos cafés, eu podia senti-la olhando para mim. Eu estava intencionalmente tentando não olhar para ela porque eu tinha certeza que ela seria capaz de ver a tristeza nos meus olhos. Acabamos tomando o nosso café da manhã na estrada. A volta para casa foi estranhamente silenciosa. Era como a calma após a tempestade. A tempestade do dia anterior tinha dado lugar a um sentimento entorpecido e impotente nesta manhã.
Um rock melódico tocava na estação de rádio enquanto eu mantive meus olhos na estrada. Eu sentia que o peso de um milhão de palavras não ditas pairava sobre nós, que permanecemos em silêncio.
Ela disse somente uma coisa durante toda a viagem.
- Você vai me levar para o aeroporto?
- Claro. - Eu disse sem olhar para ela.
Kate que iria levá-la inicialmente, e eu não tinha certeza de como eu me sentia sobre a mudança de planos, que só prolongaria a agonia.
Chegamos na casa de Yeonjun e Kate. Jennie correu para recolher seus pertences enquanto eu esperava no carro. Desde que tínhamos um pouco de tempo extra, o plano era ir para a casa da minha mãe e ver como ela estava antes de ir para o aeroporto.
Ela tinha deixado o telefone no assento e uma mensagem chegou. A tela acendeu e eu não pude deixar de olhá-la. Era uma mensagem de Joy.
- Eu vou estar te esperando. Mal posso esperar até que você esteja em casa. Tenha um vôo seguro. Eu amo você.
Lamentei olhar porque ela solidificou a ideia de que esse era realmente o fim.
Antes que eu pudesse chafurdar em autopiedade, Jennie se aproximou carregando uma grande mala de viagem preta. Ela entrou, olhou para o seu telefone e enviou uma mensagem rápida enquanto eu dava ré e saía da garagem.
Minha mãe não estava em casa quando chegamos lá. Quando eu lhe mandei uma mensagem, ela disse que ela tinha ido caminhar. Certamente não era a minha intenção me encontrar a sós com Jennie na casa que mantinha todas as nossas memórias juntas.
Ela encostou-se ao balcão.
- Ei, você tem um pouco do seu sorvete por aí? Eu tenho sonhado com ele por sete anos.
Eu tenho sonhado com você por sete anos.
- Você pode estar com sorte. - Eu disse, abrindo o congelador.
Ironicamente pensando que eu ia precisar dele, eu tinha feito um monte com a minha velha máquina de sorvete na noite anterior ao funeral e o coloquei no freezer. Claro, eu nunca voltei para casa para comê-lo. Pus o sorvete em uma tigela e peguei duas colheres da gaveta. Nós sempre compartilhávamos da bacia e, em nome dos velhos tempos, eu mantive essa tradição.
- Você colocou Snickers extra nele.
Eu sorri.
-Eu coloquei.
Ela fechou os olhos e gemeu ao dar a primeira mordida.
-Não há nada melhor do que o seu sorvete. Eu senti falta dele.
Eu senti falta disso.
Estar nesta cozinha e compartilhar o sorvete com ela fez realmente parecer como, mais do que qualquer outro momento até agora, que nada tivesse mudado. Eu queria que pudéssemos voltar a esse tempo por apenas mais um dia. Ela ficaria lá em cima e não iria para casa com Joy. Jogaríamos videogame e brigaríamos por motivos fúteis.
Seria tão simples então.
Em seguida, as memórias da noite em que ela fez amor comigo começaram a piscar na minha mente em um ritmo alucinante.
Não é tão simples.
Sua partida estava começando a realmente me bater de repente. O silêncio não estava funcionando mais para mim, e eu tentei ter uma conversa leve para mascarar a minha melancolia.
- O que Kate e Yeonjun disseram?
- Eles perguntaram aonde nós fomos. Eu disse a eles.
- Será que eles pensam que foi bizarro?
- Eu poderia dizer que Yeonjun estava um pouco preocupado.
-Por que ele iria se preocupar?
Ela puxou a colher lentamente de sua boca e olhou para baixo com hesitação.
- Ele sabe.
- Sabe o quê?
- Sobre nós.
Eu coloquei minha colher para baixo e limpei os cantos da minha boca.
- Como?
-Eu confiei nele alguns anos atrás. Eu sabia que ele não iria dizer a Heechul.
-Por que você disse a ele?
-Porque eu senti que precisava falar sobre isso. Eu não tinha mais ninguém em quem eu podia confiar.
-É só que... Você me disse para não contar a ninguém, e eu não contei por um longo tempo até que eu finalmente disse a Rosé anos mais tarde.
- Yeonjun é a única pessoa para quem eu disse.
-Eu só não acho...
Ela levantou o tom de sua voz.
- Você não acha que o que aconteceu entre nós me afetou da mesma maneira que afetou você. Eu sei. Porque eu te levei a acreditar nisso.
-Eu acho que não importa mais. - Eu disse baixinho, tão baixo que eu não acho que ela me ouviu.
Jennie fez uma careta quando levou a tigela vazia para a pia, lavou-a e colocou no escorredor.
Ela olhou para mim.
- Você sempre vai importar para mim, Jisoo. Sempre.
Eu só balancei a cabeça, me recusando a derramar uma lágrima, mas me sentindo completamente quebrada por dentro.
Esta era diferente da última vez que nos despedimos. Naquela época, mesmo que eu fosse um desastre emocional, eu era jovem e suspeitava que os meus sentimentos poderiam ter sido paixão e que eu iria superá-los. Infelizmente, desta vez, com a vantagem da experiência e da aprendizagem, eu sabia, sem sombra de dúvida, que eu estava perdidamente apaixonada por ela.
[.....]
A viagem até o Aeroporto parecia ter levado apenas alguns minutos. A tonalidade rosa iluminou o céu, o simbolismo apropriado. Jennie ir embora ao pôr do sol. Sem saber como dizer adeus, eu optei por não dizer nada durante a viagem, e nem ela. Quando estávamos saindo do carro na calçada em direção à entrada para o terminal, o vento era forte em meio ao som ensurdecedor dos aviões decolando. Agarrando meus próprios Draços protetoramente, eu estava a ente dela. Eu não sabia o que dizer ou fazer e não conseguia nem olhar nos seus olhos. Agora não era o momento para congelar completamente, mas isso era exatamente o que estava acontecendo comigo.
Eu olhei para o céu, para o chão, sobre as esteiras de bagagem... Para qualquer lugar, menos para Jennie. Eu sabia que assim que eu olhasse em seus olhos, eu iria perdê-la.
Seu tom de voz era rouco.
- Olhe para mim.
Eu balancei minha cabeça e me recusei quando a primeira lágrima caiu. Limpei meu olho e continuei olhar para longe dela. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo agora. Quando eu finalmente olhei em seus olhos, fiquei chocada ao vê-los molhados também.
- Está tudo bem. - Eu disse. - Vá. Por favor. Mande-me mensagens se você quiser. É só que... Eu não posso fazer um longo adeus... Não com você.
- Ok. - Ela simplesmente disse.
Inclinei-me e dei-lhe um rápido beijo na bochecha antes de correr de volta para o carro e bater a porta. Ela relutantemente pegou sua bolsa e saiu andando em direção à entrada. Quando eu a vi finalmente perto das portas automáticas, inclinei minha cabeça contra o volante. Meus ombros tremiam enquanto eu deixava as lágrimas que eu estava lutando para esconder, caíram livremente. Era só uma questão de tempo antes que alguém me dissesse para deixar o lugar uma vez que a vaga era temporária. Eu simplesmente não conseguia me mover. De repente, alguém bateu na minha janela.
- Já vai. Eu vou sair. - Disse sem sequer olhar pra cima.
Quando eu estava prestes a colocar o meu carro em movimento, a pessoa bateu novamente. Olhei para a minha direita para encontrar Jennie parada lá. Eu freneticamente limpei minhas lágrimas e saí do carro, andando até ela.
- Você se esqueceu de alguma coisa?
Ela deixou cair sua bolsa e acenou que sim. Ela me surpreendeu quando de repente pegou meu rosto entre as mãos e beijou meus lábios com ternura. Parecia que eu estava derretendo em seus braços. Minha língua instintivamente tentou entrar em sua boca, mas ela não abriu para mim. Ela apenas manteve os lábios com força contra os meus enquanto ela respirava de forma irregular. Este era um tipo diferente de beijo, não um que leva a alguma coisa, mas um duro, doloroso.
Foi um beijo de despedida.
Eu me afastei.
- Saia daqui. Você vai perder o seu vôo.
Ela não quis tirar as mãos do meu rosto.
- Eu nunca superei quando te feri a primeira vez, mas te machucar duas vezes... Acredite em mim quando eu digo que esta era a última coisa que eu queria ver acontecer na minha vida.
- Por que você voltou agora?
- Eu me virei e vi você chorando. Que tipo de idiota insensível iria deixá-la assim?
- Bem, você não deveria ver isso. Você realmente deveria ter se mantido em frente, porque agora você está fazendo isso pior.
- Eu não quero que essa seja a minha última visão de você.
- Se você realmente a ama, você não deveria ter me beijado!
Eu não tinha a intenção de gritar isso.
- Eu a amo. - Ela olhou para o céu, em seguida, de volta para mim com os olhos angustiados. - Você quer saber a verdade? Porra, eu te amo também. Eu não acho que eu percebi o quanto até que eu vi você de novo.
Ela me amava?
Eu ri com raiva.
- Você ama a nós duas? Isso é tão errado,Kim.
- Você sempre me disse que queria honestidade. Eu só dei a você. Desculpe-me se a verdade é uma bagunça fodida.
- Bem, ela tem a vantagem. Você vai se esquecer de mim novamente em breve. Isso vai simplificar as coisas. Eu voltei para o lado do motorista.
- Jisoo... Não vá embora assim.
- Não sou eu quem está indo embora.
Fechei a porta, virei a ignição e fui embora. Eu só olhei no espelho retrovisor uma vez e vi Jennie de pé no mesmo lugar. Talvez a minha reação tenha sido injusta, mas se ela estava sendo honesta com seus sentimentos, então eu também estava.
Tudo o que eu conseguia pensar na viagem para casa foi como a vida pode ser cruel.
Quando eu estacionei na minha garagem, notei um envelope no banco do passageiro. Era o dinheiro, mil dólares, que eu tinha dinheiro que tinhamos usado na noite passada era dela. Havia um bilhete dentro.
Eu só não queria que você apostasse isso. Eu nunca poderia pagar por tudo que você me deu, e muito menos tirar dinheiro de você.
• • •
Dois meses depois que Jennie voltou para o Japão, eu estava finalmente voltando a uma rotina regular, em Nova York. Minha mãe tinha vindo ficar comigo no primeiro mês após a morte de Heechul, mas decidiu que ela não estava feliz longe de Boston. Com Yeonjun e Kate olhando por ela e minha visita a cada quinze dias, ela estava se adaptando bem com o que poderia ser seu novo normal.
Jennie e eu não tivemos mais contato uma com a outra. Foi um pouco decepcionante não ter recebido sequer uma mensagem, especialmente depois de como deixamos as coisas, mas eu não ia ser a primeira a fazer contato. Pelo que eu sabia, eu nunca ouviria falar dela. O pensamento dela ainda me consumia todos os dias. Eu me perguntava se ela havia pedido Joy em casamento. Eu me perguntava se ela estava pensando em mim. Eu me perguntava o que teria acontecido se eu não tivesse ido para o meu quarto na última noite em que estivemos juntas. Assim, mesmo que eu estivesse de volta à minha base, minha mente estava constantemente em outro lugar.
Minha vida em Manhattan era bastante previsível. Eu trabalhava longos dias no escritório e chegava em casa por volta das oito da noite. Se eu não saísse para beber com os meus colegas de trabalho, eu passaria as noites durante a semana lendo até que eu adormecesse com o meu kindle sobre o rosto.
Nas noites de sexta-feira, meu vizinho, Félix e eu teríamos jantar e bebidas no Bob's, o pub embaixo do meu apartamento. A maioria das mulheres em seus vinte e poucos anos passam suas noites de sexta com um namorado ou um grupo de mulheres da sua idade. Em vez disso, optei por gastá-la com uma travesti de 70 anos de idade. Félix era um homem latino pequeno que se vestia como uma mulher e, na verdade, eu pensei que ele era uma mulher até que uma noite ela própria me disse que nasceu menino. Às vezes eu penso em Félix como um ele, outras vezes, como ela. Não fazia diferença, porque no momento em que eu percebi que ela era ele, eu já tinha caído no amor por ela como pessoa, e não me importava o seu gênero.
Félix nunca foi casada, não tinha filhos e era extremamente protetora comigo. Toda vez que um cara entrava no Bob's, eu virava para Félix e dizia em tom de brincadeira: - O que você acha dele?
A resposta era sempre a mesma.
- Não é bom o suficiente para a minha Moranguinho... Mas eu pegaria ele. - Então, nós só daríamos uma boa risada.
Eu sempre fui hesitante em falar com Félix sobre Jennie porque eu estava seriamente com medo de que Félix iria caçá-la e chutar a sua bunda.
Numa sexta à noite em particular, porém, depois de muitas margaritas, eu finalmente contei a história inteira do início ao fim.
- Agora eu entendo. - Disse Félix.
- Entende o quê?
- Por que você está aqui comigo toda sexta à noite e não em um encontro, por que você foi incapaz de abrir o seu coração a qualquer outra pessoa. Ele pertence à ela.
- Ele pertencia. Agora, está acabado. Como faço para corrigir isso?
- Às vezes, nós não podemos.
Félix olhou fora, e eu suspeitava que ela estivesse falando por experiência própria.
- O truque é forçar-se a abrir, mesmo que ele esteja quebrado. Um coração partido é ainda um coração. E há muitas pessoas que eu tenho certeza que gostariam de uma oportunidade para tentar consertar o seu, se você deixar. - Ela continuou. - Eu vou te dizer uma coisa, no entanto.
- O quê?
- Esta... Jenna?
- Jennie... Com E.
- Jennie. Ela tem sorte que eu não vou pisar em um avião. Se não eu deixaria suas bolas em chamas.
- Eu sabia que você ia se sentir assim. É por isso que eu estava com medo de te dizer.
- E eu não sei quem essa Joyce é...
- Joy...
- Tanto faz. Não há nenhuma maneira que ela é melhor do que a minha Jisoo, mais bonita ou com um coração maior. Jennie é uma idiota.
- Obrigada.
- Algum dia, ela vai perceber que ela cometeu um grande erro. Ela vai aparecer aqui, você vai estar muito longe, e a única cadela a cumprimentá-la vou ser eu.
Naquele fim de semana eu me senti melhor pela primeira vez desde que deixei Jennie. Mesmo que elas realmente não tenham mudado nada, as palavras de encorajamento de Félix tinham me ajudado a me trazer para fora da minha própria miséria um pouco.
No domingo, eu finalmente fui substituir minhas roupas de inverno por roupas de verão. Eu sempre adiava a troca de guarda-roupa até que era quase tarde demais, quando a metade do verão já tinha acabado. Eu passei o dia inteiro lavando roupa, separando itens para doar e ordenadamente organizando minhas gavetas.
O tempo estava seco e quente, e as janelas do meu apartamento estavam abertas. Eu decidi que eu merecia um copo de vinho depois do meu longo dia de trabalho doméstico. Sentei-me na varanda e olhei para a rua abaixo. Havia uma brisa suave de verão quando o sol começou a descer; estava uma noite perfeita. Fechei os olhos e ouvi os sons da vizinhança: tráfego, pessoas gritando, crianças brincando no pequeno pátio em frente a mim. O cheiro de churrasco escorreu para mim a partir de uma varanda ao lado. Isso me lembrou de que eu não tinha comido nada o dia todo, o que explicou por que o vinho tinha me batido tão rápido. Eu disse a mim mesma que eu amava a minha independência: ser capaz de fazer o que eu quisesse, ir para onde eu quisesse, comer qualquer coisa e sempre que eu quisesse, mas, no fundo, eu desejava compartilhar minha vida com alguém.
Meus pensamentos sempre pareciam viajar de volta para ela, não importa o quanto eu tentasse evitar. O que eu não esperava nesta calma noite de verão era reciprocidade. Quando o meu alerta de mensagem soou, eu não verifiquei imediatamente. Eu tinha certeza que era Félix me convidando para assistir algo na televisão ou minha mãe me checando.
Meu coração começou a bater fora de controle quando vi o nome dela. Eu não tive coragem de ler imediatamente porque não importa o quê, eu sabia que ia atrapalhar o clima calmo desta noite. Eu não sei por que eu estava tão assustada. Não era como se as coisas com Jennie pudessem ficar piores, a menos é claro, que ela tenha entrado em contato comigo para anunciar formalmente o noivado, o que teria me arrasado.
Eu respirei fundo, acabei com o meu vinho em um gole e então contei até dez antes de olhar para a mensagem.
[Jennie] Eu quero que você o leia.
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