Os dias se arrastam em correntes pesadas presas aos meus pés inchados
no sangue sujo que guardo
coagulado em meu coração.

No silêncio asfixiado das manhãs de outono,
na ideia que tenho das coisas acontecerem enquanto eu finjo que vivo,
ou às vezes, nem isso.

Arrastam-se também os corpos das pessoas que avisto à distância
vestidas em tons semelhantes
e que choram lágrimas frias sem se convencer de sua tristeza e/ou eu da minha.

A vida passou -
como passam as aves no céu em dias de chuva
em que me dou conta do absurdo de existir sem jamais ter vivido.