☪ . ☆ TWO ☆ . ☪
Quando eu era uma criança, gostava de dizer para todo mundo escutar que me tornaria uma médica mais famosa que todo Japão ia conhecer. Pelo menos, ninguém pode dizer que eu não era uma criança sonhadora, mesmo não tendo a mínima noção que às vezes sonhos não se realizavam, principalmente quando se eles eram feitos por uma órfã. Porém, poderiam me chamar de fracassada e eu nem podia julgar alguém por isso, já que é a mais pura verdade que já escutei em toda minha vida.
Soltei um suspiro, encarando meu reflexo no espelho sujo. Meus cabelos curtos brilhavam debaixo da luz amarelada do banheiro deixando claro o quão gorduroso eles estavam e aquilo fazia torcer o nariz para aquela porra. Eu passava o dia inteiro com o cabelo preso e usando touca para que no final parecesse que tomo banho de óleo
toda vez que saía daquele lugar.
Sinceramente, eu adorava trabalhar ali. O senhor Mitsuki gostava de me dar sanduíches de frango de presente por se sentir culpado por me forçar a trabalhar todos os dias da semana, incluindo sábado e domingo, mesmo que aquilo tivesse sido uma escolha minha.
─ Aya, você está bem?─ E falando nele, não demorei muito para recolocar a touca em meus fios escuros e sair do banheiro, passando as mãos pela saia quadriculada do meu uniforme.
─ Oi, Senhor Mitsuki.─ Murmurei, abrindo a porta com um sorriso suave no rosto. O idoso em minha frente tinha cabelos pintados de vermelho fortíssimo que chegava a doer em meus olhos e marcas de expressões que o envelhecia cada vez mais. Ele era gentil, sempre sorrindo e tentava me ajudar de todas as formas.
─ Está passando bem?─ Perguntou ele, me fitando com aqueles olhos escuros. Balancei minha cabeça, confirmando que sim, eu estava e de fato estava muito bem, mesmo que minhas costas estivessem doendo um pouco demais hoje, mas nada que eu não estivesse acostumada.
─ Sim, só me distraí um pouco.─ Me inclinei levemente para poder encarar o final do pequeno corredor que estávamos, tentando enxergar as mesas da lanchonete.─ Algum cliente chegou?
Senhor Mitsuki balançou a cabeça, negando. Ele mantinha o cenho franzido, ainda preocupado. De alguma maneira, aquilo me fez aumentar meu sorriso e colocar uma mão em seu ombro, o apertando com suavidade.
─ Está tudo bem, Senhor Mitsuki, eu estou bem.─ O velhinho me analisou por um momento, então assentiu, parecendo acreditar em minhas palavras. Sorri para ele, voltando a caminhar na direção da minha área de trabalho, como a garçonete ou como era mais conhecido, a garota que você pode dar em cima de forma nojento só por ela estar trabalhando servindo comida.
Sim, eu adorava trabalhar naquela lanchonete. Mas, se tudo dependesse dos clientes nojentos que iam até ali, eu não pensaria duas vezes antes de reviver meu passado como delinquente e quebrar alguns ossos só com as mãos.
─ Ei, garota, finalmente saiu daquele banheiro? Tava com dor de barriga, foi?─ Falou Mariko, a senhora que cuidava da cozinha. Me aproximei do balcão, pegando meu avental e rapidamente o amarrando em torno da minha cintura.
─ Não, eu só me distraí.─ Murmurei. A velha soltou uma risada alta e estridente ao ponto de inclinar sua cabeça para trás.
─ Se distraiu com o próprio reflexo, que porra é essa?─ Ela riu novamente. Revirei os olhos para a mulher e então, sorri, me sentando em um dos bancos da bancada, apenas aguardando para que mais algum cliente aparecesse só para que eu pudesse escrever seu pedido e entregá-lo depois que Mariko fizesse seu trabalho.
Mas, claro, que aquilo ia demorar e muito. Pelo que o relógio pendurado em cima da porta de entrada, era um pouco mais de uma hora da manhã e naquela hora, havia quase ninguém nas ruas que se interessava em comer algumas batatinhas ou uns sanduíches.
─ Você não deveria tá aqui, menina.─ Falou Mariko, colocando os cotovelos na bancada e acendendo um cigarro com um único movimento. Fiz careta quando ela soprou a fumaça em meu rosto.─ Você deveria tá na rua, fazendo coisas de jovens, sabe?
─ Coisas de jovens?─ Perguntei em um tom risonho, erguendo uma sobrancelha na direção da mulher que deu de ombros.
─ Você sabe, essas coisas de jovens, tipo ─ Ela fez uma pausa, balançando uma mão que tinha o cigarro entre os dedos.─ fumar maconha e transar com qualquer um?
Soltei uma risada, cruzando meus braços abaixo de meus seios.
─ Eu já faço isso.─ Falei, simples.─ Fumo maconha quando vou dormir e fodo com caras quando fico no tédio, sou super jovem.
A mulher me analisou por momento e então, soltou uma risada meio engasgada. Ela prendeu o cigarro entre os lábios e se aproximou, empurrando minha cabeça de forma leve.
─ Você pelo menos usa camisinha? Transar com caras no tédio e ainda pegar alguma doença ou uma gravidez por causa disso é triste, sabia?
Soltei uma risada. E meus lábios se separaram para respondê-la quando ouvimos um sino tilintar indicando que alguém havia adentrado na lanchonete. Sorri para a mulher em minha frente.
─ Trabalho nos chama, Mariko.
A mulher empurrou meu ombro e assim fui em direção a mulher que acabara de sentar em uma das mesas, pronta para cumprir meu trabalho.
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