☪ . ☆ THIRTY TWO ☆ . ☪
Estava começando a ficar irritada. Aya não respondia nem mesmo uma mensagem minha para dar sinal de vida, e isso estava começando a me dar dores de cabeça. E acho que talvez por isso eu tenha acabado ali, enfiada no sofá, esperando algum sinal de vida de Aya ou ela passar por aquela porta para eu esganar ela por nem mesmo avisar que estava viva e bem. Caralho. E agora eu tinha que aguentar Violeta vendo esses desenhos simplesmente insuportáveis na televisão. Sinceramente, acho que ela estava mais dormindo do que acordada, mas toda vez que eu fazia menção de trocar o canal, ela magicamente acordava e voltava a assistir essa merda. Eu mereço uma porra dessas.
Além de preocupada e irritada, estava terrivelmente cansada. Violeta conseguia acabar com toda a minha energia, principalmente quando ela estava com vontade de discutir, o que foi o caso do dia, já que ela não aceitava o fato de que ter mordido alguém era errado. Deus, o que eu fiz pra merecer uma coisa dessas?
Levei uma mão até o cabelo loiro de Violeta, fazendo um carinho suave enquanto ela estava com a cabeça deitada em meu colo, bem perto de dormir de novo. Eu sabia que não demoraria muito pra isso acontecer, ainda mais depois de um dia de aula. Acho que Violeta só não tinha dormido mesmo ainda por querer ficar ali comigo, e não sozinha.
Escutei a porta abrir e me virei rapidamente para olhar. Apenas para fazer uma careta quando meus olhos encontraram com olhos roxos. Rindou franziu o cenho para mim e torceu o nariz.
-Você não tranca a porta não? Estão toda hora te ameaçando e você larga essa merda aberta?- ele reclamou fechando a porta e eu revirei os olhos, voltando a encarar a televisão.
-Você não tem casa, não?- eu retruquei e podia sentir Rindou revirando os olhos.
Violeta apenas ergueu um pouco a cabeça para olhar Rindou, mas não demorou muito pra voltar a deitar, ocupada demais com os olhos cravados na televisão. Rindou arqueou a sobrancelha para ela e se inclinou para beijar Violeta com carinho antes de sentar do meu lado. Eu revirei os olhos pra ele.
-Você tá bem?- Rindou perguntou, me olhando de forma estranha.
Eu fechei os olhos, deixando minha cabeça encostar contra o sofá, e suspirei. Dizer que estava bem era muito forte. Duas ameaças em menos de três dias, era isso que eu tinha recebido. Então, era meio complicado dizer que estava tudo ótimo. Por mais que Rindou ficasse dizendo que Sanzu não seria um problema, não tinha como acreditar muito nisso. Acreditar em palavra de bandido é burice, e eu não acreditava, nem por um segundo sequer, nas supostas boas intenções de Sanzu.
E ainda tinha Kazume, que, claro, nunca deixaria de ser a porra de uma pedra no sapato. Kazume nunca esqueceria a humilhação que eu o fiz passar, anos atrás. Ainda assim, ele podia ir para a porra do inferno, porque se nem mesmo o desgraçado do Sanzu ia me assustar o suficiente, muito menos Kazume iria. Os dois podiam dar as mãos e irem se fuder, bem longe de mim e da minha filha.
-Asuka?- Rindou colocou a mão no meu cabelo, afundando os dedos ali e eu suspirei antes de encarar seus olhos roxos que estavam grudados em mim.
-Está tudo bem.- eu disse, lentamente, tentando acreditar nas minhas próprias palavras. Rindou, claro, não acreditou em mim. -Violeta dormiu. Vou levar ela pra cama.
-Eu levo.- ele disse e eu não protestei enquanto Rindou pegava nossa filha no colo. Violeta nem mesmo se mexeu, o que me fez torcer o nariz. A menina dormia e morria, não é possível uma coisa dessas.
Quando ele desapareceu escada acima, eu suspirei, me levantando e começando a arrumar o sofá, puxando a parte dele que o deixava maior. Se Aya achava que ia se livrar de mim, estava muito enganada, porque eu ia ficar ali naquela porra, esperando a boa vontade dela de aparecer ou me responder nessa merda.
Ajeitei as almofadas ali e estava arrumando o cobertor para dormir quando Rindou voltou. Ele me olhou e arqueou a sobrancelha, mas não disse nada enquanto observava eu me enfiar embaixo do cobertor.
-Você vai ficar aí parado me olhando como um esquisito?- eu disse e ele revirou os olhos.
Rindou não disse nada e eu também não disse nada quando ele deitou do meu lado, passando um braço ao redor da minha cintura e me puxando para perto dele. Eu apenas suspirei, fechando os olhos quando Rindou deitou a cabeça no meu ombro, roçando o nariz na curva do meu pescoço.
-Porque tá aqui?- eu resmunguei, estremecendo de leve enquanto as mãos dele deslizavam pelas minhas costas. -Não deveria estar na sua casa, não?
-Você tá me expulsando, Asuka? - ele murmurou no meu ouvido, me fazendo estremecer. Um puta desgraçado.
Eu não disse nada, apenas me ajeitei mais nos braços de Rindou, tentando, de alguma forma, dormir. Tudo bem, tudo estava uma bela merda na minha vida, mas pelo menos, por mais foda que fosse admitir isso, me sentia incrivelmente mais segura quando Rindou estava ali comigo. E talvez... Menos solitária também.
Acho que esse dia catastrófico não foi exaustivo só para mim, porque Rindou já estava praticamente dormindo. Eu suspirei, levando uma mão até a bochecha dele e acariciando de leve.
-A gente não deveria fazer isso.- eu murmurei. Rindou nem abriu os olhos.
-Isso o que?- ele resmungou. Eu suspirei e pisquei os olhos.
-Começar com isso de novo. Isso entre a gente. - eu falei. Rindou abriu os olhos e me encarou com confusão, e não sabia dizer se era pelo que eu tinha falado ou por ele estar mais dormindo do que acordado.
-Porque?- Rindou disse, baixo. Eu suspirei, tentando me afastar dele, mas Rindou me agarrou e me puxou para mais perto dele. Eu fiz uma careta.
-Porque não quero ser magoada de novo, Rindou. Ainda mais agora com Violeta envolvida. - eu disse encarando os olhos roxos dele. Rindou fez uma careta.
-Eu não sou mais o mesmo idiota de antes, Asuka.- ele resmungou e eu o olhei com irritação.
-Bem, sinto muito se não consigo acreditar em você, Rindou. Porque, sinceramente, sabendo que você faz parte de uma gangue como a Bonten e que sua cara está estampada e todos os jornais, e levando em conta tudo o que você já fez comigo no passado, é difícil acreditar nisso. - eu disse. Rindou piscou os olhos lentamente para mim.
-Foda se isso, Asuka.- ele disse baixinho. -Não significa que eu tenho a intenção de machucar você de novo, porque não tenho. Eu não tô... Brincando com você, ou só fingindo por causa da Violeta, ou sei lá que merda você tá pensando. Eu realmente amo você, Asuka, então para de duvidar disso.
Abri a boca para tentar dizer alguma coisa, mas o que eu diria, afinal? Eu realmente queria acreditar nas palavras de Rindou, realmente queria. Porque, mesmo que eu não fosse dizer isso pra ele nem tão cedo e mesmo que ele sequer merecesse, eu também o amava. Tanto que às vezes isso me machucava.
-Se você me magoar de novo, eu vou sumir e nunca mais olhar pra sua cara.- eu resmunguei e Rindou sorriu pra mim, me apertando contra si.
-Justo. Mas não vou fazer isso.- ele disse, grudando a boca na minha.
E mesmo depois, quando Rindou dormiu de verdade mesmo, eu continuei ali, acordada. Pensando no como minha vida tinha ficado a porra de um caos do caralho. E, principalmente, pensando onde caralhos estava Aya.
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