☪ . ☆ NINETEEN ☆ . ☪
Parecia que minha vida era a porra de uma piada. Quando dizem que dinheiro não compra felicidade, é verdade mesmo! Aqui estou eu, em uma família com dinheiro até para limpar o cú se quiser, mas, ainda assim, encho a cara e fumo maconha para esquecer o quão merda é minha vida. Em uma tentativa falha de tentar deixar de lado toda aquela merda que me assombrava, dia após dia. Todas as imposições dos meus pais, as agressões físicas e verbais, os incontáveis dias que passei presa dentro do quarto sem poder sair, isso sem contar aquela surra que tomei, me fazendo ir parar na porra do hospital, quando era mais nova, só por contrariar o velho. Mas, ah, sim, o que o dinheiro não comprava, não é mesmo? Comprava o silêncio das incontáveis pessoas para quem pedi ajuda, implorei. E era por isso que eu sabia que não tinha como escapar desse buraco. Eu já estava condenada.
Respirei fundo, passando a mão pelo meu cabelo comprido e desfazendo com irritação aquela trança que minha mãe tinha feito no meu cabelo, arrancando todas aquelas presilhas cheias de pedras brilhantes. Minha vontade era de jogar tudo no ralo da pia e ver aquelas pedrinhas de swarovski irem embora. Mas, por mais rica que eu fosse e mais podre e metidos que meus pais fossem, eu jamais seria igual a eles. Jamais seria mesquinha, metida e mimada. Eu jamais, jamais me permitiria ser que nem eles.
Com um suspiro pesado, ajeitei a saia do vestido rosa bebê que minha mãe me fez usar. Ele era curto, mas não grudado no meu corpo, e me fazia parecer extremamente bonitinha e inocente, algo que eu certamente não era.
Aquele jantar estava indo longe demais. Eu só queria que aquilo acabasse, queria cair na minha cama e dormir. Ou chorar de raiva, chorar por saber que eu não conseguiria me livrar daquilo tudo jamais.
-Você está bonita.- Shiori disse num sussurro, me olhando através do espelho do corredor. Sequer tinha forças para revirar meus olhos para ela, apenas dei um longo e pesado suspiro. -Asuka, Kazume disse que você tá namorando um delinquente. Isso é verdade?
Tudo bem, dessa vez eu realmente revirei os olhos antes de me virar para Shiori. Cara, que porra ela queria? Porque ainda me cercava com essas porras de perguntas do caralho? Que inferno!
-Não tô namorando com ninguém, tô fodendo com ele, é completamente diferente.- eu disse dando a ela um sorriso sarcástico. Shiori respirou fundo e revirou os olhos, algo que me fez piscar um pouco chocada. Naquele momento, toda aquela máscara que ela usava caiu completamente. E, pela primeira vez em muito, muito tempo, eu vi Shiori de verdade. Aquela que costumava ser minha amiga antes de se deixar levar pelo que os pais dela diziam.
-Você é uma imbecil. - ela disse, me fazendo a olhar com pura indignação. Shiori me fitou com os olhos castanhos, passando a mão de forma nervosa pelo cabelo ruivo.
-Que porra, Shiori?- eu disse com irritação.
-Acha que eu gosto dessa merda de vida?- ela sibilou, os olhos brilhando com raiva. -Acha que gosto de fazer tudo o que meus pais querem, que gosto de agir como a filha perfeita? Caralho, Asuka, usa essa porra de cérebro!
Apenas pisquei os olhos, torcendo o nariz para Shiori. Ela parecia tão, tão cansada... Até mais do que eu. Estive tão centrada no que eu estava passando que jamais parei para pensar que talvez Shiori também passasse pelo mesmo. De forma diferente, sim, mas ainda assim...
-Você age como uma rebelde. Um bicho que ninguém consegue domar. Isso deixa seus pais putos pra caralho. E é por isso que eles tão doidos pra te casar com Kazume, caralho! Porque você não consegue aquietar esse seu rabo e pelo menos fingir por um tempo!- ela disse com irritação. Dessa vez, quem se irritou fui eu.
-Eu não vou mentir, não vou ser o que eles querem que eu seja, Shiori! Não vou, jamais, viver a vida que eles querem. - eu disse. Ela suspirou.
-E isso te faz feliz, por acaso?
-E viver a vida que seus pais querem faz você feliz?- eu retruquei. Por um tempo, apenas ficamos nos olhando e olhando. Porque nós duas estávamos sofrendo. Cada uma de uma forma diferente. No fim, Shiori apenas suspirou.
-Toma cuidado, Asuka. Seu pai tá começando a ficar impaciente com você. E eu tenho medo do que pode acontecer quando ele cansar. - Shiori disse antes de me dar as costas e sair.
Grunhi com irritação antes de seguir ela em direção a porra da sala de jantar. Irritada, eu estava muito, muito irritada agora. Mas que caralho!
Mas, ah. Sabia que tudo ficaria mil vezes pior quando vi Kazume conversando com meu pai. Quando Kazume me lançou um sorriso que já me dizia o suficiente: que ele me teria, quer eu quisesse, quer não.
-Eu não vou casar porra nenhuma!- eu gritei, em alto e bom som, quando meu pai veio me "comunicar" que a família de Kazume estava planejando a porra de um casamento com o qual eu nunca concordei.
Meu pai se irritou. Se irritou pra um caralho, porque no segundo seguinte sua mão tinha se chocado contra minha bochecha. Com tanta força que senti ela ser cortada. Arregalei os olhos; abri a boca para dizer algo, mas o que saiu foi um grito quando ele agarrou meu braço com força e me arrastou pelos corredores, ignorando meus gritos pedindo para ele me largar.
Porra, porra, porra!
Ele me empurrou dentro do quarto, batendo a porta com força. Fui até ela, o coração na garganta, mas estava trancada; e não iria abrir nem tão cedo.
-Me tira daqui!- eu gritei, sentindo o desespero tomar conta de mim.
-Quando você mudar de ideia, talvez eu te tire.- ele rosnou. E sabia que era isso. Que ele me deixaria trancada ali, por quanto tempo fosse necessário. Que ele não me soltaria nem tão cedo.
Senti medo. Medo de verdade, porque sabia que, para meu pai, não existiam limites. Ele não ligava se fosse acabar me matando no processo, ele apenas se importava se eu ia ou não fazer o que ele queria.
Passei a mão pelo cabelo, respirando fundo. E quer saber de uma coisa? Foda se. Que se foda. Eu não podia me desesperar, não podia ter outro ataque de pânico por causa dele.
Ele não ia fazer isso comigo. Não mais.
Então, sem pensar muito a respeito, arranquei aquele vestido e comecei a colocar a primeira calça jeans que achei e uma camiseta qualquer antes de puxar o par de tênis que estava enfiado embaixo da minha cama e o calçar rapidamente.
Dei um sorriso, pegando a chave do Porsche que estava na minha escrivaninha. Ah, sim. Ele não deveria ter deixado a chave do carro comigo. E não deveria ter pensado que eu não era louca o suficiente ao ponto de pular da janela do segundo andar.
Tudo bem, certo, era alto. Mas tudo o que eu mais queria era fugir daquele inferno. Por isso, não pensei muito antes de respirar fundo e pular. Claro que isso ia dar em merda.
Senti uma dor absurda quando atingi o chão e caí na grama do quintal. Deus, que dor do caralho. Não sei quanto tempo fiquei ali, caída, choramingando de dor no tornozelo e no meu braço esquerdo (já que cai bem em cima dele), mas me forcei a levantar. Apenas para reprimir um grito de dor quando meu pé direito atingiu o chão. Ah, bosta, eu provavelmente tinha torcido o tornozelo. Nossa, que ideia de merda eu tive, uau!
Não sei como consegui me arrastar até o carro e também não sei como consegui arrancar com o carro dali. E também não sei como sequer consegui dirigir até a boate, só sei que caí no chão com sucesso quando saí do carro.
Bom, o lado bom é que Hiroki estava bem ali, do lado de fora, me olhando com o cenho franzido. O lado ruim, na verdade o lado péssimo, é que Rindou também estava bem ali.
-Asuka? Que porra é essa? Você roubou um carro? - Hiroki quase gritou, me analisando. Revirei os olhos, fazendo questão de ignorar o olhar de Rindou preso em mim.
-Claro que não, esse carro é do meu pai.- eu disse irritada. Hiroki piscou os olhos lentamente.
-Você é ri...
-Não termina essa porra de frase, ou juro que vou passar com o porsche por cima de você. - eu rosnei e ele franziu o cenho com irritação.
-Você tá bêbada?- ele perguntou, vendo eu me escorar no carro para me manter de pé. Juro, ele é muito, muito burro mesmo!
-Ela não está bêbada, está com dor.- Rindou disse, olhando Hiroki como se ele fosse um grande imbecil.
Hiroki ficou me analisando e analisando antes de piscar os olhos lentamente e frazir o cenho. É sério uma porra dessas, eu toda fodida e ele sequer vai vir me ajudar? Uau!
Antes que eu pudesse gritar alguma coisa, Rindou bufou com pura irritação, caminhando até mim. Hiroki, como um grande covarde, se afastou de nós. Deus, e se Rindou, sei lá, viesse tentar fazer algo ruim comigo, Hiroki só ia simplesmente fugir? Caralho!
-Porque tá sempre metida com merda?- Rindou disse me fitando com aqueles olhos roxos, passando um braço ao redor da minha cintura e com o outro me tirando do chão, me fazendo dar um grito surpreso e de dor. Eu resmunguei, passando os braços ao redor do pescoço dele.
-Eu poderia te perguntar a mesma merda, sabia, Rindou?- eu disse com irritação e ele me deu um sorriso maldoso. Hiroki estava olhando para nós com a maior carona, o que me fez revirar os olhos.
-Me dá a chave do carro.- Rindou disse. Não era exatamente um pedido.
Bem, eu deveria pensar mais a respeito disso, certo? Porque era meio que burrice dar a chave de um Porsche na mão de um delinquente, mas quer saber? Meu pai que fosse se foder. Se Rindou apenas me largasse ali na sarjeta e roubasse o carro, bem, foda se. Por isso apenas ergui a chave nas minhas mãos.
Rindou suspirou entediado, como se fosse a porra de um saco ficar perto de mim. Queria dar um chute nele, mas estava fodida e com dor demais para isso, por isso apenas fiquei calada enquanto ele me enfiava dentro do carro sem nenhuma dificuldade. Também não disse nada quando ele entrou do outro lado e começou a correr com o carro, até demais. Apenas respirei fundo e fechei os olhos, encostando a cabeça no vidro. Eu apenas queria morrer.
-Isso vai doer.- Rindou avisou, posicionado atrás de mim. Eu fiz uma careta; estava sentada em um banco na cozinha da casa dele depois de me recusar a ir a qualquer outro lugar.
-Só vai logo.- eu reclamei, já começando a ficar tensa. -Qual é, você quebra ossos mas não sabe colocar eles de volta no lugar, caralho?
-Eu sei, sim. É justamente por isso que estou te dizendo que vai doer. - ele disse e eu bufei.
-Você não deveria só fazer isso logo de uma vez e...- e que não consegui terminar de falar antes de soltar um grito de dor quando Rindou puxou meu ombro para trás com força. -Caralho.
Rindou deu uma risada maliciosa e cruel enquanto eu choramingava de dor. Um puta de um arrombado, eu diria.
-Vai me dizer agora que merda aconteceu com você?- ele disse, se sentando na minha frente e me olhando com aqueles olhos roxos. Fiquei quieta; bem, bem quieta.
Rindou revirou os olhos para mim antes de enfiar sem nenhuma delicadeza gelo na minha bochecha, me fazendo soltar um palavrão.
-Grosso pra caralho você, né? - eu disse irritada, o fuzilando com os olhos. Ele me deu um sorriso malicioso.
-Você não tava reclamando quando eu tava metendo em você, né?- ele disse e eu ergui o dedo do meio para ele, o que o fez rir com malícia. -Me responde, Asuka. Que merda aconteceu com você?
Desviei o olhar; porque ele sequer se importava, caralho? Na verdade, ele não se importava. Só queria saciar sua imensa curiosidade. Apenas joguei a cabeça para trás, encarando o teto.
-Meu pai me trancou no quarto. Ele ia me deixar apodrecer lá até se lembrar que eu preciso de, sabe, água e comida pra sobreviver. E isso demoraria um tempo. Eu não queria passar por isso mais uma vez. Então pulei a janela. Tá satisfeito agora?- eu murmurei. Rindou ficou em silêncio; um silêncio que me incomodava, incomodava pra caralho. Apenas suspirei, tentando me manter de pé. Fiz uma careta ao notar que ia ser meio difícil. -Obrigada pela ajuda. Tô indo embora.
Rindou suspirou e me olhou como se eu fosse uma grande idiota. Ele parou na minha frente, empurrando meus ombros com delicadeza para me fazer voltar a sentar, o que me fez piscar os olhos um pouco surpresa. Isso que era o foda; eu nunca sabia o que esperar de Rindou. Ele levou uma mão até meu rosto, acariciando minha bochecha de leve. De uma forma que também me pegou de surpresa. Assim como suas palavras;
-Fique aqui. Você não precisa ir embora, só... Fique aqui.
E por mais que fosse um erro, por mais que me envolver com Rindou só fosse acabar com minha vida, por mais que soubesse que ele me magoaria profundamente um dia e que nada de bom resultaria em me envolver com ele... Eu fiquei.
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