☪ . ☆ FOURTY TWO ☆ . ☪
Eu fiquei quase três semanas na merda do hospital e ainda queriam me deixar presa ali mais tempo. Mas eu mesma me dei alta, porque se eu ficasse mais um segundo naquele lugar, provavelmente me atiraria pela primeira janela. O que não seria nem um pouco saudável, ainda mais para minha saúde já toda cagada graças a algum merda de ser humano que tinha tentado me matar. Sinceramente, eu realmente esperava que o porra do Sanzu (que por algum caralho de motivo achou que deveria procurar quem tentou me matar) servisse para algo e descobrisse quem tinha feito isso, porque, sendo sincera, se eu fosse ficar esperando a polícia descobrir, ia morrer sem saber quem tentou me matar.
E eu ia dar um murro na cara de Rindou. Tive bastante vontade de fazer exatamente isso quando entrei no meu quarto e, sim, eu quis puxar ele pelos cabelos vendo a bagunça que ele tinha feito no meu guarda roupa. Deus, mas é um homem burro pra um caralho!
-Qual a dificuldade de colocar a roupa dentro do guarda roupa, pelo amor de Deus? - eu disse indignada, abrindo outra porta, apenas para que meia duzia de camisetas caíssem pra fora. Me virei para Rindou. -Rindou, que porra é essa? Você só jogou tudo aqui dentro, seu idiota!
-Foi você que me disse pra vir morar aqui!- ele reclamou, me olhando feio.
-É, mas você podia ser pelo menos organizado, porra!- eu disse irritada, jogando a primeira camiseta que peguei na cara dele. -Eu não vou arrumar isso! Você teve sete dias pra arrumar suas coisas, parece que só quer me ver irritada, nossa, como eu te odeio.
-Nossa, Asuka, você é chata pra porra.- ele reclamou e eu semicerrei os olhos de um jeito que prometia a morte dele. Rindou teve o bom senso de calar a porra da boca. -Tá bom, eu arrumo.
-Eu não tava te pedindo pra arrumar, eu tava mandando!- eu quis gritar. Ele me olhou com aqueles olhos roxos e cruzou os braços, arqueando a sobrancelha para mim.
-E você acha que manda em mim?- ele disse com um sorriso sarcástico.
-Você quer que eu te chute pra fora agora ou amanhã de manhã?- eu disse e ele torceu o nariz.
-Tudo bem, eu faço o que você quiser, caralho!- ele disse irritado e começou a resmungar enquanto tentava falhamente arrumar a porra da bagunça que ele tinha feito. Sim, eu meti um tapa no meio da cabeça dele por ser tão burro.
É sério mesmo que um dia na minha vida eu deixei esse imbecil da porra me magoar? É sério que deixei ele ser o homem da relação antes? Porque Rindou claramente era um idiota do caralho, não servia nem pra guardar roupas dentro de um armário! E eu tinha chamado um imbecil (e assassino) pra morar comigo, acho que perdi todos os meus neurônios naquele incêndio. Acho que na verdade perdi os neurônios quando me apaixonei por ele, dez anos atrás.
E, ah, claro que Koji quis me esganar quando soube que eu tinha deixado ou pedido, sei lá, para Rindou morar comigo. E minha mãe quis morrer com a notícia. Bem, acho que a única pessoa feliz com a novidade foi Violeta, que finalmente teria uma família "normal". Normal é o caralho já que o pai dela é procurado pela polícia e tão tentando matar a mãe dela.
-Você também é bem interesseira.- Rindou reclamou, ocupado demais fazendo o que eu tinha mandado para me olhar. -Só me quer aqui porque quer alguém pra te proteger.
-E por quais outros motivos eu ia querer um assassino na minha casa?- eu disse cheia de sarcasmo e ele se virou para me olhar feio. Eu dei risada. -Para com essa cara, Rindou. E eu não tô nem aí pra mim mesma, mas quero que você proteja a Violeta.
-Posso muito bem proteger as duas. - ele disse arqueando a sobrancelha, vindo até mim e me puxando para perto dele. -E deveria saber que é exatamente isso que vou fazer.
-E eu não sei? Parece a porra de um cachorro tomando conta do dono. - eu zombei e ele revirou os olhos para mim, mas não disse nada. Eu suspirei, deitando a cabeça no peito dele e fechando os olhos por um segundo. -Você mudou um pouco.
-O que isso quer dizer?- ele disse levando a mão até o meu cabelo e acariciando de leve.
-Bom, você ainda é um babaca, mas, de alguma forma, tá diferente. Comigo. - eu disse me afastando para o encarar. Rindou torceu o nariz.
-Asuka, eu te deixei bem claro que não ia te magoar de novo, não foi não? Então para de ser chata e acredita nessa porra.- ele disse, como o grande imbecil da porra que ele era, e eu o dei um beliscão, fazendo Rindou chiar.
-Com seu histórico de cara otário e levando em conta que você é membro de gangue, claro, vou acreditar que você não vai me magoar!- eu disse cheia de sarcasmo e ele fez cara feia, o que só me fez sorrir. Dei um tapa na testa dele. -E eu te conheço muito bem, você é o cara mais ignorante que eu já vi na vida, Rindou. Puta que pariu, você ao menos sabe o que é ser carinhoso?
-Porra, você vai me atacar de graça?- ele disse perplexo e começando a ficar emburrado. Isso sim era realmente engraçado e, sim, eu ri da cara dele. -Eu sei ser muito carinhoso, mas apenas com pessoas que merecem, você não é uma delas.
-Ah, vai se fuder.- eu falei erguendo o dedo do meio para ele. Rindou me olhou com puro deboche e eu quis meter um tapa nele, mas claro que ele ia me puxar de volta para perto dele e me impedir de agredi-lo.
As coisas entre mim e Rindou sempre tinham sido meio conturbadas e, sinceramente, ele tinha me magoado em um nível absurdo no passado, de uma forma que me fazia pensar que talvez eu não devesse ter o perdoado, mas... Mas, agora, eu sentia que as coisas estavam diferentes.
Claro, Rindou ainda era o mesmo babaca bipolar e ignorante de antes, mas, de alguma forma, toda essa revolta dele com a vida que antes era direcionada a mim, agora não era mais. Me fazia até mesmo acreditar que ele realmente pudesse ter mudado, mesmo que, sim, eu ficasse por muitas horas me perguntando se estava fazendo a coisa certa em deixar ele entrar na minha vida de novo. E se fosse apenas uma ilusão da minha cabeça, e se ele apenas estivesse esperando para me magoar de novo? Porra. Eu realmente não ia aguentar passar pelo que passei de novo.
E era ainda mais confuso quando eu parava para pensar no quão envolvido com merdas Rindou era. Bem, claro que isso me assustava. E claro que eu odiava a vida que ele levava, mas o que eu poderia fazer, afinal? Eu não podia impedir ele de ver Violeta, e a verdade é que eu o amava, mesmo que Rindou nunca tivesse merecido meu amor.
Eu suspirei e fechei os olhos, apoiando a testa no ombro dele. Rindou, subitamente, ficou silencioso, quase como se ele sentisse o rumo que meus pensamentos tinham tomado.
E talvez eu fosse me arrepender profundamente daquela escolha de deixar Rindou voltar para a minha vida, mas... Bem, eu ia ter que pagar para ver.
Rindou parecia bem perto de dizer alguma coisa para mim, mas a voz de Violeta nos chamando fez ele franzir o cenho e se virar.
Violeta estava parada na porta, olhando para nós dois. Ela parecia meio sonolenta e já deveria estar dormindo, o que me fez franzir o cenho para ela.
-O que foi, Vi?- eu perguntei e ela finalmente entrou no quarto, me ignorando antes de se jogar no meio da minha cama. Torci o nariz.
-Posso dormir aqui com vocês?- ela perguntou e eu arqueei uma sobrancelha.
-Não.- eu disse e Rindou me olhou feio. Eu o ignorei. Violeta fez um biquinho.
-Mas a cama é grande!- ela protestou e ai olhou Rindou. -Pai, posso dormir aqui?
Sim, o idiota travou quando Violeta o chamou de "pai", porque ela não tinha feito isso até agora, mas simplesmente soltou isso com a maior naturalidade do mundo. Realmente, não sabia se Rindou estava prestes a desmaiar ou chorar, mas definitivamente estava com uma cara engraçada. Sério que um dia eu tinha deixado esse idiota emocionado me magoar e me assustar?
-Violeta, eu disse não.- eu falei e ela fez um biquinho. -Você tem nove anos na cara, toma vergonha, menina. E você não vive dizendo que já é muito crescida? Pois é, pois saiba que crianças crescidas não dormem na cama com os pais!
-Por favorzinho, só hoje!- ela pediu juntando as mãos em uma súplica. Puta que pariu, que fogo no cú essa criança tá hoje, meu Deus!
Rindou me olhou e estava parecendo pior que Violeta! Ah, Deus, eu já sabia que não ia vencer aqueles dois, puta merda. Eu bufei.
-Tá, só hoje!- eu disse e Violeta sorriu para mim. Eu remunguei antes de pegar uma roupa confortável e ir me trocar.
Não demorei nem mesmo cinco minutos, e quano voltei, Violeta já etsava dormindo. Eu olhei para ela, verdadeiramente incrédula.
-É sério isso? Ela enche o saco e já dormiu?- eu disse perplexa e Rindou riu da minha cara. Eu torci o nariz, puxando o lençol para cubrir Violeta e suspirei antes de me enfiar ali ao lado dela. Acariciei de leve os cabelos loiros dela e beijei sua testa. -Ela é chata que nem você, Rindou. Uma verdadeira cópia.
Ele não me disse nada, mas deitou do meu lado, passando o braço ao redor da minha cintura e me abraçando. Eu apenas suspirei e fechei os olhos sentindo o calor do corpo dele contra o meu.
-Obrigado.- ele murmurou baixinho e eu franzi o cenho. Me virei na direção de Rindou para o olhar nos olhos, confusa.
-Pelo que?- eu perguntei colocando a mão em sua bochecha. Rindou suspirou e passou sua mão pela minha de leve.
-Por ter me dado uma família. - ele disse e, por um segundo, nem sabia dizer se eu estava respirando. Eu pisquei os olhos.
-Você já tinha uma família, tem o Ran.- eu disse e ele revirou os olhos. Rindou suspirou.
-Por mais que eu ame meu irmão, você sabe que é diferente, Asuka.- ele resmungou. Rindou levou os dedos até meu cabelo, os entrelaçando ali. -Com vocês, com você... Me sinto uma pessoa normal. Eu nem mesmo mereço isso, mas...
Não deixei ele terminar de falar, porque sabia exatamente onde isso ia acabar. Então, apenas me inclinei na direção dele e pressionei minha boca contra a de Rindou. Ele retribuiu meu beijo, sua língua deslizando pela minha com calma.
Quando estávamos os dois sem ar, me afastei dele, acariciando sua bochecha de leve, e Rindou fechou os olhos.
-Amo você. Não importa quem você seja ou o que faça, eu amo você. - eu disse com um suspiro. -E nós somos sua família, Rindou, e isso nunca vai mudar. Já deveria ter percebido isso.
-Eu nem te mereço. - ele disse baixinho e eu puxei de leve o cabelo dele.
-Provavelmente não. Mas eu sou burra e me apaixonei por um idiota.- eu zombei e ele abriu os olhos apenas para me olhar feio, o que me fez rir. -E se isso não mudou em dez anos, não vai mudar em mais dez.
Me aproximei mais dele, o apertando em meus braços. Rindou não disse mais nada, apenas me abraçou de volta, acariciando meu cabelo.
E eu sabia o quanto isso tudo podia dar errado. Ainda assim... Ainda assim, eu tinha desejado ter aquilo por dez anos. E porque eu não arriscaria agora que eu tinha a chance, afinal?
Eu nem sabia quantos dias eu teria de vida ainda, já que tinha alguém empenhado em acabar com minha vida. Nesse caso... Bem, eu viveria minha ela da forma que eu quisesse. E o resto do mundo que fosse se foder.
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