☪ . ☆ FIFTY SIX ☆ . ☪
De que adiantava gritar até a garganta doer se ninguém viria ajudar naquela porra de praia deserta do caralho? E, bem... Se queriam me matar, que me matassem. Eu sequer tinha forças para continuar lutando contra isso. Alguém estava me segurando com força o suficiente para machucar, e eu parei de me debater e tentar me livrar daquele aperto. Até porque... Sabia que de nada isso adiantaria; não importava o que eu fizesse, não tinha como escapar, não tinha como...
Foi aí que eu o vi, arrastando Aya completamente apagada e a largando entre nós. Meu coração foi parar na garganta e eu tentei me livrar daquele merda que me segurava para chegar até Aya, mas claro que isso não deu certo.
Akira deu uma risada e suspirou.
-Porra, maninha. Shiori acabou mesmo com você, né?- ele disse estalando a língua. Eu fitei os olhos de Akira, aqueles olhos iguais aos meus e, ao mesmo tempo, tão diferentes, porque ali dentro apenas existia maldade, uma maldade sombria e um desejo de vingança por uma merda que eu nem mesmo me lembrava direito! -Ela te deixou tão quebrada que nem falar você fala mais?
Eu apenas o olhei e o olhei. Não conseguia falar; era como se eu tivesse desaprendido o como se fazia isso. Eu era fraca, o que caralhos eu deveria fazer? Eu não era Aya, não podia lutar contra aquilo, não podia lutar contra Akira. E se ele me queria morta...
Apenas fechei meus olhos com força. Pelo menos aquele lugar era bonito, né? Bem, se fosse para morrer, que fosse ali e não dentro de uma sala escura.
-Está achando que vou te matar, né?- Akira deu risada e balançou a cabeça. -Caralho, Asuka. Eu te odeio por ser uma desgraçada, mas não te quero morta. Se serve de consolo, o que Shiori fez com você até me irritou um pouco. Se você estiver morta, como vou fazer você sofrer pela morte da Yoko?
-Pela porra da última vez. - eu disse, tão baixo que nem sei se Akira escutou. Estranho; era realmente estanho escutar minha voz saindo depois de tanto tempo, mas a raiva que eu sentia naquele momento foi o suficiente para fazer com que eu encontrasse minha voz. -Eu não fiz Yoko morrer.
-Eu sei. - ele riu, como um verdadeiro psicopata. -Porra, eu sei! Quem você acha que colocou fogo naquela casa, pra começo de conversa?
Fiquei em silêncio quando o peso de suas palavras me atingiu em cheio.
Eu era nova, mas eu ainda me lembrava daquele dia. Do fogo, da fumaça, dos gritos; da raiva que meu pai sentiu vendo a casa em chamas, do desespero da minha mãe porque Yoko estava lá dentro. Do grito de Akira...
Eu nem tinha forças para perguntar que porra era aquela.
-Eu coloquei fogo na casa porque estava de saco cheio do nosso pai. Yoko... Caralho. - Akira riu, passando a mão pelo rosto cheio de sangue. -Ela ficou tão puta comigo. Ainda mais puta porque você tava lá dentro, e ela se desesperou. Achei que ela fosse me jogar no fogo quando eu disse que você era só um peso do caralho na vida de qualquer um. E aí ela morreu. Porque ela amava mais você do que eu!
Ah, mas não é possivel uma porra dessas...
Um peso do caralho.
-Te odiei por muito, muito tempo, Asuka.- Akira disse me olhando nos olhos. -Mas sua vida é tão fodida. - ele riu. -Consegue ser pior do que a minha! Porque por mais rodeada de pessoas que você seja, você ainda é completamente vazia, sem uma família de verdade, ou pessoas que prestem. Porra, Asuka, você anda com delinquentes de merda, sua vida é tão miserável assim que você foi se envolver logo com um Haitani? Com Aya Takahashi? Eles não se importam com você, pelo menos, não de verdade. Na primeira oportunidade, eles vão te trocar por algo melhor. Mas acho que você já sabe disso, não? Não é por isso que foi embora da primeira vez, Asuka?
Cada palavra de Akira me atingiu como um soco no estômago e eu senti lágrimas surgirem nos meus olhos. Claro que isso não passou despercebido por Akira, que estalou a língua e suspirou.
-Eu nem mesmo preciso me esforçar para quebrar você, você já tá quebrada o suficiente. E eu sei que isso não é culpa só da Shiori. Mas você também sabe disso, né?
Não abri a boca para dizer nada. Akira se aproximou de mim, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo.
-Se eu fosse você, aceitaria meu conselho. Vai embora do Japão, você e sua linda filha. Nem mesmo olhe para trás. Foda se os Haitani ou essa idiota aqui que você chama de amiga.- Akira disse, jogando em mim algo. Algo que logo percebi ser uma passagem de avião. -Ou você vai se arrepender, profundamente.
-Está me ameaçando?- eu disse num sussurro e ele deu de ombros.
-Eu não tocaria você, mas eu realmente tô pouco me fodendo pra sua filha.- ele soltou e apenas aquilo já era o suficiente para fazer meu sangue gelar completamente. Filho da puta... -Tô indo embora. Espero que seja razoável, Asuka. Seria uma merda se você acabasse chorando no túmulo da sua filha como eu chorei no da Yoko, né?
Akira olhou para mim e deu apenas mais um sorriso antes de ir embora junto com aquele merda que estava com ele.
Meu corpo estava tremendo a medida que eu me arrastava até Aya, a balançando e tentando acorda-la de qualquer jeito. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, desespero e raiva. Toda essa merda, essa merda do caralho, acontecendo na porra da minha vida, e porque? O que eu tinha feito de tão merda pra merecer isso?
Na primeira oportunidade, eles vão te trocar por algo melhor.
Akira era um merda, mas o quão errado ele estava, afinal?
Quem ia querer uma pessoa quebrada como eu? Uma pessoa que não entendia nada de merdas de gangue, não sabia dar um soco, e agora tinha mais problemas ainda. Eu não era mais a mesma Asuka, e quando todos se dessem conta disso...
E, no fim das contas, Akira não estava errado.
Porque eles todos já tinham me abandonado uma vez.
Aya, que foi embora uma vez anos atrás sem nem mesmo se despedir, me deixando preocupada e me questionando se um dia eu a veria de novo por semanas. Semanas. E agora, quando ela esfaqueou Lee e fingiu que eu não existia, mesmo que eu estivesse doida de preocupação com ela, porque a amo. É como se eu fosse apenas uma amiga irritante do caralho que serve apenas para incomodar ela e a porra da sua vida ou, sei lá, ser uma pedra chata no caminho.
E estaria ela tão errada assim de ter ido embora? Eu sempre fui e sempre vou ser um problema, uma pessoa que não tem nada de especial e apenas atraía coisa ruim.
E Rindou, que me trocou por uma gangue. A porra. De uma. Gangue. Quanto tempo ia demorar até ele fazer isso de novo? Não importava que ele dissesse que me amava, que tivesse me dado uma aliança, que falasse que somos uma família. Eu não era e nunca seria a prioridade dele, e quando aparecesse alguém mais bonita, sem a pele cheia de cicatrizes e o coração todo quebrado, ele nem mesmo pensaria duas vezes antes de me trocar. Ou quando Ran quisesse enfiar ele em outra merda de gangue, Rindou nem mesmo pensaria antes de me dar as costas.
Eu sentia raiva e dor, e ainda mais raiva por deixar as palavras cheias de veneno de Akira me atingirem em cheio.
Aya apenas acordou quando usei o copo do pote de sorvete para pegar água do mar e jogar na sua cara. Ela se sobressaltou, os olhos arregalados em desespero, mas pareceu suavizar quando me viu.
-Asuka, você tá bem?- ela disse se levantando e vindo até mim. Ótimo, ela conseguia andar e se mexer, então não teria nenhuma dificuldade em dar o fora daquela praia. -Asuka?
Eu não disse nada, apenas dei as costas para ela e comecei a caminhar para longe dali. Aya ficou me chamando, e chamando e chamando, mas eu...
-Asuka, que porra!- ela disse, agarrando meu braço. -O que aconteceu? O que ele fez com você?
Foi quando ela viu o que estava nas minhas mãos e arrancou com força, seus olhos lendo com rapidez o que estava escrito. Aya deu uma risada cheia de maldade e eu sabia muito bem o que ela faria com Akira quando achasse ele. Ou Ran, já que ele é a cadelinha de Aya!
-Não se preocupe com ameaças dele, vamos dar um jeito nisso. - ela disse, tentando me abraçar, mas eu me afastei, o que fez Aya piscar os olhos em confusão.
-Eu não quero que você "dê um jeito". - falei, minha voz rasgando a garganta. Arranquei aquela passagem das mãos de Aya. -Eu estou indo embora do Japão.
-Tudo bem, isso pode ser a solução por um tempo, e...
-Não, Aya!- eu gritei, fazendo ela piscar os olhos surpresa. -Eu não vou sair por um tempo, eu nunca mais quero pisar aqui, porra! Toda vez que tô aqui, minha vida fica a porra de uma merda! Toda vez que tô com Rindou, com Ran, com você, é a mesma coisa que pedir pra se fuder, entende isso? E, tudo bem, eu não tô nem ai pra isso, porque amo vocês! Mas o que eu ganho em troca? O que eu ganho em troca com isso, Aya? Um monte de merda! Porque, no fim das contas, eu sou apenas a porra da namorada chata, ou a porra da amiga chata que vocês vão se livrar quando cansarem, ou vão sumir por dias sem dizer nada e que eu me foda, ou vão me trocar por merdas de gangue e eu cansei! Cansei. Escutou isso, Aya? Eu cansei.
Por um segundo, ela apenas me encarou, perplexa.
-O que esse merda te falou?- ela disse e eu balancei a cabeça, começando a caminhar para longe dela. -Asuka, isso nem mesmo é justo, cacete! Para com isso, vamos conversar!
-Agora você quer conversar, Aya? Agora você quer escutar o que eu tenho pra te dizer? Pois adivinha! Não tenho mais nada pra te falar.
-Asuka!
Eu nem mesmo sei o como tive forças para sair dali, ignorando Aya me chamando, dizendo que eu estava sendo ridícula. Bem, foda se. Porque ela não sabe o que eu estou sentindo. E, aparentemente, nem mesmo se importa.
Passei o resto do dia chorando e me escondendo. Não voltei pra minha casa, ou pra casa de Ran e Rindou, mesmo que eu devesse pra buscar Violeta. Eu apenas... Não conseguia me mexer.
E eu ia fazer aquilo mesmo? Fugir dali, só porque Akira tinha mandado? Ele tinha ameaçado minha filha; e isso... Isso era o suficiente para mim. Para que meu choro acabasse e a raiva surgisse dentro de mim.
Por isso eu acabei em uma loja comprando um celular novo e não foi nada difícil mandar mensagem para aquele maldito. E é claro que ele fez exatamente o que pedi, porque se tinha algo que aquele desgraçado gostava, era de problemas.
-Certeza que quer fazer isso, gatinha?- Sanzu perguntou me olhando assim que parou o carro naquela ponte. Eu apenas abri a porta, ignorando completamente Sanzu, que me xingou.
Caminhei e me apoiei na mureta, fechando os olhos sentindo o vento bater contra meu rosto. Naquela noite, eu daria um fim naquela merda. Eu provaria a Akira que ele não podia ameaçar minha filha e sair disso sem uma merecida punição. Se ele me queria morta, que me matasse. Mas ameaçar Violeta? Eu viraria assassina por Violeta, eu acabaria com minha vida, minha carreira, tudo por ela.
-Porque me chamou aqui, Asuka? Ah, espera! Você vai se suicidar e quer que eu veja esse momento glorioso?- escutei a voz de Akira, logo ao meu lado. Ele deu risada. -Esse dia apenas melhora!
-Realmente. E vai melhorar mais ainda!
Não dei tempo a ele de pensar antes de abrir o frasco de vidro em minha mão e jogar o conteúdo contra Akira. Ele gritou quando o líquido atingiu em cheio sua bochecha, caindo de joelhos no asfalto. Akira gritou tanto que parecia que alguém estava tirando sua pele com uma faca cega, o que me fez revirar os olhos e o chutar.
-Ah, por favor. Ácido Clorídrico nem mesmo é o pior ácido. - eu falei estalando a língua e cruzando os braços. -Eu deveria ter te feito engolir esse ácido por ameaçar minha filha. Você se acha tão foda, Akira. Tão esperto! Pois adivinhe só: eu também tenho coragem quando preciso. Ah, essa queimadura vai ficar pra sempre na sua bochecha. - eu ri, me agachando ao lado dele e erguendo a garrafinha de água enquanto Akira gritava. -Ei, Akira. Você sabe o que acontece quando a gente joga água no ácido? Vou te contar uma coisa! A reação entre ácido e água é forte pra cacete, sabe? Pode piorar ainda mais essa situação aí.
Eu aproximei mais a água dele e Akira gritou.
-Eu faço o que você quiser!- ele gritou e eu ri, me levantando e pressionando meu tênis contra a bochecha queimada dele. Akira gritou de novo.
-Se você pensar em machucar minha filha, eu mesma mato você. E pode ter certeza que eu sei várias formas de fazer isso doer.
Eu deixei meu irmão gritando e me xingando ali, entrando de volta no carro. Eu estava tremendo de nervoso e Sanzu deu um assobio.
-Cale a boca se não quiser ser o próximo. - eu rosnei.
Sanzu parou o carro três vezes para que eu pudesse vomitar. Se pelo que tinha rolado, ou pelo fato que bebi uma garrafa inteira de vodka sozinha depois do que rolou, não sei dizer.
-Se você não tem estômago pra essa porra, deveria ter me deixado fazer!- Sanzu gritou comigo, e eu o ignorei, porque tinha voltado a ficar muda, ainda mais depois de tudo o que tinha rolado naquele dia.
Porra, eu apenas queria ver a praia e terminei o dia jogando ácido clorídrico no rosto do meu irmão, mesmo que a vontade tivesse sido de joga-lo em uma piscina de ácido sulfúrico.
Sanzu parou na frente da casa de Ran e Rindou e eu torci o nariz, tentando formular uma frase, mas nada decente saiu. Eu praticamente cai quando abri a porta e tentei fugir dali, e Sanzu me agarrou com irritação, me jogando no ombro dele.
Por algum motivo, eu dei risada.
-Eu achei que você me queria morta.- eu ri.
-Por Deus, você é uma imbecil. - Sanzu bufou. -Nem mesmo eu faço tanta merda assim, e olha que tô noventa e nove porcento do meu tempo drogado.
-Você tá chato pra porra hoje, Sanzu! Sem graça!- eu ri e gritei quando senti ele beliscar minha coxa. Eu dei um tapa na bunda dele e ri de novo. -Você tem uma bundinha gostosa, Sanzu!
-Continua com essa merda, e vou te jogar na piscina.
Eu dei outro tapa nele.
E gritei porque ele me jogou mesmo na piscina.
A água gelada me fez despertar um pouco desse estado embriagado. Agora, tudo o que eu sentia, era raiva. E comecei a gritar com Sanzu.
-Me tira dessa porra!- gritei. Ele revirou os olhos, dando um passo na minha direção e me estendendo a mão. Ah, sim, eu o puxei pra piscina também.
-Porra!
Provavelmente estávamos fazendo a maior barulheira do caralho, ainda mais quando Sanzu começou a tentar me impedir de afogar ele.
-Que porra é essa?!- eu conhecia aquela voz cheia de raiva que tava gritando comigo e fiz uma careta antes de me virar, vendo Aya na porta, parecedo verdadeiramente puta.
E claro que ao lado dela estaria a dupla de irmãos do caralho!
É, talvez eu ainda estivesse puta e magoada. E cansada, e destruída, e nada ia mudar isso.
Eu devia apenas... Ter ido embora, mas lá estava eu de novo, com eles, incapaz de fugir dali.
Porque eu não peguei aquele avião?
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