☪ . ☆ EIGHTEEN ☆ . ☪
Aya tinha simplesmente desaparecido. Depois do jantar, quando Kazutora foi embora e Violeta estava ocupada demais brincando no seu quarto, fui conferir se Aya estava bem, se precisava de algo, mas imagine meu choque ao perceber que ela tinha sumido sem nem ao mesmo deixar rastro, um bilhete, nada. Meu desespero foi real, porque sabia bem para onde ela tinha ido, mais especificamente atrás de quem. E isso me encheu de um medo que eu não era capaz de descrever. Porque se Lee a encontrasse, mataria Aya, e ela nem mesmo faria algo para impedir isso.
Talvez tenha sido pensando exatamente nisso que, com minhas mãos tremendo, liguei para a única pessoa na face da Terra que me ajudaria sem nem pensar duas vezes. E não demorou muito para que Ran me atendesse.
-Ran, Aya desapareceu, não sei onde ela tá, e eu tenho medo que talvez o puto desgraçado do Lee mate ela, você precisa achar a Aya, Ran, caralho!- eu soltei tudo de uma vez e nem sabia dizer se ele estava entendendo o que eu estava querendo dizer. Bom, certamente não, mas...
-Acho que você deveria se acalmar um pouco, Asuka.- ele disse e eu dei uma risada nervosa, passando a mão livre pelo meu cabelo comprido, preparada para surtar ainda mais.
-Como espera que eu fique calma se minha melhor amiga está com o psicológico todo fodido e eu não sei onde ela tá, se já nem sei mais como ajudar ela, porque Aya simplesmente não me deixa ajudar ela, caralho?- eu praticamente gritei, não me importando com as lágrimas que escorreram pela minha bochecha. -Ran, caramba, eu tô com medo da Aya acabar morta, merda! Você acha que eu ia te ligar te pedindo pra ir atrás dela se não fosse tão sério?
-Asuka, eu já tô com ela. Dá pra você parar de surtar por um minuto?- Ran disse e eu dei um longo e pesado suspiro, deixando as lágrimas de alívio escorrerem.
Alguém bateu na porta; nem prestei muita atenção antes de caminhar até ali para abrir ela.
-Bem, antes você do que um puto abusador do caralho!- eu disse suspirando. -Por favor, por favor, toma conta da Aya. E não faça merda, Ran, ela não tá legal.
-O que acha que eu sou, um imbecil?- ele retrucou e eu dei uma risada sarcástica, levando a mão a maçaneta da porta.
-Sim, você e o merda do seu irmão do ca...- parei de falar no segundo que meus olhos fitaram olhos roxos e ele arqueou a sobrancelha para mim. Porra, era só mais essa que me faltava.
-Asuka?
-Porra. Eu vou desligar, parece que hoje é dia de foderem minha vida, foi só falar do imbecil do seu irmão que ele acabou de se materializar na minha frente.- eu disse torcendo o nariz para Rindou, que revirou os olhos para mim. Escutei Ran dar uma risada puramente maliciosa do outro lado e nem esperei ele dizer nada antes de desligar a chamada bem na cara dele. -O que você quer?
Rindou me olhou como se eu fosse uma idiota, entrando na minha casa sem nem mesmo ser convidado, seus olhos procurando por alguém que não estava ali. Então, ele se virou e me encarou, esperando.
-Ela está no quarto dela.- eu disse, dando um passo para me afastar de Rindou, tremendo um pouco quando fechei a porta atrás de mim. Era inevitável não me sentir assim na presença dele.
Foi quando notei que Rindou carregava em suas mãos uma caixa de presente e eu arqueei uma sobrancelha, encarando os olhos roxos dele, tão iguais aos de Violeta que era extremamente sufocante.
-O que é isso, Rindou? Espero que não esteja dando de presente coisas ilegais para minha filha, ou juro... - comecei, mas ele me cortou, me olhando tão feio que me fez dar outro passo para longe dele.
-Primeiro, ela não é só sua filha, Asuka.- ele disse tão puto que me fez torcer o nariz. -Segundo, que tipo de pessoa você acha que eu sou?
-Ah, desculpa, Rindou!- eu disse despejando todo meu sarcasmo sobre ele. -Achei que você fosse o tipo de cara que mata pessoas que ficam no seu caminho, sabe? Que faz parte da porra de uma gangue, a pior do país! Que ameaça tirar um filho de uma mãe só porque você tá putinho! Putz, sinto muito, deve ter sido algum erro meu pensar que você era algo além de um filho da puta.
Rindou me olhou, parecendo perplexo por um segundo. Lentamente, ele deixou a caixa em suas mãos no sofá e, no segundo seguinte, tinha me prensado contra a parede, suas mãos ao redor dos meus braços. Não pensei nem duas vezes antes de agarrar o cabelo dele, puxando com força, o fazendo chiar.
-Você pode ter me intimidado no outro dia porque ainda estava chocada demais com toda a merda que aconteceu, mas não vai fazer isso hoje, Haitani.- eu rosnei, o olhando de um jeito que prometia morte. Lentamente, Rindou piscou os olhos, parecendo extremamente confuso. -Se pensa que vai tirar Violeta de mim, está enganado. Eu te faço ir parar no inferno antes disso.
Rindou me olhou e olhou antes de me soltar. No entanto, ele não se afastou, ainda tão perto de mim que eu podia sentir o cheiro de seu perfume.
-Eu não deveria ter te ameaçado.- ele falou, me olhando. Rindou suspirou, passando a mão pelo cabelo, parecendo terrivelmente cansado. E, principalmente, cansado de brigar. Eu apenas pisquei os olhos. -Não foi justo, mas como você esperava que eu reagisse, Asuka? Você escondeu isso de mim por dez anos. Até mesmo meu irmão sabia e ninguém se importou o suficiente em me dizer.
Rindou parecia verdadeiramente magoado, algo que me pegou tão desprevenida que não soube sequer o que falar.
Eu não sabia exatamente o que tinha feito toda aquela mágoa e dor que escondi durante dez anos surgir, mas a verdade é que ela voltou em cheio para mim nesse momento, e eu fui incapaz de conter as lágrimas que escorreram pelo meu rosto, não dando a mínima para Rindou ali, me olhando agora.
-Você me deixou.- eu disse, olhando para seus olhos roxos. -Eu te pedi para vir comigo, Rindou, e, ainda assim, você me deixou. A gente podia ter criado Violeta juntos, e você não teria se tornado... Essa pessoa que eu nem sei quem é. E você não pode me julgar por não ter contado nada, Rindou. Você mudava constantemente o que sentia, o como agia, como esperava que eu adivinhasse que você aceitaria e amaria a Violeta? Eu fiquei com medo, caralho. Porque teria me matado e teria acabado com todo o amor que eu tenho por você se você tivesse rejeitado minha filha.
Rindou ficou em silêncio por um tempo. Até mesmo ele sabia que eu estava certa. Ou pelo menos, ele deveria saber e ter se dado conta disso, porque a cara que ele fez...
-Sinto muito. - ele disse, me olhando no fundo dos olhos. Escutar isso era como levar um soco no estômago, e eu não sabia exatamente o porquê. -Sinto muito ter sido tão ruim pra você que te fiz pensar que rejeitaria nossa filha. Mas eu ainda sou a mesma pessoa, Asuka, e eu nunca, jamais, machucaria você.
Eu balancei a cabeça, piscando os olhos com força.
-Você não é o mesmo. E você já machucou, Rindou, caramba.- eu disse passando a mão pelo meu cabelo. -Você deveria ir ver a Violeta. Tenho certeza que ela vai ficar feliz.
Não esperei que Rindou dissesse algo antes de me afastar dele e começar a subir as escadas. Tentando dar um jeito no meu coração de idiota que se encheu de uma esperança tola de que tudo pudesse ser diferente. Mesmo que, no fundo, eu soubesse que não podia.
Tudo bem, eu fiquei sim supervisionando Rindou e Violeta. E, sim, foi extremamente bizarro ver ele brincando de Barbie com ela. Ainda assim, eu também não podia ignorar o como Violeta parecia feliz em estar perto dele e também não podia ignorar o como Rindou parecia... Menos Rindou e mais uma pessoa que presta. Era como se Violeta conseguisse trazer um lado bom dele, um lado que nem mesmo eu conhecia de verdade. Me fazia questionar o que teria acontecido se eu tivesse contado sobre Violeta anos atrás.
Quando começou a ficar muito tarde, coloquei Violeta na cama para que ela fosse dormir, mas claro que ela não queria, então foi um inferno fazer ela ficar quieta. Deus, eu tenho um pequeno demônio de filha. E claro que Rindou tinha pensado a mesma coisa, porque estava sorrindo que nem o imbecil do caralho que ele era.
Eu não falei nada com Rindou conforme voltava para a sala, ciente que ele estava me seguindo. Respirei fundo, puxando meu computador para meu colo assim que me sentei no sofá. Rindou ficou me olhando e olhando, ainda longe, e eu arqueei uma sobrancelha para ele.
-Dá pra você sentar aqui antes que eu me arrependa?- eu resmunguei e ele revirou os olhos, mas se sentou do meu lado, franzindo o cenho enquanto olhava para meu computador. Mais especificamente para a foto de fundo, minha e de Violeta, no meu laboratório em Londres.
-Eu te disse que você ia ganhar um dia.- ele soltou e eu me virei para olhar ele, confusa. Rindou me olhou como se eu fosse tapada, e eu odiava quando ele fazia isso, queria dar um murro na cara dele. -O Nobel, Asuka.
Pisquei os olhos. Ele sabia; o olhei por um tempo, resmungando e me voltando para o computador.
-Claro que você sabe disso né seu esquisito.- eu soltei e senti minha coxa arder quando ele me beliscou. Olhei Rindou com indignação e ele me deu um daqueles sorrisinhos de babaca dele.
Coloquei o pendrive no computador e não demorei muito para jogar aquele arquivo ali dentro, um arquivo que eu vinha mexendo fazia muito, muito tempo. Respirei fundo, tirando o pendrive e o jogando em Rindou. Ele o segurou antes de me olhar e arquear a sobrancelha para mim.
-O que é isso?- ele disse e eu dei de ombros, fechando o computador e o largando de lado.
-Você vai descobrir quando ver. - eu disse com um suspiro.
Eu sempre soube que não tinha sido justa quando não contei para Rindou sobre Violeta. Talvez tenha sido por isso que documentei naquele arquivo, com foto e tudo, todos os momentos mais importantes da vida de Violeta. Uma parte de mim sempre pensou em talvez, um dia, deixar que Rindou visse isso, soubesse dela. Bem, aparentemente, esse momento chegou.
Eu me virei para olhar ele, que tinha ficado subitamente quieto. Apenas para encontrar Rindou já me olhando, de uma forma que fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Ele estava tão perto de mim e, ao mesmo tempo, sentia como se jamais pudesse alcança-lo novamente. E, por algum motivo, isso doía. Doía de uma forma que eu não era capaz de descrever.
Porque dez anos tinham se passado e eu não o tinha esquecido. E como poderia esquecer Rindou quando vivia diariamente com uma parte dele? Como eu poderia esquecer a pessoa que eu amei tão ardentemente e ainda assim isso não tinha sido o suficiente? Ele quebrou meu coração, sim, mas isso não mudava em nada a verdade e o que eu senti e ainda sentia por ele, mesmo que tentasse a todo custo esconder.
Não sei exatamente porque, mas estiquei a mão e a levei até a bochecha de Rindou, acariciando de leve. Talvez para provar a mim mesma que ele estava ali e que isso não era só, sei lá, um delírio da minha mente que tinha passado tanto anos desejando ter ele de volta, apesar de tudo. Rindou fechou os olhos, levando a mão até a minha e a mantendo ali. Sentia meu coração batendo loucamente dentro do peito, incapaz de me conter.
-Asuka, eu...- ele começou, mas não soube o que ele iria dizer, porque a campainha tocando foi o suficiente para me fazer pular e afastar de Rindou, que torceu o nariz claramente nada feliz com a interrupção.
-Mas que porra.- eu resmunguei. Era quase meia noite, quem diabos...?
Eu cambaleei até a porta, ainda meio tonta, e não pensei muito antes de abrir. E desejei não ter feito isso, porque sabia que o caos ia explodir no segundo que Koji entrou e me puxou para seus braços.
-Você tá me esmagando!- eu choraminguei, mas ele não ligou. Koji se afastou de mim, segurando meu rosto em suas mãos e pressionando a boca contra a minha em um beijo que eu retribui antes de o dar um tapa. -Koji, para de ser carente, porra!
-Para de ser grossa, caralho, eu tava preocupado pra porra!- ele disse me dando um beliscão e eu o chutei. Daisy estava logo atrás, rindo da cara dele. Ela empurrou Koji, vindo até mim e me abraçando com força. Agora quem estava pressionando a boca contra minha era ela.
-Eu achei melhor a gente vir antes depois de tudo que...- Koji começou, mas ai, parou. E eu sabia muito bem o porque.
Rindou e Koji se encararam, trocando a maior cara de cú do mundo. Ah, Deus. Eu mereço.
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